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sábado, abril 27, 2024

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Memórias da redação ? Penetras

Nair Keiko Suzuki, que se aposentou em 2013 como editora-assistente de Economia e Negócios do Estadão, em sua segunda estada por lá, volta a colaborar com este espaço. Ela atuou também em revista Notícias Fiesp e Gazeta Mercantil, teve passagens pela sucursal paulista do JB e pela Folha de S.Paulo, além de IstoÉ e na extinta revista Afinal. Penetras Dar plantão aos domingos e fechar matérias sobre Economia nas edições de 2ª.feira da Folha de S. Paulo não era tarefa fácil. Por isso, o subeditor Rubens Barbosa de Mattos teve a ideia de criar uma agenda da semana para garantir conteúdo para as páginas brancas. O editor Pedro Cafardo acatou a sugestão e a tarefa coube a mim, por ter assumido a Chefia de Reportagem da editoria de Economia do jornal, em 1975. Batizada de Semana Econômica, a agenda registrava eventos como congressos, palestras, cursos, entrevistas coletivas, lançamentos de produtos, inauguração de fábrica, criação de entidades, divulgação de indicadores econômicos, vinda de ministros a São Paulo e outras iniciativas do governo, separados por dia da semana. No início, ocupava duas colunas, de cima a baixo. Depois, o espaço cresceu para meia página e quando deixei a Folha, em 1983, o serviço preenchia uma página inteira, com fotos. Para evitar que a agenda fosse maçante, mera cópia dos releases que recebia, decidimos destacar um ou outro evento, antecipando informações que ainda iam ser divulgadas. Ao receber um aviso de pauta da assessoria de imprensa do Banco Itaú sobre o lançamento de uma campanha publicitária, por exemplo, liguei para o publicitário Washington Olivetto, na época da DPZ, pedindo um detalhe da nova peça. O que ele me adiantou saiu destacado num quadro dentro da Semana Econômica. Quando uma entidade ou uma assessoria avisava que ia divulgar os resultados de uma pesquisa de mercado, eu igualmente antecipava um dos dados ainda inédito. A agenda passou a servir de pauta para os jornalistas de Economia e as assessorias de imprensa pediam para incluir uma ou outra informação para atrair a mídia. Ciente da importância do serviço, usei a agenda também para me vingar de um assessor. Ele havia me pedido para indicar um jornalista para o trabalho de free-lancer num evento. Indiquei uma repórter que, por problemas pessoais, estava precisando de dinheiro extra. Soube depois que ela nada recebeu pelo serviço prestado. A partir daí, não publiquei mais nada do que esse assessor divulgava. A coluna atraía também os falsos jornalistas, que ficavam sabendo por lá de almoços, jantares e festas de confraternização com a imprensa e apareciam, como penetras. Geralmente eram pessoas mais idosas, trajando terno que não combinava com a camisa, muito menos com a gravata. Mostravam uma credencial qualquer – teve um que mostrou o crachá de uma revista feita pelo consulado da França –, entravam, não faziam uma pergunta sequer nas entrevistas coletivas e em seguida almoçavam ou jantavam de graça. Isso acontecia principalmente nos eventos de fim de ano. O crescente número de penetras fez com que a assessoria de imprensa de uma grande montadora me procurasse, fazendo um apelo que me surpreendeu na época: que deixasse de incluir na Semana Econômica a data e local do almoço de confraternização da diretoria da empresa com os jornalistas que cobriam a área. Conseguiu, assim, reduzir o número de participantes, que já era grande. Quando pedi demissão da Folha oito anos depois para ir trabalhar na revista IstoÉ, ninguém me substituiu na agenda, que deixou de ser publicada. A brava equipe de jornalistas da sucursal de São Paulo do jornal O Globo tomou a iniciativa, e outros aderiram ao almoço de despedida no extinto restaurante Franciscano, que ficava na rua da Consolação. Durante o almoço, os colegas me agradeceram pelas dicas de pautas que, voluntariamente ou não, incluí na Semana Econômica.  

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