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sábado, junho 28, 2025

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Especial Jornalismo nas veias: Não é justo comparar os novos com os antigos

Especial Jornalismo nas veias: Não é justo comparar os novos com os antigos

Ricardo Noblat, titular do Blog do Noblat, e o filho, Guga Noblat

Ricardo Noblat (*) − Você não tinha nada melhor a fazer do que ser jornalista?

Guga Noblat (**) − Estava à toa em casa, vendo meu pai arrumar confusão com meio mundo da política por causa dos textos dele nos jornais, e pensei: “Ah, já que não tenho competência para ser jogador de futebol, então vou de plano B, vou de jornalismo”.

Ricardo − Não jogue a culpa em mim…

Guga − Claro que não, culpa tem a minha mãe, que casou com alguém capaz de dizer a ela que ia levar o filho ao parque de diversões, mas na verdade levava para a redação do Jornal do Brasil, onde a única coisa que tinha para fazer era brincar com a máquina de escrever.

Ricardo − Não vai dizer que foi por isso que você virou jornalista?

Guga − Por isso, mas não apenas. Queria uma profissão que me permitisse ser quem eu sou: um sujeito curioso, desbocado, crítico e sem saco para seguir fazendo mestrado e doutorado, a fim de cair em campo assim que me formasse. Claro, tenho uma profunda admiração pela maneira como você e minha mãe se dedicaram ao jornalismo.

Ricardo − Mas o que foi mesmo que te encantou no jornalismo?

Guga − Jornalista acha que é Deus ou acha que é o Super Homem. Como o jornalismo me permite expor e às vezes até peitar políticos e politicagens que podem transformar a sociedade, creio que foi isso que mais me empolgou e me empolga a seguir nessa profissão.

Ricardo − Mas o jornalismo não serve só para isso. Por que essa fixação em peitar políticos e politicagens, por mais condenáveis que possam ser?

Guga − Você perguntou o que me encantou no jornalismo. E não para que serve o jornalismo. Claro que tem muito mais coisa que me atrai nessa profissão. Poder trafegar entre temas tão distintos como artes marciais e política, por exemplo, é muito empolgante. Arrumar fontes em festas, restaurantes ou no meio da rua, ter que me valer do meu lado mais sociável, ter senso crítico para apurar o que deve ser a verdade, tudo isso é um grande desafio que me fascina. Mas, talvez por ter passado a vida numa grande tensão provocada pelo fato de você ser jornalista político, creio que isso me deixou com certa fixação por peitar políticos.

Ricardo − O que você não gosta no jornalismo que faz ou que vê por aí?

Guga − O que me incomoda, hoje, no jornalismo, me irrita, é ver jornalista oportunista, que aproveita o momento político para se comportar como um influenciador que só diz aquilo que um lado quer ouvir. E o lado que domina as redes hoje é a extrema-direita. Então, vemos até jornalista que tinha prestígio e credibilidade rasgar sua história para ganhar likes e relevância, vindos desses grupos.

Ricardo − Não me diga que você não se preocupa em ganhar likes?

Guga − É ótimo ganhar likes. O problema é ganhar likes de malucos. Esses jornalistas jamais terão a imagem que tiveram um dia. Passarão o resto da vida sendo aplaudidos por malucos. E para ser aplaudido por malucos tem que fazer maluquice, tem que negar a lógica, a razão e a ciência, ou seja, tem que ser tudo, menos jornalista.

Ricardo − Velho como está ficando, você conheceu o jornalismo feito por minha geração e conhece agora o que é feito pela sua. Quais as diferenças mais importantes? No que o jornalismo melhorou ou piorou?

Guga − O jornalismo tinha uma formação dentro das redações que se perdeu. O foca antes passava pelas mãos de gente experiente e preparada. Hoje, o jornalista sai da universidade e já é jogado em posições que demandariam mais experiência. E, por terem internet e ferramentas que facilitam a produção da notícia, acabam fazendo o serviço que antes era dividido com uma equipe, o que também pode afetar a qualidade do trabalho. Há também uma cobrança da internet por notícias imediatas e por uma quantidade de notícias por vezes desnecessária no impresso. Isso diminui a qualidade da apuração e faz com que muito jornalista passe o dia ao telefone no lugar de sair em campo atrás de notícia. Só que é mais barato fazer assim.

