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terça-feira, julho 8, 2025

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Pesquisa mapeia percepção de jornalistas sobre fusões e aquisições na indústria informativa brasileira

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Os desafios enfrentados pelas empresas jornalísticas nos dias de hoje são inúmeros. Como financiar suas atividades e de que forma competir em pé de igualdade com as companhias de tecnologia – que, embora não sejam genuinamente jornalísticas, muitas vezes disputam o mesmo público – são alguns dos principais. Experiências internacionais mostram que operações de fusões e aquisições foram a saída para muitos negócios.

“Em todo o mundo, houve empresas que viram nas fusões e aquisições as respostas necessárias às mudanças de mercado”, afirma Leandro Vieira, aluno do programa de mestrado em Produção Jornalística e Mercado da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “De 2002 a 2007, as indústrias de publicações impressas adquiriram mais de 350 companhias de tecnologia de informação, por exemplo. O impacto dessas junções foi sentido no âmbito da criação de conteúdos digitais, distribuição eletrônica, incremento de competências e concepção de novos serviços”.

Para entender mais a fundo como os jornalistas brasileiros percebem movimentações de fusões e aquisições na indústria informativa do Brasil, Leandro estruturou uma pesquisa. “A intenção é saber o que os profissionais que integram a linha de frente das redações pensam a respeito. Se veem essas movimentações como oportunidade ou ameaça; captar se a mentalidade tende a ser aberta ou resistente a essas operações”, diz.

Como contribuição acadêmica e ao setor, a pesquisa espera deixar mapeada a visão dos profissionais de imprensa acerca do tema. “Ainda há, aqui no Brasil, um território imenso a ser explorado nessa área”, observa Leandro. “Queremos, com esse trabalho, deixar minimamente iluminado o caminho de quem optar por recorrer a essas operações para incrementar as operações das empresas jornalísticas, seja por razões financeiras ou para agregar competências”.

Quem quiser responder deve acessar o formulário online.

+Admirados: cerimônia de premiação será em 12/11, em São Paulo

Prémio+ Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças

Em almoço com a presença de 120 convidados, será realizada na próxima segunda-feira (12/11) a cerimônia de premiação da edição 2018 do Prêmio Os +Admirados da Imprensa de Economia, Negócios e Finanças. Serão homenageados com certificados e troféus os Top 50 (este ano com 52 premiados, em função de empate na pontuação nos dois turnos de votação) e os veículos/programas mais admirados nas categorias Jornal (Valor Econômico), Revista (Exame), Programa de TV (Conta Corrente/GloboNews), Programa de Rádio (Jornal da CBN), Site/Blog (Infomoney) e Agência de Notícias (Agência Estado/Broadcast).

Uma das atrações do encontro será a apresentação, em primeira mão, da síntese do estudo da Deloitte sobre as expectativas empresariais no Governo Bolsonaro, realizado logo após o segundo turno das eleições presidenciais. Quem fará a apresentação será o líder de Market Development da empresa, Othon Almeida. Também falarão na solenidade Sérgio Cutolo, sócio do BTG Pactual, e Renato Gasparetto Jr., diretor Corporativo de Assuntos Institucionais, Comunicação e Responsabilidade Social do Grupo Gerdau. A mestre de cerimônias será a jornalista Fátima Turci.

Iniciativa deste J&Cia e do Portal dos Jornalistas, em parceria com a Maxpress, o Prêmio +Admirados conta com o patrocínio de BTG Pactual, Deloitte e Gerdau, apoio da Avianca Brasil, apoio institucional de Abracom, Abrasca e Ibri, e colaboração da Mestieri PR.

Um especial sobre a premiação circulará na próxima edição de Jornalistas&Cia.

