8.4 C
Nova Iorque
quinta-feira, dezembro 18, 2025

Buy now

" "
Início Site Página 347

Repórter Brasil oferece bolsas para investigação de financiamento de violações socioambientais

Repórter Brasil oferece bolsas para investigação de financiamento de violações socioambientais

A Repórter Brasil está lançando a segunda edição do programa que oferece duas bolsas de R$ 5.500,00 para a produção de reportagens sobre financiamento de atividades econômicas que causam graves impactos socioambientais. As inscrições vão até 29 de abril.

O programa é destinado a jornalistas e estudantes de Jornalismo de todo o Brasil interessados em investigar mais a fundo o papel de bancos e investidores em atividades econômicas que geram violações socioambientais. As pautas propostas devem obrigatoriamente utilizar informações do banco de dados da Florestas e Finanças, coalizão internacional da qual a Repórter Brasil faz parte.

Além disso, os interessados devem participar da live de apresentação da Florestas e Finanças e de lançamento do concurso de bolsas para reportagens, nesta terça-feira (19/4), das 14h às 15h30, no Instagram da Repórter Brasil.

As pautas inscritas devem conter informações de contato, experiências acadêmicas e profissionais, links para reportagens anteriores, uma referência profissional com telefone de contato e a proposta de pauta detalhada, com contexto, abordagem, possíveis fontes, cronograma e plano de trabalho.

Os vencedores serão anunciados em 13 de maio, no site da Repórter Brasil e via e-mail. O processo de produção da reportagem será acompanhado por membros da organização. As reportagens geradas serão publicadas no site da Repórter Brasil e, possivelmente, em outros republicadores.

Confira o regulamento e inscreva-se aqui.

Embate com mineradora Brazil Iron

O programa de bolsas vem após um embate entre a Repórter Brasil e a mineradora Brazil Iron, no final de março. Na ocasião, uma ação policial foi realizada contra os repórteres Daniel Camargos e Fernando Martinho, que foram até a sede da mineradora em Piatã (BA) para ouvir o lado da empresa em reportagem sobre os impactos da mineradora no meio ambiente e nas comunidades locais.

A Brazil Iron teria acusado os jornalistas de invasão da mineradora e acionado a Polícia, solicitando também as gravações da reportagem. Daniel e Fernando teriam prontamente explicado que utilizaram um drone para imagens aéreas dias antes, mas que não haviam invadido a propriedade, como alegado. Sem acordo, os repórteres foram encaminhados para a delegacia e liberados horas depois.

Em nota, a mineradora negou que denunciou os repórteres por invasão e que chamou a polícia após “tomar conhecimento de que a reportagem sobrevoou a área de operação da Mina Mocó com um drone”. Entenda o ocorrido.

Gilmar Mendes cassa decisão que proibia publicação de reportagem da RBS

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), cassou decisões da 18ª Vara da Justiça do Rio Grande do Sul que proibiram a publicação de matéria da RBS TV, assinada por Giovani Grizotti, o Repórter Sem Rosto, sobre supostos atos ilícitos praticados pelo prefeito de Bagé, Divaldo Lara.

Para Gilmar, houve desrespeito ao entendimento do STF que veda a censura prévia à atividade jornalística. O Supremo assentou que não cabe ao Estado definir o conteúdo jornalístico, nem impedir a livre difusão de ideias. No começo do ano, Mendes já havia concedido uma liminar para suspender as decisões. Agora, na análise do mérito, o ministro concluiu que não cabe a um juiz ou colegiado impor censura prévia, “considerando que o livre trânsito de ideias constitui elemento essencial ao desenvolvimento da democracia”.

Para o Grupo RBS, a partir do momento que o Ministério Público apresentou uma denúncia contra Divaldo Lara, a reportagem tornou-se de interesse público e, portanto, o conteúdo deveria ser publicado para informar a comunidade local. A empresa também afirmou que entrou em contato com o prefeito para que ele pudesse se manifestar sobre a acusação do Ministério Público. Mas Lara, além de não apresentar sua versão dos fatos, ajuizou ação para proibir a veiculação da reportagem, aceita pelo juiz de primeiro grau. O prefeito de Bagé, inclusive, revelou a identidade visual de Giovani Grizotti e atacou a honra e o trabalho do jornalista.

