[LUANA IBELLI /ABERTURA]

Olá!

Seja muito bem-vinda e bem-vindo a mais um episódio do #diversifica, um podcast sobre  diversidade, equidade e inclusão no jornalismo.

Esse é o especial Subjetividades.

Eu sou Luana Ibelli e vou conversar com mais um jornalista. que representa a diversidade nas redações e que dá destaques a temas invisibilizados contando com a própria experiência para enriquecer as pautas.

A nossa convidada de hoje foi a primeira de um grupo a aparecer como repórter numa TV. E  quando ela aparece ela nunca tá sozinha, porque ela carrega muita gente com seu nome e o seu trabalho que é incrível.

Luciene Kaxinawá, muito obrigada por ter aceitado o nosso convite.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Eu que agradeço.

Tô muito feliz em estar aqui, tá participando e ter esse pedacinho né, que você falou de trazer muita gente.

Eu trago um povo inteiro junto comigo de fato, e muito feliz de trazer o meu povo para esse momento de fala.

 

[LUANA IBELLI]

Ai que legal.

Que bom que você tá feliz, tambémmuito feliz com a sua presença.

Então  queria que você começasse falando um pouco de somente da sua trajetória né, o que formou a jornalista que você é, e um pouquinho do que você tem feito hoje.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Eu sou Luciene Kaxinawá, na minha língua materna, Pano, meu nome é Ibatsai. Ibatsai significa mãe que cuida, mulher guerreira, ancestralidade, tem muitos significados né, e isso  me faz forte também para falar quem eu sou.

Eu sou indígena, do povo Huni Kuin, do Acre. Nasci em Porto Velho, filha de Francisco, ele trabalha em construção civil, pedreiro, também trabalhou em extração da borracha no Acre, e minha mãe que é indígena né, dona Maria e também trabalha como diarista.

Já é uma conquista muito grande né, ser jornalista neste contexto familiar que a gente sabe que é muito difícil né, mas ser indígena, jornalista, é um desafio ainda muito maior.

Comecei a ter o reconhecimento da minha identidade com 10 anos de idade e foi aí que eu comecei a investigação né, que um colega até comentou, falou assim: “o trabalho de entrevistas começou aí” né,  para entender quem eu sou, quem é o meu povo, porque que eu não estava no contexto aonde o meu povo estava, por que que eu não ouvia as notícias sobre o meu povo. Meu povo que eu falo assim, povos indígenas no geral né, na mídia, nos locais que eu ia em revista, jornal, eu não via, então porque?

E o que eu pude perceber que, a minha visão de comunidade, de povo indígena, não era a mesma que eu via na escola, era muito diferente porque quando eu tive esse contato, eu tive medo, né. E medo porque se é o meu sangue, se é a minha família? Mas medo porque foi uma construção que eu tive aqui fora né, e aí a partir dos 10 anos eu tive um contato dentro, uma imersão cultural dentro da minha cultura e conheci mais e queria mais né.

Com 16 anos comecei a trabalhar em um veículo de comunicação, entendi um pouco mais dos bastidores do que trabalhava  o jornalismo de TV, me apaixonei e foi isso que eu decidi fazer né.

A missão hoje, é dar vez, voz, espaço aos povos indígenas, as comunidades quilombolas, aos ribeirinhos porque na região onde eu moro existem muitos ribeirinhos, com muitas histórias que também tem saberes, muito ancestrais como os nossos e eu estou aqui né, como forma de ponte, de contato, de dar esse espaço né, de oportunizar essa experiência para cada um deles.

 

[LUANA IBELLI]

O que você tá fazendo hoje assim, como jornalista né?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Hoje eu trabalho de forma independente.

Desde o ano passado, assumi os riscos do jornalismo independente, faço jornalismo investigativo, socioambiental e presto serviço para algumas agências de notícias e sempre divulgando a Amazônia né,  divulgando os conflitos que existem dentro das terras indígenas principalmente no estado de Rondônia aonde eu moro. Existem muitos riscos para as comunidades.

E também divulgando o que há de bom né, um pouco mais sobre a cultura, o que é ser indígena no Brasil hoje, tentando fazer a desconstrução dos estereótipos que foram criados, o uso da internet também tem sido fundamental, participando mais ativamente dos movimentos né, movimento da Juventude indígena de Rondônia, estando atuante dentro das comunidades, das aldeias, conhecendo outras culturas e divulgando isso também.

Então é um pouco do trabalho que eu venho fazendo nas redes sociais, para algumas agências, o que estiver acontecendo ali que tem Amazônia no meio, eulá.

[Risos]

 

[LUANA IBELLI]

Perfeito.

E acho que… queria introduzir né, esse assunto que a gente sempre começa falando disso,  sobre a questão da objetividade jornalística, se acabou de falar né, que você tem como missão dar voz né, a povos invisibilizados.

Então queria que você falasse um pouco o que que você acha da objetividade jornalística, se é possível ser neutro, imparcial no jornalismo.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Acreditava muito…

Eu acredito que cada um defende a sua bandeira né, e assim… no jornalismo tradicional, ainda existe sim essa imparcialidade, essa neutralidade mas… também tem essa questão de cada um defende o seu né.

A gente as vezes dá uma levada um pouco mais para essas causas por exemplo, o que eu faço nas minhas matérias né, mostrar de fato o que tá acontecendo, ouvir as comunidades, ouvir os indígenas e atrás de resposta, esse é o nosso trabalho do jornalismo né, ir atrás de resposta, ir atrás da outra versão do outro lado, mas a gente quer que aquele problema seja solucionado né, no nosso interior, no nosso euzinho a gente quer que aquilo seja solucionado.

E é isso que a gente tem tentado fazer com os nossos trabalhos também né, digo nós assim, rede de comunicadores indígenas que tá ativo ali na Amazônia também, tá aprendendo mais sobre a comunicação né, e entenderam a necessidade da comunicação para poder tomar esse espaço de fala.

Tomar os espaços aonde eles podem falar, podem representar o povo, podem falar suas questões, trazer aí as coisas que estão incomodando e também mostrar o que há de bom, o que dá para aprender com as comunidades indígenas.

 

[LUANA IBELLI]

É um trabalho bastante necessário né, porque na mídia tradicional a gente não vê tanto isso.

Então queria te perguntar né, como que você vê o panorama atual né, da mídia do jornalismo tradicional no Brasil em relação às questões indígenas?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Eu tava comentando até aqui nos bastidores né,  não conheço nenhuma um outro indígena ou indígena que trabalha em veículo de comunicação TV por exemplo né…

E é difícil encontrar indígenas em redações, é… hoje, acredito que isso pode mudar daqui para frente com crescimento né, das redes sociais, com o crescimento desse espaço todo isso pode mudar mas o cenário atual assim, não conheço nem não tenho contato com outras pessoas que trabalham dentro de redações que sejam indígenas.

Esse espaço precisa ser mais ocupado e precisa ser discutido mais porque outras questões já são discutidas mas e os povos indígenas né?

E por que que seria estranho ter um indígena dentro de uma redação?

Não, nós ocupamos faculdades, nós trabalhamos na cidade, nós ocupamos os espaços urbanos também, nós precisamos dos nossos espaços para trabalhar, porque não uma redação né?

Porque não trazer um pouco da nossa cultura dos nossos saberes dentro das redações também?

