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sexta-feira, abril 26, 2024

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Gay Talese: bom texto é mais importante que coletar informações

O 4° Congresso Internacional Cult de Jornalismo Cultural reuniu recentemente em São Paulo centenas de pessoas no Tuca, ansiosas por ouvirem as palestras de profissionais como Art Spiegelman, Robert Darnton e Marcos Flamínio. Uma das mais aguardadas era a de Gay Talese. Poucos minutos antes de iniciar sua palestra, o mestre do new journalism falou com o editor do Jornalistas&Cia Igor Ribeiro. Diante da crise do modelo de negócios da comunicação, com tantos jornais encolhendo e outros setores do mercado revendo suas finanças, perguntou-se o que ele pensa como solução para esse cenário. O que um profissional que fez carreira na reportagem e na redação faria para manter sua empresa no azul, caso fosse o dono de uma editora ou de um título específico? ?Em primeiro lugar, seria muito seletivo ao empregar jornalistas?, começou Talese. ?Gostaria de ter certeza de que sou apoiado por ótimos profissionais à minha volta. Eles deveriam ter habilidade de escrita desenvolvida. Pois não é o suficiente coletar informações. É muito simples coletar informações, qualquer um pode fazer isso. Mas como escrever essas informações é que muda tudo?, disse. Talese acredita que, no futuro, o bom texto jornalístico vai ser exclusivo, como uma assinatura. ?Hoje, muitos se declaram jornalistas porque carregam algum instrumento que parece ter utilidade, ou porque conseguem uma credencial de acesso, ou porque se sentam numa coletiva de imprensa… Então, eu não empregaria ninguém que eu não tivesse certeza sobre sua experiência e sua habilidade em ser escritor?, afirmou. Segundo o jornalista, ao contrário do que se pensa, qualquer situação noticiável, de economia a educação, de relações internacionais a luta de classes, é passível de ser descrita de forma criativa, por meio da humanização dos personagens envolvidos. ?Também tem de ser relevante, pertinente, e interessante. Como um bom livro, um bom filme, um bom rock?, concluiu. Em sua palestra, agradeceu à apresentação calorosa do mediador Ivan Finotti, repórter da Folha de S.Paulo, e elogiou Daysi Bregantini, editora e diretora responsável da Cult, que organiza o evento. Descendente de italianos, Talese explicou como a infância em Nova Jersey, durante a Segunda Guerra, ajudou a fomentar sua vontade de escrever. ?Havia uma foto em casa com primos alistados no exército fascista?, lembrou. ?Óbvio que não era motivo de orgulho, então meus pais guardavam o porta-retrato no segundo andar, afastado do movimento da loja que mantinham no primeiro?. Espiava as conversas de sua mãe com as clientes e, não raro, ouvia contarem sobre um filho ou parente que estava na Sicília. Uma das histórias falava sobre um soldado americano baleado, e imaginou como a vida daquele militar se cruzava, ali naquela sala, com a de seus primos do porta-retrato. ?Tem uma história aí. E eu não preciso inventar nada!?, exclamou na época. Em cerca de uma hora, Talese contou sobre sua adolescência como um estudante mediano, o primeiro emprego no jornal da escola e o início no New York Times como contínuo, encantando a plateia com suas histórias e serenidade. Respondeu a três perguntas entre as dezenas enviadas pela plateia e se despediu. 

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