Com informações do Coletiva.net.

Especial Jornalismo nas veias: Todos têm história relevante para contar

Especial Jornalismo nas veias: Todos têm história relevante para contar

(Ancelmo Gois, colunista de O Globo, e o filho, Antonio Gois*)

Ser filho de jornalista me fez guardar com mais intensidade algumas memórias de criança relacionadas a fatos históricos. Por exemplo, tinha apenas dez anos de idade, mas lembro relativamente bem do dia da morte de Tancredo Neves, em 21 de abril de 1985, quando o telefone tocou em casa e meu pai teve que voltar à redação num domingo à noite. Em 1º de janeiro de 1989, estávamos em férias, na primeira viagem internacional da família. A principal preocupação de meu pai, porém, não era nos guiar pelos brinquedos da Disney, mas, sim, achar um telefone público para entrar em contato com a redação do JB e saber como estava a cobertura do naufrágio do Bateau Mouche.

Relatos como esses, tão comuns entre aqueles que têm pais ou mães na profissão, poderiam gerar desencanto com um ofício que interfere tanto em momentos de descanso ou lazer em família. No meu caso, o efeito foi oposto. Apesar de ele nunca me ter sugerido que escolhesse o jornalismo, acabei contaminado pelo seu entusiasmo.

Comecei a trabalhar em 1996, mas sou dos poucos de minha geração que frequentou redações nos tempos das máquinas de escrever. Por vários domingos, ao final dos 1980 e início dos 1990, o programa mais comum era acompanhar meu pai em plantões do Informe JB. As horas eram preenchidas por visitas à Fotografia (o momento mais aguardado era a chegada das primeiras fotos dos jogos de futebol), aos estúdios de rádio e à lanchonete do sétimo andar do edifício da Avenida Brasil, 500.

De tanto frequentar redações, meu pai conta que, certa vez, um colega advertiu-o de que eu acabaria virando jornalista, e melhor seria me levar ao aeroporto para, quem sabe, ser piloto da Varig no futuro. Era tarde demais. Mesmo tendo vivenciado inúmeras crises na profissão, em nada me arrependo. Sem contar que a Varig foi à falência.

Contrário ao discurso saudosista de que não se faz mais bom jornalismo como antigamente, nas inúmeras trocas que tivemos ao longo do tempo sobre a profissão, um dos argumentos que meu pai mais repete, até hoje, é o de que as novas gerações chegam às redações mais bem preparadas. Não apenas sigo concordando, como acrescento que os jovens que hoje se formam nas faculdades de Jornalismo trazem uma vantagem que nem a geração de meu pai, nem a minha, teve: maior diversidade de olhares e trajetórias de vida, fruto do processo – ainda inconcluso – de democratização do acesso ao ensino superior nas duas últimas décadas.

Fazer jornalismo em tempos de desinformação e crise dos meios tradicionais de comunicação traz desafios novos. A curiosidade e a persistência na busca de informações seguem sendo as características mais importantes de um bom jornalista. Mas a elas soma-se também a capacidade de entender mais sobre o assunto que cobre. Isso exige ampliação de repertório, de modo a conhecer a história, as estatísticas e a literatura acadêmica de sua área de especialização. As boas histórias, de preferência exclusivas, seguem sendo o principal atrativo, mas é ainda mais essencial nos dias de hoje a responsabilidade em contextualizá-las devidamente num mundo em que todos têm acesso fácil à informação de baixa qualidade.

No entanto, o conselho profissional mais válido que recebi de meu pai é o de que todos − do porteiro ao presidente, da secretária ao executivo, do faxineiro à juíza – têm uma história relevante para contar, e é importante saber ouvi-la. Pensando bem, é também uma lição de vida.


