Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Poucas coisas no mundo chegarão a 2023 tão diferentes do que eram há 12 meses como o Twitter.

Elon Musk inscreveu seu nome na história da mídia digital como o homem que desmantelou a plataforma até então menos sujeita a críticas em comparação a outras Big Techs.

E pensar que há um ano o apedrejado era Mark Zuckerberg, sofrendo os efeitos das revelações da ex-funcionária Frances Haugen, que expôs documentos internos demonstrando conhecimento da Meta sobre danos causados pelo Instagram a jovens.

O Twitter não está na chuva sozinho. O TikTok, que fechou 2022 desbancando o Google como domínio mais popular da internet, anda na mira de legisladores por sua propriedade chinesa.

Parecia teoria conspiratória, até que em setembro Shou Zi Chew, CEO da plataforma nos EUA, admitiu em carta a uma comissão de senadores americanos o acesso a dados de usuários por integrantes da ByteDance na China, deixando dúvidas sobre se o governo chinês também teria acesso.

Na semana passada, o senador Marco Rubio deu entrada em um projeto de lei para banir o TikTok dos EUA. Na Europa, que tem uma nova lei de mídia digital, a rede social chinesa também é objeto de desconfiança. No Reino Unido, o Parlamento cancelou sua conta duas semanas depois do lançamento.

Enquanto isso, a plataforma de vídeos curtos cresce tentando desviar-se de outras sensibilidades, como os desafios que causam depredação e acidentes.

Mas nada se compara ao Twitter, que deixou de ser o queridinho das celebridades e da mídia global quando Musk assumiu prometendo relaxar as regras de moderação em nome da liberdade de expressão.

Depois de uma sequência de atos tresloucados − como demitir metade da equipe e forçar muitos a irem embora caso não assinassem um compromisso de trabalhar de forma hardcore −, Musk chegou ao ápice de sua gestão caótica no domingo (18/12).

Ele deixou o mundo com a respiração suspensa aguardando a decisão sobre o futuro no cargo de CEO após uma pesquisa convocada por ele próprio atestar que 57% dos usuários da plataforma queriam seu afastamento.

Antes, criou uma confusão com uma suposta perseguição ao carro onde estaria seu filho, atribuída a uma conta que acompanhava os rumos de seu jatinho. Na sequência, suspendeu da plataforma uma penca de jornalistas de tecnologia importantes e puniu links para concorrentes.

No meio dessa confusão, a Mastodon avançou, mas continua distante do poder do Twitter. A rede de Musk é tão influente que não houve uma esperada debandada de usuários.

Um dos mais recentes a deixá-la foi Elton John, mas não totalmente. Em 9 de dezembro, ele anunciou que pararia de usar o Twitter − só que não apagou a conta.

Mesmo sem êxodo em massa, o caos abalou a saúde da empresa e de outros negócios de Musk, cujos acionistas andam alarmados com sua dedicação ao brinquedo novo.

Crédito: Kukuuplays

Anunciantes suspenderam ou reduziram investimentos. A ideia de faturar com a venda do selo azul de autenticidade fracassou depois de uma onda de perfis falsos e pouca gente disposta a pagar por ele.

Segundo Musk, o Twitter perde US$ 4 milhões por dia. Não há gente experiente para ajudar o comandante a pilotar a nave. A confiança da imprensa e de parte da opinião pública se foi.

Ele estaria à caça de investidores, oferecendo ações pelo mesmo valor que comprou – o que não deve ser atrativo, pois o valor de mercado da companhia, caso ainda fosse aberta, provavelmente seria menor do que era antes do caos.

Só que os problemas do Twitter são mais do que corporativos, como alertou Christopher Deloire, secretário-geral da Repórteres Sem Fronteiras:

“A censura a jornalistas e regras para acomodar os caprichos do patrão não são marcas de um espaço saudável de informação online. Já é tempo de os patrões das grandes plataformas serem trazidos de volta à terra pela lei, e que eles finalmente as coloquem a serviço da informação e da democracia.”

Para Deloire, “o tempo está se esgotando para as sociedades democráticas, que devem se organizar em resposta ao que é uma ameaça real”.

O Twitter não é a única ameaça. Mas Elon Musk disputa agora com Mark Zuckerberg o posto dos homens que mais contribuíram para esse estado de coisas. No momento, com vários corpos de vantagem.


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