No último dia 5/5 circulou a derradeira edição de mais um centenário impresso do interior do País, o jornal Comércio do Jahu, da cidade paulista de Jaú, de 120 mil habitantes, a quase 300 km da capital. A exemplo de outros jornais, foi vítima de um conjunto de fatores, que tem as redes sociais como principal alavanca.
Após quase 111 anos de vida (foi fundado em 31/7/1908 pelos irmãos Álvaro e Gumercindo Floret), pereceu depois de ao menos quatro anos de dificuldades. Era o único jornal impresso da cidade. O dono, o médico Raul Bauab (da família que o adquiriu há 50 anos dos Galvão Ferraz, parentes de Patricia Galvão, a Pagu), tentou de tudo para mantê-lo vivo, mas não conseguiu. Nem o site vai sobreviver.
“Os motivos e as razões devem ser os mesmos dos jornais sérios e isentos que vêm fechando em todo o mundo nos últimos anos”, disse Bauab a J&Cia. “Jornalismo sério e responsável custa caro. Aqui em Jaú, pelo menos, as pessoas não querem pagar por esse serviço. São as consequências do mundo moderno. Certamente isso um dia vai encontrar um equilíbrio. Não tivemos fôlego para tentar chegar a essa fase”.
Com tiragem de quatro mil exemplares e a média de 12 a 14 páginas, de terça a domingo, o Comércio do Jahu tinha sete profissionais na Redação (chegou a ter 10), entre eles a diretora de Redação Ana Karina Victor ([email protected]). Formada em Jornalismo pela Unesp, com pós-graduação em Gestão de Empresas de Comunicação, ela estava no posto há quase 13 de seus 19 anos no jornal, onde começou como estagiária.
“O Comércio sempre acompanhou, ao longo de todos os anos, a vida política, cultural, social e esportiva da cidade”, conta Karina. “E tornou-se patrimônio de Jaú, referência em informação, para o município e a região. Como jornal local, com circulação nas cidades circunvizinhas, era essa a principal cobertura, com análise. Destacamos, nos últimos dez anos, a realização de eventos voltados para o leitor e para a cidade, dando mais uma vez a oportunidade de manifestação aos agentes públicos e à sociedade civil. Foi a forma que o Comércio encontrou de ir além do hard news e promover a reflexão”.
Segundo ela, a diminuição do número de assinantes e anunciantes, além da crise econômica nacional e local (com redução do número de empresas e menor oferta de empregos), levou às dificuldades para a continuidade do Comércio: “A produção jornalística demanda trabalho intelectual e investimentos. E hoje, muitas pessoas não querem pagar pela informação de qualidade, que segue os princípios éticos. Acreditam, infelizmente, que postagens nas redes sociais bastam para que fiquem informados. Também o mercado publicitário está retraído, principalmente no interior. Há empresários que acreditam que impulsionar e patrocinar postagens no Facebook são suficientes para a construção de uma marca. Podem ajudar, mas não são os únicos mecanismos. O jornal passou por momentos difíceis há cerca de quatro anos. A situação não é diferente do que ocorre com outros veículos de comunicação: um número menor de pessoas que se dispõem a comprar o jornal na banca, fazer assinaturas do impresso ou digital. Além do mercado retraído de publicidade. A decisão de fechar, tomada após diversas tentativas, é reflexo de dificuldades de toda ordem enfrentadas ao longo dos últimos anos”.
Entre as iniciativas para tentar reverter a situação Karina cita a criação de produtos segmentados e a intensificação da produção de suplementos para alguns nichos, como veículos, saúde, gastronomia, moda, decoração, imóveis: “A cobertura dos fatos locais foi cada vez mais intensificada, com ainda mais espaço para essa cobertura em cada edição, em todas as editorias. Vídeos e postagens no Facebook também foram ampliados, bem como a atualização do site. Além disso, foram realizadas campanhas para assinaturas e anunciantes, pacotes especiais para anunciantes”.
A última edição, que circulou com o recorde de 44 páginas, conta toda a história do jornal. Confira!