Ricardo − Então o jornalismo perdeu qualidade?

Guga − Não sei se é justo comparar quem ainda está trabalhando com quem já trabalhou, os novos com os antigos. O tempo dirá, mas de um lado temos ferramentas que facilitam a busca pelo conhecimento e pela informação, e isso ajuda na apuração dos fatos. Do outro lado, jornalistas com uma formação prática inferior e uma cobrança por um imediatismo que prejudica a investigação. A impressão que tenho é que, na média, os antigos eram melhores, mas veremos.

Ricardo − Você tem mais gosto por escrever ou por falar?

Guga − Achava que só teria gosto por escrever, não pensava em aparecer na frente das câmeras ou dos microfones das rádios. De um tempo para cá passei a gostar muito de falar. São dois desafios que eu curto. Gosto de falar, mas escrever, ver um texto bem feito, é mais satisfatório, porém menos divertido; o caminho é mais longo e menos gente acaba tendo acesso.

Ricardo − O jornalismo impresso está com seus dias contados?

Guga − Torço para que não, mas alguém imagina um futuro próximo em que pessoas ainda dependam de papel para ler notícia?  Não é prático, não é ecológico e as novas gerações já trocaram o impresso pelo eletrônico. É só uma questão de tempo. Restará a marca da mídia que antes vigorava no impresso sendo ainda relevante no online.

Ricardo − Quem ganhará a batalha final? A verdade que buscamos ou as fake news?

Guga − Em uma democracia, pelo menos no fim, a verdade sempre vence. Há um momento em que a mentira não resiste aos fatos e à liberdade de se questionar. Mas essa liberdade depende do sistema. Na democracia, ela é mais plena.


(*) Ricardo Noblat, 72 anos de idade, 55 de jornalismo, os últimos 18 à frente do Blog do Noblat.

(**) Gustavo Noblat, um dos seus três filhos, 40 anos de idade e 18 de jornalismo. Guga começou como repórter do blog do pai. Cobriu a Copa do Mundo de 2006, na Alemanha. Foi apresentador do programa A Liga, da Band; produtor e repórter do CQC; repórter de um programa de artes marciais da SporTV; é comentarista político do Pânico, programa da Jovem Pan. Seu canal no Twitter tem 185 mil seguidores. É pai de Heloisa, 7 anos, e de Eva, 5. É casado com Lygia.

Mariana Carneiro assume a Coluna do Estadão

Mariana Carneiro assume a Coluna do Estadão

Mariana Carneiro, especializada na cobertura de Política e Economia, é a nova titular da Coluna do Estadão, espaço de notícias e análises curtas do Estadão sobre os bastidores dos poderes da República. O objetivo será manter a cobertura na área de política, revelando bastidores do poder, mas também ampliar o olhar para temas ligados à economia.

“A ideia é dar espaço também aos atores da economia, como empresários e investidores, além dos movimentos sociais e dos novos agrupamentos políticos para debater”, disse Mariana. “É uma visão da política de uma maneira mais ampla, para ajudar o leitor a compreender quais são os interesses que estão em jogo nas decisões em Brasília”.

Mariana estreia na coluna com o texto Bolsonaro aciona máquina em ano de eleição para turbinar investimentos, ao lado de Camila Turtelli, que até agora estava como interina, Matheus Lara e Gustavo Côrtes, com ilustrações de Kleber Sales. A Coluna do Estadão foi criada em novembro de 1990 e, em sua primeira fase, foi publicada no Estadão até 2001. Em 2016, foi retomada com o mesmo nome no impresso e no online.

Formada em Jornalismo pela PUC-Rio e com mais de 22 anos de experiência na cobertura de Economia e Política, Mariana teve passagens por O Globo, Folha de S.Paulo, TV Globo e Jornal do Commercio. Está radicada há cinco anos em Brasília, acompanhando os bastidores do poder.