(*) Antônio Gois é colunista de educação de O Globo e fundador e primeiro presidente da Jeduca (Associação de Jornalistas de Educação). Cobre o tema desde 1996. É autor dos livros Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil, com depoimentos de ex-ministros da Educação desde o governo Figueiredo, e Líderes na Escola: o que fazem bons diretores e diretoras, e como os melhores sistemas educacionais do mundo os selecionam, formam e apoiam. Foi bolsista dos programas Knight Wallace Fellows, na Universidade de Michigan, e da Spencer Education Journalism Fellowship, na Universidade de Columbia. É vencedor dos prêmios Esso, Embratel, Folha, Undime e Andifes, sempre com reportagens sobre educação. Trabalhou nos veículos O Dia, Folha de S.Paulo, O Globo, CBN e Canal Futura.

Revista AzMina e Núcleo Jornalismo lançam ferramenta para conectar audiências

A revista AzMina e o Núcleo Jornalismo lançaram o Amplifica, ferramenta de escuta e interação social criada para conectar audiências.
A revista AzMina e o Núcleo Jornalismo lançaram o Amplifica, ferramenta de escuta e interação social criada para conectar audiências.

A revista AzMina e o Núcleo Jornalismo lançaram o Amplifica, ferramenta de escuta e interação social criada para conectar audiências de veículos jornalísticos. Reunindo dados do público, o Amplifica consegue identificar quais publicações estão em alta, links compartilhados, assuntos e hashtags mais usadas no Twitter de ambos os veículos.

Selecionado no Desafio da Google News Initiative, o projeto apresentou a primeira etapa da iniciativa intitulada Beta. Nela, foi disponibilizado um painel no qual é possível explorar as publicações e dados das comunidades de ambos os veículos no Twitter. A fase contou com a participação de aproximadamente 200 leitores e tuiteiros.

A coleta de dados permite desenvolver uma aproximação com o público, a criação de estratégias de engajamento e a identificação de assuntos importantes para as comunidades de cada um.

A escolha do Twitter deu-se pela rede possuir uma API aberta que permite a captura de tweets para o desenvolvimento do programa, além disso, foi levado em conta número expressivo de seguidores que os AzMina e o Núcleo Jornalismo possuem na plataforma.

Qualquer pessoa pode ter seu perfil incluído na ferramenta, basta preencher o formulário. Os dados coletados ficam armazenados em um banco, que é acessado somente pelas equipes d’AzMina e do Núcleo. O consentimento pode ser revogado a qualquer momento.

Futuro da Saúde ganha newsletter semanal

O hub de conteúdo digital Futuro da Saúde, criado e dirigido por Natalia Cuminale, lançou em 14/4 uma newsletter semanal homônima com o objetivo de trazer curadoria de conteúdo e tendências em saúde para as lideranças do setor e interessados nas novidades da área.

Natalia Cuminale
Natalia Cuminale

“Há muita informação de saúde espalhada em vários canais brasileiros e internacionais, mas no ritmo em que vivemos é impossível ler tudo e falta tempo para filtrar aquilo que é essencial, e a newsletter nasce com o propósito de fazer essa curadoria”, explica Natalia. “Não há uma ferramenta como essa no Brasil hoje. Com o apoio da tecnologia, a ideia é levar de forma fácil as informações cruciais para que os líderes do setor e interessados na área estejam antenados sobre o que é mais importante para o dia a dia de suas atividades”.

O desenvolvimento do novo produto de Futuro da Saúde começou em meados de 2021 e foi ganhando corpo após pesquisas e análises de ferramentas de comunicação internacionais. Para Natalia, o formato atual trará inovações interessantes ao mercado, com a apresentação não apenas de reportagens exclusivas do hub de conteúdo, mas também de outros meios de comunicação.

A newsletter, que conta com apoio do Hospital Israelita Albert Einstein, será distribuída gratuitamente toda quinta-feira de manhã. Os interessados em receber diretamente por e-mail precisam apenas preencher o cadastro no site www.futurodasaude.com.br.


