
O Exército enviou carta a Ana Clara Costa, editora-chefe da revista Época, exigindo “imediata e explícita retratação” por uma coluna de Luiz Fernando Vianna que acusa a corporação de agir para “matar brasileiros”.
O colunista escreveu que “em vários momentos da nossa história, o Exército brasileiro pôs-se a matar a população em grande quantidade”, citando a Revolta de Canudos e a ditadura militar. Vianna afirmou que recentemente o Exército voltou a envolver-se fortemente na política, agindo para pressionar a Justiça com a ocupação de cargos importantes do Governo Jair Bolsonaro por militares, que segundo ele, teve como efeito “um massacre na área da saúde”.
“No momento, o Exército participa de um massacre. Um general, Eduardo Pazuello, aceitou ser ministro da Saúde mesmo, como admitiu, sem saber o que é o SUS. Suas credenciais eram as de um craque da logística. Ele pode ser bom em distribuir fardas e coturnos, mas, como estamos vendo, não sabe salvar vidas”, escreveu o colunista.
Na carta a Época, o Exército repudiou o artigo e escreveu que o texto de Vianna revela “ignorância histórica e irresponsabilidade, não compatíveis com o exercício da atividade jornalística”, e pediu para que a revista “afaste qualquer desconfiança de cumplicidade com a conduta repugnante do autor e de haver-se transformado em mero panfleto tendencioso e inconsequente”. Segundo o Exército, o comportamento do colunista foi “leviano e possivelmente criminoso”, e afirmou que a corporação tem se empenhado para preservar vidas “estendendo a Mão Amiga”.
Em resposta, Época publicou a seguinte nota:
“Nesses dias sombrios que temos vivido em nosso país, a missão do jornalismo de Época tem sido informar a sociedade sobre fatos relevantes e, no espaço editorial, permitir a divulgação de manifestações das mais diversas correntes de pensamento, mesmo aquelas com as quais não concorda. O título e o conteúdo do artigo a que a carta do Exército se refere não refletem a opinião de Época sobre os militares brasileiros, mas apenas o pensamento do autor, que exerceu tão somente seu direito à liberdade de opinião. Há graves erros e omissões do presidente Jair Bolsonaro e de seus ministros, em especial o da Saúde, na condução da luta contra a pandemia. Mas Época entende que essa má condução não pode ser atribuída às Forças Armadas. Ao publicar essa carta do Exército, Época não está aquiescendo a exigências. Época demostra apenas seu apreço pelo debate democrático e pela liberdade de expressão. Discordar com espírito crítico, de forma respeitosa, é o que se espera de quem ocupa posição de relevo nas instituições mais importantes do estado.”