O Intercept Brasil publicou na semana passada que está sendo alvo de mentiras e difamação, que associam o veículo à facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

Marc Sousa, coordenador de Jornalismo da Jovem Pan no Paraná e afiliado do R7, publicou em um site parceiro do portal R7 que o Intercept teria recebido doações do PCC, segundo relatório interceptado pela Polícia Federal. O veículo reiterou que a informação é caluniosa e trata-se de “jogo sujo”.

Na noite da sexta-feira passada (24/3), a equipe do Intercept recebeu um e-mail de Sousa com perguntas sobre os supostos pagamentos do PCC. Ele deu um prazo de menos de 12 horas para as respostas. O Intercept buscou e analisou os 17 nomes das pessoas ligadas ao PCC mencionadas no relatório, e detectou que nenhum deles consta na lista de doadores. O Intercept destaca também que, curiosamente, não há nesse relatório da PF menção ao nome da pessoa que teria escrito tal documento.

A matéria, porém, foi publicada por Sousa sem qualquer posicionamento do Intercept, enviado cerca de 40 minutos antes da publicação da nota. Apenas depois de horas de exigências do Intercept, o texto foi atualizado com o posicionamento do veículo. “Uma mentira intencional ou uma falha grosseira dos padrões jornalísticos, se não ambos”, declarou o Intercept.

Sérgio Moro (esq.) e Marc Sousa

O veículo destaca que Sousa trabalha na Jovem Pan, que já foi assunto de diversas matérias do Intercept, como a perda de mais de R$ 830 mil após campanha de desmonetização por incentivar discursos golpistas. Vale lembrar que o Intercept também já foi alvo de ataques da Record e do R7, após revelar a pressão interna nas redações desses veículos para apoiar o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro nas eleições de 2018.

O relatório citado faz parte dos autos da investigação sobre os supostos planos do PCC contra o ex-juiz Sergio Moro. A juíza que quebrou o sigilo do relatório é Gabriela Hardt, sucessora de Moro na Lava Jato, que prometeu processar quem divulgasse suas mensagens na época da Vaza Jato, série do Intercept que divulgou diálogos de Moro com procuradores.

Em nota, o Intercept Brasil declarou que não aceitará “tentativas maliciosas de manchar não apenas a nossa reputação, mas também a da nossa comunidade. Fazemos um jornalismo sério, baseado em evidências e não daremos nenhum passo atrás”. O site destacou que não é a primeira vez que sofre ataques do tipo: “Já fomos investigados em CPIs, ameaçados de prisão, gravados clandestinamente e tivemos nosso endereço espalhado nas redes, entre outros absurdos – apenas por fazer nosso trabalho sério, que pisa no calo de muita gente”.

Relatório teria sido adulterado digitalmente, diz especialista

Segundo matéria publicada na Revista Fórum, o relatório citado tem grandes chances de ter sido adulterado. A revista conversou com Mario Gazziro, professor de computação forense da Universidade Federal do ABC e no MBA na USP, que analisou o documento. Segundo ele, “há 95% de chances de que houve adulteração digital”.

O professor destaca que pelo menos três linhas do relatório foram adulteradas. Ele e sua equipe fizeram uma análise digital da imagem publicada no R7, e encontraram “grave indício de manipulação digital pela técnica ELA (error level analysis), usando o software forense chamado Sherloq”.

Imagem do relatório divulgada por Marc Sousa
Análise da imagem
Análise da imagem que mostra onde pode ter havido adulteração

“Não me refiro apenas ao contorno em vermelho adicionado à edição, pois o padrão azul indica que o conteúdo dentro dessas linhas não é compatível com o padrão de artefatos de compressão do resto da imagem, demonstrando claramente (e com validade em tribunal) que esse conteúdo foi substituído ou editado”, explica o Gazziro. “As regiões em azul foram destacadas após aplicação de um filtro conhecido como análise ELA a 95% que destaca regiões as quais não seguem o mesmo padrão de artefatos de compressão do restante do documento, provando que aqueles trechos sofreram adulteração digital”.

Nas linhas citadas pelo professor estão justamente as supostas doações do PCC ao Intercept Brasil. Segundo Gazziro, essa análise foi enviada a outros especialistas, que concordam que a imagem teria sido adulterada digitalmente.

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