Meia Hora tem novo site com equipe dedicada

Marco Rocha (esq.) e Ricardo Calazans
Marco Rocha (esq.) e Ricardo Calazans

O jornal Meia Hora ganha um site novo, com equipe própria, pela primeira vez desde 2005, quando nasceu. O projeto foi desenvolvido por Ricardo Calazans, responsável pela operação digital da editora O Dia desde março deste ano. Marco Antônio Rocha foi contratado para ser o editor do site, e montou uma equipe afiada para tocar o barco. Henrique Freitas, editor do Meia Hora impresso, está animado com o novo suporte.

Calazans (ricardo.calazans@odia.com.br) começou no jornalismo nos anos 1990, esteve em O Globo, O Dia e no Jornal do Brasil, em publicidade, agência de comunicação, no Gshow da TV Globo, e abriu uma empresa de conteúdo, tendências e entretenimento. Nesse meio tempo, teve um convite para voltar a O Dia, como editor executivo, respondendo pela parte digital. Seus primeiros seis meses foram dedicados a reorganizar o site do jornal e, logo depois, o do Meia Hora.

Rocha (marco.rocha@meiahora.com) trouxe para a equipe os repórteres-redatores Rodrigo Teixeira, Jessyca Damaso e Nathalia Duarte, e eles contam ainda com três estagiários. O novo site não traz mudanças, mas a implementação do que é o Meia Hora: foco local, bem-humorado quando possível – quando não, disposto a puxar a orelha das autoridades. Mas não apenas isso: como não há limite de espaço na internet, o jornal deve ressaltar a prestação de serviço.

Vai haver, também, mais convergência de vídeo. Ainda em novembro, estreia uma série com as pessoas que conseguiram “se virar” dentro da crise. Há exemplos de quem vendia brownie para pagar a faculdade, transformou a atividade em empresa, tem hoje cerca de 70 funcionários – e podem inspirar outras pessoas.

Está prevista uma campanha no Facebook, com personalidades e famosos, chamando os leitores para conhecerem o novo site. Calazans resume: “É um trabalho orgânico, de construção de uma base de leitores. Nossa expectativa é de uma audiência bacana, porque seguimos a linha do Meia Hora, agora com destaque também na internet”.

A Cidade, de Ribeirão Preto, extingue versão impressa, mas segue online

A capa da última edição

A versão impressa de A Cidade, que circulou em Ribeirão Preto por 114 anos, saiu pela última vez em 30 de outubro. O Grupo EPTV, afiliado da Globo em regiões do interior paulista e sul de Minas Gerais, que detinha o controle do jornal desde 2012, já vinha reduzindo sua circulação – ultimamente era de terça a sábado –, pois o foco é concentrar os investimentos na versão online, ACidade ON.

Josué Suzuki, diretor de Mídias Digitais do Grupo EPTV, que também comandava o jornal, fez questão de destacar a J&Cia que o projeto digital não é apenas um site da cidade: “Trata-se de uma rede de portais. Por enquanto, estamos em Ribeirão, Araraquara, São Carlos e Campinas. Em outubro, passamos de 20 milhões de visualizações e mais de dois milhões de visitas únicas. Só em Ribeirão, foram mais de 7,5 milhões de visualizações e mais de 750 mil únicas. O foco é o localismo em cada portal. Ou seja, só suspendemos uma versão impressa. Mas em nome de um projeto digital grande e o grupo ainda abre portas na comunicação”.

Ele preferiu não falar sobre as demissões, ressaltando terem aproveitado profissionais de todos os setores: “Temos classificados na plataforma digital também e vamos iniciar, em dezembro, cobrança de assinatura. Por isso, preservamos alguns empregos no balcão de classificados e circulação. Além disso, temos um Clube do Assinante. A gráfica continua rodando com terceiros”.

