O Projeto Motor Jornalismo, especializado em automobilismo, anunciou a criação do Projeto Esporte, canal voltado ao setor esportivo no YouTube, que seguirá a mesma linha editorial adotada pelo Projeto Motor.
O objetivo é contar grandes histórias, falando sobre a trajetória de personagens interessantes e explicando acontecimentos de forma mais profunda, contextualizada e técnica, mas agora não só de automobilismo, mas de vários esportes.
Bruno Ferreira, sócio e membro do Comitê Editorial da Projeto Motor Jornalismo, declarou que a criação do braço de esportes gerais é um grande marco: “As mais diferentes modalidades esportivas possuem infinitas histórias riquíssimas, sendo que muitas delas transcendem o mundo das competições e se tornaram importantes para a sociedade de uma forma geral. Então, queremos contar estas histórias de maneira acessível, didática e descomplicada, com o mesmo cuidado e capricho que já fazemos com o Projeto Motor”.
Em clima de Olimpíadas, o primeiro vídeo do Projeto Esporte é sobre o maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, que foi segurado por um invasor nos Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas.
O Projeto Motor é um site e canal no YouTube independente, especializado em automobilismo, que não foca em notícias do dia a dia, mas em reportagens profundas com explicações técnicas e históricas, além de curiosidades do universo das corridas de carro.
“Nossa missão é descomplicar e explicar este esporte tão fascinante, sempre com conteúdo 100% original”, diz o site do projeto.
O mundo corporativo está cheio de poderosas CEOs liderando grandes organizações. Mas o jornalismo não repete o modelo. A falta de diversidade de gênero na mídia persiste nos altos escalões, a despeito de tantas iniciativas para mudar o quadro.
Por isso, a chegada de Sally Buzbee ao comando do Washington Post, há uma semana, é um fato a ser comemorado. Primeira mulher a dirigir a redação de um dos mais influentes jornais do mundo em 144 anos, ela se tornou notícia não apenas pelo currículo (ocupava cargo semelhante na Associated Press), mas por representar uma virada que muitas organizações globais têm procurado fazer.
Sally Buzbee
Algumas já fizeram. O Financial Times entronizou Roula Khalaf como editora-chefe em 2020, depois de quatro anos como subeditora. Foi a primeira mulher no cargo em 131 anos. A Reuters alçou em abril passado Alessandra Galloni ao comando. A italiana é a primeira mulher em 170 anos a liderar as operações globais da agência de notícias.
São avanços, mas ainda quase exceções em um universo dominado por homens, apesar de as mulheres serem maioria nas redações em vários países.
Um estudo do Instituto Reuters revelou em 2020 que apenas 23% dos chefes de veículos online e off-line em dez mercados, incluindo o Brasil, eram mulheres.
Uma desproporção, considerando que o mesmo estudo mostrou que 40% do conjunto de profissionais de imprensa eram mulheres na época. No Brasil a taxa é superior a 50%.
Com os exemplos de Buzbee, Khalaf e Galloni os números já mudaram. Mas ainda assim há muito a fazer para que o jornalismo seja mais inclusivo para as mulheres, tanto nas redações quanto na cobertura.
A partir do exame de mais de 30 mil reportagens, o estudo mostra que a proporção de mulheres como fontes e personagens aumentou significativamente em cinco anos. Mas ainda está em 25%. E diminuiu na pandemia.
A situação piora com a idade. Apenas 3% das mulheres retratadas em matérias têm mais de 65 anos. Entre os homens, a taxa é de 15%.
Uma das questões destacadas foi o compromisso de garantir que as várias vozes na redação sejam ouvidas, e que o jornal conte histórias que reflitam as experiências de seus leitores diversos.
A mensagem é clara. Mais do que nomear mulheres para liderar redações, o jornalismo tem uma montanha muito maior a escalar para espelhar o conjunto da sociedade.
Livro examina diversidade na América Latina
Um e-book (gratuito) lançado pelo Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, dirigido pelo brasileiro Rosental Calmon Alves, demonstra isso.
O livro é dividido em quatro seções abordando a diversidade em gênero, orientação sexual, questões raciais e étnicas e deficiência.