Entidades questionam decisão do Santos FC de impedir entrada do UOL na Vila Belmiro

Entidades defensoras da liberdade de imprensa discordaram da decisão do Santos Futebol Clube de negar o credenciamento de jornalistas do UOL para a cobertura da partida contra a Universidade Católica de Quito, nessa quarta-feira (13/4), no estádio Vila Belmiro, pela Copa Sul-Americana.

A proibição faz parte de uma decisão do presidente do clube, Andrés Rueda, de impedir a entrada de profissionais do UOL até que o veículo se posicionasse formalmente sobre uma coluna assinada por Juca Kfouri, na qual critica a atuação do Santos no empate contra o Fluminense por 0 a 0, no último sábado (9/4), chamando o time da baixada santista de “Ninguém FC”.

Para o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP), a crítica a uma opinião publicada em um veículo de comunicação é sempre válida e ajuda a qualificar o debate, “ainda mais quando se trata de um assunto que envolve paixões, como o futebol. Mas o posicionamento do Santos Futebol Clube em relação a um determinado texto veiculado no UOL não pode se concretizar em censura ao trabalho da equipe de reportagem e impedimento do livre exercício da profissão jornalística”.

“O texto (de Kfouri) enquadra-se perfeitamente na atividade jornalística. O SJSP acredita no direito de o Santos discordar e contestar a crítica, mas repudia as intimidações e ações de censura à imprensa, que não cabem num ambiente democrático”, diz o Sindicato. A entidade também pede que os jornalistas do UOL sejam imediatamente liberados pelo Santos, e faz um apelo para os torcedores santistas pela defesa do trabalho jornalístico do UOL, para que informações relevantes e confiáveis sobre o Santos cheguem aos torcedores.

A Associação dos Cronistas Esportivos de São Paulo (Aceesp) também criticou a decisão: “Rechaçamos toda e qualquer tentativa de boicote ao livre exercício do jornalismo e, como consequência, ao direito de opinião. Uma prática inaceitável em qualquer contexto, e sobretudo num país que lutou arduamente pelo Estado democrático de direito”.

O próprio UOL publicou um texto lamentando o ocorrido. Murilo Garavello, diretor de Conteúdo da empresa, declarou que, com a ação do Santos, “são prejudicados centenas de milhares de torcedores que acompanham o clube pelo UOL e é um movimento muito preocupante. Temos perto de uma centena de colunistas e de jornalistas que trabalham com Esporte. Se um deles tiver uma opinião incômoda o veículo inteiro é punido? O Santos só vai aceitar o jornalismo que elogiar o clube?”.

Em resposta ao texto do UOL, o Santos publicou uma nota, assinada pelo presidente Rueda, na qual nega que a atitude do clube foi decorrente de críticas feitas ao Santos: “Todo jornalista pode falar o que bem entender, desde que exista respeito. A instituição Santos FC foi agredida e a liberdade de imprensa não representa liberdade para poder menosprezar qualquer instituição, independentemente de ser o Santos FC. Novamente, o que solicitamos ao UOL é que se posicione se concorda ou não com o termo usado pelo jornalista, por ser corresponsável na publicação da coluna. Se concordar, o UOL não será bem-vindo à casa do Santos. (…) O Santos FC nunca promoveu censura e não atende só jornalistas que falam bem do clube. Sempre respeitamos as matérias negativas em nome da liberdade de expressão. O que queremos é respeito à instituição”.

Aplicativo possibilita que pessoas com deficiência visual acompanhem notícias

O Marco Zero Conteúdo e a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) lançaram em 11/4 o aplicativo Lume.
O Marco Zero Conteúdo e a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) lançaram em 11/4 o aplicativo Lume.

O Marco Zero Conteúdo e a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), através do projeto Acessibilidade jornalística – um problema que ninguém vê, lançaram em 11/4 o aplicativo Lume, que oferece conteúdo acessível e de qualidade produzido por nove organizações de jornalismo independente do Nordeste.