Em comunicado que distribuiu aos parceiros sobre o fim da edição impressa, o jornal afirma: “Nosso compromisso com Ribeirão Preto e região não termina aqui, pois acreditamos que o papel do jornalismo é de fiscalizar e informar, seja no impresso, no rádio, na TV ou na internet, zelando sempre pela notícia de qualidade. Um jornalismo que sempre escolheu um lado para lutar: o do cidadão. Mas, no dia em que anunciamos o fim dessa circulação impressa, o momento é de falar do futuro. Não se trata de passar uma borracha nos tempos de outrora — ele está preservado nos nossos quase 114 anos de histórias —, mas de pensar sempre à frente: do tempo, das tendências, do mercado. E acompanhar o ritmo do mundo. Um mundo que é digital”.

O Grupo EPTV também foi proprietário da Tribuna Impressa, de Araraquara, que adquiriu em 2011 e fechou no início de 2017. J&Cia apurou que a empresa, que já tem uma afiliada da CBN em Ribeirão, vai inaugurar outra em Araraquara, em dezembro.

TV Gazeta de SP demite 80, entre eles 30 jornalistas

Parte dos demitidos e dos que ficaram confraternizam na rua, com o prédio da Gazeta ao fundo: “Noiz tá sorrindo assim mas precisa de emprego, tá?”
Parte dos demitidos e dos que ficaram confraternizam na rua, com o prédio da Gazeta ao fundo: “Noiz tá sorrindo assim mas precisa de emprego, tá?”

Decisão praticamente extingue o Departamento de Jornalismo da emissora

O que o mercado paulista comentava já há algum tempo acabou se confirmando: na manhã de 5/11 a Fundação Cásper Líbero, mantenedora da TV Gazeta de São Paulo, demitiu 80 funcionários, entre eles 30 jornalistas, o que reduziu ao mínimo as atividades da área. A entidade justificou a medida como necessária para “equalizar suas despesas à realidade das receitas do momento” (ver mais adiante). Com isso, saíram o diretor Dácio Nitrini, há nove anos no posto, editores, produtores, repórteres, apresentadores e comentaristas, além de pessoal técnico e administrativo. Permaneceram apenas 14 profissionais.

Especula-se qual teria sido o papel da Igreja Universal no episódio. Sabe-se que a receita que ela injetava na Gazeta com a compra de horários na grade subsidiava o Jornalismo. O contrato venceu no final de setembro, o que tecnicamente extinguiu a fonte de recursos. Mas em 1º/11, sem aviso prévio, ela voltou a ocupar os mesmos horários de antes: das 6h às 7h e das 20h às 22 horas. Os valores dessa negociação não são conhecidos.

Segundo J&Cia apurou, além de Dácio, saíram o chefe de Redação Wagner Kotsura, o editor-chefe Sérgio Galvão, a chefe de produção e reportagem Juliana Kunc Dantas, as produtoras Laísa Dall’Agnol e Paula Forster, a estagiária de produção Isabela Gomes, os editores de texto Rodrigo Rodrigues, Gabriela Forte, Ione Veloso, Aline Alhadas, Regiane Stella Jouclas e Marcelle Sansão, a responsável por rede Suellen Fontoura,  os repórteres Vinícius Marra, Sabrina Pires, Carla Rodeiro e Mariana D’Angelo (que havia saído do Departamento de Mídias Sociais da Fundação e conseguiu voltar), os apresentadores Gabriel Cruz, Stella Gontijo e Rodolpho Gamberini (que estava em Paris), os produtores de switcher Paulo Camilo Silva e Natália Gallego, e os comentaristas Vinícius Torres Freire, João Batista Natali, José Nêummanne Pinto, Denise Campos de Toledo, Bob Fernandes e Joseval Peixoto, recentemente contratado. Caio Canavieira e Bárbara Fava não haviam sido demitidos, mas decidiram sair, o que permitiu a readmissão de dois dos que haviam sido cortados.

Permanecem na emissora a editora executiva Valeska Stanczik, a subchefe de reportagem Lígia Neves (readmitida), os produtores Igor Franca (readmitido) e Caroline Machado, o estagiário de produção Fernando Oda, os editores de texto Rodrigo Oliveira e Kátia Gonzaga, o produtor de switcher Felipe, os apresentadores Luciana Magalhães, Mariana Armentano e Tássia Sena, os repórteres Luciano Penteado e Fernanda Azevedo, e o comentarista em Brasília Josias de Souza.