Paula Cesarino Costa, primeira editora de diversidade da Folha de S.Paulo, escreveu sobre inclusão racial: “Em mais de 30 anos de trabalho em redação, me sobram dedos nas mãos para contar o número de jornalistas negros com quem convivi”.
Embora os debates sobre diversidade na mídia se concentrem mais em raça e gênero, há outras áreas que merecem atenção em projetos de inclusão. Uma delas é o tratamento da mídia a pessoas com deficiência.
A chilena Andrea Medina, autora do ensaio no livro sobre o tema, acha que elas devem ser representadas como agentes ativos, protagonistas de suas próprias notícias, pois muitas vezes são as outras pessoas que falam por elas, com uma abordagem assistencialista.
A subida é longa, mas o livro é um ótimo mapa para alcançar o cume da montanha da inclusão.
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Estão abertas as inscrições para o Lab Nexo de Jornalismo Digital, com o tema Primeira Infância e Desigualdades, treinamento online feito em parceria com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal,O objetivo é complementar a formação de jovens jornalistas com uma imersão nos principais temas que envolvem as crianças em seus primeiros anos de vida. As inscrições vão até 1º de agosto.
Ao todo, são 30 vagas para estudantes (com formatura prevista entre dezembro de 2021 e dezembro de 2022) e profissionais recém-formados em Jornalismo ou Comunicação Social (formatura a partir de dezembro de 2019).
As aulas serão de 6 a 17 de setembro. Nesse período, os selecionados participarão de oficinas práticas sobre como produzir diferentes formatos narrativos, como gráficos, podcasts, produções audiovisuais, reportagens, entre outros; palestras sobre os assuntos relativos ao tema Primeira infância e Desigualdades; e reuniões de pauta com os editores do Nexo para a definição de conteúdos a serem produzidos.
Após as atividades, ao longo dos meses seguintes, os participantes serão acompanhados pelos editores do Nexo para produzir os conteúdos escolhidos, que serão publicados no jornal. As reportagens serão feitas em dupla e a que produzir o conteúdo mais bem avaliado por uma Comissão Julgadora receberá duas bolsas de estudos, uma por pessoa, para cursos de educação executiva em Jornalismo do Insper, que apoia o curso.
André Felipe de Lima lançou o e-bookÍdolos & Épocas — O amadorismo no futebol brasileiro (1900 a 1933), de A a F (Approach Editora/Museu da Pelada), primeiro volume de uma obra que aborda a era amadora do futebol brasileiro, com biografias de renomados craques do passado. Os outros dois volumes, de G a O e de P a Z, estão em reta final de edição.
André Felipe de Lima
O livro é fruto de duas décadas de pesquisas e entrevistas que possibilitaram a descoberta de fatos sobre os jogadores do período amador do futebol brasileiro.
Algumas dessas descobertas incluem, por exemplo, o fato de que o ídolo vascaíno Fausto dos Santos, o “Maravilha Negra”, era carioca e não maranhense; que o goleiro Eurico Lara, maior ídolo da história do Grêmio, não morreu durante um Gre-Nal e chegou a atuar como juiz em alguns jogos antes de falecer; e que a gripe espanhola matou vários jogadores do eixo Rio-São Paulo entre 1918 e 1919. O livro aborda também outros nomes, como Amílcar Barbuy, Feitiço e o baiano Popó.
O autor conta que por diversas vezes teve seu trabalho desacreditado: “Alguns até diziam que eu não iria muito longe e que o projeto era coisa de megalomaníaco. Que seja, ora. A história do futebol brasileiro merece todo o nosso esforço em pesquisa e resgate de memória, mesmo que sem apoio cultural ou qualquer tipo de incentivo, que é o meu caso. Gastei até o que não podia comprando acervos, livros, revistas e jornais antigos, daqui e do exterior. Não me intimidei e segui a diante. Valeu muito a pena. A vastíssima pesquisa foi concluída”.
O e-book marca a estreia de André no campo literário. Ele atuou como repórter em Jornal do Commercio, Ediouro (agência de notícias Canal Web) e Globonews.com. Como consultor, trabalhou em RP Consultoria de Comunicação − que organizava o Prêmio Esso de Jornalismo − e Edelman. Foi professor de Jornalismo na Universidade Estácio de Sá durante oito anos. Atualmente, é editor da revista Comunità Italiana e integrante da equipe Ketchum JCM Comunicação.
