Na contramão das diversas campanhas contra o racismo no esporte que ganham força pelo mundo, um novo episódio de claro desrespeito e preconceito foi registrado neste final de semana envolvendo o futebol brasileiro. E o ataque não veio das arquibancadas ou das redes sociais, como é de costume, mas sim dos microfones de uma tradicional emissora de rádio.

O caso aconteceu no último sábado (17/7), na partida entre Goiás e Londrina, válida pelo Campeonato Brasileiro da Série B. O jogo, que terminou em 0x0, chamou a atenção mesmo pelos comentários preconceituosos do narrador Romes Xavier e do comentarista Vinicius Silva, da Rádio Bandeirantes de Goiânia.

Celsinho, do Londrina, foi alvo de ataque racista durante transmissão do jogo contra o Goiás
Celsinho, do Londrina, foi alvo de racismo durante transmissão do jogo contra o Goiás

Após um lance, o narrador reclamou que o atleta Celsinho, do Londrina, estava com dificuldades para se levantar porque o cabelo dele pesava demais. Na sequência, o comentarista fez comparações ao penteado do jogador com uma bandeira de feijão e concluiu dizendo tratar-se de “um negócio imundo”.

O caso logo ganhou destaque negativo nas redes sociais, resultando em pedidos de desculpas por ambos os profissionais:

“Peço desculpas ao Celsinho e ao Londrina Esporte Clube pelo comentário infeliz na transmissão sobre o cabelo do meia”, disse o narrador Romes Xavier. “Colocações erradas que jamais deveriam ter sido ditas. Quem me acompanha sabe o quanto sou crítico sobre condutas como essa. Peço perdão. Quem nunca errou?”.

“Demonstro todo arrependimento pelo comentário infeliz referente ao atleta Celsinho”, completou o comentarista Vinicius Silva. “Peço desculpas a ele e sua família. Entrei em contato com Celsinho demonstrando todo remorso. A Rádio Bandeirantes é completamente contra essa postura e eu particularmente também sou”.

Em nota oficial, a Rádio Bandeirantes de Goiânia repudiou com veemência os ataques proferidos. Segundo a emissora, a transmissão foi feita pela Equipe Feras do Esporte, com que mantém contrato terceirizado. Ainda de acordo com o comunicado, a rescisão de contrato com os comunicadores já foi solicitada.

 

Até quando?

Na ânsia de entreterem como se estivessem em uma mesa de bar, aliada a paixão desmedida pelo time de coração – que vez ou outra transforma o adversário em inimigo –, não é incomum que narradores e comentaristas passem do ponto em ataques a atletas, membros de comissões técnicas ou equipes de arbitragem.

Não são raros os casos em que os comentários apelam para o lado pessoal, tentando diminuir o alvo por causa de sua raça, gênero ou características físicas. Com isso, os microfones, que poderiam servir como ferramentas de conscientização contra o racismo, acabam sendo utilizados como catalizadores para novos ataques.

Foi o que aconteceu, por exemplo, no ano passado durante a transmissão da derrota do Santos para a Ponte Preta. Expulso ainda no primeiro tempo do jogo, o atacante Marinho, da equipe santista, foi alvo de ataques por parte do comentarista Fabio Benedetti, da rádio Energia 97 FM. Revoltado com o cartão vermelho, o comentarista disse que falaria “você está na senzala” ao jogador.

Em resposta, o atleta gravou um vídeo em que aparecia chorando enquanto manifestava repúdio ao comentário. “A justiça não pune esses caras preconceituosos, vermes”, comentou Marinho. Após a repercussão, o comentarista foi demitido da emissora.

Outro caso envolvendo a equipe santista, desta vez em um jogo contra o Grêmio, aconteceu em fevereiro deste ano. Na ocasião o narrador Haroldo de Souza, da Rádio Grenal, usou o termo “criolinho” para se referir ao atleta Lucas Braga, do Santos. Pelo comentário, o Ministério Público Federal chegou a abrir uma investigação contra o comunicador, mas o caso perdeu força e Haroldo segue integrando a grade da emissora.

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