Procurada por J&Cia, a Fundação Cásper Líbero limitou-se a enviar uma nota informando que “está promovendo uma reestruturação interna, com o objetivo de equalizar suas despesas à realidade das receitas do momento e, com isso, preservar seu equilíbrio financeiro e manter os resultados econômicos administráveis. Essa reestruturação tem foco prioritário na TV Gazeta, devido à situação macroeconômica, cujos efeitos têm atingido continuamente o setor de comunicações, com uma forte retração no mercado publicitário”. E prossegue: “O impacto dessa decisão na TV Gazeta inclui a redução substancial da Central de Jornalismo, área que demanda subsídio majoritário da Fundação Cásper Líbero, incompatível com as possibilidades do momento, além de outras reduções em pessoal, colaboradores e contratos de terceiros. Na programação, serão cancelados os boletins jornalísticos exibidos durante os programas femininos e o Jornal da Gazeta Edição das Dez. A TV Gazeta informa que seus planos são incrementar a produção de jornalismo o mais breve possível, tão logo a situação econômica permita, com o devido apoio do mercado publicitário”.

Simpósio promove discussão sobre Violência como supressora da liberdade de expressão

Simpósio

A Universidade de Notre Dame (EUA) e a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP) promovem o simpósio Violência como supressora da liberdade de expressão e Impedimento para a democracia, nesta quinta-feira (8/11),  na Faculdade de Direito da USP (largo de São Francisco, 95 ), das 9h às 16 horas.

Entre os palestrantes estão Elvira Lobato, Leonardo Sakamoto, Eugênio Bucci e a gerente-executiva da Abraji Marina Atoji. Inscrições gratuitas.

Comprova encerra atividades desmentindo mais de 90% das notícias analisadas

Projeto Comprova

Após o término da campanha eleitoral de 2018 no Brasil, o projeto Comprova também encerrou as verificações de conteúdos duvidosos que circulam nas redes sociais e no WhatsApp. Por 12 semanas, a coalizão de 24 veículos de comunicação monitorou e verificou a veracidade de informações compartilhadas por fontes não oficiais nas redes sociais e em aplicativos de mensagens. No radar estavam conteúdos duvidosos cuja capacidade de causar danos às campanhas eleitorais era evidente.

Segundo balanço divulgado pelos editores do projeto, nesse período foram analisadas 146 histórias, sendo que apenas nove eram verdadeiras. “O resultado das verificações do Comprova é um alerta para a sociedade e uma reafirmação da necessidade de uma imprensa independente, atuante, transparente e confiável”, destacou Sérgio Lüdtke, um dos editores do projeto. ”Obrigado a todos por colaborarem com a criação de um ambiente informativo mais saudável”.

Além dele, integraram a equipe os editores Guilherme Conter, Helio Miguel Silveira Filho, José Antônio Lima, Rafael Garcia e Ricardo Pieralini. Os verificadores foram Alessandra Monnerat (Estadão), Cido Coelho (SBT), Debora Ely (GaúchaZH), Douglas Rodrigues (Poder360), Fernanda Trisotto (Gazeta do Povo), João Pedro Caleiro (Exame), João Pedroso (Veja), Júlia Endress (Correio do Povo), Leticia Alves (O Povo), Marcella Ramos (piauí), Matheus Pimentel (Nexo), Pablo Fernandez (BandNews FM), Paula Peres (Nova Escola), Pedro Noel (AFP), Renato Mota (Sistema Jornal do Commercio), Roelton Maciel (NSC), Sarah Mota Resende (Folha de S.Paulo), Vinicius Valfré (Gazeta Online) e Wellington Ramalhoso (UOL).