O juiz Air Marin Junior, do 2º Juizado Cível de Boa Vista (RR), censurou nessa segunda-feira (19/7) uma reportagem sobre venda de ouro extraído ilegalmente de reserva indígena, que integra a série Ouro do Sangue Yanomami, produzida pelas agências de jornalismo investigativo Amazônia Real e Repórter Brasil.
Após pedidos feitos por advogados de uma das personagens da matéria, Marin determinou a retirada do ar de trechos do texto que relatam como o ouro extraído ilegalmente de reservas Yanomami é vendido na capital roraimense.
Com o nome não mencionado, a personagem foi retratada na reportagem como uma espécie de atravessadora dos garimpeiros, vendendo o ouro extraído ilegalmente a pequenas joalherias de Boa Vista.
Em nota, a Repórter Brasil alegou que “a retirada, feita sem decisão transitada em julgado e sem nenhuma audiência para ouvir a Repórter Brasil, é censura, pois fere a liberdade de imprensa, premissa do Estado democrático prevista no artigo 5°, inciso IX da Constituição”. E completou. “Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social”.
Os advogados de defesa da agência André Ferreira e Eloísa Machado, do Coletivo de Advocacia em Direitos Humanos, defenderam, em peça, que a conduta da Repórter Brasil é “perfeitamente lícita e implica o exercício regular do direito de informar” e, por isso “não pode receber nenhuma reprimenda, seja a retirada de conteúdo do ar, seja o pagamento de indenização por supostos danos morais”.
O juiz determinou ainda multa de cinco salários mínimos no caso de descumprimento da liminar e argumentou haver “alta probabilidade” de que a autora da ação tenha razão em seus argumentos. “Toda a documentação juntada e as alegações da autora indicam, pelo menos nesta seara não exaustiva, a alta probabilidade de que a autora tenha razão”.
O Ministério Público Federal abriu investigação para apurar as possíveis ligações da autora da ação judicial com o garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. O resultado poderá ser encaminhado à Polícia Federal com pedido de abertura de inquérito.
O deputado estadual do Ceará André Fernandes (Republicanos) foi condenado a indenizar Patrícia Campos Mello, repórter especial e colunista da Folha de S.Paulo, em R$ 50 mil por ataques machistas. A decisão em primeiro grau foi proferida nessa segunda-feira (19/7) pelo juiz Vitor Frederico Kümpel, da 27ª Vara do Foro Central Cível de São Paulo.
Ao prestar depoimento à CPMI das Fake News, em fevereiro de 2020, River mentiu e insultou a repórter da Folha ao afirmar que ela teria se insinuado sexualmente a ele em troca de informações. Após o ocorrido, o presidente, seu filho Eduardo e diversos apoiadores, entre eles o deputado cearense, deram coro aos ataques à jornalista.
Entenda o caso
Em outubro de 2018, Patrícia publicou na Folha de S.Paulo a reportagem Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp, que denunciava investimentos não declarados de R$ 12 milhões por empresas apoiadoras do então candidato Jair Bolsonaro, ação vedada pela justiça eleitoral.
Pela reportagem, ela foi vítima de uma série de ataques e ameaças pessoais por Bolsonaro e seus apoiadores.
Em contrapartida, também recebeu diversos reconhecimentos nacionais e internacionais, entre eles os prêmios International Press Freedom Award, do Comitê para Proteção dos Jornalistas (CPJ), e Maria Moors Cabot, além de ter sido consagrada por dois anos consecutivos como a +Premiada Jornalista do Anono Brasil, em levantamento promovido por este Portal dos Jornalistas.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) está acolhendo os dois primeiros casos de seu Programa de Proteção Legal para Jornalistas, três meses após ser lançado. Um é mantido em sigilo por orientação da defesa, e o outro vai beneficiar o repórter Alexandre Aprá, fundador do blog Isso É Notícia, de Cuiabá.
Este caso que a Abraji vai apoiar é um processo civil, movido pelo então secretário da Casa Civil de Mato Grosso, Mauro Carvalho Junior, que alega que teve sua honra ofendida em reportagens de Alexandre sobre compra de jatos de luxo pelo governo estadual. O secretário pede uma indenização de R$ 15.400.
