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sexta-feira, abril 26, 2024

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Equal pay e Megxit levam desassossego à midia britânica

Por Luciana Gurgel, especial para o J&Cia

Luciana Gurgel

Dois episódios sem relação direta – a luta pela igualdadade salarial entre homens e mulheres nas redações e a renúncia às obrigações reais do casal Harry e Meghan (já chamada de jocosamente de Megxit, em alusão ao Brexit) – estão colocando ao mesmo tempo práticas tradicionais da imprensa do Reino Unido sob os holofotes. E podem gerar mudanças na relação de profissionais com empregadores e de celebridades com a mídia.

Equal Pay – Um deles foi a vitória da jornalista Samira Ahmed sobre a BBC na causa reivindicando pagamento igual ao do colega Jeremy Vine (falamos disso aqui em J&Cia 1.230, em novembro), sob o argumento de que ambos despenhavam funções semelhantes. O resultado deve desencadear demandas por parte de outras jornalistas da emissora, em mais um capítulo da história iniciada em 2017, quando tornou-se pública a primeira lista de salários contendo uma só mulher entre os dez mais bem pagos.

Samira Ahmed

Especula-se que a BBC acabe fazendo acordos para evitar o desgaste de novos julgamentos. Mas os efeitos podem ir mais longe. Na sentença de 40 páginas, o juiz aponta a dificuldade de a emissora contestar a tese de discriminação de gênero pela “ausência de um sistema organizado e transparente de avaliação e estabelecimento de salários para os seus profissionais”.

A política de negociar remuneração com base na fama do jornalista e capacidade de atrair audiência e anunciantes, navegando na tênue fronteira entre jornalismo e entretenimento, não é exclusiva da BBC. Esse aspecto do veredito oferece aos que discordam do modelo um poderoso elemento para levar à mesa de negociação em disputas envolvendo salários diferentes para funções iguais, mesmo entre profissionais do mesmo sexo.

E pode conduzir empresas de mídia a revisarem estruturas de cargos, salários e promoções, aumentando a transparência e reduzindo a subjetividade para evitar transtornos.

Harry&Meghan – A outra situação é a confusão provocada pela decisão do casal Harry e Meghan de se desligar parcialmente das funções reais. O espaço dedicado ao tema é proporcional ao tamanho da encrenca, considerada uma das maiores crises já enfrentadas pela monarquia. Um briefing com um especialista em protocolo real promovido pela FPA (Foreign Press Association) na semana passada em Londres reuniu mais de 40 correspondentes estrangeiros.

Mas nesse caso a imprensa é parte do problema, já que a razão alegada para o refúgio no Canadá é a perseguição racista dos tabloides. No estilo “mate o mensageiro”, os Sussexes chocaram o meio anunciando intenção de romper com o sistema de “rota real“ (pool de equipes revezando-se na cobertura de compromissos oficiais e distribuindo o material aos demais veículos), passando a anunciar novidades diretamente em suas redes sociais e privilegiando  veículos independentes em detrimento da mainstream media.

Como os tabloides não são novidade e o casal sempre transitou no universo dos famosos, o caminho fácil de culpar a Imprensa bem pode ser uma tentativa de escamotear o real motivo: divergências familiares mal-resolvidas. Seja qual for a razão, é fato que os Sussexes tentam quebrar o protocolo estabelecendo um modelo diferente para a relação com a imprensa, buscando total controle. E que se der certo inspiraria outras celebridades a seguirem o exemplo.

Pode dar certo se eles se esconderem em uma caverna inacessível a fotógrafos, contarem com a discrição de todos com os quais se relacionam e sumirem das redes sociais. Mas não parece ser o plano, já que manterão engajamento em obras de caridade e querem trabalhar a fim de evitar dependência financeira da Coroa.

Não precisa bola de cristal para prever que a grande imprensa continuará reportando as aparições públicas do casal, queiram eles ou não. E que pessoas mal-intencionadas seguirão fazendo bullying nas redes sociais a partir do que eles postarem. 

Ao abrirem guerra com a imprensa – parte dela séria – Harry e Meghan assumem o risco de se tornarem ainda mais vulneráveis. Sobretudo se deixarem flancos para críticas, como a má ideia de viajar em jatinho particular enquanto expressam preocupação com a mudança climática. Falhas não serão perdoadas.

É um momento delicado para a casa real, parcialmente financiada pelos contribuintes. O rebelde Harry é o segundo membro da família mais popular, logo após a avó, e o favorito entre os millenials, segundo o instituto de pesquisas YouGov. Se a “Firma”, como é apelidada a monarquia, tiver juízo e bons assessores de RP, vai fazer de tudo para não perder esse ativo tão importante para a sua sobrevivência. Dando os anéis para não perder o cetro.

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