E uma outra coisa, ajudar a informar para esse público, por que o que eu percebo como jornalista, como amazonida, como indígena é que há uma dificuldade muito grande de profissionais de comunicação de se comunicarem com as comunidades tradicionais e com a população da Amazônia, usando alguns termos por exemplo.

O uso do termo índio não se usa mais né, porque não define quem são os indígenas. O termo correto é indígenas por que significa povos originários e não se utiliza o termo tribo para falar sobre etnia e muitos ainda utilizam por falta de conhecimento né, e a gente precisa mudar essa realidade.

É preciso aproximar a linguagem, é preciso aproximar o material, o conteúdo que é entregue para que nós na Amazônia, para que nós indígenas possamos receber esse material, entender e tornar isso parte do nosso cotidiano também.

 

[LUANA IBELLI]

É uma das consequências é que existem muitos estereótipos né, que o jornalismo ainda perpetua sobre povos indígenas.

Você vê isso?

Quais são esses estereótipos, assim?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Então… é… eu nem sempre eu tive meu cabelo pretinho né.

Teve uma época que eu radicalizei e mudei a cor do cabelo, fiquei loira e eu ouvi muito, é… de várias pessoas, não só dentro das redações, que primeiro eu tinha perdido a minha identidade, não parecia mais indígena, falou assim: “Ah, mas você nem tem cara de indígena, é a primeira vez que eu vejo uma índia loura né e tal.” Eu falei assim: “ah gente, o ser indígena não tá assim no nosso rosto, a gente não tem que ter olho puxado, a pele mais… né, diferente, o cabelo lisinho preto.”

No Ceará por exemplo, os indígenas não tem essa característica, é diferente né, tá no sangue, não quer dizer que eu sou indígena eu tenho que ter esse padrão aqui, não é, tá no nosso sangue é isso que diz ser, quem é que, eita…  é isso que define o que é ser indígena, é o nosso sangue, a nossa cultura, o nosso costume, a nossa tradição, é aí que tá, sabe, a diferença de ser indígena, e do que as pessoas acham que é ser indígena.

O que tem muito no imaginário da cabeça das pessoas, é que o ser indígena ainda mora dentro de uma maloca, ainda anda nú, ainda pode casar com várias mulheres, nem toda cultura tem essa abertura na casamento, enfim… tem muitas coisas que ainda precisam ser mudadas né.

A gente se atualizou né, as tecnologias estão dentro das comunidades também, e consumimos informações, principalmente agora, estamos muito preocupados com o que tá acontecendo no Brasil.

 

[LUANA IBELLI]

É… e falando nisso né, é… falando no que está acontecendo no Brasil, acho que também a cobertura né, da pauta indígena ela tá muito relacionada por exemplo a questões ambientais né, enfim, as questões que acontecem no norte, então fala um pouquinho disso, como que é essa relação?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Então.. é como… eu acho que assim, a maioria das vezes né, como que é tratada a Amazônia nas grandes mídias aí, nas grandes empresas de comunicação.

A Amazônia muitas vezes ela é vista como um lugar cheio de belezas naturais, de fato é, mas também a Amazônia é formada de gente né, de pessoas, e essas pessoas têm um contraste muito grande, tem pessoas né, que tem um padrão de vida muito legal, muito estruturado, tem um padrão de vida que não é tão estruturada assim, são várias identidades, vários rostos, várias situações que existem dentro da Amazônia.

O empreendedorismo na Amazônia é uma coisa muito forte e não se é tão falado assim nas mídias né.

O que se ouve muito é a questão do desmatamento né, as questões ruins, é… quando tem um grande crime, como aconteceu infelizmente do nosso amigo jornalista aí, a situação do Dom e do Bruno né, que foi noticiado mundialmente, então eu vejo que algumas vezes, o que é mostrado nas grandes mídias, são as partes ruins.

Mas também tem muita parte boa, também tem histórias muito interessantes para serem contadas e que estão lá, sendo invis… invis… invisibilizadas – quase que não saiu –  e que precisa ser contadas sabe.

Um produto que chega aqui em São Paulo, que vem da Amazônia, tem todo uma história, tem todo um trajeto, a castanha, o café, vou trazer a história do café.

O povo Paiter Suruí, do interior de Rondônia, produz café, café orgânico, e uma área que foi totalmente reflorestada né, e ele tem um trajeto pra cá, ele vem pra São Paulo, ele é vendido pra uma empresa muito grande de café aqui, também é exportado para a Suíça.

É uma história muito interessante para ser contada também, tem o etnoturismo que está crescendo muito na região Amazônica, então trazer pautas, é… que falam sobre as invasões é importante, muito importante!

Sobre o desmatamento, é muito importante também, mas trazer o que tem de bom dentro da, dentro desse contexto amazônico né, acho que é muito interessante.

É um trabalho arriscado, muito arriscado, pra… principalmente pra jornalista que cobre isso né, que tem que tá dentro das reservas, tem que tá dentro das comunidades, que que tenham acesso direto com indígenas que estão ameaçados de morte, e… assim… é um trabalho muito tenso, muito tenso mesmo!

As vezes tem publicações, a gente não pode divulgar o nome das pessoas mas pode dizer que é uma liderança, tem que ter todo um cuidado na verdade né, tem a questão da segurança deles que é muito importante.

 

[LUANA IBELLI]

Entendi.

Você já… já se sentiu assim, segura nessas coberturas?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Já, eu já recebi ameaça dentro do meu trabalho, do meu ambiente de trabalho, é…

Um político foi dentro do meu ambiente de trabalho me ameaçar, dentro da reserva indígena já já me senti ameaçada várias vezes também.

Não é um trabalho assim que, fala assim, nossa você gosta da Amazônia, vai lá se aventurar, não é para aventureiros, é para quem tem coragem…

Viver na Amazônia também é pra quem tem coragem!

[Risos]

 

[LUANA IBELLI]

Entendi, e fico pensando né, que o norte é muito invisibilizado né, de uma forma geral.

Você acha que isso tem relação com essa proximidade, é… das questões indígenas, essa invisibilização?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Acredito que as pessoas pensam em Norte, e pensam em Floresta né? Muitas vezes…

E tem a questão geográfica também que eu uso, que assim, a gente até brinca né, que a questão de as pessoas não saberem aonde que fica cada lugar né.

Tem a brincadeira do, o Acre existe? né… e tem a brincadeira, Rondônia não é Roraima, muita gente confunde, então é preciso conhecer mais sobre o norte, é preciso sim trazer essa visibilidade.

A gente tem uma frase que usa que é, vem forte que eu sou do Norte né, eu tenho força, eu venho para mostrar quem eu sou, então eu acho que o norte ele precisa ser mais visibilizado né, tem essa invisibilidade sim.

Tem muita coisa rica para mostrar, tem muita coisa para mostrar, muita coisa legal que precisa ser explorado sabe, de uma maneira assim, positiva também.

 

[LUANA IBELLI]

Agora eu queria entrar num.. num assunto relacionado né, que é o seguinte: tem um texto, que eu tava vendo na Enois, de uma jornalista que chama Ariane Sussuí, acho que é assim que se pronuncia. Ariane, se tiver errado me perdoa (risos), mas ela fala né, do quanto…

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

É Sussui.

 

[LUANA IBELLI]

Sussui, Ariane Sussui.