A tragédia de Mariana, pelos olhos de Cristina Serra

Cristina Serra
Cristina Serra

Cristina Serra, que aos 19 anos já militava no Jornal Resistência, da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, e naquele início da carreira de repórter (1982) arriscava-se na oposição à ditadura militar, lançou em 6/11, no Rio de Janeiro (Livraria da Travessa do Shopping Leblon), pela Editora Record o livro Tragédia em Mariana – A história do maior desastre ambiental do Brasil, que completa três anos em 5 de novembro.

Cristina, que teve passagens por Jornal do Brasil, TV Globo – onde também atuou como correspondente em Nova York – e atualmente está no canal de jornalismo online MyNews, propôs-se a relatar em livro as múltiplas perspectivas de uma tragédia de enorme magnitude.

Segundo ela, para que a complexidade do fato pudesse ser adequadamente narrada, foi necessário “explicar os aspectos técnicos da construção, operação e funcionamento da barragem de Fundão, bem como os diversos impactos ambientais, sociais, econômicos e jurídicos da inundação de lama, o que exigiu incontáveis horas de entrevistas com peritos, investigadores, servidores públicos, engenheiros, funcionários e dirigentes das três empresas envolvidas no desastre, autoridades e especialistas de vários ramos que, com inesgotável paciência, ouviram minhas perguntas e esclareceram dúvidas”.

Faber Teixeira e Oswaldo Braglia, de Jornalistas&Cia Norte, conversaram com ela sobre como viu o maior desastre socioambiental brasileiro:

Jornalistas&Cia Norte – Naquele 5 de novembro de 2015, como foi seu contato com a tragédia e sua percepção inicial do que estava ocorrendo?

Cristina Serra – Assisti ao noticiário pela televisão e vi algumas imagens de celular que começaram a aparecer na internet. Tudo muito assustador. Mas só entendi realmente o que havia acontecido, a dimensão da catástrofe, quando cheguei ao local, alguns dias depois, para fazer uma reportagem para o Fantástico, onde eu trabalhava na época. Só vendo de perto para entender a magnitude do que aconteceu.

J&CiaN – Ao acessar o complexo da Samarco, onde estava situada a barragem que rompeu, pela paisagem remanescente e o olhar das pessoas, era possível verificar que aquele era apenas o início de algo maior, que acabaria no litoral do Espírito Santo?

Cristina – Alguns especialistas apontaram essa possibilidade logo após o rompimento. Já nas primeiras horas depois do colapso da barragem, a lama de rejeitos de mineração alcançou afluentes do rio Doce. Era uma questão de dias para que aquela massa descomunal chegasse ao mar, como chegou, pouco mais de duas semanas depois. E chegou densa e compacta. A lama não se diluiu ao longo de mais de 600 quilômetros percorridos nos rios.

J&CiaN – Em um trecho da canção Notícia de Jornal, de Chico Buarque, o poeta diz que “a dor da gente não sai no jornal”. Com que intensidade esse sentimento, de vidas que desabaram com a barragem de Fundão, contribuiu para a decisão de escrever o livro?

Cristina – Esse verso tão pungente e tão verdadeiro da canção de Haroldo Barbosa e Luís Reis está na epígrafe do livro e norteou-me durante todo o trabalho. Esse desastre pode ser explicado com muitos números: 34 milhões de m3 de lama vazados; 38 municípios atingidos; 660 quilômetros percorridos pela lama etc. Mas o número que mais me interessava era o de vítimas: 19 mortos, sendo cinco moradores do povoado de Bento Rodrigues e 14 trabalhadores que estavam na Samarco (12 terceirizados, um empregado da mineradora e um vendedor de uma empresa de São Paulo que estava lá no dia do colapso). E mais do que o número, eu queria saber quem eram as pessoas por trás das estatísticas. Entrevistei as famílias de 12 vítimas. As outras, por motivos variados, não quiseram falar e respeitei o seu silêncio.

