9.9 C
Nova Iorque
sexta-feira, maio 23, 2025

Buy now

Início Site Página 298

Nélson Nunes é eleito presidente da Associação dos Cronistas Esportivos de SP

Nélson Nunes é eleito presidente da Associação dos Cronistas Esportivos de SP

Nélson Nunes assume nesta sexta-feira (25 de março) o cargo de presidente da Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo (Aceesp). Ele foi eleito por aclamação pela assembleia-geral realizada em 21 de fevereiro. O vice-presidente é Wagner Prado.

A nova diretoria, com mandato de três anos, substitui a gestão de Erick Castelhero (presidente), que segue como presidente da Associação dos Cronistas Esportivos do Brasil (ACEB), e Maurício Noriega (vice), que estavam à frente da entidade desde 2016.

“Nosso objetivo é dar continuidade ao excelente trabalho desenvolvido por Erick e Noriega, com o desafio de manter a independência financeira da entidade, que desde 2004 não conta com qualquer tipo de verba pública ou privada proveniente de clubes e federações”, declarou Nunes, sócio da Aceesp desde 1990.

Ele iniciou a carreira no jornalismo em 1979, na versão impressa do jornal A Gazeta Esportiva, como estagiário. Chegou a assumir o cargo de editor-chefe do jornal, e venceu em 1985 o Esso de Jornalismo Esportivo. Onze anos depois, foi para o Diário Popular, onde foi repórter, editor e editor-chefe do Caderno de Esportes. Liderou a equipe que venceu o Troféu Aceesp em três edições. Ao longo da trajetória, cobriu as Copas do Mundo de México-86, Itália-90 e Estados Unidos-94. Atualmente, atua como consultor de mídia impressa em projetos editoriais no Brasil e no Exterior.

Justiça de SP condena Sikêra Jr. a pagar R$ 300 mil para Xuxa Meneghel

TJ-SP condena Sikêra Jr. e RedeTV por danos morais a Xuxa Meneghel

O apresentador Sikêra Jr., do Alerta Nacional, e a RedeTV foram condenados a pagar uma indenização de R$ 300 mil para Xuxa Meneghel por danos morais. A decisão da juíza Ana Cristina Ribeiro, da 3º Vara Cível de Osasco (SP), foi dada em primeira instância e ainda cabe recurso. As informações são do Notícias da TV (UOL).

O caso se refere a falas de Sikêra dirigidas a Xuxa em outubro de 2020. Na época, a apresentadora criticou a postura dele, que em uma edição do Alerta Nacional exibiu um vídeo de um homem estuprando uma égua, zombou da situação e chamou dois membros da produção para simularem a cena ao vivo.

Após as críticas da apresentadora, o âncora chamou-a de “pedófila”, citando a participação de Xuxa no filme Amor Estranho Amor, e a acusou de fazer apologia às drogas, por uma vez ela ter dito que sua mãe fazia uso de maconha medicinal para tratar uma doença degenerativa. Sikêra também disse que Xuxa incentiva crianças à “safadeza”, citando o livro da apresentadora Maya, o Bebê Arco-Íris, que conta a história de uma menina que tem duas mães.

Na decisão, a juíza Ana Cristina criticou programas como o Alerta Nacional: “Os apresentadores desses programas, com a bênção e o incentivo de suas empresas, tudo fazem, sem o menor critério, inclusive levar ao ar ameaças de morte contra pessoas públicas, honestas e trabalhadoras, achincalham a vida privada e a família dessas pessoas, apenas para alavancar a audiência de seus programas televisivos, e, em decorrência, o faturamento, não só da empresa como o próprio”.

“Tais apresentadores, na busca desvairada pela audiência, postam-se acima do bem e do mal e, sem refletir ou ponderar sobre o que dizem e nas consequências de seus atos, estão sempre prontos a atacar, com suas línguas ferinas, o cidadão honesto e o desonesto, colocando a todos no mesmo patamar, sem o mínimo respeito à honra e à dignidade humanas”, continua a juíza.

Além da indenização, Sikêra e RedeTV devem pagar as custas do processo, cerca de R$ 60 mil. Procurado pelo Notícias da TV, Sikêra não havia se pronunciado até a publicação deste texto. Já a emissora declarou que não comenta processos judiciais.