Ela sempre, ela falando né, que ao longo da história, indígena sempre apareciam como personagens né, muito estereotipados, depois começaram até aparecer como fontes nas  reportagens jornalísticas e agora reivindicam cada vez mais estarem por trás das narrativas jornalísticas.

Como que você vê isso?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Então, eu acho sensacional!

A Ariane ela também fazia parte da Coiab né, que é  um, uma coordenação aí de indígenas da Amazônia, e fazia parte da rede de jovens comunicadores na Amazônia e assim, é muito legal porque vendo esse movimento da juventude que quer saber se comunicar, que quer comunicar o que tá acontecendo sabe, é um, é uma revolução muito grande assim, eu fico muito feliz, muito feliz, com esse movimento todo né, de trazer isso, de eles contarem a própria história, a versão deles da história, como os fatos acontecem, o que eles estão vendo.

Porque muitas vezes a nossa história é contada por outras pessoas, que não entendem o contexto, não tem a vivência da realidade dos fatos e eu acredito que quando você conta aquilo que você vive, aquilo que você presencia né, e que é um modo de vida seu, ou o que seja, você traz verdade pra aquilo que você tá colocando ali.

Você mostra, você cumpre o seu papel de fato de mostrar a realidade dos fatos né, você traz verdade, você traz, é…

Eu acho que todo um sentimento ali também junto e consegue entregar tudo seu naquele material, seja vídeo, foto, texto, eu acho que é assim que é, pelo menos comigo funciona assim. Eu entrego tudo de mim pra um material por que é o que eu sinto, é o que eu vejo, é a realidade dos fatos.

Eu conto que, o que acontece de verdade né, e eu conto a história que eu estou vendo  a minha história  a história do meu povo.

Não é uma outra pessoa que entrou e tenta entender o contexto e conta, porque se perde muita coisa nesse conto de histórias sendo por uma outra pessoa.

Exemplo disso são os livros didáticos usados nas escolas no Brasil. Porque não usar livros escritos por indígenas pra contar essa história do Brasil, sabe?

Tem muita literatura indígena legal, que dá pra inserir nas escolas, que dá pra estudar, fazer um projetinho, ah, vamos estudar um mês assim, vamos, indígena é isso aqui, sabe.

Deixar aquele, aquele estudo de estereótipo que foi criado no passado né, de índio selvagem tudo mais, não, “Vamos entender o que é o indígena hoje?” Indígena é assim, é… quando chegaram os colonizadores estavam aqui, não tratar como a descoberta do Brasil, mas contar o contexto real de como que foi, a gente costuma dizer que foi invasão mas, mas enfim, tem vários jeitos para contar essa história aí que eu acho que seria interessante.

Acho que a mudança começaria por aí.

 

[LUANA IBELLI]

Você costuma falar nas suas entrevistas né, das consequências de você, de outros contarem a nossa história por nós né, e aí vem todos esses desajustes né, da realidade e do que as pessoas contam.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Vou dar um exemplo também, muito interessante!

O nome Kaxinawá foi dado por um não indígena durante uma expedição. O nome do nosso povo é Huni Kuin.

Huni Kuin quer dizer povo verdadeiro e Kaxinawá era porque eu tinha indígena na floresta, ele tava caçando e alguém perguntou pra ele o que ele tava fazendo e ele respondeu nawakaxi. Nawakaxi é morcego, morcego branco, morcego. E aí, pra não ficar essa palavra, eles inverteram e ficou Kaxinawá por muito tempo.

Eu gosto desse nome né, porque eu gosto porque, por muito tempo  meu povo foi conhecido como Kaxinawá, mas muitas lideranças hoje adotam Huni Kuin que quer dizer povo verdadeiro, quer dizer a nossa identidade, então já começa daí.

Quem que contou, que começou a contar a nossa história, começou a contar com o nome totalmente diferente, foi uma interpretação diferente, assim como aconteceu com o povo Paiter Suruí, como o Uru Eu Wau Wau, que era porque um cachorro tava latindo do outro lado do rio e ficou Uru Eu Wau Wau, mas eles são Jupaú, que quer dizer os boca preta né, que é pintura com jenipapo…

Então a importância da gente contar a nossa história tá aí, no significado já a partir do nome do povo sabe.

As pessoas tão dizendo quem eu sou, não (sou) eu quedizendo quem eu sou, e aí elas acreditam… é como se eu chegasse lá a falasse assim: “Ah, seu nome a partir de agora vai ser laranja.”. Você fala para mim “Não”, ai você fala “Não, meu nome não é esse….”, eu falo não, a partir de agora vai ser e as pessoas começam a te chamar assim.

Esse é o impacto de outras pessoas contarem a nossa história. Agora se eu contar a minha história pra você, você vai entender, respeitar e vai ser isso a partir de então.

 

[LUANA IBELLI]

Já que você falou de nome né, vamos entrar nesse assunto que é uma coisa muito forte na sua história, né Luciene, e que talvez muita gente não conheça.

Você vivenciou uma batalha pra poder assinar como Luciene Kaxinawá. Conta como que foi?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

É… Comecei, no início da carreira eu assinava como Luciene Marçal que é o meu primeiro sobrenome, do sobrenome da minha mãe, porém eu não era feliz… [Risos]

 

[LUANA IBELLI]

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

… com esse, com essa assinatura porque eu já entendi a importância da minha identidade  eu queria assumir a minha identidade e gostaria muito que fosse como Luciene Kaxinawá.

Passei quatro anos lutando pra conseguir assinatura como Luciene Kaxinawá, é…

A empresa…, assim, a orientação na verdade que eu recebi, era de não assinar com esse nome porque não tinha no meu registro de nascimento, então eu não poderia assinar, mas eu vivia sempre me questionando, “Poxa mas tem outros profissionais que usam outros nomes né?…”

 

[LUANA IBELLI]

Exatamente!

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

“…por que que eu não posso?” Eu tive que entrar com uma ação judicial, pra fazer alteração do meu nome e com esse pedido na justiça, na união, foi que eu solicitei formalmente pra empresa que eu trabalhava, a alteração do nome e eu falei assim: “olha, a partir de agora eu gostaria de ser chamada assim!”.

E aí, a partir de então, fui chamada como Luciene Kaxinawá.

A primeira vez que eu fui chamada como Luciene Kaxinawá ao vivo, eu segurei muito, a lágrima nos olhos, porque foi como isso que você falou sabe, eu represento não só eu mesma, eu represento um povo todo.

É… tem uma psicóloga que eu sempre tava junto com ela, e ela falava assim: “Lá vem, – quando fala assim –  Luciene Kaxinawá, lá vem ela com toda a aldeia dela”.

E é assim que eu me sinto né?

Falei assim: “Vou levar o nome do meu povo agora para o mundo inteiro!” E fiquei muito feliz!

Depois dessa transmissão ao vivo, eu chorei horrores de felicidade dentro do carro, gravei um vídeo que eu não tive coragem de postar, mas assim, fiquei muito feliz! E eu acho que nesse momento surgiu uma nova mulher sabe, com mais força, com mais garra, assim, agora sim eu vou com tudo, eu vou com força, eu vou lutar e vou cumprir a minha missão.

Me deu sabe, uma energia muito grande, muito forte, é o que eu falo assim, a energia, a minha energia astral sabe? Floresceu muito dentro de mim!

