Em nota enviada ao Portal dos Jornalistas, a mineradora Brazil Iron rebateu as acusações da Repórter Brasil em relação a uma ação policial ocorrida contra membros da publicação em 28/3. Na ocasião, os repórteres Daniel Camargos e Fernando Martinho foram surpreendidos por policiais na sede da mineradora, em Piatã (BA).

Segundo relato publicado pela Repórter Brasil, a empresa teria acusado os jornalistas de invasão da mineradora e acionado a Polícia, solicitando também as gravações da reportagem. Daniel e Fernando teriam prontamente explicado que utilizaram um drone para imagens aéreas dias antes, mas que não haviam invadido a propriedade, como alegado. Sem acordo, os repórteres foram encaminhados para a delegacia e liberados horas depois.

Na nota, a Brazil Iron negou que denunciou os repórteres por invasão e que chamou a polícia após “tomar conhecimento de que a reportagem sobrevoou a área de operação da Mina Mocó com um drone”. Segundo os representantes da empresa, a ação teria sido feita em uma área de risco, comprometendo a segurança do local.

A nota destaca também a determinação do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decae), que diz que operações de aerolevantamento devem possuir autorização do Ministério da Defesa e que é proibido sobrevoar áreas de infraestrutura crítica. Além disso, segundo a determinação, a polícia poderia ser acionada “para obter a detenção dos presumidos infratores ou da aeronave que ponha em perigo a segurança pública, pessoas ou coisas”. O drone utilizado pela Repórter Brasil, porém, não estava sendo utilizado no momento da intervenção policial.

Para Leonardo Sakamoto, diretor da Repórter Brasil, “os repórteres foram, surpreendentemente, pressionados pela empresa e pela PM enquanto aguardavam para ouvir o posicionamento da Brazil Iron dentro de suas instalações. É uma clara tentativa de intimidação ao trabalho jornalístico, de cerceamento da liberdade de imprensa, que não pode ser aceita”.

Sobre o ocorrido, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) escreveu que “repudia a decisão da empresa de surpreender os repórteres com a presença policial exatamente quando os jornalistas buscavam ouvir a argumentação da mineradora sobre uma denúncia que estava sob investigação da reportagem”.

A entidade destaca também que a nota, também enviada à Abraji, “causa certa estranheza no trecho em que supõe que a reportagem seria movida por ‘razões inconfessáveis de cunho político e eleitoreiro’, e que a mineradora seria alvo por não ser uma empresa brasileira”.

Confira a seguir a íntegra da nota enviada ao Portal dos Jornalistas e à Abraji.

NOTA OFICIAL

A respeito das alegações dos jornalistas da Repórter Brasil e da reportagem reproduzida pelo Jornalistas&Cia, a Brazil Iron tem os seguintes esclarecimentos a prestar:

1) Não procede a informação de que a Polícia foi acionada por uma suposta invasão ou para intimidar os profissionais de imprensa. A empresa o fez ao tomar conhecimento de que a reportagem sobrevoou a área de operação da Mina Mocó com um drone.

2) A Brazil Iron não poderia ter outra atitude, pois ela é OBRIGADA pelo Ministério da Defesa a reportar fatos desta natureza, uma vez que possui no referido espaço armazenamento de combustíveis e explosivos.

3) Ainda que sem ter o conhecimento da gravidade deste ato, os profissionais de imprensa colocaram em risco suas próprias vidas e a dos colaboradores que trabalhavam no local. Operar aparelhos de radiofrequência em locais como o citado, sem os devidos cuidados, pode gerar acidentes de proporções catastróficas.

4) Além do perigo que correu e infligiu a terceiros, a reportagem não respeitou as determinações do Departamento de Controle do Espaço Aéreo (DECEA) e da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). Tais entidades oferecem regulamentações claras ao informar que: a) operações de aerolevantamento devem possuir autorização do Ministério da Defesa; b) é proibido sobrevoar áreas de infraestrutura crítica; c) a utilização de drones para recreação devem ser feitas em espaço de aeromodelismo (basta checar no site https://www.decea.mil.br/drone/)

5) Não bastassem as infrações acima citadas, os profissionais do Repórter Brasil realizaram gravações da área sem o consentimento da empresa, desrespeitando o respeito à propriedade privada. A empresa acredita que nenhum desses jornalistas e nem aqueles que estiverem lendo esse comunicado gostariam que alguém fosse filmar dentro de suas casas sem aviso prévio.

6) A Brazil Iron não solicitou a apreensão dos equipamentos, apenas pediu que fossem apresentadas as imagens, a fim de garantir que não mostrassem zonas críticas e de segurança. A região da Mina Mocó é conhecida por furtos de combustíveis e explosivos. Tornar público os locais de armazenamento destes materiais pode gerar prejuízo a companhia e perigo à população da região e a toda sociedade.

7) Em momento algum a empresa ou qualquer de seus colaboradores sequer ensaiou cercear o direito de apuração ou intimidar os jornalistas. Muito pelo contrário. Em que pese as infrações e a gravação sem aviso prévio, a Brazil Iron deixou claro, por diversas vezes, que estava à disposição da reportagem para ajudá-los em todas as informações de que precisassem. O próprio repórter disse que entraria em contato com o departamento de comunicação da companhia, o que ainda não aconteceu.

8) A Brazil Iron fica agradecida pelo espaço cedido pelo Jornalistas&Cia para o seu pronunciamento, algo que não foi feito por Repórter Brasil. O site publicou um texto relatando apenas o seu lado da história, cerceando o direito ao “Outro Lado”, como preza o manual do bom jornalismo.

9) A Brazil Iron é entusiasta do trabalho jornalístico e sempre defenderá o direito à livre imprensa. Esperamos apenas que o fato de não sermos uma empresa brasileira ou que razões inconfessáveis de cunho político e eleitoreiro não venham a prejudicar injustamente uma companhia que já investiu mais de R$ 1,2 bi no Estado da Bahia, que é a maior responsável pela vida econômica das cidades do entorno de sua operação e que deve aportar mais de R$ 3,2 bi de investimentos e gerar mais de 25 mil empregos nos próximos anos.

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