A sede do jornal Folha da Região, de Olímpia, no norte de São Paulo, foi alvo de um incêndio criminoso na madrugada de 17 de março. A polícia suspeita que o ato tenha sido uma resposta ao posicionamento do veículo em defesa de medidas científicas e legais para enfrentar a pandemia.

O caso está sendo investigado pela Delegacia de Polícia da Estância Turística de Olímpia, a cerca de 400 km da capital paulista. Ao UOL, o delegado Marcelo Pupo de Paula contou que câmeras de segurança de uma loja próxima ao jornal flagraram o momento em que um motociclista estacionou, lançou o combustível e ateou fogo no sobrado, onde também vive o dono do jornal, o jornalista José Antônio Arantes.

“Fica claro que a pessoa joga um líquido por baixo da porta, coloca fogo e foge na sequência. Há fortes indícios de que tenha sido criminoso, mas ainda estamos trabalhando para tentar identificar esse motoqueiro”, informou o delegado ao UOL.

Por volta das 4h30, Arantes, sua mulher e sua neta acordaram com latidos dos cachorros da família e perceberam que estavam sendo sufocados pela fumaça. Mesmo depois de se deparar com chamas muito altas, pai e neta se salvaram sem ferimentos. A esposa de Arantes teve queimaduras leves em um dos braços ao tentar salvar objetos de casa.

Além de abrigar a redação do jornal mais antigo da cidade, o único que circula em papel, na sede funcionam o portal IFolha e uma rádio comunitária do mesmo grupo. Arantes apresenta um programa com ênfase em notícias locais, de segunda a sexta-feira, transmitido pelo Facebook, YouTube, e também pela rádio Cidade.

Sequência do ataque registrada por câmera de segurança / Montagem: Folha da Região

Desde que publicou artigos condenando o comportamento negacionista do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados sobre a Covid-19, o jornalista diz que tem sido vítima de intimidações e ameaças.

Dias antes, em 12 de março, um carro do jornal que levava as edições impressas a São José do Rio Preto, começou a ser seguido numa rodovia. O homem chegou a ameaçar encostar na lateral do veículo. “Achei que fosse uma brincadeira de mau gosto. Depois descobrimos que o carro do jornal amanheceu com pneu furado e os parafusos das quatro rodas tinham sido afrouxados”, comentou Arantes.

“Estou há 40 anos na profissão, comecei minha carreira já no final da ditadura e não vou abrir mão de lutar pelo meu povo e contra qualquer tipo de terrorismo e pensamento político que visem tirar a liberdade e suprir os direitos de minha população. Eu não iria morrer na fogueira da inquisição, e sim na fogueira do ódio”.

A Abraji informou que enviará ofícios às autoridades pedindo celeridade nas investigações, enquanto o Sindicato dos Jornalistas de SP e a Fenaj afirmaram que o caso tem características de atentado à vida e à liberdade de imprensa. Não há informações sobre prisão ou danos causados pelo incêndio à sede do jornal e à casa do jornalista.

* Com informações da Abraji e UOL

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