Notícias relacionadas:

Morre, aos 50 anos, o jornalista Luís Perez

Luís Perez
Luís Perez

Faleceu na noite desta sexta-feira (15/4), aos 50 anos, o jornalista especializado em automóveis Luís Perez. A morte, por infarto, foi confirmada pelos médicos na madrugada deste sábado.

Jornalista formado pela PUC-SP, Perez também estudou História, na USP, e Marketing, na ESPM. Começou a carreira na Folha de S.Paulo, onde exerceu diversas funções, incluindo a de editor de Veículos. Se destacou nesse período pelo senso crítico aguçado e ótimo texto, tanto que tinha entre seus grandes ídolos, o renomado professor de português Pasquale Cipro Neto.

Luís Perez
Luís Perez

Deixou a Follha em 2003 e depois de dois anos trabalhando na Motorpress, lançou em 2006 o Interpress Motor, que anos mais tarde, em 2012, passou a se chamar Carpress. Ao longo de sua carreira, também colaborou com diversas publicações especializadas em automóveis, entre elas as revistas Quatro Rodas, Car and Driver e Jornauto, além do jornal Agora SP.

Por anos, também foi colunista semanal da newsletter Jornalistas&Cia Imprensa Automotiva, publicação segmentada do setor, publicada pela Jornalistas Editora, também responsável por este Portal dos Jornalistas.

Luís Perez não era casado, mas deixa a filha, Julia, que sempre foi motivo de orgulho em suas postagens nas redes sociais.

Seu velório será realizado a partir das 11h deste domingo (17/4), no Cemitério do Araçá, (Av. Dr. Arnaldo, 300, Pacaembu).

Gabriel Luiz, da TV Globo, é esfaqueado no DF

Gabriel Luiz está no Grupo Globo desde 2014
Gabriel Luiz está no Grupo Globo desde 2014

O repórter da TV Globo em Brasília Gabriel Luiz, de 28 anos, foi esfaqueado na noite desta quinta-feira (14/4), em um estacionamento perto de sua casa, no Distrito Federal. Ele foi atingido por diversos golpes e internado em estado grave, mas estável, no Hospital de Base do DF (HBDF).

Segundo o Portal Metrópoles, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) trata o caso, inicialmente, como tentativa de latrocínio. Entretanto, os investigadores não descartam a possibilidade de tentativa de homicídio devido à violência do ataque.

Formado em Jornalismo na Universidade de Brasília (UnB), Gabriel Luiz entrou na Globo como estagiário, em 2014. Em 2017, foi contratado como repórter do G1 DF, portal no qual ficou por dois anos, até 2019, quando migrou para a equipe do DF1, como editor do jornal local da capital.

Conhecido pelo estilo irreverente e bem-humorado, Gabriel realiza reportagens investigativas, que apuram irregularidades em nos mais variados setores do poder. Em um de seus últimos trabalhos, o jornalista apurou uma denúncia de balas perdidas em um clube de tiro em Brazlandia, região administrativa do Distrito Federal. Após a reportagem, o Exército interditou o local, alegando risco à segurança das pessoas.

Câmeras de segurança registraram a aproximação dos suspeitos. As imagens, disponíveis no site do G1 DF, mostram o jornalista passando pelo local, e em seguida dois suspeitos aparecem atrás. Mais à frente, a dupla atacou Gabriel. Em seguida, os dois saíram correndo em fuga.

Peritos da Polícia Civil fizeram análises no local do ataque e no apartamento do jovem. A carteira dele foi encontrada, mas o celular está desaparecido. Segundo a corporação, equipes estão na rua para tentar identificar e encontrar os suspeitos.

Em nota, a TV Globo se manifestou sobre o caso. Veja íntegra:

“A Globo lamenta profundamente o ocorrido. Está aguardando as investigações da polícia e prestando toda ajuda ao nosso repórter e aos familiares. A Globo repudia veemente todas as formas de violência e espera que o caso seja esclarecido o mais rapidamente possível.”

