A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) repudiou a decisão do juiz Manuel Amaro de Lima, da 3ª Vara Cível e de Acidentes de Trabalho do Amazonas, que mandou retirar do blog de Malu Gaspar (O Globo) reportagens sobre inconsistências e suspeitas de fraude em ensaio clínico da proxalutamida, remédio sem eficácia comprovada contra a Covid-19.

A decisão, que atende a um pedido de Luis Alberto Saldanha Nicolau – diretor da rede de hospitais Samel, uma das patrocinadoras do estudo –, proíbe também a publicação de qualquer outro conteúdo sobre o assunto em O Globo, sob pena de multa. Nicolau afirmou que as reportagens ofendem sua “honra, imagem e reputação”.

Em nota assinada por Paulo Gerônimo, presidente da ABI, a entidade escreveu que “decisões recorrentes do Supremo Tribunal Federal têm reafirmado a inconstitucionalidade de decisões, quase sempre de juízes de 1º grau, de censura a matérias jornalísticas. A ABI se solidariza com Malu Gaspar e com o Grupo Globo, e tem certeza que mais este ato censório será derrubado por instâncias superiores da Justiça”.

O Globo também se pronunciou sobre o caso, explicando que as reportagens foram baseadas em uma investigação independente do repórter Johanns Eller, a partir de documentos públicos divulgados pela própria equipe do estudo. O Globo destaca ainda que as irregularidades também foram retratadas por veículos científicos como a revista Science e outros internacionais, como BBC e Reuters.

O Globo declarou que está recorrendo da decisão, considera a censura algo inconstitucional e sustenta que o conteúdo das reportagens é de interesse público: “A decisão de impedir a sua circulação e proibir a divulgação de novas informações a respeito do tema interdita o debate a respeito da controversa eficácia da proxalutamida no tratamento da Covid-19”.

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