Faleceu em 2/4, por complicações em decorrência de uma grave pneumonia, o jornalista Vilmar Berna. Um dos mais atuantes no jornalismo ambiental brasileiro, Berna tinha 64 anos e ao longo de sua carreira participou de vários movimentos em defesa da vida, da sustentabilidade e do patrimônio ambiental. Nascido em Porto Alegre, adotou Niterói como sua cidade e no Rio de Janeiro construiu toda sua carreira.
“Era um profundo conhecedor dos problemas ambientais e procurou fazer Jornalismo para combater o modelo de desenvolvimento que é predatório das riquezas naturais”, destacou a nota de pesar emitida pelo Sindicato dos Jornalistas no Estado do Rio de Janeiro, do qual ele foi diretor. Ainda pela entidade, participou da criação e lançamento do Prêmio Nacional de Jornalismo Ambiental.
Fundador e diretor da revista e jornal Rebia, nos quais compartilhava matérias, críticas e denúncias, com a colaboração de vários colegas ambientalistas, Vilmar Berna participou do movimento de despoluição da Baía da Guanabara e por sua trajetória nacional e internacional, sua luta, militância e dedicação à questão ambiental recebeu em 1999 o Prêmio Global 500, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
O prêmio foi entregue no Japão, pelo então imperador Akihito. Após receber a gratificação, Berna fez um discurso sobre a política japonesa de caça às baleias.
Jovem Pan estreia em maio canal de notícias para a TV
A rádio Jovem Pan anunciou a inauguração de um canal de notícias 24h para a TV, o 24: News Jovem Pan, que estará disponível em pacotes de TV por assinatura em negociação, no YouTube, na Fire TV (Amazon), na Pluto TV (ViacomCBS), e na Panflix, streaming do Grupo Jovem Pan. A estreia está prevista para maio.
A programação será composta por noticiário ao vivo: 16 horas de programas novos e oito horas de atrações já realizadas pela empresa, mas com visual e vinhetas repaginados, como Jornal da Manhã, 3 em 1, Pânico, entre outros. Para o novo projeto, a empresa montou dois estúdios digitais, somando agora um total de seis, e contratou o jornalista Humberto Candil para tocar o projeto.
“Vai ser um canal novo, para competir com BandNews, Record News, CNN, Globo”, declarou Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, CEO da Jovem Pan. O empresário lembrou que a história de sua família está ligada à televisão: seu avô foi dono da Record TV, e seu pai foi responsável por programas como Show do Dia 7, Esta Noite se Improvisa e Família Trapo. “Sinto que eu estou revivendo um pouco a história da minha família”, disse.
Para monetizar a nova propriedade, a empresa pretende estabelecer maior presença multiplataforma, firmando-se como canal de TV e de internet.
Documentário expõe assédio sexual por um dos mais famosos comentaristas esportivos na França
O documentário Não sou uma vadia, sou uma jornalista! denuncia casos de assédio sexual cometidos por Pierre Ménès, um dos mais famosos comentaristas esportivos da França. O filme foi produzido por Marie Portolano, uma das vítimas.
O caso gerou polêmica no jornalismo francês, pois o Canal+, que empregou Portolano e ainda tem Ménès como contratado, cortou a edição final do documentário, protegendo assim o abusador, que não foi punido pela emissora.
Entenda a história e confira imagens dos ataques do comentarista a outras jornalistas em MediaTalks by J&Cia.
A ministra Carmen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu em 30/3 uma decisão que determinava a retirada de texto de checagem de fatos do site da Folha de S.Paulo e a publicação de uma retratação por parte do jornal. O conteúdo tratava da verificação de um vídeo com falas do médico Drauzio Varella sobre a pandemia, postado nas redes do senador Marcos Do Val (Podemos-ES). A decisão havia sido proferida pelo juiz da 5ª Vara Cível de Vitória.
Na checagem, feita pelo Projeto Comprova e divulgada na Folha, o vídeo foi considerado enganoso por sugerir, em tom irônico, que o médico minimizou os impactos da crise sanitária. O vídeo não informa que Varella veio a público admitir ter subestimado a doença e esclarecer que tinha mudado de opinião.
No pedido original, o senador exigiu também uma retratação por parte da Folha, negada pela ministra do STF. A defesa do jornal alegou que a publicação de uma retratação se utiliza da previsão legal para o direito de resposta, mas não se tratam dos mesmos institutos, gerando uma confusão que não poderia ser admitida pela justiça. O processo continua para o julgamento dos recursos apresentados na segunda instância.
