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segunda-feira, julho 14, 2025

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Jornalistas querem retomar direitos autorais monopolizados pelas empresas

Lincoln Macário é um dos coordenadores do movimento que luta contra a monopolização dos direitos autorais pelas empresas
Lincoln Macário é um dos coordenadores do movimento que luta contra a monopolização dos direitos autorais pelas empresas

O grupo Conteúdo Jornalístico tem Valor convoca profissionais a apoiarem PL em consulta pública

Está em consulta pública no Senado o Projeto de Lei 4255/20, de autoria do senador Ângelo Coronel (PSD-BA), que tem como objetivo regulamentar o pagamento pelas empresas de internet de conteúdos jornalísticos. Pelo teor da proposta, ele abre uma importante oportunidade para que os profissionais retomem direitos de autoria que foram monopolizados pelas empresas depois da edição da Lei dos Direitos Autorais (Lei 9610/1989). Desde então, as empresas jornalísticas adotam um documento denominado Cessão de Direito Autoral, pelo qual os jornalistas abrem mão da autoria de seus trabalhos.

De acordo com o grupo Conteúdo Jornalístico tem Valor, um dos problemas do projeto de Coronel é que ele não deixa claro, por exemplo, o direito dos autores, e como os profissionais serão remunerados por sua produção intelectual. Para sanar pontos como este, um grupo de jornalistas empenhou-se em produzir um substitutivo ao texto original do projeto. Para garantir que o PL tramite na Casa, o movimento chama a categoria para participar do apoio à proposição.

Diretor da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública), Lincoln Macário, que é um dos coordenadores do movimento, ao lado de Fred Ghedini, ex-presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, conversou com Kátia Morais, editora da newsletter Jornalistas&Cia em Brasília, sobre os principais pontos da iniciativa.

Lincoln Macário é um dos coordenadores do movimento que luta contra a monopolização dos direitos autorais pelas empresas
Lincoln Macário é um dos coordenadores do movimento que luta contra a monopolização dos direitos autorais pelas empresas

Jornalistas&Cia − Quais os principais pontos do substitutivo que vocês elaboraram ao PL 4255?

Lincoln Macário − O aspecto mais importante é regular uma área em que reina a desregulação, visto que a LDA nunca foi clara e eficiente em garantir o reconhecimento de autoria e a remuneração adequada desse direito patrimonial a jornalistas. Também é importante destacar que nossa sugestão de substitutivo ao PL 4255/2020 busca ser simples e autoaplicável, aproveitando o potencial das tecnologias já existentes e largamente utilizadas pelas plataformas para garantir seus lucros, mas nunca usadas paras reparti-lo com justiça. Ressalte-se, ainda, o caráter progressivo da remuneração, incentivando a ação voluntária dos veículos e plataformas e encarecendo muito o desrespeito à lei. Por exemplo: se algum veículo publica parcialmente matéria, até metade do conteúdo original, com o devido reconhecimento de autoria, e paga sem a necessidade de notificação, a remuneração devida é de apenas 10% da monetização, metade para autor e metade para veículo original. Já se publica mais da metade, sem reconhecer autoria, necessitando de notificação, o valor devido passa a ser 100% do monetizado. E em caso de judicialização pode chegar a 500%. Por esses mecanismos-fim o projeto objetiva garantir, além de segurança jurídica, a baixa judicialização das relações entre produtores de conteúdo jornalístico, veículos e plataformas. Outra vantagem é não deixar ninguém de fora do ecossistema regulatório, ao contrário do que se pensou para a chamada Lei das Fake News, que atingiria apenas as chamadas BigTechs. Essas grandes empresas carecem de regulação específica, em razão do poder significativo de mercado, porém, não são apenas elas que têm lucrado com a monetização de conteúdo jornalístico de terceiros, publicados sem o devido reconhecimento de autoria e a devida remuneração dos autores.

