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domingo, abril 28, 2024

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Memórias da Redação ? Batismo de fogo

A história desta semana é uma nova colaboração de José Luiz Carbone, que atuou como repórter nos jornais Cidade de Santos e A Tribuna, de Santos (SP), foi assessor de imprensa em Volkswagen, Cosipa (atual Usiminas) e Grupo Peralta, redator da Revista Go’Where Beach e hoje tem um blog de dicas de filmes: www.cinedvdicas.blogspot.com.br. Batismo de fogo Depois de trabalhar como revisor de textos durante alguns meses em A Tribuna, fui convidado para fazer um teste na editoria de Polícia do Cidade de Santos, filiado à empresa Folha da Manhã. O teste era “cozinhar” alguns textos que chegavam à redação via telex. No dia seguinte estava contratado. Era início da década de 1970. Tinha 20 anos e estava no segundo ano da faculdade de Jornalismo. Minha missão, como a de todo repórter policial naquela época, era percorrer os distritos policiais e selecionar os casos mais importantes registrados nos boletins de ocorrência, os chamados BOs, e transformá-los em notícia. No segundo dia, voltei à redação com o material colhido e, quando me preparava para sentar e começar a redigir as matérias, o editor de Polícia Abissair Rocha avisou: “Nem sente. Vai sair agora para a Via Anchieta, pois aconteceu um grave acidente e parece que teve uma morte. Não volte sem a identificação da vítima. E não demora que logo vamos entrar em fechamento”. Ao lado de um fotógrafo – acho que o saudoso Toninho Moreira –, lá fui eu para o meu batismo de fogo. O motorista era o Ismael, isso eu lembro. O acidente havia acontecido um pouco antes do início da subida da Via Anchieta. Um caminhão vinha no sentido São Paulo-Santos, o motorista perdeu a direção e atravessou para a pista da subida, colidindo de frente com uma Kombi. Quando cheguei, vi que o cenário não era dos mais animadores. O caminhão entrara até a metade da Kombi, cujo motorista estava morto entre as ferragens. Os bombeiros já tinham chegado e iniciavam o trabalho de corte da lataria com o objetivo de resgatar o corpo da vítima. A ordem do Rocha martelava na minha cabeça: “Não volte sem a identificação da vítima e não esqueça o horário de fechamento”. Com isso em mente, pedi a um bombeiro para acompanhar bem de perto o resgate do corpo e então pegar um documento e anotar o seu nome. Eu estava bem ao lado quando um bombeiro conseguiu puxar o motorista pelos braços. O corpo, da cintura para baixo, havia ficado preso entre as ferragens. Isto é, o bombeiro só resgatou a vítima da cintura para cima. Quando vi a cena, quase desmaiei. Mesmo enjoado e tremendo feito vara verde, consegui pegar a carteira de identidade, afastar o sangue com um pedaço de lauda e anotar, finalmente, o nome do infeliz. Ao chegar de volta à redação, fui cercado pelo pessoal querendo saber o que tinha acontecido, o que fez me sentir o máximo. É claro que também tive de aguentar a gozação pelo tom de brancura da minha pele. Missão cumprida, passei pelo batismo de fogo. Imaginem a minha sensação, no dia seguinte, ao ver a matéria no alto da primeira página como a principal manchete da edição. Saiu até na Folha de S. Paulo. Uma estreia e tanto para um foca de segundo dia. Tudo bem que não dormi a semana inteira…

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