Gabriel Luiz está no Grupo Globo desde 2014
Gabriel Luiz está no Grupo Globo desde 2014

Já a Secretaria de Segurança Pública do DF informou que “todos os órgãos de segurança estão empenhados na captura dos bandidos. A investigação está em curso e chegará a bom termo. Não descartamos nenhuma hipótese sobre as razões do ataque. Tudo vai ser esclarecido. Prestamos solidariedade ao Gabriel e sua família.”

Após a divulgação do caso, diversas entidades de imprensa se manifestaram em repúdio ao ataque sofrido pelo jornalista. A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) estão entre as instituições que se manifestaram.

As entidades pedem que os fatos sejam investigados com rapidez e que os responsáveis sejam identificados e punidos. Também se solidarizam com o repórter e a família.

Especial Jornalismo nas veias: Não é justo comparar os novos com os antigos

Especial Jornalismo nas veias: Não é justo comparar os novos com os antigos

Ricardo Noblat, titular do Blog do Noblat, e o filho, Guga Noblat

Ricardo Noblat (*) − Você não tinha nada melhor a fazer do que ser jornalista?

Guga Noblat (**) − Estava à toa em casa, vendo meu pai arrumar confusão com meio mundo da política por causa dos textos dele nos jornais, e pensei: “Ah, já que não tenho competência para ser jogador de futebol, então vou de plano B, vou de jornalismo”.

Ricardo − Não jogue a culpa em mim…

Guga − Claro que não, culpa tem a minha mãe, que casou com alguém capaz de dizer a ela que ia levar o filho ao parque de diversões, mas na verdade levava para a redação do Jornal do Brasil, onde a única coisa que tinha para fazer era brincar com a máquina de escrever.

Ricardo − Não vai dizer que foi por isso que você virou jornalista?

Guga − Por isso, mas não apenas. Queria uma profissão que me permitisse ser quem eu sou: um sujeito curioso, desbocado, crítico e sem saco para seguir fazendo mestrado e doutorado, a fim de cair em campo assim que me formasse. Claro, tenho uma profunda admiração pela maneira como você e minha mãe se dedicaram ao jornalismo.

Ricardo − Mas o que foi mesmo que te encantou no jornalismo?

Guga − Jornalista acha que é Deus ou acha que é o Super Homem. Como o jornalismo me permite expor e às vezes até peitar políticos e politicagens que podem transformar a sociedade, creio que foi isso que mais me empolgou e me empolga a seguir nessa profissão.

Ricardo − Mas o jornalismo não serve só para isso. Por que essa fixação em peitar políticos e politicagens, por mais condenáveis que possam ser?

Guga − Você perguntou o que me encantou no jornalismo. E não para que serve o jornalismo. Claro que tem muito mais coisa que me atrai nessa profissão. Poder trafegar entre temas tão distintos como artes marciais e política, por exemplo, é muito empolgante. Arrumar fontes em festas, restaurantes ou no meio da rua, ter que me valer do meu lado mais sociável, ter senso crítico para apurar o que deve ser a verdade, tudo isso é um grande desafio que me fascina. Mas, talvez por ter passado a vida numa grande tensão provocada pelo fato de você ser jornalista político, creio que isso me deixou com certa fixação por peitar políticos.

Ricardo − O que você não gosta no jornalismo que faz ou que vê por aí?

Guga − O que me incomoda, hoje, no jornalismo, me irrita, é ver jornalista oportunista, que aproveita o momento político para se comportar como um influenciador que só diz aquilo que um lado quer ouvir. E o lado que domina as redes hoje é a extrema-direita. Então, vemos até jornalista que tinha prestígio e credibilidade rasgar sua história para ganhar likes e relevância, vindos desses grupos.

Ricardo − Não me diga que você não se preocupa em ganhar likes?

Guga − É ótimo ganhar likes. O problema é ganhar likes de malucos. Esses jornalistas jamais terão a imagem que tiveram um dia. Passarão o resto da vida sendo aplaudidos por malucos. E para ser aplaudido por malucos tem que fazer maluquice, tem que negar a lógica, a razão e a ciência, ou seja, tem que ser tudo, menos jornalista.

