Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Em encontros entre governantes, executivos e líderes de organizações, a profusão de palavras faladas nas reuniões e escritas em documentos é marca registrada, assim como extensas reportagens e artigos de opinião sobre grandes eventos globais.

Não foi diferente na COP26, que ao longo de duas semanas ocupou o noticiário internacional e a pauta da diplomacia em todo o planeta.

No entanto, imagens podem ser mais poderosas do que palavras. Mesmo aquelas usadas nos gritos de guerra entoados por manifestantes que tomaram as ruas da cidade escocesa de Glasgow sob chuva, inspirados pela sueca Greta Thunberg, pedindo “justiça climática agora”.

Veio da distante ilha de Tuvalu, no Pacífico Sul, o que muitos consideraram a ação de comunicação de maior impacto de toda a conferência.

O país insular está afundando, e isso não era novidade. Mas o hábil ministro do Meio Ambiente, Simon Kofe, que muito merecidamente acumula o cargo com a pasta da Comunicação, fez com que boa parte do mundo prestasse atenção no problema em seu famoso discurso com água pelos joelhos.

Simon Kofe: “Todos estamos afundando”

Não se pode dizer que ele também não tenha sido hábil com as palavras. A afirmação “We are sinking, but so is everyone else” (“Nós estamos afundando, mas todos estão”) é simples e eficiente, lembrando que a emergência climática é problema de todos.

Ao produzirmos a edição do MediaTalks sobre o impacto e os desdobramentos da COP26, que começou a circular nesta quarta-feira (8/12), não tivemos muitas dúvidas ao escolher essa imagem para a capa diante de tantas outras.

Além de importante como mensagem para a causa ambiental, é um exemplo de ação de comunicação criativa e eficiente, daquelas que dá vontade de ter feito.

Na verdade, não é nova a ideia de um país ameaçado pelo aumento do nível dos oceanos fazer algo dentro d’água para chamar a atenção. Em 2009, antes da COP de Copenhagen, o primeiro-ministro das Maldivas fez uma reunião de gabinete dentro de uma piscina, com direito a coletiva de imprensa.

E se há um “pai” desse modelo, ele poderia bem ser o Greenpeace, que há 50 anos usa cenas de impacto para protestar contra a destruição do planeta.

Uma das ações mais recentes da organização aconteceu no Reino Unido, antes da COP26. Em um vídeo chamado Wasteminster ou Westminster, o Greenpeace denunciou a montanha de lixo plástico que o país despacha diariamente para países pobres.

No áudio, a voz do primeiro-ministro Boris Johnson em falas durante discursos sobre os compromissos ambientais do país. No vídeo, uma animação do plástico acumulando-se até cobrir a Downing Street 10, onde fica a sede do governo britânico.

O desafio de controlar as mudanças climáticas não é pequeno, e isso ficou evidente na COP26, que terminou sem o acordo que a ciência queria.

Para chegar lá, comunicação eficiente e um “jornalismo implacável”, como pede Mark Hertsgaard, fundador e diretor da coalizão de imprensa Covering Climate Now, são parte da equação.


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