O repórter de Isso É Notícia é alvo de vários processos movidos por pessoas ligadas ao governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (DEM). O repórter vem produzindo reportagens sobre suspeitas de corrupção. Já enfrentou a Justiça para fazer valer a Lei de Acesso à Informação e chegou a ser agredido fisicamente em 2015.
Sobre o programa da Abraji
Criado para combater as constantes ameaças à liberdade de imprensa e o assédio judicial a jornalistas e comunicadores do Brasil, o programa da Abraji é feito em parceria com o Instituto Tornavoz e tem financiamento da Media Defence.
A ideia é garantir assistência jurídica a profissionais de imprensa que, em razão do seu trabalho, estejam sendo silenciados ou constrangidos por meio de processos judiciais. No primeiro ano de funcionamento, o programa prestará assessoria jurídica para até seis profissionais.
Percival de Souza e Renato Lombardi estreiam nesta semana o podcast Arquivo Vivo: Crimes Que Chocaram o Brasil, que discute casos criminais de grande impacto no País. A produção estará disponível em PlayPlus, (plataforma de streaming da Record), R7, YouTube e plataformas de áudio.
A proposta é que cada episódio aborde um caso, relembrando de forma detalhada os acontecimentos e consequências, com participação de pessoas que conhecem o assunto de perto. O objetivo é aprofundar os casos e permitir que os ouvintes formem suas próprias teorias ou opiniões sobre os fatos.
Alguns casos confirmados que serão abordados no Arquivo Vivo são o Crime da Rua Cuba, sobre Jorge Delmanto Bouchabki, acusado de matar os próprios pais em 1988 (o caso foi encerrado sem uma resposta concreta); e o Bandido da Luz Vermelha, sobre João Acácio Pereira da Costa, criminoso violento que invadiu e roubou pelo menos 150 mansões da elite paulistana entre os anos de 1966 e 1967.
Percival de Souza iniciou a carreira na Folha de S. Paulo. Passou por Quatro Rodas, Notícias Populares, e foi um dos fundadores do Jornal da Tarde. Desde 2003, é comentarista de segurança da Record. Com mais de 50 anos de carreira, venceu quatro Essos e um Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos. É autor de 19 livros.
Renato Lombardi começou no Jornalismo como repórter do Notícias Populares. Foi também repórter especial de O Globo e trabalhou por 27 anos em O Estado de S.Paulo, cobrindo as áreas de Segurança e Justiça. Teve passagem por TV Bandeirantes e TV Cultura. Desde 2009, atua como comentarista de segurança da Record. Venceu o Essode Reportagem, o Prêmio Jornal O Estado de S. Paulo de jornalismo e o Príncipe das Astúrias (Espanha).
Na contramão das diversas campanhas contra o racismo no esporte que ganham força pelo mundo, um novo episódio de claro desrespeito e preconceito foi registrado neste final de semana envolvendo o futebol brasileiro. E o ataque não veio das arquibancadas ou das redes sociais, como é de costume, mas sim dos microfones de uma tradicional emissora de rádio.
O caso aconteceu no último sábado (17/7), na partida entre Goiás e Londrina, válida pelo Campeonato Brasileiro da Série B. O jogo, que terminou em 0x0, chamou a atenção mesmo pelos comentários preconceituosos do narrador Romes Xavier e do comentarista Vinicius Silva, da Rádio Bandeirantes de Goiânia.
Celsinho, do Londrina, foi alvo de racismo durante transmissão do jogo contra o Goiás
Após um lance, o narrador reclamou que o atleta Celsinho, do Londrina, estava com dificuldades para se levantar porque o cabelo dele pesava demais. Na sequência, o comentarista fez comparações ao penteado do jogador com uma bandeira de feijão e concluiu dizendo tratar-se de “um negócio imundo”.
Mais um caso lamentável de racismo no futebol.
O narrador Romes Xavier e o comentarista Vinicius Silva fizeram comentários maldosos sobre o atleta do Londrina. É inadmissível que ainda tenhamos que ouvir coisas maldosas deste tipo. Lutamos por MAIS RESPEITO e MENOS PRECONCEITO! pic.twitter.com/zCxoPHlPNc
O caso logo ganhou destaque negativo nas redes sociais, resultando em pedidos de desculpas por ambos os profissionais:
“Peço desculpas ao Celsinho e ao Londrina Esporte Clube pelo comentário infeliz na transmissão sobre o cabelo do meia”, disse o narrador Romes Xavier. “Colocações erradas que jamais deveriam ter sido ditas. Quem me acompanha sabe o quanto sou crítico sobre condutas como essa. Peço perdão. Quem nunca errou?”.