Coordenado por Carolina Monteiro, diretora da Escola de Comunicação da Unicap e jornalista da Marco Zero, o projeto faz parte do programa financiado pelo desafio de inovação do Google News Initiative (GNI), que premiou oito projetos brasileiros na sua edição do ano passado.

Para desenvolvimento do aplicativo foram entrevistadas 17 pessoas que apresentam diferentes níveis de cegueira ou baixa visão em várias regiões do País, sobre como se sentem em relação à inclusão e à representatividade nos conteúdos jornalísticos de sites e redes sociais.

Por outro lado, foi disponibilizado um questionário online para entender a relação das redações com os protocolos de acessibilidade e se esta forma de inclusão era uma questão para os veículos na hora de pensar, produzir e distribuir seus conteúdos. O questionário foi respondido por 53 organizações jornalísticas brasileiras.

Disponível para o sistema Android através da Play Store, o Lume reúne conteúdo de nove organizações de mídia independente do Nordeste que compõe o projeto, sendo elas: Marco Zero Conteúdo; Olhos Jornalismo; Agência Saiba Mais; Agência Diadorim; Newsletter Cajueira; Eco Nordeste; Agência Retruco; Revista Afirmativa; e Mídia Caeté.

Ao navegar na home do aplicativo é possível escolher entre as editorias de direitos humanos, segurança, cultura, educação, entre outros, de maneira simples e acessível.

Hill+Knowlton e DGBB firmam acordo para atuação conjunta no DF

Bernardo Brandão (esq.), Daniela Guima Migliari e Marco Antonio Sabino
Bernardo Brandão (esq.), Daniela Guima Migliari e Marco Antonio Sabino

A Hill+Knowlton Brasil deu um passo estratégico para expandir sua presença e negócios em Brasília, ao assinar acordo operacional com a DGBB Comunicação, da Capital Federal. O primeiro trabalho em parceria é para a Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), que reúne 41 concessionárias distribuídas por todo o País.

O acordo foi firmado por Ricardo Cesar e Marco Antonio Sabino, respectivamente presidente e fundador do Grupo Ideal e CEO da H+K Brasil, e os sócios-fundadores da DGBB, Daniela Guima Migliari e Bernardo Brandão.

Bernardo Brandão (esq.), Daniela Guima Migliari e Marco Antonio Sabino
Bernardo Brandão (esq.), Daniela Guima Migliari e Marco Antonio Sabino

Pertencente no Brasil ao Grupo Ideal, a H+K Brasil faz parte de uma rede global com mais de 80 escritórios espalhados por 40 países e é uma das marcas globais da WPP. Com uma estratégia de prestação de serviços de comunicação que une a estrutura internacional e expertise do seu time no mundo inteiro, como uma grande agência, conta com a presença de profissionais seniores no dia a dia dos clientes.

Atualmente, a Hill+Knowlton tem entre seus clientes Amazon, Whatsapp, Banco Bmg, Campari, Lenovo, Amex, Copa Airlines e outras dezenas de grandes empresas e marcas nacionais e internacionais, executando diversas atividades, como uma full-service agency. Com a parceria, além de oferecer novos serviços aos clientes, passará a contar com estrutura capaz de disputar contas com novos perfis, em Terceiro Setor, área pública e privada.

A DGBB está no mercado há dez anos e foi, por quatro anos consecutivos, finalista entre as melhores agências de comunicação corporativa da Região Centro-Oeste no Top Mega Brasil. Atua nas áreas de RP, digital, mídias on e off para clientes como Grupo Santa Lúcia, CNSaúde e SBH, na área de saúde; Abradee, Abiogás, Abiape, Abeeólica, Focus Energia, Abragel e Apine, em energia; ABMES, Fenep e Sinepe/DF, em educação; Abrasce, O Boticário, Brasília Shopping, JK Shopping, Taguatinga Shopping, em varejo; Sicredi, no sistema financeiro; e Anafe, em carreiras públicas. A agência, aliás, inaugurou, em outubro passado, um moderno escritório no Complexo Brasil XXI, em Brasília.