Profissionais e veículos de imprensa peruanos formaram a Ama Llulla, rede de checagem de fatos para combater fake news. As verificações estão disponíveis em línguas indígenas, com o objetivo de levar informações para quem não fala espanhol no país.
A ideia é combater a onda de desinformação que aumentou por causa das eleições no Peru, que ocorrerão no próximo domingo. Jornalistas estão sendo processados por denúncias envolvendo candidatos.
InfoMoney e XP realizam série de lives sobre um ano de pandemia
InfoMoney e XP organizam a série Super Lives – 1 ano de pandemia, que entrevista empresários, executivos de empresas, integrantes do governo, especialistas em saúde, economistas e investidores sobre os impactos da pandemia e as perspectivas para o pós-crise.
O primeiro convidado de série foi o ministro da Economia Paulo Guedes, que falou sobre os planos do governo para 2021, a agenda de reformas e como o Brasil pode sair da crise. A conversa foi mediada por Rafael Furlanetti, sócio e diretor institucional da XP; Giuliana Napolitano, editora-chefe do InfoMoney; Junia Gama e Paulo Gama, analistas de política da XP; e Caio Megale, economista-chefe da XP.
Entre os palestrantes confirmados para os outros dias estão Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central; Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan; Hamilton Mourão, vice-presidente da República; Carlos Brito, CEO da AB InBev; Miguel Patricio, CEO da Kraft-Heinz; Nathalia Pasternak, presidente do instituto Questão de Ciência; Edécio Cunha, chefe do laboratório de bioquímica do InCor; Pedro Jobim, sócio da Legacy; e Luiz Fernando Figueiredo, sócio da Mauá. As lives vão ao ar no canal do InfoMoney no YouTube.
Incêndio criminoso foi causado por homem em uma moto
Sequência do atentado contra o jornal Folha da Região, de Olímpia
A Delegacia de Polícia de Olímpia, no norte de São Paulo, divulgou em 1º de abril o nome do suspeito de incendiar a sede do jornal Folha da Região. No que pode até soar como uma pegadinha do Dia da Mentira, Claudio José de Azevedo Assis, integrante do Corpo de Bombeiros da cidade, confessou ter ateado fogo no sobrado onde também vive o dono do veículo, o jornalista José Antônio Arantes. O crime ocorreu na madrugada de 17 de março.
O militar se apresentou espontaneamente à delegacia, na tarde de 31/3, quando, segundo autoridades, assumiu a autoria do incêndio. A polícia civil já suspeitava que o ato teria sido uma resposta ao posicionamento do jornal em defesa de medidas científicas e legais para enfrentar a pandemia de covid-19.
Em depoimento à polícia, o bombeiro disse que o ato foi “uma revolta contra a imprensa, que não estaria ajudando no combate à situação de crise sanitária”. Ele completou ainda desconhecer que a sede do jornal era também a casa do jornalista e que estava mentalmente “transtornado” por questões pessoais.
Segundo o delegado, oito dias depois do atentado à sede do jornal, a irmã do bombeiro registrou seu desaparecimento. A partir de uma câmera de segurança, os policiais descobriram que o militar saiu de casa na madrugada do dia do crime com uma mochila, por volta de 4h10, cerca de 10 minutos antes do crime. De acordo com o delegado, o bombeiro afirmou ter agido sozinho.
Questionado pela Abraji sobre o motivo de não ter solicitado a prisão preventiva diante das provas, o chefe da investigação declarou ter havido “uma apresentação espontânea, além de ele ter a ficha limpa e residência e emprego fixos”.
No entanto, para o dono do jornal incendiado, José Antônio Arantes, a identificação do suspeito não trouxe segurança. “É difícil imaginar que uma pessoa treinada para salvar vidas possa cometer esse crime. O fogo poderia ter se alastrado. Você acha que um bombeiro não saberia disso? Que poderia ter matado uma vizinhança inteira? É inconcebível”, afirmou o dono do jornal. Arantes teme que o bombeiro possa ser acometido de um “novo surto psicótico”.
O jornalista não descarta a possibilidade de o crime ter sido encomendado por pessoas descontentes com a sua cobertura da pandemia, que poderiam voltar a atacá-lo.
