Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

O Especial MediaTalks COP27, em que jornalistas brasileiros analisaram o impacto da conferência do clima da ONU em oito países, mostrou uma situação diferente daquela registrada em 2021.

Na COP26, todos os correspondentes relataram uma cobertura intensa nos locais em que viviam.

Em 2022, com algumas exceções, a cúpula do clima teve visibilidade nos primeiros dias e depois sumiu do noticiário.

A atenção − ou falta dela − por parte da mídia tem influência sobre opiniões e atitudes relacionadas ao clima, como demonstra uma nova pesquisa do Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo.

O Brasil é um dos oito países pesquisados, junto com França, Alemanha, Índia, Japão, Paquistão, Reino Unido e EUA. As entrevistas foram feitas em setembro, quando o tema não estava entre as pautas prioritárias da mídia, mesmo sendo período de campanha eleitoral no Brasil e nos EUA.

Para defesa da imprensa brasileira, este é um problema recorrente em campanhas. Em vários países, o clima perde espaço para outras pautas antes de eleições.

O resultado consolidado do estudo do Reuters indica que metade dos entrevistados foi exposta a notícias sobre as mudanças climáticas na semana anterior à da pesquisa.

O meio mais importante globalmente foi a televisão, identificada por quase um terço dos entrevistados como a principal fonte de informação.

No Brasil o comportamento foi diferente: apenas 29% dos pesquisados disseram ter se informado sobre clima pela TV, enquanto na França a taxa foi de 44%.

O meio mais eficiente para os brasileiros foi o online, que na pesquisa engloba sites de notícias e serviços de mensagem, mas não inclui mídias sociais. Um total de 38% dos entrevistados recebeu informações sobre as mudanças climáticas no que o estudo agrupa como online no País. O percentual só foi superado no Paquistão, que marcou 46%.

Uma revelação surpreendente do estudo é que, apesar de o clima ser supostamente uma causa que mobiliza mais os jovens, grupos etários mais velhos demonstraram mais exposição a notícias sobre as mudanças climática do que eles. Segundo o Reuters, a explicação está na conexão menor de jovens com o jornalismo, já constatada em estudos sobre hábitos de consumo e de confiança nas notícias.

Cheias no Paquistão (Crédito: ADB)

Cientistas e ativistas ambientais são as fontes mais lembradas entre os que viram notícias sobre o clima. No Brasil, os cientistas foram mencionados por 25% dos entrevistados, perdendo só para a França, com 29%.

Quando a pergunta é sobre confiança, novamente os cientistas se destacam no Brasil: 76% dos entrevistados pelo Instituto Reuters disseram acreditar neles, mesmo percentual que a Índia e quase o mesmo que o Paquistão, com 75%.

Na outra ponta, os menos confiáveis são as celebridades e partidos ou políticos, que se revezam entre o último e o penúltimo lugar.

No Brasil, políticos são vistos como fontes com credibilidade por 19% dos participantes do estudo, enquanto as celebridades ficam com 22%.

A influência pessoal é outra revelação interessante. Nos EUA, Alemanha, Índia e no Paquistão, os entrevistados disseram confiar mais em pessoas conhecidas para se informar sobre o clima do que em organismos internacionais como a ONU.

No Brasil isso não acontece. Pessoas conhecidas têm menos credibilidade como fonte (51%) do que organizações internacionais (63%) e mídia (56%).

A má notícia do trabalho do Reuters, e que serve de alerta para a imprensa, é que continua preocupante o percentual de gente evitando se informar sobre o clima. No Brasil ele é de 22%, taxa maior do que a da fadiga de notícias de forma geral (20%).

Tornar o noticiário mais atrativo é um desafio para a indústria e pode gerar negócios, como observou o professor Rosental Calmon Alves em entrevista para o Especial MediaTalks COP27.

O jornalismo de soluções, orientado a mostrar caminhos e não apenas o lado dramático da crise ambiental, é uma oportunidade para conectar os que se afastam do noticiário, como está fazendo o Washington Post em sua nova iniciativa de jornalismo climático − um bom modelo a ser observado.


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