J&CiaN – Durante o período de produção do livro, colhendo depoimentos, lendo, analisando documentos e relatórios, em algum momento você sentiu que seu trabalho pudesse ser ou estava sendo “atrapalhado” por parte das empresas e autoridades envolvidas no acidente?

Cristina – O único órgão público que procurei e que não quis me atender foi o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), que deveria ter sido rigoroso na fiscalização da barragem e não foi, segundo mostra a investigação oficial. Eu queria ouvi-los sobre isso, mas não foi possível. As três empresas foram ouvidas por meio de seus porta-vozes e suas explicações estão contempladas no livro. A Samarco permitiu, inclusive, que eu entrasse na área do desastre duas semanas depois, para uma reportagem exclusiva também para o Fantástico. Depois voltei lá, quando já estava escrevendo o livro.

J&CiaN – As dificuldades em entrevistar familiares e amigos dos 19 mortos prejudicaram de alguma forma a narrativa, dado o silêncio de algumas dessas testemunhas? Alegaram motivos para não expressar suas opiniões?

Cristina – Não tive dificuldade de apurar informações para essa narrativa. Entrevistei e/ou conversei com mais de cem pessoas, inclusive algumas que foram tragadas pela lama e, milaculosamente, sobreviveram. A lama não era só lama. Junto com ela vieram veículos, pedras gigantescas, pedaços da barragem, árvores, equipamentos etc. Era uma massa de material sólido levando tudo pelo caminho. As pessoas me contaram com muita riqueza de detalhes tudo o que viveram. Há um personagem incrível no livro, Romeu, que estava na crista da barragem, a cerca de três metros do local exato do rompimento. Ele afundou na lama e sobreviveu. É uma história extraordinária. Ele se pergunta até hoje como conseguiu sair da lama. Empregados da mineradora que ajudaram os bombeiros no resgate dos sobreviventes também me contaram, com muito boa vontade, como foi o trabalho. Como eu disse antes, apenas as famílias de sete terceirizados que morreram não quiseram falar. Percebi que, para alguns, é doído falar sobre isso.

J&CiaN – Você vem de um estado (Pará), onde a exploração mineral ocorre com a mesma intensidade que a região de Minas Gerais. Recentemente, a empresa Hydro Alunorte foi flagrada, além do transbordo de sua barragem, despejando dejetos nas águas que servem ao município de Barcarena. Como você enxerga a mineração na Amazônia?

Cristina – Fiz poucas coberturas sobre mineração na Amazônia e todas elas sobre garimpos ilegais. O que sei sobre a mineração em grande escala é que, tal como em Minas Gerais, é uma atividade basicamente extrativa, destinada, sobretudo, ao mercado externo, sem estar associada à produção de valor agregado, que geraria maior número de empregos e desenvolvimento regional. Sem falar no passivo ambiental. Ninguém vive sem os minerais. Eles estão no nosso cotidiano. Mas a atividade da mineração no Brasil tem que ter mais responsabilidade social e ambiental.

J&CiaN – De certa forma, as lutas sociais por demarcação de terras indígenas e quilombolas, além da preservação do modo de vida das populações ribeirinhas da Amazônia, dão uma espécie de “barreira” ao avanço dos interesses econômicos. Na possibilidade de Bolsonaro partir para a desregulamentação do código florestal e negar demarcações e/ou reconhecimento das terras onde habitam essas etnias, como já anunciou, o jornalismo poderia tornar-se um instrumento para coibir abusos? Você frustrou-se com a morosidade e praticamente impunidade que ocorreu no caso de Mariana?