A operação conjunta, já iniciada, foi formalizada na tarde dessa terça-feira, 11 de abril.

Relatório da Voces del Sur avalia acesso à informação pública na América Latina

Relatório da Voces del Sur avalia acesso à informação pública na América Latina

A rede Voces del Sur lançou seu primeiro relatório sobre o acesso à informação pública em 13 países da América Latina, que avalia a regulamentação e implementação de políticas públicas sobre o tema. O documento reconhece que a região dispõe de mecanismos legais que garantem o direito de acesso a informações, mas alerta para problemas que dificultam a aplicação dessas leis.

O relatório teve como foco a área de saúde, analisando quatro grandes pontos: acessibilidade por meio de pedidos de informação; regulação e estrutura institucional para o acesso à informação pública; qualidade da transparência ativa na área da saúde; e transparência ativa na gestão da pandemia em Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Cuba, Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Peru, Uruguai e Venezuela.

Os resultados mostram “avanços notáveis” na promoção de leis de acesso à informação, como o fato de que 11 dos 13 países têm dispositivos legais para que qualquer cidadão possa solicitar dados. Porém, o relatório destaca alguns problemas, como o desconhecimento por boa parte da população do direito do acesso à informação e a concentração desse uso em grupos específicos, como jornalistas. Para a Voces del Sur, os governos não priorizam ações para promover e disseminar essas garantias.

Outros problemas apontados foram dificuldade de acessibilidade nas plataformas que disponibilizam dados, resistência do governo em divulgar informações sensíveis, dificuldade na obtenção de respostas a pedidos e não cumprimento das obrigações de publicar informações de forma proativa.

No caso do Brasil, especificamente, o País é uma das quatro nações que publicam de forma completa os contatos de órgãos responsáveis pela Saúde, ao lado de Venezuela, Peru e Bolívia. Segundo o relatório, o Brasil melhorou na apresentação de dados oficiais de combate à pandemia. O País, porém, é citado como exemplo de assédio estatal contra quem solicita dados.

Confira o relatório na íntegra aqui, em espanhol. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), que faz parte da Voces del Sur, deve divulgar em breve uma versão do documento em português.

Indígenas tornaram-se mais visíveis na imprensa brasileira na última década, diz pesquisa

Cristiane Fontes, da Amoreira Comunicação, coordenou a pesquisa Narrativas Ancestrais, Presente do Futuro, que mapeou e analisou as percepções da sociedade sobre os povos indígenas no Brasil na última década. Segundo os dados obtidos, o espaço concedido a indígenas na imprensa brasileira cresceu nos últimos dez anos.

O levantamento foi feito com base em extensa análise documental e entrevistas com 350 formadores de opinião de diferentes segmentos. Em geral, os elogios dos públicos engajados com temas indígenas foram dirigidos a jornalistas e programas, e não a veículos de comunicação. André Trigueiro, Rubens Valente e Eliane Brum foram os mais citados pela excelência, relevância e alcance de seus trabalhos.

Em relação aos programas, destacaram-se Jornal Nacional e Fantástico, da TV Globo, como os telejornais que tiveram maior abertura às pautas indígenas. O estudo destaca também a emergência de veículos independentes, como Repórter Brasil, Agência Pública, InfoAmazonia e Amazônia Real, que mudou o cenário midiático do Brasil.

A pesquisa foi conduzida com públicos engajados e não engajados em questões indígenas. Entre os formadores de opinião não engajados, ou seja, que pouco sabem sobre temas relacionados aos indígenas, as informações que obtêm são baseadas na cobertura da grande imprensa. Entre esse público, concepções sobre os povos indígenas parecem ser formadas a partir de fragmentos de informação, às vezes apenas títulos de reportagens ou de publicações em redes sociais.

Para uma parte dos entrevistados, mudanças comportamentais como o enfrentamento ao racismo e maior preocupação com temas como representatividade de diversidade ajudaram no aumento da cobertura de temas indígenas. Mesmo assim, muitos dos participantes consideram esse aumento como ainda “insuficiente” ou “insatisfatório” por causa de omissões e distorções históricas, além da diversidade de povos e realidades por todo o País, não apenas na Amazônia.

