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sábado, maio 4, 2024

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Helle Alves lança autobiografia Eu vi

Helle Alves lançou no último sábado (10/11), em Santos, Eu vi, autobiografia em que rememora sua carreira nos Diários Associados. Entre outras coberturas, o livro aborda o furo de reportagem de Helle, hoje com 85 anos, sobre a morte de Che Guevara na Bolívia, em 9 de outubro de 1967. José Maria dos Santos, genro da autora, escreveu sobre ela e o livro a pedido de J&Cia: O assunto me diz respeito de perto, pois sou genro de Helle há 41 anos. Ao contrário do folclore em torno de sogras, das quais se diz cobras e lagartos, posso falar apenas em borboletas e joaninhas, uma vez que minhas relações com ela têm sido fáceis e amenas nesse período. Na época daquele episódio, nas minhas verdes duas décadas mal completadas de vida, eu era seu colega de redação dos Diários Associados, no célebre endereço da rua 7 de Abril, 230, 1º andar. Via-a partir alguns dias antes, em fins de setembro, na companhia do fotógrafo Antonio Moura e do cinegrafista Walter Gianello, da TV Tupi, na perua Rural-Willys pintada de amarelo-gema com o logotipo Diário da Noite estampado em vermelho, numa combinação de cores que lembrava a camisa do Jabaquara Atlético Clube. Guevara ainda não estava nos seus planos. A equipe ia por terra com a destino a Camiri, uma cidade de 25 mil habitantes do Departamento de Santa Cruz, a fim de cobrir o julgamento do filósofo francês Regis Debray, acusado pelo governo boliviano de fomentar a luta armada para derrubar o regime. A travessia seria, em principio, mais prática do que voar, pois o departamento faz fronteira com o Brasil. Era aquele pedaço que gira em torno de Santa Cruz de La Sierra e Cochabamba. Eis como era o contexto dos fatos. Regis Debray, com sua barba clara e o olhar alucinado dos sonhadores, parecia ser um daqueles jovens egressos das passeatas de Maio-68, caso o ano já tivesse começado. Ele se instalara na Bolívia para comprovar a tese do ?foquismo?, isto é, a criação de focos revolucionários armados para destroçar o Capitalismo, segundo apregoava nos seus escritos, resumida na expressão: um, dois, mil vietnãs. Por outro lado, cresciam os rumores de que Ernesto Guevara, comandante das colunas guerrilheiras que enfrentavam a do general René Barrientos, estava cercado na região. Até então, seu paradeiro era um mistério, desde que saíra de cena em Havana sem deixar vestígios, por volta de 1964. Tinha-se a impressão de que a profecia bíblica da batalha final de Armagedon, do Bem contra o Mal, iria ser travada nas selvas bolivianas. Instalada em Camiri com as antenas sempre ligadas, de acordo com seu feitio ? a propósito, foi uma das pioneiras no movimento de valorização pró-idosos no País ?, Helle decidiu verificar in loco os boatos sobre guerrilheiros aprisionados e mortos naquele sudoeste boliviano, enquanto os colegas jornalistas permaneciam postados na cidade de Santa Cruz de Sierra, aguardando a confirmação oficial das operações referidas. Acompanhou-a apenas outro repórter, José Stacchini, do Estadão. Enquanto os outros aguardavam, Helle despachava sua matéria pelos cabos da Western. A partir daqui, e descrição dos acontecimentos fica por conta do livro. Lembro-me de que Helle chegou à Redação por volta das quatro da tarde do dia 9 de outubro, desta vez de avião, enquanto os companheiros ficaram na Bolívia para prosseguir com Debray. Ela trazia os filmes ? tanto as fotos como as imagens para a televisão ? e este foi o enorme diferencial, pois Stacchini estava só na parada. De modo que, no dia 10 de outubro os Diários, como propunha a gíria da época, lavou a égua. Salvo engano, talvez tenha sido o momento em que os Diários Associados prepararam seu último suspiro em São Paulo, até chegar à insolvência nos anos 70.

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