J&Cia − Qual seria a expectativa de votação nas duas casas? O que espera da tramitação na Câmara? O lobby das empresas de comunicação e de internet é mais forte em qual das duas casas?

Macário − Nossa expectativa é fazer avançar a tramitação primeiro no Senado, em respeito ao fato de os senadores terem demonstrado efetivamente entender a importância e a urgência da temática. Esse reconhecimento se dá especialmente em relação ao autor do PL 4255, senador Ângelo Coronel, e ao líder da minoria, senador Jean Paul Prates. Além disso, o caminho no Senado é regimentalmente mais simples, e sua aprovação lá acelera a tramitação na Câmara. O lobby das empresas de comunicação é forte no Congresso como um todo; entretanto, acreditamos que todos os atores políticos, inclusive as empresas, compreenderão que se trata de uma saída engenhosa e justa para o problema do desrespeito ao direito de autoria e da não remuneração adequada de um trabalho fundamental para a sociedade.

J&Cia − Se aprovado na integra, como o texto do substitutivo poderá reverter em benefícios reais para os jornalistas? Qual a expectativa de ganho acrescido ao salário?

Macário − O acréscimo de renda vai depender não apenas de cada jornalista e sua produtividade mas também, e talvez principalmente, de como os demais elos da cadeia vão se comportar no curto, médio e longo prazos. Se vão aderir voluntariamente à regra ou se será necessário judicialização. O mais urgente é encarar o problema, estabelecer o mecanismo e, se necessário, fazer os ajustes para garantir justiça aos jornalistas.

J&Cia − Se aprovado o projeto e sancionado na íntegra, a cessão de direitos autorais cai? Passa a ser considerada letra morta?

Macário − A cessão de direitos autorais pode continuar existindo nas plataformas analógicas. Porém, nas plataformas digitais, ela perderia o sentido.

J&Cia − E os jornalistas que trabalham na área pública, também podem ser beneficiados pelo projeto?

Macário − Os jornalistas da área pública serão diretamente beneficiados pelo reconhecimento da autoria, um direito que vem sendo constantemente desrespeitado. No texto não há previsão explícita de remuneração direta. O dinheiro seria destinado a um fundo público gerido pelo Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, que poderia optar pela destinação direta ou pela aplicação difusa desses recursos, ou uma combinação de ambos. Uma ideia subjacente é destinar recursos para o fortalecimento das iniciativas de comunicação pública, tão atacadas recentemente e ainda tão negligenciadas em nosso país. Nós, os autores, não estamos completamente aferrados a esse aspecto. Estamos abertos ao debate e dispostos a construir outra redação que deixe mais claro se e como poderá ocorrer remuneração direta dos jornalistas do setor público.

Grupo invade rádio em Pernambuco por não concordar com críticas a Bolsonaro

Um grupo de simpatizantes do presidente Jair Bolsonaro invadiu a sede da Rádio Comunidade, no município de Santa Cruz do Capibaribe, em Pernambuco, após o radialista Júnior Albuquerque criticar a postura do presidente durante a pandemia de Covid-19. O vídeo de um homem de camisa preta discutindo e ameaçando os participantes da rádio circulou nas redes sociais.

A Associação das Empresas de Rádio e Televisão de Pernambuco (Asserpe) repudiou o ocorrido, que classificou como uma “ameaça à liberdade de imprensa”. Segundo a entidade, o caso “abre um perigoso precedente que ameaça todos os veículos, inclusive comerciais. A Asserpe espera resposta à altura, em virtude da gravidade do incidente, pelas autoridades que investigam o caso”. A organização reforçou sua defesa pela liberdade de imprensa e declarou apoio a Júnior Albuquerque.

A Associação Brasileira de Imprensa também se pronunciou sobre a invasão. Em nota, Paulo Jerônimo, presidente da entidade, escreveu que “a escalada de violência contra órgãos da imprensa continua num crescendo. (…) É preciso dar um basta nesse comportamento criminoso. A democracia pressupõe o direito de crítica e é obrigação das autoridades a garantia do exercício desse direito. É preciso que Bolsonaro não só pare de estimular as violências contra jornalistas, como as condene de forma explícita. Caso contrário, será acusado de cumplicidade”.