Em nota, a Prefeitura de Olímpia manifestou repúdio à conduta do servidor público, que atuava na unidade local do Corpo de Bombeiros do Estado havia mais de 20 anos. “Diante da gravidade do fato, o município informa que irá afastar o servidor de suas funções e instaurar um processo administrativo para apurar a ocorrência, tendo em vista que, mesmo que tenha sido uma ação particular ocorrida fora do expediente, o ato é totalmente incompatível com os princípios do cargo público que o mesmo ocupa”.
Nas redes sociais, o bombeiro, além de se manifestar contra as medidas restritivas de combate à pandemia, se posiciona em favor do governo de Jair Bolsonaro e de medidas antidemocráticas, como o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF).
Postagem do bombeiro Claudio Assis no Facebook pelo fechamento do STF
Leticia Kleim, assistente jurídica da Abraji, que monitora alertas de ataques à liberdade de expressão afirma que o caso chama atenção de como as campanhas de estigmatização contra a imprensa, protagonizadas pelo poder público federal, podem resultar em ataques ainda mais graves que colocam em risco a vida e integridade física dos jornalistas, além de ameaçar o ambiente democrático.
Um dia depois de Joinville registrar sua milésima morte por Covid-19, a grande repercussão na cidade do norte catarinense ficou por conta da capa de sexta-feira (2/4) do jornal ND. Abaixo do número total de mortos (1.005) e de casos recuperados (70.865), o jornal trazia uma mensagem de otimismo, que ignorava o tamanho da tragédia: “Temos motivos para comemorar”.
A publicação, que pertence ao Grupo ND, o mesmo que retransmite a Record TV em Santa Catarina, é conhecida por adotar uma postura de amenizar os impactos da pandemia, destacando os “lados positivos” do drama.
No texto não assinado na página 3, o jornal seguiu contemporizando a marca simbólica: “Contudo, o cenário também pode ser visto de forma positiva, pois mais de 70 mil pessoas contraíram a doença e estão recuperadas”, destacou o texto, publicado ao lado da foto de um bebê de sete meses, a vítima mais jovem de Covid-19 na cidade. “O cenário em uma pandemia geralmente é de caos. O número elevado de mortes todos os dias assusta e, muitas vezes, deixa a população em pânico. Mas há formas de enxergar o problema positivamente”, completa.
Após a péssima repercussão gerada pelo caso, o ND publicou um editorial em sua edição de sábado (3/4), em que justificou seu posicionamento, porém sem reconhecer ter cometido um erro. O que houve, na visão do jornal, foi um problema de interpretação dos leitores. “A citação ‘comemorar’, que ganhou destaque na capa da edição, foi interpretada de forma equivocada em relação à marca das 1.005 mortes registradas no município. Os dados se misturaram, já que a matéria principal do jornal digital é clara em relação aos casos de pacientes que consideram um milagre sair da UTI”, diz o texto.
“Tivemos a intenção de mostrar aos leitores do ND Joinvile que, apesar do número expressivo de óbitos na maior cidade do Estado por causa da covid-19, hoje epicentro da doença, havia também um número significativo de recuperados e que esse dado é motivo para renovar as esperanças de quem ainda não está vacinado e corre risco de vida”, completou o editorial.
* Com informações de Maurício Stycer, pala o Splash
Após mais de um mês intubado em decorrência da Covid-19, Henrique Flávio Neves faleceu neste domingo (4/4), aos 50 anos, em São Paulo. Com passagens por Record TV e Fox Sports, ao lado de Luiz Guerrero e Lucas Litvay ele fundou e comandava desde 2016 a Ali Produções, especializada em criação de conteúdo audiovisual para o mercado automotivo.
Internado desde 20 de fevereiro na UTI, Henrique apresentou piora em seu quadro e foi intubado três dias mais tarde. Desde então, vinha sendo submetido a diversos tratamentos. Em 16 de março, após uma traqueostomia, apresentou uma ligeira melhora, mas não o suficiente para reverter a gravidade de seu quadro clínico.
A notícia de sua morte foi confirmada no início da tarde deste domingo pelo seu sócio Lucas, que vinha mantendo jornalistas e assessores informados sobre o caso. “Você foi um exemplo de amigo, de homem, de empreendedor, de sócio. Jamais vou te esquecer, Henrique Flávio Neves! Descanse em paz, meu amigo”, destacou o jornalista.
