O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de São Paulo (SJSP) classificou como censura à livre expressão a recente atualização no Código de Conduta da Record TV. O documento, divulgado na última semana, trouxe novas diretrizes relacionadas aos padrões de conduta de seus profissionais nas mídias sociais.

Nos últimos dias, jornalistas da Record receberam um Manual de Uso de Mídias Sociais para Jornalistas. Segundo o SJSP, o documento “na prática impõe a censura à livre expressão dos profissionais, mesmo fora do período de trabalho e em espaços que não têm relação alguma com a empresa”.

Formulado pela vice-presidência de Jornalismo da emissora, o documento de 15 páginas apresenta orientações gerais afirmando que nenhum jornalista deve se posicionar em mídias sociais sobre assuntos como política, religião ou “acontecimentos controversos e sensíveis, independentemente do tema, seja em nome do Grupo Record ou em nome próprio”.

Vale lembrar que a publicação das novas diretrizes aconteceu após um comentário da âncora do Fala Brasil, Mariana Godoy. Durante o programa em 30/7, após a veiculação de uma reportagem, a jornalista chamou de “bizarra” uma live do presidente Jair Bolsonaro realizada no dia anterior, em que ele mais uma vez havia defendido o voto impresso.

O comentário teria passado praticamente despercebido, não fosse uma resposta dada nas redes sociais pelo assessor especial do presidente Jair Bolsonaro, Max Guilherme Machado. No Instagram ele retrucou, chamando a âncora de bizarra e a acusando de propagar um “jornalismo totalmente comunista”.

Como resposta ao comentário do assessor, a emissora chegou a emitir inicialmente um aviso a todos os seus jornalistas e âncoras, ordenando que ninguém deveria comentar notícias, exceto comentaristas pagos para esse fim. O aviso, mais tarde, foi oficializado pelo Código de Conduta publicado.

Procurada, a assessoria de imprensa da emissora não respondeu ao contato até o fechamento dessa reportagem.

 

Outros casos

Na nota divulgada, o Sindicato lembrou ainda que o caso da Record não é o primeiro envolvendo grandes grupos de comunicação brasileiros. Em 2018, o Grupo Globo também formulou “recomendações” para o uso de redes sociais que atentavam contra a liberdade de expressão, ameaçando com retaliações a profissionais que expressassem suas opiniões como cidadãs e cidadãos. A enditade também citou casos semelhantes ocorridos em outras empresas, como Folha de S.Paulo e Editora Abril.

“Deve-se lembrar que tais medidas atentam contra a Constituição Federal. O artigo 5º, em seus incisos IV, VIII e IX, garante a livre manifestação do pensamento e a liberdade para exercer a atividade intelectual, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença”, explica a nota.

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