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quinta-feira, julho 10, 2025

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Dossiê de censura na EBC mostra crescimento de “pautas proibidas”

Dossiê aponta 292 denúncias de censura e governismo na EBC

Em live realizada no YouTube do Sindicato dos Jornalistas do DF, foi lançado nessa terça-feira (5/10) o 3º Dossiê de Censura e Governismo na EBC. O documento aponta aumento no número de casos de censura entre agosto de 2020 e julho de 2021. E separa, pela primeira vez, casos de censura e governismo praticados na empresa pública.

Os dados vêm sendo contabilizados pela Comissão de Empregados da EBC desde o governo Temer, em 2018, quando os episódios começaram a se multiplicar. O primeiro dossiê contabilizou 61 casos. Em 2019, o segundo levantamento apurou aumento nos casos e registrou 138 episódios. Entre os destaques deste terceiro relatório estão o corte de pautas sugeridas, que nem chegaram a ser produzidas.

Dentre os veículos da EBC, os mais censurados foram TV Brasil (53,3% dos casos), Agência Brasil (25,7%), rádios ligadas à EBC (19,8%) e equipes de mídias sociais (1,2%).

A censura prévia foi realizada principalmente em temas considerados delicados ou controversos ao governo, como direitos humanos e meio ambiente. Além de pautas que caíram, há relatos também de cortes de trechos das reportagens. Alguns repórteres, ao questionarem o motivo da censura, receberam como resposta “orientação dos superiores”.

Sobre a CPI da Covid, o dossiê destaca que foram vetados os depoimentos do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e do presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): “A própria escala da equipe que deveria acompanhar o andamento dos trabalhos da comissão deixou de ser feita, como se fosse algo irrelevante”, diz o documento.

Além disso, o dossiê ressalta que foram censuradas notícias sobre o marco de 400 mil mortes por Covid-19 no Brasil, sob a justificativa, inspirada na tese governista, de que medidas de contenção da pandemia poderiam prejudicar a economia.

O lançamento do dossiê foi acompanhado de debate sobre liberdade de imprensa e expressão, com a participação de Denise Dora (Artigo 19), Giuliano Gali (Instituto Vladimir Herzog), Emmanuel Colombié (Repórteres sem Fronteiras) e Márcio Garoni (Fenaj), com mediação de Letycia Bond (EBC).

+Admirados de Economia: Primeiro turno vai até esta quinta-feira (7/10)

Conheça os finalistas dos +Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças

Vai até esta quinta-feira (7/10) a votação para o primeiro turno da sexta edição do Prêmio Os +Admirados de Economia, Negócios e Finanças. O concurso, que conta com patrocínio de BTG, Captalys, Deloitte, Gerdau e Telefônica | Vivo, apoio de divulgação do I´MAX e apoio institucional do IBRI, vai distinguir os +Admirados jornalistas e veículos em 14 categorias. O destaque para este ano são as categorias regionais, que apontará os jornalistas TOP 3 nas cinco regiões do País.

A cerimônia de premiação será em 30 de novembro. O evento terá formato hibrido, com um almoço presencial no hotel Renaissance, em São Paulo, e transmissão ao vivo pelo canal do Portal dos Jornalistas no YouTube. Desta forma, os premiados e convidados que não puderem comparecer terão a opção de assistir e participar da cerimônia em tempo real.

Para contribuir com seu voto basta acessar o link, preencher um breve cadastro (ou fazer login caso tenha votado) e indicar até cinco nomes por categoria. Importante ressaltar que não é necessário indicar em todas as categorias para validar sua participação.

As categorias desta edição são: Veículos (TOP 3) − Agência de Notícias, Canal Digital, Podcast. Programa de TV, Programa de Rádio, Site/Blog, Veículo Impresso e Veículo Impresso Especializado; Jornalistas Nacional (TOP 50); e Jornalistas Regional (TOP 3) − Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul.

Brasil fatura seis prêmios no Digital Media Latam 2021

Brasileiros entre os finalistas do Digital Media Awards LATAM 2021

A Associação Mundial de Editores de Notícia (WAN-IFRA) divulgou os vencedores do Digital Media Latam 2021. Seis trabalhos brasileiros foram premiados neste ano.

O jornal O Globo venceu os prêmios de Melhor estratégia de conteúdo pago e Melhor campanha de marketing digital, esta segunda com uma campanha que celebrou o movimento LGBTQIAP+.

