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sexta-feira, abril 26, 2024

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Eu e Vera Giangrande

* Por Nicolau Amaral

 

Tenho certeza de que muitos dos ”Quilates” conheceram a grande figura. Tive o prazer de conviver com ela de 1975 até a sua partida. Brigávamos muito, ou melhor, ela brigava muito comigo, mas a amizade e o respeito sempre falavam mais alto! Foi uma grande professora, conselheira, amiga, patroa e depois prestadora de serviços de comunicação, quando eu fui executivo de grandes grupos.

Vera era exatamente 21 anos mais velha do que eu, mas como gostávamos da boêmia ficamos grandes amigos e enfiávamos o “pé na jaca” sempre que era possível. Tenho histórias que dariam um bom livro – e talvez até processos se eu abrir o “bico”. Conheci seus país, irmãos, sobrinhos e até seus amores, que não foram poucos. No livro sobre a grande mulher, eu apareço dançando com ela em foto de página inteira.

Um dia recebemos um convite para um coquetel e jantar para os Relações Públicas de São Paulo no famoso e já um pouco decadente Regine’s, uma das boates mais badaladas da cidade. Na mesma hora, fui intimado pela própria Vera para ser o seu acompanhante. No dia do evento “lá me fui”, acompanhando a grande dama, que na ocasião era também presidente da Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP).

O champanhe corria solto e nós, como sempre, “entornamos” todas. Lá pelas tantas, apareceu a dona da boate, a famosa Regine, em carne e osso. Como eu já estava “mais pra lá do que pra cá” e a Vera também, acabamos achando que seria de bom tom convidar a nossa anfitriã, como reciprocidade, para o almoço mensal da entidade dos Relações Públicas, que ocorreria no dia seguinte no restaurante Terraço Itália.

Ao chegarmos, um grupo de senhoras da ABRP nos chamou a atenção por termos convidado uma “dama da noite” para ser participante do almoço da reacionária Associação. Nem preciso dizer que ficamos “putos da vida” com tamanha mediocridade de alguns dos nossos colegas profissionais, mas Vera parou e me disse: “Nickiki – como ela me chamava –, vamos dar o troco!”.

Durante o coquetel barato que antecedia o almoço eu duvidava que a Regine fosse, mas ela foi. Vera me perguntou: “Você fala francês?”. Eu disse que não. Me chamou de inculto, para variar, e disse: “Quando você ouvir a palavra ‘merci’ comece a bater palmas. Havia uma mesa principal e a convidada sentou-se ao lado da presidente.

Ao iniciar a cerimônia, Vera fez a apresentação de praxe e disse: “Como aqui só há pessoas finas e educadas, e, portanto, todas falam francês, eu farei o meu discurso na língua da nossa homenageada”.

E começou um longo discurso. Como ninguém, ou melhor, um ou dois achavam que falavam o idioma, ficou um clima tipo “o que essa mulher está falando?”. Como o francês da Vera tinha um sotaque horrível, a Regine também não entendeu absolutamente nada! E eu atento à palavra “merci”. Quando a ouvi, comecei a bater palmas, no que fui seguido por todos!

Para variar, tomamos outro “porre” e nem vimos quando a francesa foi embora, nem lembramos como saímos de lá. Mas essa já é outra longa história.

 

* Nicolau Amaral ([email protected]) criou e desde 1988 dirige a agência de comunicação que leva seu nome. Diz ele que, “como muita gente da nova geração não conhece Vera Giangrande, vou lembrar que ela foi uma das mais importantes líderes de RP do País, pioneira na atividade de ombudsman em um grande grupo empresarial e também líder na aproximação com os jornalistas, nos anos 1980, em acordo celebrado entre o Conferp e a Fenaj (então presidida por Audálio Dantas) no lançamento do Manual de Assessoria de Imprensa”.

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