Cristina – De fato, é frustrante ver que três anos depois do desastre o processo criminal ainda esteja, digamos, engatinhando. O juiz responsável pelo caso começou a ouvir as testemunhas em junho deste ano e a perspectiva de um desfecho para breve é inexistente. O processo tem mais de 400 testemunhas, quase todas de defesa dos réus. Infelizmente, acho que há um risco muito grande de prescrição dos crimes apontados pelo Ministério Público Federal. Mas o processo está em andamento e é preciso aguardar. Como jornalista, acho que cumpri o meu papel. O livro traz muitas informações inéditas sobre o processo de licenciamento da barragem, cheio de falhas e omissões graves; erros na gestão de risco da estrutura, além, claro, das histórias das vítimas e dos impactos ambientais na bacia do rio Doce. No próximo governo, acho que o jornalismo será ainda mais demandado e deve ficar atento porque, como você expôs na sua pergunta, os riscos para determinadas comunidades tenderão a se agravar enormemente. Espero que o jornalismo cumpra o seu papel.

Com ingressos esgotados, Jatobá PR será entregue nesta quinta-feira

Hotel

Evento acontecerá no Renaissance Hotel, em São Paulo, a partir de 19h30

A entrega do Troféu Jatobá PR nesta quinta-feira (8/11), no Renaissance Hotel, em São Paulo, será com casa cheia. Os 200 lugares disponíveis esgotaram-se na última segunda-feira. São 39 agências finalistas, 83 cases classificados e 11 as categorias em disputa, nos segmentos Grande Agência e Agência-Butique. Também estarão em disputa os troféus de Agência do Ano, Agência-Butique do Ano e Case do Ano.

Única premiação de PR no mundo a contemplar agências-butique e também única premiação latino-americana com origem no continente, o Prêmio Jatobá PR tem como principal novidade este ano a extensão da premiação aos clientes, tanto com certificados de finalistas quanto com troféus de vencedores.

Iniciativa do Gecom – Grupo Empresarial de Comunicação, do qual fazem parte as empresas Business News Online, Jornalistas Editora, Maxpress e Mega Brasil –, o Prêmio Jatobá PR conta com apoio institucional de Abracom e Conrerp 2ª Região, mais o patrocínio da Boxnet ao jantar de premiação.

Por decisão do Gecom, serão concedidas este ano duas premiações especiais, o Troféu Destaque Grande Agência e o Troféu Destaque Agência-Butique.

Outras informações com Dalila Ferreira, no 11-5576-5600 ou dalilaferreira@megabrasil.com.br.

Evento discute a cobertura eleitoral

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O Festival 3i, que celebra e promove o jornalismo digital, prepara uma nova edição na região Nordeste. O evento vai discutir como a imprensa se saiu na cobertura eleitoral e como os jornalistas devem se preparar para o que vem pela frente. E trazer também exemplos de sucesso em termos de financiamento e inovação no jornalismo. O festival acontece no Recife, em 10/11, no campus da Universidade Católica de Pernambuco, em parceria com as plataformas Agência Lupa, Agência Pública, Brio, Jota, Nexo, Nova Escola, Ponte Jornalismo, Repórter Brasil e Google News Initiative.

A primeira edição foi em novembro do ano passado, no Rio de Janeiro. Diante do sucesso do evento, com a participação de centenas de jornalistas, empreendedores e comunicadores do Brasil e de outras partes do mundo, este ano o Festival 3i pega a estrada e vai para outras regiões do País. A primeira edição pocket foi realizada em Belo Horizonte, em junho, e a segunda em Porto Alegre, em setembro.

No Recife, o tema central será olhar para o futuro. Serão três painéis, cada um com diversos palestrantes, abordando a cobertura eleitoral e o futuro do jornalismo, inovações tecnológicas que enchem os olhos, além de como ser bem-sucedido em levantar fundos para uma iniciativa jornalística. Entre os convidados desta edição estão Daniela Pinheiro, chefe de Redação da revista Época; Beatriz Ivo, do Comitê Gestor de Conteúdo do Sistema Jornal do Commercio e diretora de Jornalismo da TV e Rádio Jornal; Cristina Tardáguila, da Agência Lupa de fact checking; Saulo Moreira, assessor de comunicação do Tribunal Regional Eleitoral; e Helena Portilho, do projeto de videodocumentário Além da Cura.

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