Na categoria Melhor uso de vídeo online, o UOL foi o vencedor com o especial O vampiro de Niterói, enquanto o projeto Microfone Aberto, do programa Jogo Aberto (Bandeirantes) foi premiado como Melhor campanha de Branded Content.

Nas categorias dedicadas aos veículos médios, pequenos e locais, The Intercept Brasil foi o premiado na categoria Melhor uso de vídeo online, com Cartas a quem não pude salvar – Profissionais de Saúde narram suas perdas mais dolorosas para a Covid-19, e o Brazilian Report venceu em Melhor estratégia de conteúdo pago.

Outros veículos vencedores foram La Nacion (Argentina), Diario AS (LATAM), MVS Radio (México), Ojo Público (Peru), El Heraldo de México (México), Proceso (México), Fundación Para el Periodismo (Bolívia), Grupo AM (México), Prodavinci (Venezuela) e El País (Uruguai).

Confira a relação completa dos premiados em cada categoria.

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Caso Ozy Media: à espera de um milagre?

Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Era uma vez uma startup de mídia digital campeã, aberta em 2013 por um jornalista negro, filho de pais jamaicanos, com passagens por grandes redes de TV, tendo ao seu lado um matemático formado em Harvard egresso do Goldman Sachs.

Em oito anos, captou US$ 70 milhões e empregou 75 profissionais na produção de podcasts, séries e eventos, chegando a ganhar um Emmy.

Mas a carruagem da americana Ozy Media transformou-se em abóbora em 26 de setembro, quando o New York Times desvendou uma teia de mentiras por trás do sucesso da empresa, que de tão absurda parece ter saído das páginas de um livro.

Carlos Watson e Samir Rao criaram uma farsa, inflando métricas de audiência e vendendo ilusões em torno de seus produtos para encantar investidores. Rao chegou a passar-se por um executivo do YouTube em uma conferência telefônica com um banco em fevereiro do ano passado, elogiando a performance da Ozy.

Samir Rao (Crédito: Ozy Media)

Na semana passada, nomes de peso deixaram a empresa, como a ex-âncora da BBC Katty Ray, com apenas três meses de casa. O investidor bilionário Marc Lasry renunciou à presidência dizendo que a empresa precisava de experiência em gestão de crises − um diagnóstico preciso.

Diante do tsunami, Watson anunciou em 1º/10 que a Ozy, fecharia. Mas em uma entrevista para a CNBC na segunda-feira (4/10), disse que tinha sido uma “decisão prematura”, referindo-se a “conversas produtivas com assinantes e investidores” para mantê-la de pé.

Se conseguir, será um desfecho de conto de fadas.

E não se deve duvidar, porque por muitos anos eles convenceram até grandes players do setor, gente experiente em analisar negócios de mídia. Em 2014, o grupo alemão Axel Springer, que há algumas semanas comprou o Politico, aplicou US$ 20 milhões na Ozy.

Seria a única?

A história provocou comentários em veículos especializados sobre o risco de a Ozy não ser a única a usar recursos para inflar audiência. Só que alguns são lícitos, outros não.

E vai ser difícil encontrar outra empresa capaz superar em ousadia o que Watson e Sam fizeram.

A farsa em que Samir Rao passou-se por Alex Piper diante do Goldman Sachs talvez seja a maior delas. Não colou porque alguém desconfiou da voz e confirmou com o Piper verdadeiro que ele não estava na conversa.

A justificativa foi que Rao teve uma “crise de saúde mental”. E o banco não efetivou o aporte de US$ 40 milhões.

Entretanto, o investimento continuou sendo apregoado para outros investidores, um aval de peso que levou a LifeLine Legacy a colocar US$ 2 milhões na Ozy. Na semana passada, a gestora de fundos com sede na Califórnia abriu um processo de fraude.

Essa não foi a única fantasia.

Uma das revelações foi que Watson mentiu ao afirmar que o casal Ozzy (cantor) e Sharon Osbourne investiu na empresa, quando na realidade eles apenas possuíam ações. E ainda moveram um processo em torno do nome do festival promovido pela Ozy, o Ozy Fest.

Outra farsa foi a de que a empresa estaria produzindo um show para a A&E. O programa foi veiculado somente nos canais próprios.

Na entrevista à CNBC, Watson tentou consertar: disse que o show tinha sido concebido para a A&E, mas um conflito de horários teria mudado os planos.

