Um podcast feito por e para neurodivergentes. Essa é a proposta do Distraídos, que traz curiosidades sobre o universo de quem tem TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) e outras neurodivergências que se referem a todas as possíveis variações no cérebro humano em relação a sociabilidade, aprendizagem, atenção, humor e funções cognitivas. O conceito foi formulado a partir do paradigma da neurodiversidade, criado no final dos anos 1990 pela socióloga autista Judy Singer.

Os apresentadores são a influenciadora digital Alpin Montenegro e Erick Mota, fundador do Regra dos Terços e repórter com passagens por Band, Record PR, Congresso em Foco e outros. No episódio de estreia do Distraídos, os dois falam sobre como o TDAH impactou na vida deles e trazem relatos de outros TDAHs.

Em entrevista para o Portal dos Jornalistas, Erick Mota afirmou que a descoberta do próprio TDAH, em outubro de 2021, o motivou a pesquisar amplamente sobre o assunto:

Percebi que há alguns materiais sobre o tema, como por exemplo o podcast Tribo TDAH, que inclusive é uma grande referência, mas são poucos ainda que trazem o conteúdo com uma linguagem acessível. A maior motivação que eu e Alpin tivemos para criar o podcast Distraídos certamente foi a falta de informação que ainda existe; a população de modo geral não sabe muito bem o que é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Por exemplo, eu mesmo nunca tinha ouvido falar até receber o diagnóstico, e isso sendo jornalista, trabalhando com comunicação e informação”.

Neurodivergência nas redações

Ainda são muitos os preconceitos e estigmas associados a pessoas neurodivergentes, que costumam ser percebidas socialmente como inferiores e “incapazes”. Na realidade, existem impactos negativos e positivos associados a determinadas condições − fato que Erick percebeu em sua própria trajetória no jornalismo.

Ele explica que sempre lidou com uma dificuldade acima da média em fazer reportagens que exigissem maior nível de atenção − lidar com burocracias, como acessar o Diário Oficial da União e outras fontes oficiais, ler documentos e despachos. Em contrapartida, a hiperatividade mental associada ao TDAH o ajudou a ter uma produção ágil no hardnews:

Acredito muito que o meu maior hiperfoco, a minha maior alta habilidade, é na comunicação, isso porque consigo desenvolver qualquer assunto com facilidade, mesmo os que não entendo muito. Se me der alguns minutos pra me preparar, consigo desenvolver. Fui repórter da Band em Brasília até dezembro do ano passado, e como repórter entrava muito ao vivo, ao ponto de dezenas de vezes as minhas chefias repetirem que eu era o repórter do Brasil inteiro que mais entrava ao vivo no Band News TV. Então, acabou que essa minha hiperatividade acabou sendo um plus na minha carreira”.

Outro ponto levantado por Erick é sobre o quanto o formato das redações tem potencial de dificultar o trabalho de pessoas com TDAH, problema que pode ser resolvido com adaptações simples:

As redações são sempre muito barulhentas, obviamente qualquer redação, então, acabam estimulando a distração. Até aquele formato de bancada, com vários computadores alinhados numa mesma sequência, um de frente pro outro, facilita muito a desatenção, a conversação, a prestar atenção nos outros colegas, a ficar puxando assunto toda hora. Como poderia melhorar? Criar espaços mais reservados para os profissionais que têm maior dificuldade de concentração e que nesses espaços eles possam desenvolver o seu trabalho. Um cantinho com um sofá virado para uma parede ou uma janela, algo assim, poderia facilitar muito a vida dos profissionais que têm déficit de atenção”.

Leia mais: Tiago Abreu discutirá neurodiversidade em evento do MAM-SP

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