Ricardo − Velho como está ficando, você conheceu o jornalismo feito por minha geração e conhece agora o que é feito pela sua. Quais as diferenças mais importantes? No que o jornalismo melhorou ou piorou?

Guga − O jornalismo tinha uma formação dentro das redações que se perdeu. O foca antes passava pelas mãos de gente experiente e preparada. Hoje, o jornalista sai da universidade e já é jogado em posições que demandariam mais experiência. E, por terem internet e ferramentas que facilitam a produção da notícia, acabam fazendo o serviço que antes era dividido com uma equipe, o que também pode afetar a qualidade do trabalho. Há também uma cobrança da internet por notícias imediatas e por uma quantidade de notícias por vezes desnecessária no impresso. Isso diminui a qualidade da apuração e faz com que muito jornalista passe o dia ao telefone no lugar de sair em campo atrás de notícia. Só que é mais barato fazer assim.

Ricardo − Então o jornalismo perdeu qualidade?

Guga − Não sei se é justo comparar quem ainda está trabalhando com quem já trabalhou, os novos com os antigos. O tempo dirá, mas de um lado temos ferramentas que facilitam a busca pelo conhecimento e pela informação, e isso ajuda na apuração dos fatos. Do outro lado, jornalistas com uma formação prática inferior e uma cobrança por um imediatismo que prejudica a investigação. A impressão que tenho é que, na média, os antigos eram melhores, mas veremos.

Ricardo − Você tem mais gosto por escrever ou por falar?

Guga − Achava que só teria gosto por escrever, não pensava em aparecer na frente das câmeras ou dos microfones das rádios. De um tempo para cá passei a gostar muito de falar. São dois desafios que eu curto. Gosto de falar, mas escrever, ver um texto bem feito, é mais satisfatório, porém menos divertido; o caminho é mais longo e menos gente acaba tendo acesso.

Ricardo − O jornalismo impresso está com seus dias contados?

Guga − Torço para que não, mas alguém imagina um futuro próximo em que pessoas ainda dependam de papel para ler notícia?  Não é prático, não é ecológico e as novas gerações já trocaram o impresso pelo eletrônico. É só uma questão de tempo. Restará a marca da mídia que antes vigorava no impresso sendo ainda relevante no online.

Ricardo − Quem ganhará a batalha final? A verdade que buscamos ou as fake news?

Guga − Em uma democracia, pelo menos no fim, a verdade sempre vence. Há um momento em que a mentira não resiste aos fatos e à liberdade de se questionar. Mas essa liberdade depende do sistema. Na democracia, ela é mais plena.


(*) Ricardo Noblat, 72 anos de idade, 55 de jornalismo, os últimos 18 à frente do Blog do Noblat.

(**) Gustavo Noblat, um dos seus três filhos, 40 anos de idade e 18 de jornalismo. Guga começou como repórter do blog do pai. Cobriu a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Foi apresentador do programa A Liga, da Band; produtor e repórter do CQC; repórter de um programa de artes marciais da SporTV; é comentarista político do Pânico, programa da Jovem Pan. Seu canal no Twitter tem 185 mil seguidores. É pai de Heloisa, 7 anos, e de Eva, 5. É casado com Lygia.

Mariana Carneiro assume a Coluna do Estadão

Mariana Carneiro assume a Coluna do Estadão

Mariana Carneiro, especializada na cobertura de Política e Economia, é a nova titular da Coluna do Estadão, espaço de notícias e análises curtas do Estadão sobre os bastidores dos poderes da República. O objetivo será manter a cobertura na área de política, revelando bastidores do poder, mas também ampliar o olhar para temas ligados à economia.

“A ideia é dar espaço também aos atores da economia, como empresários e investidores, além dos movimentos sociais e dos novos agrupamentos políticos para debater”, disse Mariana. “É uma visão da política de uma maneira mais ampla, para ajudar o leitor a compreender quais são os interesses que estão em jogo nas decisões em Brasília”.

