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quinta-feira, abril 25, 2024

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Diário do Nordeste vence Grande Prêmio J&Cia/HSBC 

A série de reportagens Viúvas do Veneno, de Melquíades Júnior, publicada em abril deste ano no Diário do Nordeste (CE), foi escolhida vencedora do Grande Prêmio Jornalistas&Cia/HSBC de Imprensa e Sustentabilidade. A cerimônia de entrega foi realizada na noite desta 4ª.feira (13/11), no Restaurante Capim Santo, em São Paulo.

O especial, que já havia faturado a categoria Mídia Nacional – Jornal, traz em três amplas matérias casos dramáticos e problemas causados à saúde de trabalhadores rurais e de seus familiares pelo uso indiscriminado de produtos tóxicos na lavoura. Além de acompanhar a vida das viúvas de trabalhadores rurais mortos por produtos tóxicos e de algumas mulheres que também se contaminaram pelo contato com as roupas dos maridos, a série apresenta a cronologia da doença em um dos personagens, desde 2005; mostra em ilustração os efeitos da exposição crônica a múltiplos agrotóxicos; e o uso dos produtos pelas populações indígenas.

Ouve também especialistas e representante da associação de defensivos agrícolas, mostrando a polêmica que existe no meio agrícola, que tem o desafio de ampliar a produtividade das culturas sem descuidar das pessoas e do meio ambiente. O jurado Leão Serva destacou o bom trabalho de investigação e a decisão do veículo em investir em reportagens profundas como essa.

Ao Portal dos Jornalistas, Melquíades falou: “Cada prêmio, cada reconhecimento, eu vejo como uma página a mais sendo publicada. A série não se limitou aos dias em que foi publicada, ela continua repercutindo, agora nacionalmente. É um assunto que a nossa sociedade precisa tratar melhor. Dores foram retratadas, mas eu não conseguiria narrá-las se eu também não tivesse sentido um pouco delas. Não é a dor de quem viveu isso, não é a dor de quem morreu por isso, mas foi uma dor necessária para que eu pudesse não só dar início, mas também dar continuidade à matéria. Eu tentei fazer da coragem das pessoas que falavam pra mim, coragem pra que eu pudesse dar continuidade a esse trabalho”.

Ele também comentou sobre como aconteceu a ideia de abordar o tema: “Há mais de sete anos eu recebi uma denúncia de que famílias estariam sofrendo por conta da contaminação. Quando cheguei para ver a situação, uma empresa multinacional estava depositando enxofre em pó para tornar o solo ácido. Só que, ao lado, havia várias comunidades, e o vento levava todo esse enxofre. Quando as pessoas da cidade me abordavam para falar sobre o problema, eu dizia ‘já entendi’, porque eu senti, eu inalei, eu visitei a casa de famílias que precisavam jogar fora o comer do almoço porque estava envenenado. E tudo porque uma empresa estava querendo plantar abacaxi para exportar para a Europa”.

Nesse tempo de pesquisa para a reportagem, Melquíades viu sua principal fonte, o agricultor José Maria Filho ser alvo de crime de pistolagem: “Eu não sofri diretamente ameaças, mas sua fonte exclusiva ser assassinada com 19 tiros pelo que falava é uma forma de ameaça. Eu não senti esses tiros em mim, não estava no local, mas ouço até hoje o barulho deles. Se essa matéria partiu de uma emoção minha? Sim. Mas eu acho que nós só conseguimos fazer jornalismo se houver emoção. Eu não conseguiria narrar a dor dessas pessoas se não tivesse doído em mim também”, concluiu emocionado.

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