 

[LUANA IBELLI]

E como que foi pra as pessoas verem, do seu povo né, vê esse nome numa TV?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Então, eu tive um reconhecimento, nossa, eu não esperava esse reconhecimento né? É muito maior do que eu imaginei quando foi feito o anúncio da primeira jornalista brasileira na TV.

É… recebi mensagens de muitos parentes de lugares assim que eu não conhecia, me acolhendo, muito felizes, “Vamos lá, você representa a gente, você vai representar a gente e tal, é… leva as nossas pautas aí pro mundo vê”, nossa foi muito lindo, muito lindo.

E no começo do ano,  eu fui pra minha comunidade, é visitar os parentes e tudo, e lá eles estavam me chamando de jornalista ou de Cacica [risos].

Aí, é, eles falou assim: “E jornalista, não sei o que…”, e me acolheram muito bem, e nossa é muito legal, muito!

Eu não esperava isso, eu tinha muito medo, eu tinha muito receio de não ser é…acolhida porque eu tenho uma vivência muito grande na cidade né?

A maior parte da minha experiência é na cidade, então, aí eu venho com meu nome…

Aí eu achei assim, ah, eles podem pensar que euquerendo usar o nome mas não, não é isso, porque eu já tava fazendo um trabalho em Rondônia, e depois comecei a fazer um trabalho no Acre, e depois fui fazer um  trabalho no Amazonas, e já tava cobrindo Amazônia toda e foi crescendo isso né, e foi fantástico!

 

[LUANA IBELLI]

Então vamos falar um pouquinho da sua experiência, né.

Você foi a primeira repórter indígena da TV brasileira né, e você sempre fala isso com muito orgulho, então queria que você contasse um pouco como que foi essa experiência de ser a primeira, e o que você vivenciou né, nesse período.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Não esperava esse título.

Ahmmm… tinha…, eu trabalhava em uma outra emissora, acho que como menor aprendiz ainda né, eu comecei, e aí as pessoas já me olhavam assim… diferente tipo né…, “Uma indígena aqui dentro da redação e tal”.

Aí beleza, passou um tempo, uma jornalista olhou e falou assim pra mim: “Você não tem noção, você tá fazendo história, só que você ainda não percebeu isso.”

Passou alguns anos, eu recebi o convite de uma emissora internacional, e antes de eu receber esse convite, eu já tinha ouvido que se eu quisesse trabalhar em uma emissora grande eu tinha que estudar muito né, porque esse não era o meu lugar.

E eu ouvi durante a faculdade também, o meu…, alguns parentes falando, meu pai falou assim: “Ah, faculdade é pra quem tem dinheiro, a gente não tem dinheiro”. Então eu tive várias vezes motivações para desistir mas eu usava isso ao contrário.

Não, eu vou provar pra mim mesma que eu posso e consequentemente as pessoas vão enxergar isso e eu posso motivar outros indígenas a: entrar para faculdade, a ocupar os espaços na medicina, nas redações, no direito…

A minha irmã começou direito, não concluiu ainda, mais né, a gente espera que conclua, é… e pode conquistar os espaços né, e…  Ih, eu me perdi!

[Risos]

 

[LUANA IBELLI]

Pois é.

Você falou disso dos espaços né, existe muita essa idéia de que o indígena não pode estar em todos os espaços né, ainda uma visão de um mito, que o indígena precisa estar na tribo,  vamos usar esse termo porque assim as pessoas falam né.

Você sente isso?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Sim!

Nas redes sociais, a gente ouve muito isso, vê nos comentários, “Volta pra sua maloca…”

 

[LUANA IBELLI]

Nossa!

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

“… Você não tem que tá na cidade… O que você tá fazendo aí…”

E tem muita questão de, a gente tem um celular, né?

Eu tenho um iPhone. “Ai índio de iPhone? Ah, todo índio agora tem iPhone? Ah porque a Funai deu, porque não sei o quê.”…

Cara, ninguém dá nada para gente, a gente tem que trabalhar. Se eu tenho um iPhone hoje, é fruto do meu trabalho e é ferramenta para o meu trabalho. É uma necessidade que eu tenho né. “Ah, mas índio anda de caminhonete, não sei o quê.”

Você não conhece o contexto, se foi ele que comprou, se é de alguma fundação, se é de algum trabalho, é…

E se ele tiver condições e quiser comprar, ele pode porque se uma outra pessoa aqui fora tiver condições, ela pode comprar também e ela não é julgada por isso. Então tem muito isso assim que: “Ai, o índio tem que ficar dentro da aldeia, tem que ficar na floresta, tem que ficar na maloca e tal”. Não, não é assim!

 

[LUANA IBELLI]

Agora sabe que eu fiquei pensando, é… que ao mesmo tempo que existe isso de falarem que o indígena precisa ser de um determinado jeito, vocês também sofrem preconceito exatamente por ser assim.

Então queria que você falasse um pouco disso né. Como que é chegar numa redação por exemplo, que as vezes, que a gente sabe é um ambiente muito homogêneo, você já trabalhou em TV, você sabe disso né, e a TV tem vários padrões.

Então como que é pra um indígena poder se assumir, por exemplo, você tá, né, com vários elementos e aproveita um pouco para falar também os elementos que você trouxe aqui né, no seu corpo e como que é isso né, que muitas vezes não é aceito.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Sim!

Então, hoje eu vim com essa, com esse xale aqui, ele é produzido pelo meu povo, ele é confeccionado pelo meu povo, são… são… grafismos indígenas né, esse aqui é da jiboia.

A jiboia é como se fosse nossa mãe, é… a nossa sabedoria, a cura vem da jibóia pro nosso povo.

Trouxe os brincos aqui. Esse daqui eu aprendi fazer.

 

[LUANA IBELLI]

Não, tá lindo!

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Tô aprendendo os artesanatos também, são da nossa, da minha cultura do povo Huni Kuin,pintada com o jenipapo.

O Jenipapo ele é uma fruta né, que a gente faz a tinta quando tá verde, rala, esquenta, e tem todo um processo, e é uma fruta sagrada, né… de proteção.

Então, a gente usa muito pra quando vai pra alguns eventos, vai representar, vai para guerra né.

Tinha muito isso no passado, de ir para guerra mas a gente se prepara para guerra, para ir para Brasília principalmente, quando tem movimento. E é muito lindo assim, é muito sagrado, tem significado.

Esse daqui é do povo Paiter Suruí né, tem a representação da onça. Essa daqui é da onde vem a minha fala, a minha fala vem de dentro né, e eu tenho o desenho da jibóia aqui que é da sabedoria, da cura.

Eu trouxe alguns cocares também, vou pedir ajuda aqui…

[Risos]

 

[LUANA IBELLI]

[Risos]

Ai que legal!

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Esse daqui foi feito pelo Vô Mopiri é de…

 

[LUANA IBELLI]

Que lindo.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

…penas de arara.

Eu sempre ando também, hoje como eu trouxe o meu xale, eu não achei necessário usar.

 

[LUANA IBELLI]

É, pro pessoal que só tá ouvindo a gente, porque a gente vai pro o YouTube e tá no Spotify. Então já aproveita para olhar gente, dá uma olhadinha no YouTube né, ou no vídeo não sei quando que o Spotify vai colocar vídeo, mas talvez aconteça em breve, que vocês vão ver as coisas lindas que ela tá, que ela tá mostrando.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Esse segundo cocar, ele é feito de penas de Garça com arara também.