O Times revelou ainda que a Ozy apresentava seu próprio talk-show como “o primeiro na Amazon Prime”. No entanto, o programa chegava à plataforma por meio de um serviço que não recebe promoção da Amazon.

Ao tentar minimizar ou justificar as acusações, sobrou para a imprensa, claro. Carlos Watson criticou o New York Times por ter exposto seu sócio, alegando que o caso da conferência com o banco era um problema de saúde mental já superado.

E ao prometer a volta da empresa, apelou para uma passagem bíblica. Disse que a Ozy tem muitas coisas a melhorar, e que este será seu “momento Lázaro”, em alusão ao homem ressuscitado por Cristo.

Ele vai mesmo precisar de um milagre para conquistar a confiança de empregados, investidores e do mercado, que depois do episódio tendem a ficar mais alertas diante de um príncipe encantado rico em audiência.

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Atlas da Notícia chega à quinta edição

Atlas da Notícia chega à quinta edição

O Projor e o Volt Data Lab anunciaram nesta quarta-feira (6/10) a quinta edição do censo Atlas da Notícia. Patrocinado pelo Facebook Journalism Project, o estudo faz mapeamento da presença do jornalismo local no Brasil, com apoio de colaboradores voluntários. A nova edição visa a atualizar o mapa dos veículos jornalísticos nos 5.570 municípios brasileiros e obter informações sobre fechamento de empresas de comunicação e novas iniciativas surgidas desde a última edição, publicada no início de 2020.

Entre as novidades da quinta edição do Atlas estão um novo site para a divulgação dos resultados, previsto para o início de 2022, e a realização, na sequência do censo, de uma pesquisa aprofundada sobre a realidade das organizações de mídia local no País. Os dados coletados e atualizados pelo censo são uma base consistente para que pesquisadores de todo o Brasil possam orientar novas investigações sobre o jornalismo no País.

A organização, análise e publicação dos dados coletados pelo censo será realizada pelo Volt Data Lab, liderado por Sérgio Spagnuolo. Já a coordenação da pesquisa nas cinco regiões brasileiras estará a cargo de Sérgio Lüdtke, que trabalhará com os seguintes pesquisadores regionais: Angela Werdemberg (Centro-Oeste), Dubes Sônego (Sudeste), Jéssica Botelho (Norte), Mariama Correia (Nordeste) e Marcelo Fontoura (Sul).

O censo contará também com o apoio de professores e estudantes de escolas de Jornalismo das cinco regiões e de voluntários que colaboram com a coleta dos dados. Na última edição, o Atlas da Notícia contou com a colaboração de 219 voluntários de 74 organizações. Voluntários podem somar-se à equipe do Atlas e colaborar com a pesquisa preenchendo um formulário. 

“Sabemos que não há democracia plena sem que a população tenha acesso à informação de qualidade e ao debate sobre as políticas que lhe dizem respeito”, destaca Francisco Rolfsen Belda, presidente do Projor. “Essa relação é ainda mais crítica no âmbito dos pequenos e médios municípios, uma vez que repórteres e editores locais exercem um trabalho imprescindível no questionamento das ações de prefeituras e câmaras municipais, por exemplo”.
Inspirado no projeto America’s Growing News Deserts, da Columbia Journalism Review o Atlas da Notícia é uma iniciativa do Projor e conta com o apoio institucional da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e da Intercom (Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação). O Facebook Journalism Project (FJP) é patrocinador do Atlas da Notícia desde 2018, como parte das iniciativas para apoiar veículos de notícias locais.
Publicada em janeiro de 2020, a quarta edição do Atlas da Notícia registrou:
  • Surgimento de 1.170 novos veículos digitais no país. Os veículos digitais são agora a segunda maior categoria no Brasil, atrás apenas de rádios.
  • Os desertos de notícia encolheram 5,9% na pandemia. Mesmo assim 3.280 municípios não contam com um veículo de comunicação que faça cobertura local
  • População em desertos de notícia tem queda de 9,6%, para 33,7 milhões de habitantes.
  • Censo apurou o fechamento de 200 veículos de mídia impressa.

Três trabalhos brasileiros estão entre finalistas do Prêmio Roche

Foram anunciados na última semana os finalistas do Prêmio Roche de Jornalismo em Saúde 2021. A iniciativa, promovida em parceria com a Fundação Gabo, reconhece reportagens de destaque produzidas na América Latina sobre a temática da saúde. No total, nove trabalhos foram classificados nas três categorias do concurso, sendo que em cada uma delas, o Brasil conta com um finalista.