Os públicos destacaram ainda a necessidade de maior visibilidade para povos de outros biomas brasileiros, e criticaram a generalização, com usos de termos inadequados, e o uso ainda frequente de cientistas como especialistas e não os próprios indígenas. Outras críticas incluem a falta de reportagens sobre o cotidiano dos povos indígenas e as questões que permeiam suas vidas, e a crise financeira da imprensa como uma limitação para reportagens investigativas sobre o tema.

Confira o estudo na íntegra aqui.

Jornalismo nas veias: “Se a gente espremer tudo, o norte é sempre a questão da dignidade”

Especial Jornalismo nas veias “Se a gente espremer tudo, o norte é sempre a questão da dignidade”

Vanira Kunc Dantas, viúva de Audálio Dantas, falecido em 2018, e a filha, Juliana Kunc Dantas

Realmente Eduardo Ribeiro estava certo. Ele propõe um papo que talvez nunca tivemos com nossos filhos.

Fui perguntar à minha filha sobre o legado que deixamos a ela. E logo me respondeu que se a gente espremer tudo, o norte é sempre a questão da dignidade, independentemente do assunto a ser tratado, das escolhas de vida e do formato ou mesmo do conteúdo. Mas se o norte são a dignidade, os direitos humanos, o respeito à vida humana, não importa o que se faça. Esse sempre foi o intuito de buscar informação como meio de melhorar e salvar vidas e agregar dignidade socialmente.

Ela é Juliana Kunc Dantas, 33 anos de idade, faz o podcast Finitude.

Filha de dois jornalistas: pai, Audálio Dantas, que certamente estaria orgulhoso em escrevermos juntos esse texto. Eu, Vanira Kunc, a mãe. E já pra completar, o marido da Juliana, Victor Aguiar, claro, também jornalista.

Um dia, de repente, levei um susto. Ju, com seus 13 anos de idade, me falou que iria fazer Jornalismo. Se é uma coisa que eu nunca havia pensado era sobre a profissão das minhas filhas.

Ela não entendeu o motivo da minha surpresa. De certa maneira, ou de todas as maneiras, ela tinha razão. Ainda pequena, quando ficava com aquelas doenças de criança, e não podia ir à escolinha, era no meu pequeno escritório que ela ficava. Dava uma melhoradinha e já tava de olho em tudo que acontecia. Tinha muita curiosidade e já perguntava, perguntava…

Essa menina que pensava que algum dia os pais não falariam tanto em trabalho no almoço, no jantar, num passeio, na vida, acabou se juntando a todas essas conversas.

Pra ajudar, no segundo colegial quando visitou a redação do Último Segundo (iG), Leão Serva, que era diretor de lá, sugeriu que se ela estivesse em dúvida entre qualquer curso e Jornalismo, que fizesse a outra faculdade. Qualquer outro curso agregaria depois, ao fazer Jornalismo. Mas que se tivesse certeza, que fosse nele direto.

E não deu outra. Aos 17 anos, estava na Cásper Líbero, pra alegria da mãe Casperiana e do pai, que já havia sido conselheiro daquela Fundação.

No ano seguinte, pra pagar a faculdade e logo saborear o Jornalismo, Ju foi estagiar na TV Gazeta.

E aí veio a primeira preocupação dela: o fato de ser filha de jornalistas, principalmente tendo Audálio Dantas como pai. É até natural que eventualmente viessem comparações que o mercado poderia fazer ou de quem era de fora achar que ela poderia estar num lugar ou outro, bom ou ruim, por causa de ser filha de quem era. Ela sentia isso.

Mas a trajetória dela foi pra lado totalmente diferente. Eu e Audálio vínhamos da mídia impressa, depois fomos levar informação montando exposições de literatura e palestras voltadas para essa mesma área e jornalismo. Mas Ju fez o caminho dela. Da Gazeta, depois de já ser uma profissional, foi trabalhar com Heródoto Barbeiro, na Record News. Enquanto isso fez locução e de lá partiu pra BandNews FM. Após alguns anos, voltou pra Gazeta, aí em cargo de chefia e depois foi coordenar o Jornalismo da Alpha FM.