Grupo Reach fecha de vez redações e mantém 75% da equipe em home office

O grupo Reach, maior empresa de mídia britânica, anunciou o fechamento de suas 15 redações e adotou um sistema que mantém 75% da equipe em home office. As redações de jornais como o Daily Express e o Star estão sendo transformadas em hubs para reuniões e atividades presenciais temporárias.

Apesar de o Reach estar otimista em relação ao futuro devido ao crescimento dos negócios em mídia digital, o caminho para sustentabilidade pode ainda não ser uma linha reta. O próprio grupo enfrenta ameaça de greve por aumento salarial e viu cair a receita. Outras empresas de mídia britânicas passam por dificuldades.

Entenda a história e como o modelo do Reach pode servir para inspirar outras empresas jornalísticas em MediaTalks by J&Cia.

Encontro reúne coordenadores de cursos de Jornalismo de São Paulo

Encontro reúne coordenadores de cursos de Jornalismo de São Paulo
Encontro reúne coordenadores de cursos de Jornalismo de São Paulo

A Universidade Presbiteriana Mackenzie realizará na próxima terça-feira (13/4), às 18h, um debate sobre as profundas transformações no jornalismo nos últimos anos e como isso afetou o Ensino Superior. O encontro vai reunir coordenadores de cursos de Jornalismo de universidades em São Paulo.

Com mediação de Rafael Fonseca, do Mackenzie, o debate terá a presença de André Santoro, também do Mackenzie; Elisabete Antoniolli, da ESPM; Fábio Cypriano, da PUC-SP; Helena Jacob, da Cásper Líbero; e Dennis de Oliveira, da ECA-SP. Os participantes conversarão sobre os desafios da imprensa em tempos de fake news, a formação jornalística no Brasil, as diretrizes curriculares nacionais, as novas possibilidades no mercado de trabalho e os desafios em sala de aula durante a pandemia.

O debate, gratuito, será transmitido pelo canal do Mackenzie no YouTube.

Post de Khloe Kardashian amplia debate sobre direitos autorais

Post de Khloe Kardashian amplia debate sobre direitos autorais
Post de Khloe Kardashian amplia debate sobre direitos autorais

A publicação de uma foto da celebridade Khloe Kardashian de biquíni sem retoques no Instagram abriu um debate sobre direitos autorais nas redes e sobre a manipulação de imagens por parte de celebridades. Ela não gostou da foto e pediu que fosse removida por todos que haviam compartilhado, mas não foi atendida, já que a postagem original havia sido feita em sua própria conta.

Para tentar pôr fim à polêmica, Khloe foi às redes com um vídeo em que defende imagens reais e não idealizadas, mas o resultado foi mais controvérsia. Veja a história em MediaTalks by J&Cia.

MEC finalmente reconhece Landell de Moura, mas erra feio ao narrar sua saga

Após mais de uma década de luta para o reconhecimento oficial da obra e méritos do padre Roberto Landell de Moura, inventor do rádio, na História do Brasil, finalmente o MEC rendeu-se ao crescente movimento em prol da causa e deu vida à saga de Landell, com a inclusão da sua história na série infantil Conta pra Mim.

Hamilton Almeida

O problema é que a obra recém-lançada contém vários erros sobre acontecimentos e datas, comprometendo o próprio propósito de enaltecer o personagem. O mais grave é que, por ser o MEC a principal instância de educação do País, as informações que veicula acabam se tornando oficiais, o que, no caso, contraria toda a pesquisa, documentos e evidências reunidas ao longo de décadas por estudiosos e historiadores, entre eles o biógrafo Hamilton Almeida, que já escreveu cinco obras sobre Landell, a mais recente ainda inédita.

Outro aspecto importante é que a própria série, como um todo, vem sendo questionada de forma contundente por educadores, como mostra matéria da PublishNews, de outubro passado.