 

[LUANA IBELLI]

Lindo, nossa!

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

E esse outro aqui, esse primeiro que eu mostrei, ele é… dá para ser usado dos dois lados.

 

[LUANA IBELLI]

Dos dois lados.

Uhum.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Esse último, ele é tradicional. Ele é, só o povo Paiter Suruí…

 

[LUANA IBELLI]

Ahã

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

…do interior de Rondônia tem esse, esse tipo de cocar, é o mais diferente de todos né.

São muitas penas de várias aves, dá um trabalhão para fazer….

 

[LUANA IBELLI]

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

…mas também é muito lindo né, ele traz uma energia, e uma força muito grande para gente né.

Que a gente leva, por que que a gente anda com cocar?

É a força da natureza! A gente leva a vida. A gente leva um pedacinho da floresta com a gente. É isso que representou o cocar.

O cocar também diferencia os poderes dentro das comunidades né, cacique, pajé, enfim… liderança e tudo.

Dentro do… Perdão, eu jáfugindo do contexto né?

 

[LUANA IBELLI]

Não, pode…

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Dentro do Jornalismo, eu como indígena…

[Risos]

 

[LUANA IBELLI]

Não, aproveita, é isso.

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

… é…. eu sempre gostei de andar assim né. As pessoas falam assim: “Ah, você anda cheia de miçanga, você anda cheia de pintura e como é que você vai trabalhar em televisão assim?”.

Poxa, hoje eu consigo trabalhar com mais liberdade, dessa maneira, com o jornalismo independente né, mas eu já enfrentei algumas situações de… quererem tirar algumas, alguns adereços né,

Recebi uma orientação, certa vez eu recebi uma orientação, de tirar os brincos né. Fui toda repaginada aí, cabelo e tudo, roupa, e aí pediram pra que eu não usasse mais brinco de pena.

Ai eu falei: “Ai, me desculpa, eu posso abrir mão do meu cabelo, eu posso abrir mão das minhas roupas, eu posso abrir mão de muita coisa, mas assim, da minha identidade eu não abro mão porque eu já levei tanto tempo para conquistar!”

E os meus brincos de pena, de miçanga, são um pedacinho de mim, é a minha essência.  Então eu não consigo tirar.

Bati o pé e fiquei mas muitas vezes em vários veículos que eu passei, eles tinham essa orientação de: “Ah, não usa brinco de pena, não usa colar e tal, não sei o quê”, porque vai chamar muita atenção, porque isso, porque aquilo outro”.

Falei: “Ai gente, vocês tão tirando um pedacinho da minha essência.”

Não é que eu vou aparecer com tudo isso, mas assim, poxa, um adereço, um brinco, um colar eu acho que é a minha identidade, como esse xale aqui né.

Quem olha, quem consegue assistir pelo YouTube, e for parente Huni Kuin, já vai identificar que eu sou do povo.

É a minha identidade de fato, isso representa muito para mim, muitas pessoas acham que é besteira, que é para chamar a atenção.

 

[LUANA IBELLI]

E representa um povo também né.

E acho que é importante porque os gestores às vezes quando a gente fala de inclusão né, tem esse chamado pra que as pessoas estejam lá né, tem, muitas vezes utilizam também da diversidade pra aparecer nos lugares né, como uma marca, como algo que vai chamar atenção,  mas não estão dispostos à realmente acolher tudo que essa diversidade traz, né?

Muito diferente é…, uma pessoa indígena está com um adereço que diz respeito ali à sua identidade e qualquer outro adereço né, qualquer outra coisa de roupa, enfim.

Então acho que é importante né, que estejam atentos á isso e que possam realmente acolher em todos os lugares.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Uhum!

Eu acho que… e perguntar.

Sabe assim, perguntar não ofende sabe.

Então perguntar.

Isso faz sentido para você?

Você se sentiria confortável assim?

Isso é importante para você?

Do que você não abre mão?

Acho que seriam perguntas interessantes pra essa questão da inclusão.

Pra, pra contextualizar sabe, quem não é de dentro, pra quem é de dentro e vai pra fora, pra deixar todo mundo mais confortável possível também, porque são culturas totalmente diferentes, a gente entende, tem um contraste muito grande, mas eu acho que seriam perguntas interessantes a se fazer quando se tratar de inclusão.

 

[LUANA IBELLI] 

Você tem algumas medidas assim,  que você conseguiria pensar? Algumas coisas práticas pra… claro que são vários povos né, acho que 300 etnias a gente tem no Brasil…

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Mais, mais um pouquinho.

 

[LUANA IBELLI]

Mais…

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Uhum!

 

[LUANA IBELLI] 

Então não são todos iguais, mas existem coisas que talvez pudessem ajudar assim, que pensar como incluir realmente pessoas indígenas, uma vez que elas entram nas redações?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Eu acredito que o primeiro passo é entender. O que é povos indígenas? Quem são os indígenas do Brasil?

Entender que tem essa diversidade, que é muito grande, é gritante, porque por muito tempo sem entender o quê indígena era um povo só, falava uma língua só, e não é assim.

São mais de 305 etnias, são mais de 270 dialetos diferentes, e cada um tem o seu costume né.

Então eu acho que começaria aí, sabe?

Entender o que são povos indígenas, quem são os indígenas e entender que tem essa diversidade muito grande.

E chegar e conversar sabe ó…, é essas perguntinhas que a gente acabou de fazer né: “O que é importante pra você? O que você não abre mão? Que faz sentido para você?”

Porque, por exemplo, na minha cultura a gente come jabuti. Na cultura do outro não come, dá azar, nem pode nem ver.

Então se isso for levado, algum costume for levado pra uma redação por exemplo, o que não pode acontecer? Como que dá para ver isso, sabe? Como que a gente consegue, é… fazer um equilíbrio aí?

Antes eu tinha muito medo! Por exemplo… Vou contar um segredo… – ai gente, eu vou contar um segredo para vocês!

 

[LUANA IBELLI] 

Gosto!

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Antes eu tinha muito medo e não gostava de ir em cemitério.

Fazer pautas em Dia de Finado, era horrível. Eu não, nunca. A minha orientação era nunca entrar dentro de cemitério até que um dia eu tive que entrar, que eu tava fazendo pauta.

Então, nunca ninguém chegou e perguntou para mim falar, perguntou para mim falou assim:   “Aí tem alguma coisa que para você, não seria legal?” Sabe?

E aí eu entrei, enfim… mas já passou!

Eu acho que seria interessante perguntar isso no modo cultural. Se “Ah, tem alguma coisa que pra você, se eu fizer, se eu pedi para você fazer, te ofende?” Sabe? Porque aí sim, eu acho que tem um diálogo importante, porque varia de cultura para cultura. Tem muitas, muitos costumes diferentes né.

Então tem coisas que pra mim não ofende mas pra outra cultura pode ofender.

Então é muito importante a gente tá atento a essa diversidade.

 

[LUANA IBELLI]

É… um trabalho também com os colegas né. Você tava falando que é isso, as vezes você chega numa redação as pessoas já olham de um jeito diferente.

Como que é também que poderia ser feito esse trabalho com os outros, pra que a presença de uma pessoa indígena, com todas as suas características né, de identidade, não chocasse tanto né, e não fosse uma coisa tão fora da curva assim.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Então, eu acho que é mais tentar né, tratar com a maior naturalidade possível porque nós não somos bichos exóticos.