Em 2018, aconteceu uma mudança na nossa vida, tivemos duas grandes perdas na família, minha mãe e Audálio. A convite do amigo-irmão (desde a Band) Renan Sukevicius, Ju deu ao podcast dele entrevista sobre essas perdas. Na sequência, foi convidada a participar com ele do outro lado do balcão. Foi fazer o podcast Finitude (que até então falava sobre fins de um modo geral). Passaram a abordar envelhecimento, saúde mental, cuidados paliativos, morte, luto. Juntos apresentam, produzem, fazem de cabo a rabo esse trabalho.

Dali, no começo do outro ano, ela teve um chamado interno. Abriu mão da segurança financeira da rádio e passou a se dedicar somente ao Finitude, que já recebeu alguns prêmios. É uma das fundadoras da Rádio Guarda-chuva, primeira rede brasileira de podcasts exclusivamente jornalísticos.

Juliana também fez seu primeiro roteiro de documentário, Esquina do mundo. Internou-se por nove dias no Hospital Premier durante a pandemia para fazer esse trabalho.

Ela olha para as redações e vê as transformações. Sente que o jornalismo tem sido sempre no sentido de tudo mais enxuto e o jornalista cada vez mais multifuncional. E não imagina como essa situação pode ser revertida. Mas acha que o jornalista tem que estar atento, não pode perder de vista o principal, que é o jornalismo em si.

Tem consciência de que não há isenção, que o jornalismo tem um lado, e esse lado tem que ser sempre pela Constituição, pelos direitos humanos. Mas às vezes a gente acaba escorregando em falsas simetrias. Um dos principais exemplos que se tem vivido hoje é o desafio de como cobrir um presidente que é contra os direitos humanos, a Constituição, mas ao mesmo tempo é a figura de um presidente. Ela acha que o jornalismo está tentando se encontrar para ver como é que cobre o absurdo vindo da autoridade máxima do País.

Comenta que tem gente muito boa nas poucas redações de grandes veículos que temos, mas que muitas vezes têm que se submeter a algumas diretrizes da casa, que nem sempre vão ao encontro do que o jornalismo deveria fazer. As redações estão sucateadas, sobrecarregadas, não dá tempo de refletir, e é quando, várias vezes, ocorrem erros graves.

O que pude observar dessa conversa com a Ju é que muitos profissionais competentes, ou porque a conta não fecha, salários, plantões ou por estresse, estão desistindo das redações, fazendo uma escolha entre a vida pessoal e a profissional.

Ela imagina que uma possibilidade seria os pequenos e médios veículos serem incentivados pela filantropia, pessoas que acreditem que a democracia é forte quando o jornalismo está forte. Talvez esse caminho esteja se abrindo um pouco mais no digital.

E nesses tempos tão difíceis, sem Audálio, fico querendo compartilhar com ele toda essa história de vida da nossa menina que aprendeu muito bem o seu ofício, que mantém a ética e que na cozinha prepara um sururu ao coco bom demais, que cresceu vendo o pai fazer, com um avental preto bordado em verde escrito: Mestre Audálio.

Monitor Abracom mostra tendência de alta em 2022

A Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom) acaba de divulgar os resultados de seu primeiro Monitor de Mercado de 2022, com dados do primeiro trimestre obtidos junto a 41 agências de várias regiões do País, com destaque para São Paulo, que participou com pouco mais de 20 organizações, e Minas Gerais, com sete (também estiveram representados os estados de Pernambuco, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Bahia, Piauí e Espírito Santo).

Os números mostram um mercado em expansão para 56,1% das agências pesquisadas, enquanto 26,88% tiveram receitas iguais ao trimestre anterior e 17,1% fecharam o período com queda. Apesar da manutenção do crescimento, em comparação com o trimestre anterior, o percentual de empresas com queda no faturamento quase dobrou no período, deixando o mercado em alerta.