Pela Ali, Henrique participou de diversos projetos capitaneados pela Jornalistas Editora, responsável por este Portal dos Jornalistas e pelas newsletters Jornalistas&Cia e J&Cia Auto. Em 2020, em decorrência da pandemia, a produtora foi responsável por levar as cerimônias dos prêmios +Admirados da Imprensa Automotiva e +Admirados da Imprensa de Economia, do ambiente físico para o digital. Ambas as cerimônias, disponíveis no YouTube, foram extremamente elogiadas pelo público, jornalistas homenageados e empresas patrocinadoras.
Lucas Litvay (esq.) e Henrique Neves (dir.) na festa em homenagem aos 50 anos de carreira de Fernando Calmon (centro). O evento foi promovido pela Jornalistas Editora, com produção audiovisual da Ali.
Seu corpo está sendo velado na manhã desta segunda-feira (5/4), até o meio-dia, no Funeral Morumbi (Av Giovanni Gronchi, 1358). Respeitando os protocolos de segurança impostos pela pandemia, haverá limitação na sala e revezamento para que todos possam prestar suas últimas homenagens.
Manhã tranquila na redação do Estadão, o telefone toca, o recado é breve: “Bebeto, vem pra cá; trouxeram uns candirus de Santarém e o peixe é vampiro mesmo, o estômago está cheio de sangue; não é lenda, não”.
O telefonema era do João Luiz Cardoso, diretor do Hospital Vital Brasil do Instituto Butantã, e com ele, no laboratório apertado, comprovei que a crendice dos índios, que não deixam mulher nadar pelada no rio Amazonas – tem que pôr calcinha -, tinha razão de ser.
A lenda é que o candiru, Vandella cirhosa, bagre minúsculo, comprido e fininho, entra na vagina das mulheres menstruadas para se alimentar do sangue e é impossível arrancá-lo depois que abre as espinhudas barbatanas laterais.
Candiru
Histórias do candiru eram muitas entre os índios, todo mundo tinha ouvido. Só na década de 1980, porém, quando um amigo arrancou uns candirus de um cavalo morto que descia de bubuia pelo rio e mandou num vidro com álcool para o Butantã, foi possível ter certeza de que o peixinho se alimenta mesmo de sangue.
Tempos depois, acho que em 1997, médicos de um hospital de Belém comprovaram a outra parte da lenda, ao retirar trabalhosamente e aos pedaços os restos de um candiru que morreu e apodrecia dentro da uretra de um pescador, cujo pilau consta que nunca mais funcionou.
O Butantã – onde naquele então ninguém sonhava que um dia teria que fazer vacina para a Covid – era o paraíso para o foquinha “repórter bichologista”, como me chamavam na redação.
Taturana assassina
Quando seringueiros do Pará começaram a sofrer e mesmo morrer de uma síndrome hemorrágica causada por uma lagarta do gênero Saturnidae, lá fui eu para o Butantã buscar a explicação científica.
Antes mesmo da entrevista, um entomólogo me deu luvas de borracha, uma tesourinha e uma caixa cheia de taturanas e disse que explicaria enquanto eu fosse depilando as lagartas, cortando os pelos urticantes, pois não havia tempo a perder. A ideia era macerar os pelos com a toxina, misturar o “suco de taturana” com água e injetar nos pobres cavalos do Butantã.
O processo, o mesmo usado para fazer soro antiofídico. Um nadinha de toxina é injetado, o organismo do cavalo reage, produz anticorpos, depois se injeta um pouco mais, mais ainda outra semana, até que o cavalo fica apto a neutralizar grandes quantidades de toxina. O animal é sangrado, o soro, separado e vira remédio para o humano que for picado por cobra – ou, no caso, queimado pela taturana.
Lagarta (Foto: Eduardo Cesar)
Acabei me encantando com as taturanas – “bichos sanfonados”, como as batizou a Táta – que, quando não matavam, acabavam se transformando em lindas borboletas, que ajudei a criar no Butantã. O problema é que na Amazônia o inseto comia folha de seringueira, mas aqui teve que mudar o cardápio, folha de nêspera… e não gostava muito.
A “taturana assassina”, segundo os jornais, revelou-se inócua no Sudeste. O Butantã recebeu alguns casos de queimaduras vindos do interior paulista, mas fora da Amazônia a toxina não provocava hemorragia. O contato com o bicho queimava, mas só isso – até hoje não se sabe o porquê.