Na categoria Jornalismo Escrito, a Agência Retruco concorre com Dependências – fé, poder e dinheiro no tratamento do uso abusivo de drogas no Nordeste do Brasil. O trabalho foi produzido por Alice Cristiny Ferreira de Souza, Fernanda Santana, Thiago Santos, Luane Ferraz, Camila Queiroz, Luiz Felipe Libório, Bruno Vinícius, Gabriella Leal e Quihoma Isaac. Concorrem ainda nesta categoria reportagens produzidas a partir de parcerias das plataformas Divergentes (Nicarágua) e Connectas (Colômbia), e do consórcio formado por Distintas Latitudes (México), GK (Equador), Mutante (Colômbia) e La Vida de Nos (Venezuela).

Em Jornalismo Audiovisual, concorre o projeto No Epicentro, da Agência Lupa. O trabalho, que recentemente foi premiado com a medalha de bronze na 42ª edição do Best of Digital News Design da Society for News Design (SND), foi produzido pela equipe formada por Gilberto Scofield Jr., Natalia Leal, Vinicius Sueiro, Tiago Maranhão, Rodrigo Menegat, Alberto Cairo, Marco Tulio Pires e Simon Rogers. Também se classificaram para a final trabalhos do Diário El Comércio (Peru) e Chicas Poderosas (Argentina).

Já na categoria Cobertura Diária, o especial Pandemia, produzido pelo podcast 37 Graus em parceria com a Folha de S.Paulo, disputará o prêmio principal com a BBC Mundo América Latina (Colômbia) e a Agência Ocote (Guatemala). A produção do trabalho é de Sarah Azoubel e Beatriz Guimarães.

Os vencedores nas três categorias, assim como os autores dos trabalhos que vão receber as menções honrosas em Jornalismo de Soluções e Cobertura Jornalística da Covid-19, serão anunciados em uma cerimônia virtual em 28 de outubro.

Confira mais detalhes sobre todos os trabalhos finalistas no site do Prêmio Roche.

Investigação de 600 jornalistas revela paraísos fiscais e empresas offshore

Pandora Papers, investigação que reuniu mais de 600 jornalistas em 117 países, começou a divulgar seus trabalhos no último domingo (3/10), pelos veículos que integram a iniciativa. Considerada a maior colaboração jornalística da história, a investigação revelou como políticos, empresários e celebridades utilizam paraísos fiscais e empresas offshore para evitar o pagamento de impostos.

No Brasil, quatro veículos fizeram parte do projeto: o site Poder360, a revista piauí, a agência Pública e o portal Metrópoles. A investigação envolve personalidades brasileiras, como o ministro da economia Paulo Guedes, o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto e os empresários bolsonaristas Otávio Fakhoury e Marcos Bellizia, investigados no inquérito das fake news.

Pandora Papers analisou cerca de 12 milhões de documentos sobre paraísos fiscais e empresas offshore, utilizados como base para a investigação. Iniciado há um ano, o projeto foi coordenado pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ, em inglês).

A investigação do jornal El País, de Marina Rossi e Regiane Oliveira, destaca que Luciano Hang, dono da Havan, manteve por quase vinte anos uma empresa em um paraíso fiscal, no valor de 112,6 milhões de dólares, e não comunicou ao Governo sobre a existência dessa empresa, “o que configura crime de sonegação fiscal”, explica a publicação.

“O empresário só não se veste de patriota quando o assunto é o retorno que os impostos podem proporcionar ao país”, diz a reportagem.

Entre as personalidades citadas no Pandora Papers estão três presidentes e dez ex-presidentes na América Latina, celebridades como os cantores Elton John e Shakira e o jogador de futebol Di Maria, e até a Rainha Elizabeth II.

Em setembro do ano passado, o ICIJ também comandou a investigação FinCEN Files, que revelou que cinco bancos multinacionais movimentaram US$ 2 trilhões em operações suspeitas. Poder360, Época e piauí participaram do projeto.

Outras investigações também coordenadas pelo consórcio internacional são Panama Papers e Luanda Leaks.

