Por Luiz Roberto de Souza Queiroz

O maestro Diogo Pacheco faleceu em 16/8, aos 96 anos, de problemas pulmonares, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.

Também jornalista, responsável pelas matérias sobre música do Estadão, onde trabalhou por várias décadas, distinguia-se dos demais articulistas, que escreviam em casa, por comparecer diariamente à redação, onde preparava seus textos. Além dele, apenas o comentarista de cinema, Rubens Biáfora, e o de teatro, Sábato Magaldi, escreviam na redação, o que fez com que os três se integrassem inteiramente ao grupo de jornalistas que, à época, produzia o que era o melhor jornal do País.

Uma das piadas preferidas de Pacheco ele repetiu para Marco Antonio Rocha, quando perguntado porque optara por ser maestro: “É que eu manejo bem a vara…”.

A grande obra de Diogo Pacheco foi tornar a música erudita acessível às pessoas que não conheciam esse gênero musical, missão a que se dedicou também na TV Globo, onde foi responsável pelo programa Concertos Internacionais, que também chegou a apresentar.

Foi também assistente do maestro Eleazar de Carvalho na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Recife, durante um curto período.

Homem da noite, como todo músico que se preza, Diogo abria as portas de seu apartamento em Higienópolis para os amigos, destacando-se entre eles Carlos Lacerda, que à época estava encarregado de escrever a história da família Mesquita e do Estadão, missão que morreu sem concluir.

Lacerda vinha a São Paulo uma vez por semana para reuniões políticas como líder da UDN que era e, cumprida a agenda, muitas vezes ia para o apartamento de Pacheco, onde, madrugada adentro, preparava a macarronada especial de que se orgulhava tanto.

Nessa época Lacerda tinha pedido que o Estadão lhe emprestasse como pesquisadores (repórteres, na realidade) dois jornalistas. A escolha recaiu sobre Luiz Ernesto Kawall, que tinha sido diretor da sucursal paulista da Tribuna da Imprensa, jornal do Lacerda, e eu. Lembro que uma vez Lacerda ligou para minha casa às duas da manhã, pedindo com a maior tranquilidade que fosse para o apartamento do maestro Diogo Pacheco para uma ‘reunião de pauta’ sobre nosso trabalho.

É impossível descrever o que foi a ‘reunião’: o ícone que era Lacerda, colher de pau na mão, mexendo com cuidado o macarrão, que precisava ficar ‘al dente’ e, eu, foquinha, com Luiz Ernesto, de bloco na mão, anotando as pautas que ele passava, algumas dificílimas de cumprir − tanto que para montar a história dos Mesquita do Estadão ele acabou tendo que ir à Torre do Tombo, em Portugal.

Ao mesmo tempo em que éramos pautados, a modesta cozinha do maestro transformava-se num fórum de altíssimo nível, com o próprio Diogo Pacheco e outros convidados saltando de um assunto para outro, de um recente concerto em Praga ou Viena para a política brasileira e resvalando para análises sociológicas e filosóficas, enfatizadas com tapas sobre a mesa da cozinha que, horas depois de abandonada por alguns dos maiores intelectuais brasileiros, voltaria à sua vocação original quando sobre ela a cozinheira do maestro montava um frugal café da manhã.


A história desta semana é novamente de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto, assíduo colaborador deste espaço, que esteve por muitos anos no Estadão e hoje atua em sua própria empresa de comunicação.

Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected].

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