Carlos Nascimento retorna ao SBT para mediar debates eleitorais

Carlos Nascimento retorna ao SBT para mediar debates eleitorais

O apresentador Carlos Nascimento está de volta ao SBT, onde vai mediar debates entre candidatos à Presidência e ao governo de alguns estados. Ele trabalhou no SBT por 14 anos, entre 2006 e 2020. Os debates são fruto de uma parceria da emissora com Estadão, Veja e rádio Nova Brasil FM.

No primeiro turno, o debate dos candidatos a governador será em 17 de setembro, das 19 às 21 horas. Uma semana depois, no dia 24 de setembro, no mesmo horário, será a vez dos candidatos que disputam a Presidência da República debaterem. Em caso de segundo turno, o debate para governador será em 15 de outubro, também a partir das 19h, e no dia 22 de outubro, no mesmo horário, haverá o debate entre os presidenciáveis. Os eventos serão transmitidos pelo SBT e pelo SBT News.

Carlos Nascimento não teve seu contrato renovado com o SBT e deixou a emissora em dezembro de 2020, após 14 anos de casa. O âncora, que comandava o telejornal SBT Brasil, estava afastado desde abril de 2020 em decorrência da pandemia de Covid-19.

Leia também:

O adeus a Isabel Faria

Isabel Faria
Isabel Faria

Morreu na tarde de 23/3, aos 38 anos, Isabel Faria, gerente de Comunicação da General Motors South America. Depois de quase um ano lutando contra um câncer de mama, descoberto no começo de 2021, ela estava nas últimas etapas do tratamento, bem-sucedido até então, quando no final de janeiro foi diagnosticada com metástase no cérebro.

Muito estimada por líderes e colegas por suas determinação, competência, coleguismo e espírito coletivo, Isabel foi uma profissional chave no desafio de conduzir as melhores práticas em comunicação empresarial na GM nos últimos anos.

Formada em Jornalismo pela PUCRS, e com MBA em Gestão Empresarial pela FGV, começou a carreira no Rio Grande do Sul, seu estado natal, na Gio Comunicação, atendendo a clientes como Gerdau e Lojas Renner. Chegou à GM em 2014, como analista de Comunicação Interna na fábrica da marca em Gravataí. Em 2018 foi transferida para a matriz, em São Caetano do Sul, e em fevereiro do ano passado foi promovida ao seu último cargo.

Além dos amigos, ela deixa os pais Cleber e Beatriz, a irmã Denise, o marido Marcio e a filha Betina, de 5 anos.

 

Réquiem

* Por Nelson Silveira

Bel tinha pressa. Os dias passavam voando e havia tantas coisas a fazer, tanto a conquistar. E tinha estrela, era dona de um talento ímpar. Era dessas pessoas que nasceram para protagonizar.

Nada nunca foi fácil para ela, mas Bel sempre foi guerreira, movida a desafios, ambiciosa. Focada e dedicada, conseguiu realizar seu sonho de trabalhar na GM. Gaúcha, começou em Comunicação Interna, na fábrica de Gravataí. Mas, para Bel, o céu era o limite. Liderou projetos importantes, demonstrou sua competência e galgou degraus, mudando-se para São Caetano do Sul e atingindo seu objetivo de trabalhar na matriz da empresa.

Sua inteligência, perspicácia e vontade de realizar rapidamente a levaram longe. Em fevereiro de 2021 conseguiu a sonhada promoção a gerente de Comunicação Corporativa. Eram tempos bicudos, de pandemia, crise e trabalho remoto. Mas nada parava essa mulher genial, que sabia identificar tendências, inovar.

Bel estava no auge, brilhando como nunca. Descobrindo novas formas de comunicar em um mundo digital. Aprendendo que em um mundo onde causa e propósito se tornavam motores das marcas, o storytelling tinha de dar lugar ao storydoing. Abraçando as narrativas de sustentabilidade, diversidade, equidade e inclusão com garra e lutando para conquistar espaços em um mundo em transformação.