“Demonstro todo arrependimento pelo comentário infeliz referente ao atleta Celsinho”, completou o comentarista Vinicius Silva. “Peço desculpas a ele e sua família. Entrei em contato com Celsinho demonstrando todo remorso. A Rádio Bandeirantes é completamente contra essa postura e eu particularmente também sou”.
Em nota oficial, a Rádio Bandeirantes de Goiânia repudiou com veemência os ataques proferidos. Segundo a emissora, a transmissão foi feita pela Equipe Feras do Esporte, com que mantém contrato terceirizado. Ainda de acordo com o comunicado, a rescisão de contrato com os comunicadores já foi solicitada.
NOTA DE REPÚDIO
A Radio Bandeirantes Goiânia, vem a publico diante dos fatos acontecidos na transmissão da partida de futebol @goiasoficial x @LondrinaEC em 17 de julho, informar que repudia com veemência qualquer ato que possua cunho ou menção racista a qualquer pessoa […] pic.twitter.com/dG3oAbSNjZ
— Rádio Bandeirantes Goiânia (@rbgoiania) July 18, 2021
Até quando?
Na ânsia de entreterem como se estivessem em uma mesa de bar, aliada a paixão desmedida pelo time de coração – que vez ou outra transforma o adversário em inimigo –, não é incomum que narradores e comentaristas passem do ponto em ataques a atletas, membros de comissões técnicas ou equipes de arbitragem.
Não são raros os casos em que os comentários apelam para o lado pessoal, tentando diminuir o alvo por causa de sua raça, gênero ou características físicas. Com isso, os microfones, que poderiam servir como ferramentas de conscientização contra o racismo, acabam sendo utilizados como catalizadores para novos ataques.
Foi o que aconteceu, por exemplo, no ano passado durante a transmissão da derrota do Santos para a Ponte Preta. Expulso ainda no primeiro tempo do jogo, o atacante Marinho, da equipe santista, foi alvo de ataques por parte do comentarista Fabio Benedetti, da rádio Energia 97 FM. Revoltado com o cartão vermelho, o comentarista disse que falaria “você está na senzala” ao jogador.
Em resposta, o atleta gravou um vídeo em que aparecia chorando enquanto manifestava repúdio ao comentário. “A justiça não pune esses caras preconceituosos, vermes”, comentou Marinho. Após a repercussão, o comentarista foi demitido da emissora.
Outro caso envolvendo a equipe santista, desta vez em um jogo contra o Grêmio, aconteceu em fevereiro deste ano. Na ocasião o narrador Haroldo de Souza, da Rádio Grenal, usou o termo “criolinho” para se referir ao atleta Lucas Braga, do Santos. Pelo comentário, o Ministério Público Federal chegou a abrir uma investigação contra o comunicador, mas o caso perdeu força e Haroldo segue integrando a grade da emissora.
Professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, Bucci referiu-se às plataformas sociais como Google e Facebbok “como conglomerados monopolistas globais, cujos algoritmos sabem tudo sobre a intimidade dos frequentadores da internet e esses frequentadores nada sabem sobre os algoritmos”.
O jornalista questionou também o bolsonarismo, alegando ser “uma legião de aproveitadores que se apropriaram de ferramentas da era digital para promover a mentira, o ódio e o culto da violência” e atribuiu ao fenômeno das redes sociais o que chamou de “perda de contato com a razão, com os fatos e com a política orientada para o bem comum”. Nesse contexto, associou o fenômeno ao recrudescimento do ultraconservadorismo.
“Perto disso, o 1984 de George Orwell é uma fábula infantil”, diz ele. “A exploração econômica que esses conglomerados realizam é mais absurda ainda. Pensemos nas plataformas sociais. O modelo de exploração chega às raias da desumanidade. Quem são os digitadores, os fotógrafos, os editores, os locutores, os atores e os modelos de tudo o que aparece nas plataformas? Ora, os ’usuários‘, como aprendemos a chamá-los”.