Dossiê aponta aumento de casos de censura na EBC

Dossiê aponta 292 denúncias de censura e governismo na EBC

O número de casos de censura na Empresa Brasil de Comunicação (EBC) aumentou no período de agosto de 2020 e julho de 2021. É o que aponta o 3º Dossiê de Censura e Governismo na Empresa Brasil de Comunicação (EBC), que será lançado nesta terça-feira (5/10), às 20h, no canal do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal (SJPDF) no YouTube. Haverá também um debate sobre imprensa e liberdade de expressão.

Pela primeira vez, o levantamento separou casos de censura e governismo na empresa. O dossiê destaca cortes de pautas sugeridas, que nem chegaram a ser produzidas, grande parte delas sobre temas considerados delicados ao governo, como direitos humanos e meio ambiente.

O levantamento é feito com base em denúncias anônimas de trabalhadores de todos os veículos e mídias sociais da EBC. O primeiro dossiê, publicado em 2018, contabilizou 61 casos de censura e governismo. Já no ano seguinte, a segunda edição do levantamento detectou aumento dos casos e registrou 138 episódios.

Participam do lançamento do dossiê Denise Dora, da ONG Artigo 19; Giuliano Gali, do Instituto Vladimir Herzog; Emmanuel Colombié, da Repórteres sem Fronteiras (RSF); e Márcio Garoni, da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).

Coluna sobre “sinhás pretas” na Folha provoca reações e acusações de racismo

Coluna de Leandro Narloch sobre “sinhás pretas” na Folha provoca reações e acusações de racismo

Thiago Amparo, professor de Direito na Fundação Getulio Vargas (FGV), publicou um artigo na Folha de S.Paulo no qual repudia coluna de Leandro Narloch, cujo título é Luxo e riqueza das ‘sinhás pretas’ precisam inspirar o movimento negro, que, segundo ele, relativiza a escravidão, utilizando como exemplo mulheres negras que conquistaram sua liberdade e enriqueceram. Por meio de nota, a Folha pronunciou-se sobre a polêmica. Narloch também comentou o caso, reiterando que o texto “não suaviza a escravidão”.

No artigo As sinhás pretas da Folha, escreveu Amparo: “Abro este jornal. Nele, um artigo sobre ‘negras prósperas no ápice da escravidão’. Eu pauso. Verifico a data do jornal: não é o século 19. O autor promete ‘complicar as narrativas de ativistas’; afirma que a ‘culpada é a época e seus valores diferentes dos nossos’; e que nos traria ‘maturidade e conciliação’ as ‘lindas histórias de vida das sinhás pretas’”.

O professor da FGV questionou: “Folha, por que ainda precisamos nos masturbar coletivamente com a relativização da dor preta?”, indicando também que, ao longo do texto de Narloch, foram usadas fotos da Máscara de Flandres, que à época era utilizada como instrumento de tortura.

“Narloch usa histórias individuais para mascarar a brutalidade do seu argumento: legitimar a escravidão ao relativizá-la”, declarou Amparo. “Imagino como se sentiriam as escravas diariamente estupradas lendo seu texto; ou os escravos doentes jogados ao mar: faltou-lhes capitalismo?”.

Narloch escreveu na coluna que “ativistas do movimento negro não deveriam desprezar as lindas histórias de vida das sinhás pretas. O costume de tratar negros somente na voz passiva (‘escravizados, humilhados, exterminados’) acaba por menosprezar o protagonismo deles na história do Brasil”.

Em resposta, Amparo explicou que “o problema não é fazer referência a ‘negras minas’ – que eventualmente enriqueceram – ou a outras figuras históricas, o problema é, de forma ao mesmo tempo risível e desonesta, utilizá-las para suavizar a brutalidade da escravidão”.

“O que está em jogo é se a pluralidade que este jornal preza inclui racismo”, conclui Amparo. “Jornais são documentos históricos: eu me reservo a dignidade derradeira de dizer com todas as letras que a coluna de Leandro Narloch é racista; que publicá-la faz do jornal conivente; e que em algum momento a corda do pluralismo esticou a tal ponto que nos enforcará”.

No mesmo tom, Matheus Moreira, repórter da Folha e autor do blog Vidas Negras Importam no jornal, também escreveu texto criticando a coluna de Narloch. Ele escreveu que, “ao sugerir que casos de mulheres negras ricas com escravos ‘certamente não eram raros’, o colunista deslegitima toda a história dos povos negros brasileiros e abre margem, por exemplo, para a supressão de políticas afirmativas sob a luz de uma suposta democracia racial”.