Porque Bel acreditava em um mundo melhor, mais justo. Entendia como ninguém as agruras do planeta e tinha senso de urgência. Sabia da importância de defender a ideia de um futuro com zero emissão e abraçava a visão, o propósito e os valores da GM.

Bel trabalhava com afinco na construção de novas narrativas, avançava para fazer história na comunicação. Compreendia como ninguém que tinha uma missão de conectar e engajar as audiências nas mensagens que desenvolvia, trabalhando em uma estratégia multicanal.

A força intrínseca que movia essa mulher era tão intensa que nem um cruel diagnóstico de câncer na mama, logo depois da promoção, foi capaz de a abalar. Coisas da vida, que insiste em nos dar rasteiras.

Bel encarou o câncer de frente, incólume. Enquanto nossas pernas tremiam de medo e nossos corações soluçavam, Bel vaticinava: “Eu não sou a doença, eu estou com a doença e vou me curar”.

E Bel lutou, com todas as suas forças, e a cada batalha vencida celebrava, como se estivesse nascendo de novo. Perdeu o cabelo, comprou uns turbantes estilosos, novos óculos pretos grandes e expressivos e passou a desfilar seu novo look feito editora de moda.

No final de 2021, parecia que o céu estava desanuviando. Na festa de final de ano do time de comunicação, Bel contagiava alegria. Ela tinha certeza da vitória. Uma certeza que fazia a gente acreditar que tudo ia ser diferente.

Mas o destino insistiu em continuar pregando peças. No final de janeiro de 2022, Bel teve de voltar para o hospital, acometida de dores terríveis. A doença maldita, essa vilã horrorosa, tinha progredido impiedosa.

Bel tinha pressa, porque, com apenas 38 anos, uma filha linda de 5, uma família que amava, tinha ainda tantos sonhos a realizar. Bel tinha pressa, porque tinha o mundo aos seus pés, porque sabia que podia ir longe. Mas a vida não é justa, a doença é cruel e maligna, atravessou essa história e levou a Bel no final da tarde de 23 de março de 2022.

-*-*-*-*-*-*-*

* Nelson Silveira é diretor de Estratégia de Comunicação da General Motors América do Sul

Primeira edição de Os Lusíadas, de Camões, completa 450 anos de vida

Primeira edição de Os Lusíadas, de Camões, completa 450 anos de vida.

Possivelmente a maior obra em língua portuguesa, Os Lusíadas, de Luiz Vaz de Camões, completa neste mês de março 450 anos de vida, desde que foi lançada além-mar, em Portugal, contando a saga de Vasco da Gama, na viagem em que descobriria o caminho das Índias. Camões palmilhou toda a literatura lusófona desde então, em que pese não ter levado a fama em vida.

Assis, com a obra de Camões em diversos formatos

Quem conta essa história, em prosa e verso, com exclusividade para este Portal dos Jornalistas e Jornalistas&Cia, é Assis Ângelo, jornalista, poeta, cordelista, estudioso da cultura popular brasileira, que, cego desde 2013, luta bravamente para ser enxergado pelos colegas. Assis fez simplesmente uma readaptação d’Os Lusíadas para canto e cordel, usando os principais personagens, aos quais acrescentou dois poetas cantadores nordestinos contando a história de Vasco da Gama e a história de Vaz de Camões. Alguns desses versos ele mostra na edição de J&Cia.

A obra completa, a que deu o título de A Fabulosa Viagem de Vasco da Gama no Mar (adaptação livre de Os Lusíadas para canto e cordel), ele espera mostrar ainda este ano, se aparecer alguma empresa ou personalidade interessada em patrocinar o projeto.

Leia na íntegra (a partir da página 15).

Galvão Bueno deixará narrações da Globo após Copa do Mundo

Galvão Bueno deixará narrações da Globo após Copa do Mundo

O narrador Galvão Bueno deixará as narrações da TV Globo no final do ano, após 41 anos de casa. Seu contrato com a emissora, que termina em dezembro, não deverá ser renovado. O último trabalho do narrador na Globo será a Copa do Mundo do Catar, entre novembro e dezembro.

“Pretendo realmente dar um mergulho de cabeça nesse mundo digital. Estamos negociando participações, sequência na Globo, outras plataformas. A Globo é minha casa. Não poderia chegar a minha última transmissão de seleção brasileira em TV aberta sem me referir a isso. É um momento que vai ser muito especial, marcante e de muita emoção”, disse o narrador ao Globo Esporte.

Nesta quinta-feira (24/3), Galvão publicou em suas redes sociais que o jogo entre Brasil e Chile pelas eliminatórias da Copa será o último da seleção brasileira que transmitirá no Maracanã: “Jogo de despedidas. Último jogo da Seleção no Brasil antes da Copa! Último jogo de Tite no Brasil como técnico da Seleção! Meu último jogo da Seleção no Maracanã em televisão!”, escreveu.

Renato Ribeiro, diretor de Esportes da Globo, destacou o legado que Galvão deixa na narração esportiva: “Galvão é um gênio da comunicação, que reinventou a função de um narrador nas transmissões esportivas. Haverá pra sempre na história da TV brasileira o antes e o depois de Galvão. Juntos, estamos preparando uma despedida à altura da história dele na Copa do Catar. Será inesquecível para o Galvão e para o público”.

Galvão tem 48 anos como narrador, sendo 41 deles na Globo. Ele estreou na emissora em 1981. Desde então, narrou momentos importantes do esporte brasileiro, como o tetracampeonato da seleção de futebol em 1994, e o penta, em 2002. Na Copa de 2022, chegará à marca de 13 Copas do Mundo no currículo, 11 delas na Globo, narrando todas as finais desde 1990.

Venceu cinco vezes o prêmio da Associação dos Cronistas Esportivos, duas na categoria Televisão e três em Narrador de TV. Anteriormente, teve passagens por Band, Record e Gazeta.

Em dois anos de pandemia, 314 jornalistas brasileiros morreram de Covid-19

Em dois anos de pandemia, 314 jornalistas brasileiros morreram de Covid-19

Relatório da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) contabilizou 314 jornalistas brasileiros mortos por Covid-19 em 699 dias, de abril de 2020 a fevereiro de 2022, o equivalente à média de uma morte a cada 2,2 dias. Segundo dados da ONG Press Emblem Campaign, o Brasil é o país com mais comunicadores mortos pelo coronavírus, seguido por Índia, Peru e México.

A Fenaj destaca, porém, que após o início da campanha de vacinação no País o número de óbitos caiu significativamente: Nos dois primeiros meses deste ano, foram registrados 11 casos, contra 42 do mesmo período em 2021.

São Paulo é o estado com mais jornalistas mortos, com um total de 42 casos desde o início da pandemia, o equivalente a quase 34% do total. Em seguida vêm Rio de Janeiro, com 33 mortes, Pará e Paraná, ambos com 24 casos, Minas Gerais, com 20 mortes, e Mato Grosso, com 19 casos.

O relatório, produzido pelo Departamento de Saúde e Segurança da Fenaj, foi elaborado a partir de dados de jornais, sites e blogs de todo o Brasil, mais informações fornecidas pelos sindicatos de jornalistas nos estados ou diretamente de colegas de profissão. Norian Segatto, diretor do departamento, explica que os números podem estar subestimados e não reflitam integralmente o tamanho da tragédia.

Maria José Braga, presidente da entidade, destacou os esforços dos sindicatos filiados e para garantir a proteção da vida e das condições de trabalho dos jornalistas em meio à pandemia: “Além de orientar e cobrar a adoção de medidas sanitárias por parte dos empregadores, com muitos casos levados ao Ministério Público do Trabalho, os sindicatos atuaram na busca pela vacinação prioritária da categoria, uma vez que os jornalistas foram considerados trabalhadores essenciais desde o início da pandemia. Muitos sindicatos obtiveram êxito no pleito, a exemplo de Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Pará, Piauí e das cidades de São Luís (MA) e Rio Grande (RS)”.

Leia o relatório na íntegra.

Jornalistas negras e indígenas são alvo de ataques em redes sociais

A segunda reportagem da série sobre violência de gênero contra jornalistas analisou quase 240 tuítes ofensivos.
A segunda reportagem da série sobre violência de gênero contra jornalistas analisou quase 240 tuítes ofensivos.

Por Jamile Santana e Laís Martins, da Revista AzMina

Atenção: A reportagem abaixo mostra trechos explícitos de conteúdo misógino e racista. Optamos por não censurá-los porque achamos importante exemplificar como o debate é violento nas redes, como a violência contra mulheres jornalistas se espalha, quais termos são frequentemente utilizados e como podemos identificá-la.   

Mulheres jornalistas, em geral, enfrentam desafios ao se posicionarem nas redes sociais. No caso de mulheres negras e indígenas encontramos aspectos ainda mais problemáticos. Além da misoginia e violência de gênero da qual são alvos apenas por serem mulheres, estes grupos sofrem ataques que tentam descredibilizar as lutas antirracista e pela garantia dos direitos constitucionais de povos indígenas.

Acusações como “discurso de mulher negra”, ”vitimismo” e “oportunista” são frequentemente encontradas em tuítes escritos para estas profissionais. É o que mostra a investigação de dados feita por Revista AzMina, InternetLab e Núcleo Jornalismo, junto ao Volt Data Lab e ao INCT.DD, com financiamento do Carnegie for International Peace e apoio do International Center for Journalists (ICFJ).

A segunda reportagem da série sobre violência de gênero contra jornalistas analisou quase 240 tuítes ofensivos direcionados a um grupo de 26 jornalistas mulheres, negras e indígenas. Identificou-se ainda que apenas duas em cada 10 ofensas foram removidas pela plataforma da rede social. Os termos mais incidentes se dividem em categorias como racismo, xingamentos pessoais, ofensas à atuação profissional, descrédito intelectual, machismo, ameaça física e assédio sexual.

Os xingamentos “jornalista parcial”, “tendenciosa” e “manipuladora”, comunista (no contexto ruim), “fracassada” e “ridícula” são os mais frequentes entre os tuítes ao grupo do perfil analisado. Os ataques acontecem sempre quando um usuário discorda da informação ou ponto de vista publicado pelas jornalistas.

Outro fenômeno percebido foi o uso de frases misóginas para descredibilizar e silenciar as profissionais. As mensagens ofensivas continham frases como “vá lavar louça”, “vá cuidar da família” ou “mal amada” e “mal resolvida”. Termos para descredibilizar intelectualmente as mulheres também foram identificados, como “louca”, “burra”, “doente”, “maluca” e “tapada”, por exemplo.

Posicionamentos antirracistas

Mulheres negras são frequentemente atacadas quando se posicionam contra o racismo. Nas mensagens, os agressores relativizam os posicionamentos antirracistas, sugerindo, por exemplo, que “não se pode mais criticar uma pessoa negra” ou que “negros também podem matar pessoas brancas”.

No ano passado, a jornalista Flávia Oliveira, comentarista da Globo News e colunista nos jornais O Globo e CBN, postou um tuíte repercutindo o episódio em que a estátua de Borba Gato havia sido incendiada em São Paulo. Na mensagem, ela, que é uma mulher negra, recomendou a leitura do livro Escravidão 2, de Laurentino Gomes, para que as pessoas conhecessem quem foi a figura alvo do protesto antirracista. A jornalista foi atacada com uma série de ofensas racistas e misóginas, e o conteúdo continua no ar.

Mas, em alguns casos, os ataques sequer são respostas a postagens publicadas pelas profissionais. Quando a  jornalista e apresentadora Maju Coutinho aparece no ar na TV Globo, por exemplo, recebe ofensas gratuitas. Em alguns casos, os ataques são acompanhados de ameaças físicas. O monitoramento sugere ainda que há um comportamento de assédio por parte de alguns usuários: encontramos 10 ataques a Maju Coutinho feitos por um único usuário. Todos os conteúdos seguem no ar.

Profissionais que trabalham em veículos de mídia de alcance nacional, principalmente os de televisão, estão mais expostas às ofensas. Mas jornalistas negras de veículos online ou impressos também sofrem ataques organizados, como conta a jornalista Gabi Coelho, repórter do Estado de S. Paulo e membro do Coletivo Lena Santos — de jornalistas negros e negras de Minas Gerais.

“Os ataques que recebo e já recebi, praticamente todos foram direcionados para as questões de gênero e raça”, contou Gabi. Numa dessas experiências, divulgaram sua foto após uma reportagem que ela fez sobre negacionismo. “O objetivo era fazer meu rosto circular e ficar marcado para os demais usuários da rede”, disse.

No episódio, Gabi contou com o apoio da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), do jornal em que trabalha e do Twitter. Mas a jornalista se questiona como buscar apoio em plataformas de redes sociais, “sabendo que elas reproduzem o que chamamos de racismo estrutural”. E conclui que procurar amparo é importante “pra que a gente continue existindo nesses espaços que são essenciais.”

A jornalista investigativa Cecília Oliveira recebe ataques em seu Twitter quase diariamente. Cecília, que é também fundadora e diretora do Instituto Fogo Cruzado, foca sua cobertura na área de segurança pública, principalmente no tráfico de armas e drogas, temas que são cobertos e debatidos majoritariamente por homens, conta ela. “Aquilo que seria uma crítica ao meu trabalho parte para uma crítica pessoal, com ataques à sexualidade e à raça. São ofensas mais direcionadas ao que você é como pessoa física, exatamente porque muitos deles trabalham nisso de atacar a pessoa e não a ideia”, conta. Mais da metade dos termos ofensivos encontrados pela análise são de ofensas pessoais e não estão relacionados à atuação profissional das jornalistas.

Luta indígena

Jornalistas indígenas também são atacadas quando abordam temas como demarcação de terras e políticas indigenistas. O questionamento e o descrédito da identidade indígena é há muito tempo uma estratégia de silenciamento, como quando são questionados por ocuparem espaços urbanos, fazerem uso de tecnologias e falarem outras línguas.

Ao postar um tuíte que mostrava o mapa do Brasil completamente demarcado como área indígena, a jornalista Elaíze Farias, repórter e co-fundadora da Amazônia Real, foi atacada por diversos usuários que tentaram descredibilizar a luta pelo reconhecimento de territórios indígenas.

“Quando mulheres indígenas começam a falar de suas vivências, práticas sociais e culturais, utilizando-se de uma das tantas ferramentas dos avanços tecnológicos, quando elas botam o dedo na ferida e denunciam injustiça e violações às quais estão submetidas, isso incomoda, causa desconforto e raiva nas pessoas não-indígenas”, disse Elaíze.

A jornalista indígena Alice Pataxó também é alvo de ataques ofensivos quando faz a cobertura de eventos que discutem o acesso aos direitos fundamentais de povos indígenas. Em um dos episódios, publicou a foto do julgamento sobre o Marco Temporal das Terras Indígenas e um usuário criticou o fato da jornalista ter acesso a um aparelho celular.

Aquilombamento nas redes

Apesar do cenário hostil, em contrapartida à violência, nosso levantamento encontrou 157 tuítes de apoio às mulheres negras em um total de 2.204 mensagens analisadas que incluíam termos sobre raça.

A união de pessoas negras para o fortalecimento dos indivíduos de forma coletiva é conhecida como “estratégia de aquilombamento”. Os quilombos foram dispositivos fundamentais na preservação da identidade, da dignidade, da cultura e da saúde mental da população negra durante o período escravocrata, conforme explica o psicólogo e Mestre em Psicologia Clínica pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Lucas Veiga, no artigo “Descolonizando a psicologia: notas para uma Psicologia Preta”. “O encontro entre negros e negras é cura”, escreveu ele.

Para Fernanda K. Martins, antropóloga e uma das coordenadoras da pesquisa pelo InternetLab, as redes sociais ocupam um lugar bastante ambíguo na prática profissional de pessoas negras e indígenas.

“Por um lado, há mais espaço para que essas pessoas sejam ouvidas, alcancem maior audiência e encontrem espaços de cura quando lidam com seus pares”, afirma. Por outro lado, Fernanda acrescenta que as plataformas em geral têm dificuldades de lidar com os ataques. Segundo ela, isso se dá em parte por não conseguirem identificar o contexto dos ataques, o que impede, por exemplo, que alguns conteúdos sejam excluídos.

“É urgente a melhoria desse tipo de moderação, pois as redes sociais podem manter disponível inclusive conteúdos que ferem a lei brasileira”, afirmou Fernanda. Esse é o caso dos tuítes explicitamente racistas encontrados no decorrer da pesquisa.

Conteúdos ofensivos permanecem no ar

Apenas 2 em cada 10 postagens ofensivas apontadas na nossa análise foram retiradas do ar — algumas pelo Twitter e outras pelo próprio usuário. Vale ressaltar que nossa análise não seguiu os termos e políticas da plataforma. A empresa segue suas próprias diretrizes para identificar publicações potencialmente nocivas.

Elaíze conta que, quando recebe esse tipo de ataque na rede social, tenta blindar a saúde mental usando uma estratégia particular. “Não costumo ler os posts e retuítes. Costumo interagir apenas com pessoas que sigo no Twitter e os ataques se perdem nos escombros. O importante é que a mensagem foi dada”, diz. Mas ela defende que as plataformas digitais afinem suas estratégias de combate à violência.  “Acho que poderia ter sim uma moderação sobretudo para as mentiras e postagens racistas. Um meio de identificar quem são os autores, porque racismo é crime no país. Por outro lado, não podemos ser ingênuos que isso ocorrerá a curto prazo”.

Depois de um curso sobre interação nas redes sociais, Cecília também mudou sua forma de lidar com ataques e ofensas. “Antes, quando eu era atacada eu ficava muito abalada, então hoje quando eu sei que tem tuíte com potencial para atrair hater eu já silencio esse tuíte e não volto nele”. Ela também adota, como prática, o não-compartilhamento de ataques que recebe e usa filtros disponibilizados pelo Twitter que limitam, por exemplo, as notificações de usuários sem e-mail e telefone verificados.

Mas nem sempre as ferramentas das redes são satisfatórias. A  jornalista relembra que em setembro do ano passado passou a receber ataques sistemáticos de um mesmo usuário, que respondeu a todos os seus tuítes com um um print do vídeo de ‘Nega do Cabelo Duro’. Ao denunciá-lo pela plataforma, a jornalista recebeu após alguns dias uma notificação de que o conteúdo não violava as políticas da plataforma.

“Eu reclamei no Twitter da resposta da plataforma, falei que eram ataques sistemáticos da mesma conta, ofensas racistas, e que essa tinha sido a resposta que eu recebi, e aí o pessoal do Twitter me enviou um email. Eles agradeceram e suponho que mexeram depois”, disse a jornalista, que possui 173 mil seguidores no Twitter.

Em nota, o Twitter informou que “tem uma política contra a propagação de ódio que proíbe tuítes com conteúdos de linguagem desumanizante com base em religião, casta, idade, deficiência, doença, raça, etnia ou naturalidade, gênero, identidade de gênero ou orientação sexual. Já a política de comportamento abusivo proíbe o envolvimento ou estímulo ao assédio direcionado a alguém”.

A plataforma destacou ainda que nem sempre fica claro se os conteúdos foram produzidos com a intenção de assediar ou atacar uma pessoa com base em seu “status de categoria protegida” e, por isso, pode ser necessário que a  própria pessoa faça uma denúncia. “Para ajudar nossas equipes a entender o contexto, às vezes precisamos ouvir da pessoa diretamente afetada para garantir que temos as informações necessárias antes de tomarmos as medidas corretivas, que podem incluir remoção e/ou redução de visibilidade de um tweet até a suspensão permanente da conta”, diz a nota.

Metodologia

Criamos uma lista de jornalistas com diferentes perfis de gênero, raciais-étnicos e diferentes orientações sexuais que teriam seus perfis monitorados, buscando construir uma análise que nos permitisse articular marcadores sociais. Essa lista incluiu 200 jornalistas (133 mulheres e 67 homens), que mesclava jornalistas com trabalhos em diversos veículos da imprensa brasileira, diferentes regiões e, ao mesmo tempo, em distintas fases de suas carreiras.

Coletamos tuítes e retuítes que mencionavam os jornalistas monitorados e que continham pelo menos uma das palavras presentes em uma lista de termos que poderiam ser utilizados em publicações ofensivas.O léxico inclui termos ofensivos, de misoginia, racismo, homofobia etc, e foi construído por linguistas, jornalistas e outros especialistas.

A coleta dos tuítes foi realizada de 15 de maio a 27 de setembro. Coletamos um total de 7.082.947 tuítes e retuítes direcionados a jornalistas homens e mulheres.

Concluída a coleta, analisamos separadamente os tuítes dirigidos a jornalistas mulheres negras, indígenas e asiáticas. Como não foi possível analisar qualitativamente todos os tuítes e retuítes mencionados, optamos por analisar apenas os tuítes que tiveram pelo menos 1 curtidas e/ou RTs como engajamento. Foram consideradas 2.455 postagens com termos potencialmente ofensivos. A análise manual foi importante para remover tuítes “falsos positivos” que poderiam ter sido incorporados citando palavras que apareciam no léxico, mas eram descontextualizadas e, às vezes, não ofensivas.

Para ter certeza de que havia um entendimento comum entre os pesquisadores sobre o que constituía ofensas e o que era apenas crítica, inicialmente analisamos juntos os primeiros cem tuítes. Além disso, os tuítes que possuíam contextos mais complexos e não podiam ser facilmente rotulados por apenas um pesquisador foram analisados ​​por mais de um pesquisador.

Por fim, os termos ofensivos encontrados foram classificados em categorias:  racismo (que considerou xingamentos ou descrédito à luta antirracista), xingamentos (palavrões e agressões de acordo com contextos pessoais de cada jornalista), ofensas à atuação profissional, descrédito intelectual, machismo, ameaça física e ameaça sexual.

*O projeto “Understanding How Influence Operations Across Platforms Are Used To Attack Journalists And Hamper Democracies” é realizado em uma parceria entre Internet Lab, INCT.DD, Instituto Vero, DFR Lab, AzMina e Volt Data Lab. A pesquisa é financiada pelo Partnership for Countering Influence Operations, do Carnegie for International Peace e também conta com apoio do International Center for Journalists (ICFJ), via Volt. O estudo tem por objetivo compreender os padrões de ataques a jornalistas em ambientes digitais, com especial foco em questões de gênero e raça.

Reportagem publicada originalmente no site da Revista AzMina.

Leia também: Justiça determina que Twitter apague publicação de Glenn Greenwald

Festival 3i: mesa desta quinta (24) debate jornalismo nas periferias

Festival 3i será presencial, de 5 a 7 de maio, no Rio de Janeiro

Nesta quinta-feira (24), a partir das 19h, o Festival 3i realiza a mesa de debate com o tema “A periferia no centro, no centro da periferia”. O objetivo é falar sobre os desafios e tecnologias usadas na cobertura jornalística nas periferias do Brasil, além da importância dos veículos de comunicação periféricos para a diversidade e pluralidade das mídias no mundo contemporâneo.

O evento, que será transmitido pelo YouTube e Facebook, terá a mediação Daniele Moura (Maré de Notícias) e palestras de Alessandra Taveira (Abaré Escola de Jornalismo), Carla Siccos (Jornal Cdd Acontece), e Emerson Santos (O Periférico). 

Outros importantes nomes da área participam da mesa como provocadores: Caê Vasconcelos (Agência Mural de Jornalismo das Periferias), Eduarda Nunes (Agência Retruco, Favela em Pauta), Joyce Cursino (Negritar Filmes e Produções), Jefferson Barbosa (PerifaConnection), Lia Vianna (Favela em Pauta), Michel Silva (Fala Roça) e Renê Silva (Voz das Comunidades). 

Este é o penúltimo dia de eventos do Festival 3i, que começou dia 15 de março e reúne renomados jornalistas brasileiros e estrangeiros para debater o jornalismo digital. Ao todo, serão 40 horas de programação, totalmente virtual e gratuita, dividida em cinco grandes temas: democracia, empreendedorismo, diversidade, meio ambiente e distribuição. 

O festival é organizado pela Associação de Jornalismo Digital (Ajor), à qual este Portal dos Jornalistas é associado, com o apoio de Google News Initiative e Meta Journalism Project. 

Leia mais: Festival 3i começa nesta terça-feira (15/3)

pt_BRPortuguese