Foi no dia 4 de março de 1954, sete décadas atrás, que se deu o primeiro passo efetivo para a formalização da atividade de Relações Públicas no País. Era uma profissão ainda incipiente, mas pouco a pouco avançava e dava mostras da importância e benefício para as poucas organizações que então se valiam desse serviço e dos seus conceitos para zelar por reputações por meio de estreitar e manter bom relacionamento com os vários públicos de interesse.

Foi exatamente nesse dia que o sonho de alguns idealistas que atuavam nessa atividade ganhou forma e consistência, entrando para a história ao fomentar e implementar a criação da primeira instituição oficial da atividade, a Associação Brasileira de Relações Públicas – ABRP, como mostra, aliás, o próprio site da entidade, em citação do professor, escritor, estudioso e profissional de RP Candido Teobaldo de Souza Andrade:

“Com tantos acontecimentos favorecendo as atividades da profissão no início da década de 50, a necessidade de uma associação que zelasse pelos objetivos da categoria era fundamental para organizar a classe e manter a valorização profissional. Eis que na cidade de São Paulo, no dia 4 de março de 1954, reuniu-se, pela primeira vez, o chamado Grupo de Relações Públicas, integrado por profissionais paulistas, com a finalidade de se discutir a criação de uma associação de Relações Públicas”.

 

A História da Comunicação Empresarial no Brasil

Neste ano, em que se completam os 70 anos da ABRP, a Mega Brasil Comunicação vai lançar o livro A História da Comunicação Empresarial no Brasil, de autoria do jornalista e escritor Dario Palhares e curadoria dos jornalistas Eduardo Ribeiro e Marco Rossi. A obra, que vai ao Século XIX e chega aos dias atuais, vai se debruçar sobre todo o ciclo histórico, que começa já de forma intensa lá nos anos 1800, com a comunicação de empresas do comércio e de venda de remédios, em especial os almanaques, que fizeram imenso sucesso por décadas a fio.

Dario Palhares dá uma palhinha sobre esse primeiro encontro, ocorrido em 4 de março de 1954, com informações que obteve das muitas pesquisas que tem realizado para a obra (que, aliás, já segue em seu quarto capítulo):

 

Idort, berço da ABRP

A realização, em março de 1953, do primeiro curso de relações púbicas (RP) no País pela Escola Brasileira de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas (EAP-FGV), com a colaboração da Organização das Nações Unidas (ONU), deu ideias ao Instituto de Organização Racional do Trabalho (Idort). Criada em 1931 por um grupo de industriais paulistas, a sigla promoveu em parceria com a Light, de 6 a 10 de julho daquele ano, três palestras do americano Eric Carlson, consultor da ONU, que dera aulas no curso da FGV. Mais de 300 pessoas assistiram às apresentações de Carlson, que tiveram como temas: Importância das RP na racionalização do trabalho; RP e suas responsabilidades na administração organização e administrativa; Criação e um clima de opinião pública sobre a administração – Trabalho de equipe e produtividade.

O assunto seguiu em pauta na casa. Em julho, a diretoria do Idort comunicou que estava “à disposição de todos os estudiosos e profissionais de relações públicas que queiram colaborar com ela nesta oportuna fiscalização e valorização de tão valioso instrumento de entendimento e paz social (…)”. O comprometimento com a causa foi comprovado com a realização, entre julho e agosto, de mais três palestras sobre RP, duas delas proferidas por brasileiros – Ignácio Penteado da Silva Telles, diretor de RP do Banco Nacional Interamericano, que cedera o auditório da sua sede, no centro de São Paulo, para os eventos com Carlson; e Murilo Mendes, da Panam Propaganda. A dupla, por sinal, participaria, mais à frente da formação do Grupo de Relações Públicas do Idort, que se reuniu pela primeira vez há 70 anos, em 4 de março de 1954.

Tinha início a gestação da primeira sigla do RP nacional, sob a liderança do engenheiro Aníbal Bomfim, executivo da Philips e diretor do Idort. O processo resultou na fundação da Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP), cujo estatuto foi registrado em 17 de agosto daquele ano. Onze dias depois, a criação da entidade era anunciada por seu presidente eleito, Hugo Barbieri, titular do departamento de RP da Esso Standard do Brasil, em assembleia geral ordinária do Idort.

“O sr. Hugo Barbieri registrou o apreço e os agradecimentos da Associação Brasileira de Relações Públicas, que acaba de ser fundada no seio do Idort, liderada pelo dr. Aníbal Bomfim, reunindo elementos que trabalham em relações públicas. Eleita a primeira diretoria e aprovados os estatutos dessa entidade, como primeiro presidente cumpria-lhe agradecer o apoio que o Idort emprestou a essa iniciativa, prometendo tudo fazer para que a nova entidade se torne digna das tradições do Idort”, informou O Estado de S. Paulo na edição de 30 de julho.

A ABRP foi instalada em 10 de setembro de 1954. Composta por dez nomes, sua primeira diretoria contava com dois acadêmicos e apenas uma mulher, May Nunes de Souza, do Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (IA-USP), que teria longa passagem na área de relações públicas da Metal Leve. Em 1956, a entidade ganharia um conselho superior e três novas seções estaduais, no Distrito Federal, em Minas Gerais e no Estado do Rio de Janeiro.

 

Primeira diretoria da ABRP

Presidente: Hugo Barbieri, Esso Standard do Brasil

Vice-presidente: Ubirajara Martins, Light

Secretária-geral: May Nunes de Souza, Instituto de Administração da USP

Secretário: Álvaro Roberto Mendes Gonçalves, Comissão do IV Centenário de São Paulo

Tesoureiros: Jonas Znyder, Organização Brasilatlântica; e Nélson Ramos Nóbrega, Distribuidora Vemag

Conselho consultivo: Aníbal Bomfim, Philips do Brasil; Ignácio Penteado da Silva Telles, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); e Murilo Mendes, Panam Propaganda

Diretor do Serviço de Informações: J. B. Martins Ramos

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