Formiga frita
De outra feita me chamaram ao Butantã porque um sauveiro nos jardins do Instituto “garrou a sortá içá em penca”, na explicação da faxineira mineira do hospital. Ela contou para os médicos que, na roça, fritava a bundinha da içá, “prá mode cumê cu farinha”, e eu tinha curiosidade sobre o “caviar brasileiro”, como Monteiro Lobato chamava o içá torrado, prato comum no seu Vale do Paraíba.
O fato é que uma vez por ano sai do sauveiro a revoada de içás e de bitus. O bitu, saúva macho, é mero objeto sexual, serve para cobrir as içás e morre depois de transar. A içá, porém, tem o abdômen em formato de bola, qual miniatura de jaboticaba, cheia de ovos e guarda o sêmen recebido que por anos vai fertilizando os ovos que formarão uma legião de formigas.
O pitéu era tão procurado que no tempo de Anchieta os paulistas eram chamados de “comedores de formiga”, pois – é ele quem conta – na época da içá os índios largavam o trabalho e, igaçaba na mão, iam caçá-las.
Pois o doutor João Luiz convenceu a faxineira mineira a fritar as bundinhas das içás que os funcionários – eu entre eles – trabalhosamente separávamos da cabeça do inseto com tesoura cirúrgica.
Içá
Não posso dizer que gostei do resultado, porém, o “caviar” do Lobato era muito gorduroso. Afinal, ovo de galinha ou de formiga é rico em colesterol e cada bundinha de içá estourava na boca liberando a pasta de ovinhos microscópicos que, talvez por falta de tempero no hospital, que só tinha soro antiofídico, ficou muito sem graça.
O Butantã deu outras histórias, que nem renderam reportagem, como quando acompanhei inoculação de veneno de aranha armadeira em ratos, que reagiam com intenso priapismo – isto é, uma ereção de dar inveja até ao Casanova. O tal veneno só não acabou resultando num antecedente do Viagra porque, embora durasse até quatro horas, a ereção provocada era extremamente dolorosa, como afirmava um dos meus amigos cientistas que, desconfio, testou o efeito da toxina na sua própria “ferramenta”.
O priapismo interessou tanto que levantamos a história de um batalhão da Legião Estrangeira que fez uma festa, no Norte da África, com as rãs que a população local caçava nos brejos. O que não se sabia é que as rãs tinham comido cantárida (Lytta vesicatoria), um besourinho cuja ingestão também provoca priapismo.
A história não deu reportagem, afinal o Estadão da época era pudico demais para falar em ereção, mas fez sucesso a história que levei ao ar na Rádio Eldorado, falando do susto dos médicos franceses ao entrarem no hospital de campanha do deserto e encontrarem todos os soldados de “bandeira” levantada, como se fosse em continência.
Mas essas são histórias do passado. A última vez que precisei do Butantã encontrei o dr. João Luiz semiaposentado, cuidando dos efeitos de uma epidemia de queimaduras de água-viva em Ubatuba. Fez questão de me explicar que era lenda que o remédio é urinar em cima da queimadura, o melhor é usar vinagre, que, entre outras vantagens, vem numa embalagem melhor do que a urina. Crendice, disse ele, e já avançado tecnologicamente, pediu que lhe mandasse foto do estranho caroço epidérmico que crescia no meu peito e que estava dando um baile nos dermatologistas de São Paulo.
Mal recebeu a foto, diagnosticou: “É berne, que você pegou no meio do mato”. E explicou que, muito safada, a mosca do berne bota os ovos nas costas de outra e esta, por sua vez, deposita os ovos da outra na pele da vítima desinfeliz – que, no caso, era eu.
Expliquei que no meu tempo berne se curava “ponhando toicinho na ferida” e lá veio a explicação científica: “O tratamento não mudou; a feridinha é o orifício que a larva do berne abre na pele para poder respirar”. Quando você tapa essa abertura com toucinho, a larva se desespera, sobe para dentro do toicinho em busca de ar e você fica livre do parasita. Hoje, porém, não se mata berne como antigamente, explicou, é mais prático colocar um esparadrapo bem apertado em cima, esperar um tempo, a larva sobe em busca de ar, fica grudada… e você está vingado.
E não é que deu certo? Nada como se consultar com um “bichologista” mais sabido que eu.
Luiz Roberto de Souza Queiroz
A história desta semana é novamente de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto, assíduo colaborador deste espaço, que esteve por muitos anos no Estadão e hoje atua em sua própria empresa de comunicação.