Nós somos pessoas que têm costumes diferentes. É tentar conversar, entender, acolher, ensinar.

Se a pessoa não souber algo, não julgar, porque eu já fui muito julgada né, “Índio é burro… Índio é preguiçoso… Ela não vai conseguir fazer isso…. Ela não tem capacidade pra isso…” Eu ouvi muito!

Mas não é bem assim.

Nós podemos, nós temos capacidade, se você quiser me ensinar algo que eu não sei, eu vou ser muito aberta, eu vou ser muito receptiva.

Se você falar: “Luciene você quer aprender isso? Você sabe isso?”

Eu não tenho vergonha de falar: “Não sei. Eu falo não sei, não conheço.”

“Você quer (aprender)?” Quero porque eu sou curiosa. Quero, vamos aprender, faço.

Você pede assim:

“Lú, você vem…, faz um documento aí pra mim assim, assim, assim?”

Não sei fazer.

“Ah, mas eu te ensino, te explico como é que é. Você faz?”

Faço!

Então é isso, é acolher, é ensinar, é tratar assim, da maior…, a maior forma possível de naturalidade, é tentar encarar isso com naturalidade.

Sei que muitas vezes não é fácil porque não faz parte do cotidiano aqui fora né, faz parte do nosso cotidiano.

Vir com brinco, vir com acessório, vir com pintura, principalmente com pintura. A pintura chama muita atenção.

E eu acho que tratar abertamente os nossos, nós indígenas também falarmos sobre isso dentro das redações, é importante pra que isso não seja estranho dentro das redações ou em qualquer outro lugar.

Falar assim: “Ó, isso aqui faz parte da minha cultura, isso aqui sou eu, isso aqui representa isso, e isso representa aquilo, é feito assim, assim, assado, matou a curiosidade, as pessoas ficam sabendo, não tem mais ignorância sobre o assunto, e aí tá tudo bem.

 

[LUANA IBELLI]

Ás vezes eu acho que o jornalista de uma forma geral, não jornalista, mas a mídia às vezes, subestima muito né.

Você falou isso né, de é só perguntar, é conversar, eu acho que com o público assim também, porque eu sei que muita gente poderia pensar, muitos gestores né: “Ah mas, aí o público vai ver ela aparecer com pintura” e vai ficar: “Nossa, mas o que é isso?”. Não vai prestar atenção na notícia, mas não necessariamente, as pessoas elas podem aprender né, não exclui.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Não.

Eu acredito mais, que se for um, por exemplo, no meu caso…, eu como correspondente usando meu brinco de pena, eu sou correspondente da Amazônia.

Eu estou representando o lugar o qual eu estou representando ali, no trabalho né.. Eu estou, eu me perdi…

 

[LUANA IBELLI]

É, você estava falando que você…

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

[Risos]

É, foi bem ai que eu me perdi.

 

[LUANA IBELLI]

… eu tava falando que, as vezes existe uma desculpa assim né, ah, vai tirar a atenção da notícia né… ah, ela vai aparecer de pintura e as pessoas vão ficar se perguntando: “Aí, o que é isso? Meu Deus, nunca vi!”

Eu acho que não necessariamente né, as vezes a gente subestima muito o público.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

O publico pode aprender á se acostumar.

A Mari Palma por exemplo, ela é um exemplo né. Eu ouço muito ela falar nas redes sociais de que ela ouviu muito, a jornalista não usa piercing, não tem tatuagem, foi um tabu quebrado.

Por que que isso não pode acontecer com povos indígenas? Pode, pode acontecer sim.

E no meu trabalho como correspondente na Amazônia, eu usava os meus brincos, os meus colares sabe, e dava mais representatividade e propriedade de fala.

Eu acredito de fato naquele momento que eu estava fazendo aquele trabalho.

 

[LUANA IBELLI]

E também mostrar a diversidade que existe né.

Uma das nossas entrevistadas, Nayara Felizardo, ela fala isso, quanto, que muitas vezes você privar o público de ver essa diversidade de sotaques e aqui a gente tá falando da sua diversidade né, de adereços por exemplo, priva as pessoas de conhecerem um Brasil que é muito diverso.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

[Risos]

O Brasil é muito rico.

O Brasil é um país, nossa…, é um país que acolhe todo mundo. Então a gente tem um pouquinho de cada cultura né?

A gente tem a cultura dos povos indígenas que, que é muito grande, que faz parte do dia a dia, mas também tem outras culturas aí muito forte, como japoneses e outros aqui também no nosso país.

Então acho que é possível sim a gente se acostumar, porque a gente já se acostumou no dia a dia com tanta diferença né, tanta diversidade, porque não nas telas, enfim, nas redes sociais, em outros lugares.

 

[LUANA IBELLI]

Agora quero falar um pouquinho de trabalhos que você já fez, onde você mostrou né, comprovadamente o quanto essa diversidade é rica pra fazer narrativas muito boas que trazem, né, várias perspectivas diferentes.

Fala um pouquinho então, por exemplo, um dos últimos trabalhos né, pra mídia tradicional assim, você fez alguns trabalhos pra Vogue.

Então conta um pouquinho como foi essa experiência, que você trouxe nesses trabalhos.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Então, a Vogue foi uma surpresa. É… foi um contato muito legal, que uma das agências me proporcionou.

Eles estavam com um pauta muito interessante, pra falar sobre guardiões da floresta né, uma campanha toda voltada sobre Amazônia, e me convidaram para fazer parte dessa, dessa campanha como jornalista.

Contei a história de três ou quatro personagens que fazem parte desse contexto Amazônia né, Sâmela Sateré Mawé, a Denise também, que faz parte de…, são duas mulheres né, tem a Rita Teixeira também, que faz parte de um acolhimento de mulheres que sofreram violência doméstica, que precisa m tomar um novo rumo na vida, assim de empreendedorismo e tudo mais, e dão alternativas.

E também contei a história de um pajé, do Amazonas também, eu esqueci a etnia dele agora gente, desculpa, mas eu contei um pouco do trabalho dele. Ele faz um trabalho muito legal no centro de medicina indígena, Bahserikowi, lá em Manaus, muito legal.

E… assim, foi muito bom contar a história e ver, e conhecer parentes também, que tem um papel de protagonismo ali na Amazônia, que faz um trabalho importante.

A Sâmela com jovens né, tem a Vanda witoto também, nossa, como aquela mulher é guerreira gente! Aquela mulher é demais!

Ela conseguiu, é…. construir um hospital dentro de uma comunidade que não estava sendo assistida durante a covid. Ela atendia sozinha, fazendo trabalho de formiguinha. Toda uma comunidade com 35 etnias né, no Parque das Tribos.

E conhecer esse trabalho.

Até o maquiador era amazônico ali, sabe? Todo um contexto, tudo ali, foi um trabalho muito lindo, um trabalho muito lindo, fantástico de fazer.

Estivemos num Mirante gavião, que é um local lá que ficou todo mundo…, maravilhoso também.

Uma das nossas personagens, a Milena, ela até chegou a falar assim: “Nossa, isso aqui é um portal. Isso aqui é um portal de energia, muito bom, muito positivo” e eu pude sentir isso nos dias que a gente tava lá.