Mariana estreia na coluna com o texto Bolsonaro aciona máquina em ano de eleição para turbinar investimentos, ao lado de Camila Turtelli, que até agora estava como interina, Matheus Lara e Gustavo Côrtes, com ilustrações de Kleber Sales. A Coluna do Estadão foi criada em novembro de 1990 e, em sua primeira fase, foi publicada no Estadão até 2001. Em 2016, foi retomada com o mesmo nome no impresso e no online.

Formada em Jornalismo pela PUC-Rio e com mais de 22 anos de experiência na cobertura de Economia e Política, Mariana teve passagens por O Globo, Folha de S.Paulo, TV Globo e Jornal do Commercio. Está radicada há cinco anos em Brasília, acompanhando os bastidores do poder.

Entidades questionam decisão do Santos FC de impedir entrada do UOL na Vila Belmiro

Entidades defensoras da liberdade de imprensa discordaram da decisão do Santos Futebol Clube de negar o credenciamento de jornalistas do UOL para a cobertura da partida contra a Universidade Católica de Quito, nessa quarta-feira (13/4), no estádio Vila Belmiro, pela Copa Sul-Americana.

A proibição faz parte de uma decisão do presidente do clube, Andrés Rueda, de impedir a entrada de profissionais do UOL até que o veículo se posicionasse formalmente sobre uma coluna assinada por Juca Kfouri, na qual critica a atuação do Santos no empate contra o Fluminense por 0 a 0, no último sábado (9/4), chamando o time da baixada santista de “Ninguém FC”.

Para o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP), a crítica a uma opinião publicada em um veículo de comunicação é sempre válida e ajuda a qualificar o debate, “ainda mais quando se trata de um assunto que envolve paixões, como o futebol. Mas o posicionamento do Santos Futebol Clube em relação a um determinado texto veiculado no UOL não pode se concretizar em censura ao trabalho da equipe de reportagem e impedimento do livre exercício da profissão jornalística”.

“O texto (de Kfouri) enquadra-se perfeitamente na atividade jornalística. O SJSP acredita no direito de o Santos discordar e contestar a crítica, mas repudia as intimidações e ações de censura à imprensa, que não cabem num ambiente democrático”, diz o Sindicato. A entidade também pede que os jornalistas do UOL sejam imediatamente liberados pelo Santos, e faz um apelo para os torcedores santistas pela defesa do trabalho jornalístico do UOL, para que informações relevantes e confiáveis sobre o Santos cheguem aos torcedores.

A Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo (Aceesp) também criticou a decisão: “Rechaçamos toda e qualquer tentativa de boicote ao livre exercício do jornalismo e, como consequência, ao direito de opinião. Uma prática inaceitável em qualquer contexto, e sobretudo num país que lutou arduamente pelo Estado democrático de direito”.

O próprio UOL publicou um texto lamentando o ocorrido. Murilo Garavello, diretor de Conteúdo da empresa, declarou que, com a ação do Santos, “são prejudicados centenas de milhares de torcedores que acompanham o clube pelo UOL e é um movimento muito preocupante. Temos perto de uma centena de colunistas e de jornalistas que trabalham com Esporte. Se um deles tiver uma opinião incômoda o veículo inteiro é punido? O Santos só vai aceitar o jornalismo que elogiar o clube?”.

Em resposta ao texto do UOL, o Santos publicou uma nota, assinada pelo presidente Rueda, na qual nega que a atitude do clube foi decorrente de críticas feitas ao Santos: “Todo jornalista pode falar o que bem entender, desde que exista respeito. A instituição Santos FC foi agredida e a liberdade de imprensa não representa liberdade para poder menosprezar qualquer instituição, independentemente de ser o Santos FC. Novamente, o que solicitamos ao UOL é que se posicione se concorda ou não com o termo usado pelo jornalista, por ser corresponsável na publicação da coluna. Se concordar, o UOL não será bem-vindo à casa do Santos. (…) O Santos FC nunca promoveu censura e não atende só jornalistas que falam bem do clube. Sempre respeitamos as matérias negativas em nome da liberdade de expressão. O que queremos é respeito à instituição”.

Últimas notícias

pt_BRPortuguese