Das que expandiram seus negócios, 34,6% cresceram acima de 15%; 34,4%, entre 5% e 15%; e 30,8%, até 5%. E das que registraram diminuição de receitas, 62% indicaram queda de até 5%.

A lucratividade foi maior para 34,1%, enquanto 41,5% ficaram estáveis e 24,4% tiveram perdas; 60% das empresas indicaram crescimento de até 10% no lucro durante o trimestre e 55% informaram que a queda de rentabilidade ficou, em média, entre 5 e 15%.

Depois de quatro trimestres com crescimento nas equipes de trabalho, o primeiro período de 2022 mostrou, segundo o levantamento da Abracom, estabilidade no número de profissionais das agências em 56,1%, enquanto 43,9% aumentaram a equipe. Nenhuma agência reportou diminuição no time, mostrando que o mercado de trabalho no setor continua aquecido, embora em ritmo menos acelerado.

Sistema híbrido

Com planos de retomada dos espaços físicos adiados pela variante Ômicron, as agências agora já projetam situações de retorno aos escritórios. Nenhuma das agências que participaram da pesquisa relatou que já tenha retornado integralmente ao escritório; 43,6% estão trabalhando em sistema híbrido entre teletrabalho e presencial, com revezamento das equipes; 35,9% ainda estão totalmente em home office e as demais adotaram sistema híbrido com equipes fixas no presencial e no home office.

Das empresas participantes do levantamento da Abracom, 33,3% avaliam a manutenção do home office permanente como modelo de trabalho; 23,8% planejam voltar em sistema híbrido a partir de maio; e 14,3% estão voltando em sistema híbrido em abril. Nas restantes, foram apontados modelos que variam entre livre escolha dos profissionais, adoção de dias fixos para o home office e teletrabalho combinado com dias de presença obrigatória na agência para reuniões entre as equipes.

Perfil das agências

Entre as 41 agências que responderam ao Monitor de Mercado Abracom, 51,3% faturam até R$ 3 milhões anuais; 22%, entre R$ 3 e R$ 10 milhões; 12,4%, entre R$ 10 e R$ 50 milhões; e 12,2%, acima dos R$ 50 milhões.


E mais:

Investigado por pedofilia, Gabriel Monteiro promove campanha contra jornalistas

Após uma série de denúncias envolvendo pedofilia, e assédio moral e sexual, o vereador carioca e ex-policial militar Gabriel Monteiro (PL) iniciou uma campanha de desqualificação contra profissionais da imprensa que estão acompanhando o caso. Os principais alvos são os repórteres Pedro Figueiredo (TV Globo), Luiz Ernesto Magalhães e Felipe Grinberg (O Globo).

Em suas redes sociais, sobretudo seu canal no YouTube que conta com mais de seis milhões de inscritos, Monteiro vem atacando os jornalistas e suas respectivas publicações. Como resultado dessa campanha, muitos de seus seguidores passaram a assediar os repórteres citados, com mensagens e ameaças que não se restringem às redes sociais.

Sobre Pedro Figueiredo, Monteiro chegou a insinuar que o jornalista teria interesses escusos em denunciá-lo, além de editar um vídeo com uma fala do repórter para fazer parecer que ele desconhece o assunto do qual trata.

Flagrado em vídeo de sexo com menor de idade e denunciado por ex-assessores por assédio moral e sexual, o vereador tornou-se alvo de investigação policial e do Ministério Público e tem seu mandato questionado na Câmara dos Vereadores.

Em seu site, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) repudiou as atitudes de Gabriel Monteiro e recomendou que a Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, ao analisar a conduta do vereador, considere também o modo condenável como ele tenta lidar com a imprensa no intuito de desviar o foco das graves denúncias contra si e na tentativa de intimidar jornalistas no exercício da profissão.

“A Abraji se solidariza com Pedro Figueiredo, Luiz Ernesto Magalhães e Felipe Grinberg, ressaltando que a fiscalização dos agentes do poder público é prática essencial na prestação de informações à sociedade”, diz a nota.

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