Foi um trabalho incrível, incrível, incrível, que rendeu prêmio né, na Conder. Teve um prêmio internacional, essa edição.

E esse ano voltei a fazer trabalhos com a Vogue pra contar a história da Dandara Queiroz, que é uma modelo que se descobriu né, indígena também e está fazendo processo dela de retomada cultural, está conhecendo mais sobre a história do povo dela que é Guarani, e participando já de alguns eventos, algumas movimentações, sempre nesse contexto né?

E eu fiquei muito feliz com esse trabalho, esse reconhecimento que a Vogue teve, a importância que ela entendeu de ter esse espaço né, pros povos indígenas e ter esse espaço também para jornalistas indígenas.

 

[LUANA IBELLI]

Sim.

Eu ia te perguntar, como que foi a experiência de você chegar para fazer essa cobertura e as fontes de lá, verem chegando uma jornalista indígena!

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Então, ficou todo mundo meio passado né, assim… “Como assim? Tem jornalista indígena?” Tem…tem!

A gente tem a Alice Pataxó também, que é jornalista. Ela trabalha principalmente nas redes sociais, nos portais também.

Mas é muito difícil você encontrar um profissional jornalista indígena, e eu fiquei muito, muito, muito feliz com essa edição mesmo, assim…como profissional, de tá realizando um trabalho assim, que é a minha missão, e como pessoa de conhecer e participar daquilo tudo assim, foi incrível.

Acho que uma realização profissional muito grande.

 

[LUANA IBELLI]

E as pessoas ficam mais abertas assim, para conversar com você?

Você sente que o nível da conversa é mais aprofundado?

Como que é?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Depende muito do local né.

Nesse específico, foi muito bom mesmo, fluiu demais, demais, porque os parentes se sentem acolhidos. Eles entendem que não é uma pessoa que vem de fora, é uma pessoa que tá lá dentro, que conhece o contexto.

E muitas vezes, eu consigo fazer vários trabalhos por conta disso.

Tem algumas comunidades que não aceitam pessoas de fora, porque eles sabem, eles já tiveram algumas experiências ruins, e sabem como que pode chegar de uma maneira diferente para o público, então eles preferem que indígenas façam esse trabalho né.

Que tenham a realidade, conhecimento dos fatos, que vai colocar de uma forma que eles entendam.

 

[LUANA IBELLI]

Porque, eu acho que isso também é uma questão né, muitos jornalistas não sabem chegar né, nesses locais, com esses povos.

O que você vê assim, que você faz diferente e que você vê que faz falta né?

Justamente, você falou que você consegue entrar em muitos lugares que outras pessoas não entram. O que você vê que acontece as vezes, que não deveria acontecer, e que você fez diferente…

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

É…cada… eu procuro entender primeiro, pra onde que euindo, né.

O que… aquela questão do ofende? “O que ofende aquela cultura? Aquele povo?”, eu pergunto muito.

Então, tem algumas comunidades que você chega e você não conversa com as pessoas que te receberam, você vai direto com o Cacique.

Então a sua fala tem que ser direto com a liderança, e aí depois, você vai lá e fala com os demais.

E tem todo um processo de chegada, um protocolo que eles têm de chegada, de comunicação, tem algumas fontes minhas indígenas que não conversam comigo diretamente, é um outro indígena que passa, e aí ele vê o que é, e aí dependendo da demanda passa né. Mas ai, ele fala assim: “É parente? É, é parente!”. Ele fala assim “Tá, a gente pode atender, mas é assim, assim, assim, assado.”

A gente entende. Beleza, tudo bem.

Eu acho que é isso.

É entender pra onde você tá indo, né. Com quem você vai falar, o que você vai falar, e a maneira que você vai abordar.

E o resultado é muito importante porque eles cobram. Eles cobram muito. Não só os parentes né, os indígenas, mas toda a população, porque eles querem ver o que tá saindo de fato, se saiu do jeito que eles falaram, do que foi falado que seria, eles ficam de olho mesmo, sabe.

E se sair ali, um pouquinho fora assim… não sei… mas é sempre mostrar depois, sabe.

Oh, saiu assim… saiu a matéria…

Primeiro conhecer, entender, e mostrar.

Eu acho que esses seriam os passos assim, fundamentais pra conseguir uma boa comunicação.

 

[LUANA IBELLI]

Perfeito.

E… vou voltar um pouquinho em uma coisa que você falou antes né, que você tá no jornalismo independente, que você conhece poucos jornalistas indígenas em veículos tradicionais.

Você acha que é mais difícil né?  Porque hoje, a maioria da cobertura indígena, para não dizer a totalidade, tá em veículos independentes.

É difícil se inserir no mercado? É por isso que muitas pessoas acabam optando pelo empreendedorismo?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Sabe o que é difícil? É as empresas investirem nisso, né? Porque tem questão de logística, e… que, nossa! Eu acho que mexe muito com essas empresas. Têm a questão dos interesses, né?  Que tem algumas empresas com interesses políticos.

E as pautas indígenas, as pautas…as pautas indígenas são mais difíceis de emplacar, né… nos grandes veículos, porque ainda se tem aquela idéia assim: “A gente vai mostrar a gente pelado? Se não tiver, a gente não mostra.”

 

[LUANA IBELLI]

Nossa.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

“A gente vai mostrar alguma coisa que… Outras não viram, né?”

Eles querem um furo, querem mostrar o que já é mostrado, algum tempo atrás de documentários né, que viram indígenas pelados e tal, não sei o quê, ou algum furo. E quem está cobrindo de forma independente, tá cobrindo o dia a dia, tá cobrindo que tá acontecendo.

 

[LUANA IBELLI]

Hum…

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Então, como não tem espaço, para as grandes mídias pra tá falando sobre isso, a gente acabou optando por empreender.

Recebi um convite, pra ir para o Xingu, quando eu tava trabalhando em uma emissora, e a emissora disse que não teria recurso para me mandar, que seria muito inviável, e eu ficaria muito dias fora, o que prejudicaria a redação.

E foi a partir daí que eu tomei a decisão de… mandar ver no meu independente.

Eu deixei de realizar um sonho, que é um sonho meu, conhecer o Xingu né, de contar a história do Quarup, porque eu noticiei no outro veículo né, que eu trabalhava na CNN, eu noticiei a primeira vez em Mil anos, que o Quarup não foi realizado, por causa da Covid.

E aí, o ano seguinte seria a retomada né, eu já estava em um outro veículo, e aí esse veículo não, não… achou que não seria interessante eu ir, eu falei assim “Ah, eu não vou deixar mais de realizar meus sonhos, de estar nos lugares, eu estou recebendo convites, eu vou e é isso que eu quero mostrar, e é isso que me motiva, e eu vou tentar! Vamos ver”, e já tem 1 ano que eu assim, nessa luta né.

Fácil não é! A gente tem risco, a gente tem despesa, a gente tem muita coisa acontecendo, às vezes não dá conta sozinha e compartilha com alguns colegas, mas é muito gratificante, sabe?

Eu me sinto realizada, eu me sinto feliz com o que eu faço, eu gosto de fazer o que eu faço, eu acho que é isso que vai acontecer, assim.

 

[LUANA IBELLI]

É, e esse jornalismo independente inclusive, tá cada vez mais pautando a mídia tradicional né, de tanta qualidade que esse conteúdo tem né?

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Sim.