Especificamente no que se refere à narrativa sobre Landell, Hamilton Almeida escreveu para Jornalistas&Cia o artigo a seguir:

Pioneiro mundial na transmissão da voz por ondas de rádio, Roberto Landell de Moura, o padre Landell, não recebeu apoio governamental e da sociedade para desenvolver e comercializar sua prodigiosa invenção. Nem com várias patentes nas mãos!

Mesmo injustiçado, teve a virtude de compreender os que não o compreendiam: “Aqueles que não compreendem bem uma razão científica não podem enquadrá-la em seu justo mérito (…) nem ajudar-me com recursos para prosseguir estudando e trabalhando…”, declarou.

O que ele diria hoje se pudesse ler um certo livro infantil do Ministério da Educação?

Certamente, ficaria feliz. E também muito infeliz.

Como é que é?

Melhor relatar os fatos desde o início. Em 2020, o MEC lançou o Programa Conta pra Mim para incentivar a leitura, reforçar os laços familiares e auxiliar o processo de alfabetização.

Trata-se de uma minibiblioteca, em formato digital, com obras de ficção, biografias, poesia, informativos e para bebês disponíveis para download gratuitamente.

É possível ler online, imprimir ou baixar uma versão em preto e branco para colorir. Dispõe também de uma série de vídeos com 20 fábulas de Monteiro Lobato narradas pelo cantor e compositor Toquinho, além de oito cantigas infantis, interpretadas pelo artista.

No final de março, dentro da série Biografias, colocaram no ar mais quatro volumes: as vidas de Anna Nery, irmãos Rebouças, Padre Landell e Carlos Chagas. Esses livretos se somam a outros 40 títulos da coleção que promove a literacia familiar: a aprendizagem em casa, na convivência entre pais e filhos.

A inclusão do inventor do rádio nesta coletânea é pra lá de elogiável e merecida. O MEC o distingue, finalmente. 

Aplausos!

A iniciativa coincide com os esforços em prol do reconhecimento oficial dos méritos científicos deste brasileiro, que vêm sendo empreendidos há mais de uma década por Jornalistas&Cia, Prefeitura de Porto Alegre, Correios, Futurecom, radioamadores, filatelistas, jornalistas, professores, engenheiros e outras tantas entidades e pessoas, incluindo este repórter que pesquisa a vida e as façanhas do sábio gaúcho há 40 anos e é autor de vários livros sobre o tema, um deles ainda inédito.

A difusão deste saber simboliza uma reversão na roda da injustiça? O gênio das telecomunicações está deixando de ser um personagem marginalizado na memória da civilização?

Não é bem assim. A publicação do MEC decepciona. Há erros crassos em seu conteúdo de apenas 12 páginas:

  • Roberto Landell de Moura teve 13 e não 11 irmãos.
  • É correto dizer que construiu um telefone aos 16 anos. Porém, não há nenhuma evidência de que tenha lido “um artigo em inglês sobre um dispositivo que transmitia a voz”. Também não é verdade que tenha mostrado o artefato ao seu professor, “que ficou admirado com o talento do aluno”.
  • Não há provas de que “em 1892 construiu um aparelho para a transmissão da voz humana, sem fio” e que “realizou a primeira transmissão pública” em 1894. Documentos revelam que o evento primordial aconteceu em 16 de julho de 1899. Pela lógica, os testes preliminares, privados e não públicos, ocorreram em um período próximo a essa data.
  • A patente brasileira foi obtida em 9 de março de 1901 e não no dia 3 de março. A incorreção é ilustrada com outro lapso: a imagem alterada de uma das figuras das patentes registradas nos EUA!
  • Faleceu em 30 de junho de 1928 e não no dia 30 de julho.
  • Não há uma linha sobre o destino do inventor e das invenções. Nem de que vislumbrou as comunicações interplanetárias, antes mesmo de o homem começar a voar, ou de que tenha sido alvo de alguma arbitrariedade: os seus aparelhos foram destruídos sob a acusação de que era “um padre que falava com o demônio”. 

Passa-se a informação, já contaminada de falhas, de que a sua carreira científica foi completamente exitosa. Dá para compreender? 

Vaias!

Resumo da ópera: assim se perde uma oportunidade de fazer História de uma forma bem feita!

Radar Aos Fatos passa a monitorar fake news que ameaçam a democracia

Estudo indica que páginas de fake news cresceram em postagens e interações durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Estudo indica que páginas de fake news cresceram em postagens e interações durante o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

O Radar Aos Fatos, que identifica e denuncia conteúdos potencialmente enganosos nas redes sociais, intensificou em 1º de abril seu mapeamento em busca de notícias falsas que ameacem as instituições democráticas brasileiras.

A atualização possibilitou que a ferramenta mapeasse conteúdos desinformativos que falem sobre ou que busquem disseminar fake news com cunho ameaçador à democracia. Para que isso se tornasse possível, foram incluídos termos relacionados a nomes importantes dos três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e temas-chave do processo democrático, como as eleições, a Constituição e a imprensa.

Desde o ano passado, o Radar Aos Fatos vem apresentando, através de reportagens, a maneira com que esses temas têm circulado nas plataformas digitais. Em outubro, uma reportagem mostrou que nas eleições municipais de 2020, mais de 2.000 publicações com alegações falsas foram publicadas no WhatsApp e no Twitter, muitas vezes promovidas por políticos eleitos.

Dia do Jornalista: Superar a dor em busca da dignidade profissional

Quase 30 jornalistas contaram sua história no Especial do Dia do Jornalista
Quase 30 jornalistas contaram sua história no Especial do Dia do Jornalista

ESPECIAL: DIA DO JORNALISTA

O cego Assis Ângelo (sim, ele detesta ser chamado de deficiente visual, diz que é cego e ponto) é só inquietação desde que, oito anos atrás, deixou de ver as cores, os formatos, as silhuetas e os contornos do mundo, pelo descolamento das retinas. Viu-se obrigado pelas circunstâncias da doença a trocar a luz da visão que o acompanhou por pouco mais de 60 anos pelas trevas da escuridão, nesses últimos oito.

E por que toda essa inquietação?

Óbvio, quem um dia enxergou, ficar cego, do dia para a noite, literalmente, é como receber uma sentença de morte.

Óbvio, quem sempre teve muitos amigos e foi o tempo todo rodeado por eles, ver-se de um momento para outro todos (ou quase todos) se afastarem, é como perder o chão e entrar em queda livre num abismo quase sem fim.

Tudo isso é óbvio, mas o que não é tão óbvio e é mais determinante na saga do cego Assis é a vontade de trabalhar; mais do que isso, a capacidade de trabalhar.

Assis Ângelo foi um dos protagonista do especial de Dia do Jornalista
Assis Ângelo foi um dos protagonista e inspirador do especial de Dia do Jornalista

Sim, porque, como ele faz questão de dizer, perdeu a visão dos olhos, mas não perdeu a voz nem os outros sentidos e muito menos a capacidade de realizar coisas. Continua fazendo jornalismo diariamente, escreve poesias, faz a coluna semanal do Jornalistas&Cia, acompanha (por rádio e pelo áudio da televisão) tudo o que se passa no mundo e no jornalismo, e tem uma memória prodigiosa, que, somada ao seu talento e determinação, lhe permitiriam fazer muitas coisas, como ancorar um programa de televisão para deficientes ou um programa de rádio sobre cultura popular.

Mas o trabalho, aquele que dignifica o homem, que lhe dá sustento, satisfação, prazer, realização, este não chega, porque ele está invisível, porque não lhe atribuem uma capacidade que ele sabe que tem e que vez ou outra até consegue demonstrar, quando o chamam para fazer alguma palestra Brasil afora (antes, eram dezenas por ano), em que pese a pandemia hoje ser restritiva para deslocamentos.

Por que ele não poderia liderar um novo projeto de cultura popular, tantos já concebeu para inúmeras organizações, como Metrô de São Paulo, Sesc, Correios etc.?

O que o impediria de voltar a apresentar um programa de rádio, como São Paulo Capital Nordeste, que apresentou por anos na Rádio Capital, líder de audiência no horário?

O problema é que o cego Assis ficou invisível, como milhões de pessoas com deficiência nesse País.

E quer trabalhar, mas não consegue. Pede socorro ao mercado e aos eventuais contratantes, mas não é ouvido. Quer conversar, falar de seus projetos, da situação política do País, mas não tem com quem, esquecido que foi pela grande maioria dos amigos. Mantém com grande sacrifício, inclusive financeiro, um blog para que possa exercitar sua prosa e sua mente diariamente, com comentários críticos sobre a política e amorosos sobre a cultura popular, da qual é hoje, sem dúvida, um dos maiores conhecedores e estudiosos, dono de um acervo com perto de 150 mil itens, que mantém com grande zelo em seu próprio apartamento, no bairro paulistano dos Campos Elíseos.

Pois foi desses encontros com o cego Assis que nasceu a ideia de fazer este especial, dando guarida às suas críticas de que o Brasil não enxerga seus mais de 40 milhões de pessoas com deficiência, número que ele faz questão de dizer que colheu do censo do IBGE de 11 anos atrás.

“Eu posso fazer um programa para todos os deficientes, todas essas pessoas que se tornaram invisíveis, que estão jogadas num canto de algum lugar, muitas vezes escondidas pelas famílias. Para os cegos, como eu, para os surdos, mudos, para os paraplégicos. Enfim, colocar a deficiência no horário nobre, para mostrar que neste mundo há seres humanos com desejos, necessidades, amores, seres humanos consumidores, que só querem ter a oportunidade de deixar de ser um número para ganhar visibilidade e dignidade”.

Foi esse grito de Assis, estridente, mas que tem ecoado em poucos ouvidos, que nos motivou a dedicar o especial do Dia do Jornalista aos jornalistas com deficiência, numa modesta mas relevante contribuição que acreditamos fazer para a causa da inclusão. E mais do que depressa, quando tomamos a decisão, convidamos outro colega que há anos colabora com J&Cia, nestas páginas, para liderar o especial: Plínio Vicente da Silva, ele próprio que traz da infância graves sequelas da poliomielite, com as quais desde então convive, sem ter se deixado por elas abalar – entrou para o Jornalismo ainda jovem, para nunca mais dele sair. Só de Estadão foram 25 anos. E hoje, lá de Roraima, onde vive com a família, divide-se entre aulas, palestras, assessorias e os brilhantes textos que escreve, entre outros, para este J&Cia, com seu Tuitão quinzenal e frequentes colaborações para o Memórias da Redação.

Ao Plínio, a Assis e a todos os personagens maravilhosos desta edição os nossos agradecimentos e a certeza de que, com eles, estamos homenageando todos os jornalistas e todas as pessoas com deficiência desse Brasil tão machucado e maltratado e que pouco olha para eles como deveria.

Quase 30 jornalistas contaram sua história no Especial do Dia do Jornalista
Quase 30 jornalistas contaram sua história no Especial do Dia do Jornalista

Também os agradecimentos às marcas que nos apoiaram e que, como nós, se sensibilizam com a causa da deficiência, certamente porque também elas hoje se debruçam sobre esse universo, buscando dar aos deficientes não só um bom lugar para trabalhar, mas, sobretudo, dignidade.

Confira a edição especial do Dia do Jornalista!

Eduardo Ribeiro e Wilson Baroncelli

Diego Santos, do SBT em Roraima, sofre ameaça de morte

Apresentador do programa policial Verdade no Ar, da TV Norte Boa Vista, afiliada do SBT em Roraima, Diego Santos sofreu ameaça de morte na manhã de 1º de abril. Ao abrir a caixa de correio da casa onde mora, o apresentador encontrou um envelope com um bilhete e duas balas de calibre 380.
Apresentador do programa policial Verdade no Ar, da TV Norte Boa Vista, afiliada do SBT em Roraima, Diego Santos sofreu ameaça de morte na manhã de 1º de abril. Ao abrir a caixa de correio da casa onde mora, o apresentador encontrou um envelope com um bilhete e duas balas de calibre 380.

Apresentador do programa policial Verdade no Ar, da TV Norte Boa Vista, afiliada do SBT em Roraima, Diego Santos sofreu ameaça de morte na manhã de 1º de abril.

Ao abrir a caixa de correio da casa onde mora, o apresentador encontrou um envelope com um bilhete e duas balas de calibre 380. Diego diz ter certeza que a ameaça foi motivada pelo seu trabalho no Verdade no Ar, onde opera denúncias de irregularidades do poder público e facções criminosas do estado.

No bilhete encontrado, o autor que não se identificou escreveu “A medida exata para silenciar qualquer denúncia”. Ao entender do que se tratava a mensagem, Diego Santos a divulgou em seu programa e logo depois registrou um Boletim de Ocorrência no 1º Distrito Policial, em Boa Vista. O SBT decidiu que o jornalista e sua família passariam a ser escoltados por seguranças.

Foto do bilhete deixado na caixa de correspondência de Diego Santos
Foto do bilhete deixado na caixa de correspondência de Diego Santos

Casos como esse tem se tornado comuns na região. Há aproximadamente cinco meses, o apresentador da TV Imperial, afiliada da Record também em Roraima, Romano dos Anjos, foi sequestrado dentro de sua residência enquanto jantava com a esposa. A polícia não conseguiu identificar nenhum dos envolvidos.

A Federação Nacional de Radialistas (Fitert) e o Sindicato de Radialistas Profissionais e dos Trabalhadores em Empresas de Radiodifusão, Televisão e Publicidade do Estado de Roraima emitiram uma nota conjunta em solidariedade ao apresentador. O Grupo Norte de Comunicação também publicou um comunicado em que repudia a ameaça e o cerceamento da liberdade de expressão, e também afirma o compromisso da empresa com a informação.

Para o delegado Emerson Freire, que investiga o caso, o direcionamento da Polícia Civil não é apenas para o apresentador Diego Santos, mas, sim, para o exercício livre da imprensa na região.

“Chama atenção a urgência da defesa e proteção da liberdade de expressão, relembrando o papel essencial que os profissionais da imprensa desempenham ao levar informações de interesse público à sociedade, fundamental para a manutenção da democracia”, destaca Leticia Kleim, assessora jurídica da Abraji, sobre a importância do comprometimento das autoridades públicas na investigação e processamento do caso diante do cenário atual de escalada de violações à liberdade de imprensa.

* Com informações da Abraji

Comunicação corporativa vira romance de Luiz Fernando Brandão

Luiz Fernando Brandão lança Para o bem ou para o mal, pela editora Gryphus. Na ficção, três personagens que nunca se conheceram têm histórias de vida que vão se cruzar para fazer na Índia um acerto de contas com o destino. O prefácio é de Washington Olivetto.

O autor fez carreira como executivo de comunicação em empresas como Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, Shell e Aracruz. Em paralelo, traduziu para o português obras de autores como Edgar Allan Poe e Vladimir Nabokov. Tem diversos artigos publicados sobre comunicação. Além disso, é instrutor de ioga, graduado em Mumbai, na Índia.

“Atuei durante quase 30 anos no mundo corporativo e por esse tempo todo minha veia de escritor ficou adormecida”, comenta Luiz Fernando Brandão. “Agora, sinto-me à vontade para mesclar ficção e realidade e trazer ao público reflexões sobre alguns dos dilemas que vivemos, na pele de três protagonistas, para o bem ou para o mal”.

Confira o prefácio:

Os destinos e peripécias de três personagens bastante prováveis na vida real se entrelaçam sutilmente em Para o bem ou para o mal, segundo livro do jornalista, escritor e tradutor Luiz Fernando Brandão, agora estreando na ficção.

O primeiro protagonista, Diego Velásquez Caravaca, um mestre espiritual muito bem-sucedido estabelecido em São Paulo, já ajudou muita gente no seu concorrido Centro para a Evolução Universal, mas não passa de outro picareta no florescente “mercado da salvação”. Entre as discípulas mais chegadas, ele atende por “Flautista”, apelido que cunhou para si inspirado no conto dos Irmãos Grimm – sendo que, na história engendrada por sua imaginação doentia, quem o anti-herói atrai e domina com o sopro de seu instrumento mágico não são ratos nem crianças, mas adultos tão ou mais fáceis de engabelar.

O segundo, Robert White Sherman, é um alto executivo financeiro de Nova York, diretor de um grande banco instalado nas Torres Gêmeas. Com seu talento natural associado a uma obstinação caprina e aos desígnios da sorte, ele é um mito nos círculos da grana preta. Orgulha-se, embora não o demonstre, do nome pelo qual é conhecido no mercado: “Matemático”, que poderia também sugerir um gênio solitário imerso em números, cálculos e projeções e indiferente a todo o resto. Mas ele não consegue esconder de si que parte considerável do dinheiro que o transformou em celebridade milionária provém de fontes duvidosas; desencantado, aproveita uma brecha do acaso para mudar radicalmente de vida e acaba engajado em uma fabulosa causa humanitária na longínqua Índia.

Por fim, temos Cátia Ferrão, jornalista inteligente e ambiciosa nascida e criada no interior fluminense. Após um difícil início de carreira, que perpassa questões como assédio sexual e moral, ela acaba se tornando vice-presidente de assuntos corporativos de uma poderosa fabricante de químicos agrícolas e sementes transgênicas que tem no Brasil seu maior mercado. O peso do cargo e a mística a ele associada abrem espaço para discutir, entre outros aspectos, os dilemas femininos no ambiente de trabalho e as redes sociais como quinto poder da atualidade.

O trunfo secreto da atraente executiva em sua vitoriosa trajetória profissional, quem diria, é uma entidade do outro mundo; por coincidência, Cátia é conhecida como “Cigana” entre seus pares na multinacional. Sorte ou azar? – Até certo ponto, os protagonistas saídos da imaginação de Brandão – ele próprio, tarimbado executivo de comunicação de grandes corporações –, embora bem-sucedidos no que se propuseram alcançar, estão a um só tempo em busca e em fuga.

Se o Matemático está à procura de uma nova vida, onde o materialismo e o consumismo possam dar espaço ao autoconhecimento, o Flautista sai de São Paulo rumo à Caxemira para escapar das consequências de um episódio com final trágico envolvendo uma jovem seguidora. A Cigana, por sua vez, após uma vida repleta de sacrifícios, chega ao topo de sua escalada profissional apenas para descobrir quão precária era a segurança que julgara conquistar e que ainda havia como encontrar o “caminho de volta”, ao visitar, em uma viagem a negócios, o afamado Yoga Institute, em Mumbai. Por sorte ou azar, cada um com sua história, todos os três acabam fazendo na Índia o acerto de contas com o destino.

O que vai acontecer com os protagonistas e como suas histórias irão se cruzar sem que nunca tenham se conhecido? O livro reserva ao leitor surpresas até as últimas página – uma história digna de um potencial roteiro de cinema, que inspirou, no prefácio, as palavras de um gênio da publicidade: Sei que Luiz Fernando gosta do raciocínio de que seu livro propõe ‘uma reflexão sobre a relativa fragilidade do julgamento humano’, mas o que mais me encanta na história é deixar bem clara essa intenção para todo e qualquer tipo de leitor, dos mais relaxados até os mais tensos, dos mais simplórios até os mais pretensiosos.

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