O repórter da Folha ouviu professores, estudiosos e especialistas sobre o assunto, e adicionou a opinião deles no texto. Ynaê Lopes dos Santos, doutora em história pela USP e especialista em história da escravidão nas Américas, por exemplo, acredita que Narloch “pega as exceções, as retira do contexto e reforça a estrutura racista. Isso está não só no que ele diz, mas na forma como diz. O problema é ele tirar as exceções do seu lugar de exceções”.

“Sempre haverá entre nós, negros ou brancos, aqueles que discordam, que agem de má fé ou que nem sequer se importam o bastante para pensar a respeito de qualquer coisa”, termina Moreira. “Na Folha, já houve avanços na discussão sobre a complexidade dos movimentos negros ao longo da história. Faria bem a Narloch ler o jornal para o qual escreve”.

O Portal dos Jornalistas entrou em contato com Leandro Narloch para ouvir a resposta dele às críticas. Ele explicou que o texto “não suaviza a escravidão”: “Fiquei muito triste com a acusação de racismo e com a interpretação que fizeram. O texto discorda de algumas ideias do movimento negro, mas não suaviza a escravidão (que é obviamente discriminatória e contra a meritocracia). E está muito longe de defender aberrações como a submissão ou a inferioridade de alguma etnia”.

Narloch publicou na manhã desta quarta-feira (6/10) uma resposta ao ocorrido, na coluna Distorções cognitivas e seus monstros imaginários

Também ouvimos Sérgio Dávila, diretor de Redação da Folha. Em nota, ele informou que o “time de colunismo está sob reavaliação constante”. Confira a íntegra:

A Folha tem um entendimento bastante abrangente sobre liberdade de expressão, reservando-se, como explicado no Manual, o direito de vetar textos que incorram em calúnia, injúria e difamação ou que possa dar margem a processo judicial (página 87).

O pluralismo é pilar do projeto do jornal, como defendido e explicado no Manual, por exemplo na página 22 (“Praticar o pluralismo não significa abrir mão da apuração factual, mas entender que, muitas vezes, existe uma dimensão sujeita a controvérsias, a ser contemplada em termos de dosagem, perspectiva e proporção”) e na página 87 (“A preocupação da Folha com o pluralismo deve se manifestar também na escolha de textos de opinião.”)

Além disso, a Folha acredita na maturidade da sociedade brasileira e do seu leitorado para lidar com o amplo espectro das opiniões que circulam no país e nas nossas páginas. A melhor resposta para um ponto de vista que repudiamos é a publicação do contraditório na arena pública.

É dentro dessa perspectiva que o jornal faz a escolha de seu time de 202 colunistas e blogueiros, que, como sempre aconteceu, está sendo constantemente reavaliado em relação ao que agrega de qualidade em relação ao que é oferecido ao leitor da Folha.

Deputado de Roraima é preso por suspeita de envolvimento em sequestro de jornalista

Jalser Renier, deputado estadual de Roraima desde 1994, foi preso em 1º/10 por suspeita de ter sido o mandante do sequestro do apresentador Romano dos Anjos, em outubro de 2020. O político foi detido de forma preventiva.

Renier criticou a ação policial: “Ao meu ver, é uma condução caluniosa que está sendo feita comigo. Mas eu vou respeitar a emissão da Justiça”. A Operação Pulitzer II, que deteve o político, cumpriu também outros três mandados de prisão preventiva e oito mandados de busca e apreensão em Boa Vista. Além disso, sete prisões preventivas anteriores foram convertidas em prisões temporárias.

Sobre as prisões, Romano declarou que “é o início de um novo ciclo. Foram 11 meses de tratamento de saúde, de recuperação física e psicológica. Só de eu saber que essas pessoas estão presas, e que outros também podem ser presos, é que posso pensar em levar a minha vida normalmente”.

No final de outubro do ano passado, Romano foi sequestrado enquanto jantava com a esposa. Conhecido por fazer críticas contra políticos locais, o apresentador foi levado para uma área rural e torturado por homens encapuzados e armados. O carro dele foi queimado e ele foi localizado 12 horas após o sequestro.

Nessa segunda-feira (4/10), a Assembleia Legislativa de Roraima (Ale-RR) decidiu manter a prisão do deputado estadual. Os 17 parlamentares presentes na sessão extraordinária acompanharam o voto do relator nomeado pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Coronel Chagas (PRTB).

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