Porque a gente trabalha muito com a questão da qualidade, é, do processo de apuração, de investigação, porque se você tá trabalhando de forma independente, você não tem um apoio, você não tem uma grande base de apoio né?

Então é você por você, você tem que fazer um trabalho bem feito e quando isso… é… quando a gente quer levar isso né, para uma proporção muito maior, a gente tem que levar um trabalho bem feito pra que sim, seja aceito nas grandes mídias e seja repercutido aí.

 

[LUANA IBELLI]

Falando em trabalho bem feito, eu vou fazer uma pausa pra gente indicar um conteúdo para o nosso público né, todos os episódios a gente fala de conteúdos da Rádio Guarda-Chuva que nós temos o selo, com muito orgulho.

E a Rádio Guarda-Chuva tem  um catálogo com vários podcasts né. A Rádio Guarda-Chuva é a primeira rede de Podcasts jornalísticos do Brasil. E hoje eu vou recomendar mais um, para você que tá ouvindo ou assistindo a gente.

É o Finitude. Ele é apresentado pela Juliana Dantas e o Renan Sukevicius e aborda assuntos como morte, luto, envelhecimento, e cuidados paliativos.

As histórias fazem pensar que tudo tem um ponto final e que a vida se torna melhor quando a gente lida bem com essa perspectiva do fim.

Eu sou muito suspeita para falar desse podcast porque eu acho que é um conteúdo incrível assim, com honestidade sabe, e uma delicadeza em abordar temas que a gente ignora né, que a gente escolhe não olhar, a nossa perspectiva do fim. Então recomendo muito né, que você ouça, você que tá gostando aqui no nosso conteúdo jornalístico.

Inclusive o Finitude ganhou prêmio, ganhou já uma menção honrosa no Vladimir Herzog, que é um dos maiores prêmios de Jornalismo do Brasil. Também já foi um dos 12 preferidos da Apple Podcast, então a qualidade é garantida.

Se você não conhece, então vai lá procurar. Realmente aquele tipo de conteúdo que ressignifica sabe, a nossa vida, as nossas experiências.  Então você pode seguir o finitude no Instagram, @finitudepodcast ou no  Twitter também, @podcastfinitude e claro, seguir também os episódios, ouvir os episódios no seu tocador favorito.

Vamos já para o final.

Você tava falando de sonhos né? E você trouxe esse assunto mais de uma vez enquanto a gente tava conversando, então quero aprofundar nisso.

Compartilha com a gente Luciene, quais são os seus sonhos pessoais, profissionais, que podem ter relação com jornalismo ou não.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Uhum…

Então, eu tenho a minha, a minha empresa né, pra fazer a produção de conteúdos independentes.  Eu quero muito que ela cresça, eu quero muito poder entregar mais conteúdo, com qualidade, divulgar mais sobre Amazônia, e que mais pessoas venham junto comigo, né.

Eu espero que a Amazônia seja um assunto cotidiano, não só pontual, não só usado pra período eleitoral também, mas seja… porque é nosso cotidiano, né. O nosso ar, o ar que vem para cá também, vem da Amazônia. Então faz parte do nosso cotidiano, a nossa alimentação também.

Sonhos, tem muitos, vários! Projetos? Demais!

Estou aqui, com um projeto em andamento para a criação de uma associação de mulheres artesãs do povo Paiter Suruí.

Por que que eu falo tanto do povo Paiter Surui gente, se meu povo é Huni Kuin?

 

[LUANA IBELLI]

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Calma, eu vou explicar.

 

[LUANA IBELLI]

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Estou com planos de casar o ano que vem….

 

[LUANA IBELLI]

Ahhhhh…

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

…com um indígena…

 

[LUANA IBELLI]

…pronto.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

…que eu conheci durante o movimento indígena esse ano, e ele é do povo Paiter Surui, então eu ando muito na aldeia do povo Paiter Suruí conhecendo, fazendo um intercâmbio cultural vai.

 

[LUANA IBELLI]

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

[Risos]

E aí, já estou com planos lá pra aldeia onde eu sempre frequento, porque eu acho que é uma necessidade muito grande das mulheres que produzem artesanato, mas precisam de uma casa, de um local para colocar o seu artesanato para venda, para expor para turistas né, que tem um complexo, complexo turístico lá, então falta esse espaço, esse apoio e eu quero muito dar esse apoio para elas.

Conseguir fazer crescer a minha empresa de comunicação, agência de comunicação, pra que eu possa conseguir fazer um conteúdo bom, com qualidade né,  pra que tenha material, pra conseguir atender as demandas e tudo, e que surjam mais trabalhos né, pra que a gente possa realizar mais sonhos ainda.

 

[LUANA IBELLI]

Perfeito.

E você quer deixar agora as rede sociais? Aproveita que esse é momento, para as pessoas seguirem, acompanharem o seu trabalho né, e apoiarem.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Com certeza.

A minha rede social é @lucienekaxinawá, tá no Instagram, no Facebook, no Twitter, sou nova no Twitter, maslá gente…

 

[LUANA IBELLI]

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

…tô começando devagarinho,lá, observo muito.  Sei que muitas coisas são pautadas também no Twitter né, as redes sociais são muito importantes para cada um de nós, e agradeceu o convite imensamente.

 

[LUANA IBELLI]

Não, eu que agradeço, obrigada!

Você foi sempre super solicita, e… foi um aprendizado muito grande e a gente espera que mais gestores, né, mais jornalistas consigam naturalizar isso, e a gente quer sim muitos veículos independentes pautando a questão indígena mas a gente também quer mais indígenas nas redações.

Eu acho que você mostra, né, que isso é possível e o quanto as narrativas jornalísticas ficam mais ricas com diversidade. E é isso que a gente espera também.

Então quero agradecer você ter vindo e compartilhado tudo isso com a gente, Luciene.

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Ai, eu que agradeço!

Ah, só reforçando o negócio, a questão das redes sociais, tem o meu Instagram que é @Lucienekaxinawa, mas também, quem quiser conhecer um pouco mais dessa história do casal Surikuim…

 

[LUANA IBELLI]

[Risos]

Muito bom!

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

…que é uma mistura ai de Huni Kuin com Surui fica o arroba também, @casalsurikuin.

E aí tem essa questão da troca de cultura né, a cultura dele, a minha cultura, como que a gente lida com isso, nosso cotidiano. Conta um pouco da nossa história também, tá aberto lá, quem quiser seguir tá lá.

 

[LUANA IBELLI]

Muito bom!

Obrigada!

Espero ter mais oportunidade também de conversar com você.

[Risos]

 

[LUCIENE KAXINAWÁ]

Haux, haux.

Gratidão!

 

[LUANA IBELLI]

Gratidão!

Gente, vamos encerrar, obrigada pela sua audiência, e antes da gente encerrar mesmo, quero fazer os nossos agradecimentos.

Primeiro a nossa equipe do portal do jornalistas, Anna França, estagiária, Fernando Soares, editor, Victor Félix, repórter.

Também tem os nossos apoiadores, que é Ajor, Associação de Jornalismo Digital, a ICFJ, International Center for Journalists, a Meta Journalism Project, a Imagem Corporativa, e a dio Guarda-Chuva.

E os nossos parceiros institucionais, a Éis Conteúdo e a Oboré Projetos Especiais.

Mito obrigada pela companhia e até o próximo episódio. Tchau!

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments