Glen Lopes Valente, diretor-presidente da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), tem pressionado os veículos da empresa pública, como a TV Brasil, a produzirem menos conteúdos diários sobre a pandemia de Covid-19 no País. Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, Valente considera as edições que falam da crise como “um jornal pesado”.

O diretor, que tem em sua gestão a Agência Brasil e rádios públicas, ainda comparou a crise sanitária ao surto de H1N1, menosprezando sua duração. Entidades repudiaram em nota as falas de Glen.

“Não é um negócio emocionante para ser veiculado constantemente”, disse Valente em conversa com a chefia da empresa, à qual a Folha de S.Paulo teve acesso. “Todo dia é chato. Entendeu? Tem que uma vez por semana é fazer um destaque do que está, por semana, fazer um destaque do que está pensando… Acho, sabe, não é um negócio emocionante”, continuou.

A EBC é alvo de críticas internas e públicas de funcionários, que afirmam haver censura do governo Jair Bolsonaro nas redações da empresa e ingerência nas atividades jornalísticas.

Repúdio às falas

Na última terça-feira (1°/2), a Organização Interamericana de Defensoras e Defensores das Audiências (OID) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) criticaram o posicionamento de Glen e ressaltaram que “informar sobre a pandemia e todos os fatos relacionados não é uma mera questão de programação televisiva, mas de prestação de serviço público à população”.

Em comunicado, a OID, presidida por Joseti Marques, ouvidora-geral da EBC de 2014 a 2018, disse repudiar veementemente “a interferência do diretor-presidente na orientação jornalística dos veículos públicos de comunicação, principalmente a TV Brasil”.

“Ao considerar que o jornalismo de emissoras públicas deve seguir o modelo de algumas empresas comerciais, nas quais prevalece o vale-tudo na busca por audiência, o diretor-presidente da EBC demonstra não apenas desconhecimento da importância da comunicação pública e sua previsão constitucional, mas também insensibilidade ao considerar que informações sobre a pandemia de Covid-19 e seus desdobramentos não devam ser noticiadas porque, segundo suas próprias palavras, é chato falar de crise sanitária”, concluiu.

A ABI também repudiou as falas do diretor. Em nota assinada pelo presidente Paulo Jeronimo, relembrou que o acesso à informação pelos cidadãos é “um direito constitucional, e a tentativa de manipular o noticiário ou, até mesmo, censurá-lo configura um crime contra o Estado democrático de Direito”. A nota ressalta ainda que a pandemia de Covid-19 já matou cerca de 630 mil brasileiros.

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