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quinta-feira, abril 18, 2024

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A imprensa esportiva e o coronavírus (V)

Por Victor Félix, da equipe de J&Cia

Em contraponto a outras modalidades esportivas, os eSports estão em alta durante a pandemia. A grande maioria da imprensa esportiva detectou queda na audiência, teve que se adaptar ao home office, reinventar-se e alterar o conteúdo produzido, elaborando novos projetos para conseguir trazer informações sobre esportes, mesmo à distância, uma vez que as competições estão suspensas ou canceladas. Nesse sentido, os eSports são um ponto fora da curva.

Mesmo com competições presenciais suspensas e diversos eventos de lançamento e divulgação cancelados ou adiados, os games em geral avançaram, principalmente neste período de distanciamento social. Como consequência, a imprensa que cobre os eSports cresceu em audiência e no consumo de seu conteúdo.

Barbara Gutierrez

J&Cia conversou sobre o assunto com Barbara Gutierrez, editora-chefe do IGN Brasil e do Versus Esportes. Ela contou que o conteúdo produzido e a cobertura dos campeonatos de eSports não mudou muito, que segue sendo a mesma, com divulgação e análise de resultados, entrevistas, apesar de serem à distância. Mas percebeu uma mudança significativa nas coletivas de imprensa. Confira a íntegra da entrevista:

Jornalistas&Cia – Como o coronavírus afetou o cotidiano da equipe do IGN Brasil e do Versus? A jornada de trabalho foi alterada? Todos seguem trabalhando, mesmo remotamente?

Barbara Gutierrez – Nós colocamos toda a equipe em casa, desde o começo da quarentena. Garantimos que todos os profissionais tivessem acesso ao material adequado para a produção de conteúdo em home office. Porém, a jornada não foi alterada, continuaram as oito horas de trabalho. Atendemos a algumas demandas específicas, permitindo que algumas pessoas entrem mais tarde ou mais cedo por necessidade, mas no geral a jornada ficou a mesma.

No momento, não precisamos nos preocupar com a locomoção dos profissionais de suas casas até o trabalho, ou até um evento, que deixou de acontecer. Toda essa cobertura tornou-se remota.

J&Cia – Que tipo de conteúdo está sendo produzido? Ele mudou por causa do coronavírus?

Barbara – O conteúdo segue o mesmo, só que agora feito 100% online e remoto. Fazemos vídeos, alguns só com locução, outros com repórteres aparecendo à frente das câmeras; estamos fazendo lives, um dos recursos mais populares desta quarentena, focando no conteúdo que é de interesse do público. Como não há muitas novidades, por causa de adiamentos, suspensões e impactos na atividade de games como um todo, nosso foco tem sido o conteúdo baseado em SEO, ou seja, nas buscas do Google, naquilo que o público está buscando.

J&Cia – Na audiência, quais foram os impactos detectados?

Barbara – Inicialmente, observamos que as pessoas de games tradicionais estão consumindo menos conteúdo, enquanto que os que consomem eSports querem mais conteúdo. É interessante observar estes dois tipos de gamers: um, que é mais tradicional, consome por entretenimento, diversão, descontração, e não busca muito conteúdo sobre aquilo; e o gamer que gosta de eSports quer informações sobre as competições, acompanha os campeonatos ou uma livrestream de seu streamer favorito online, e lê também notícias sobre o assunto.

J&Cia – Diferentemente de outras competições esportivas – suspensas por causa do coronavírus –, os campeonatos de eSports seguem na ativa. Algumas modalidades, como futebol e automobilismo, estão promovendo competições virtuais, que servem como “solução momentânea”, suprindo a falta de esportes nessas categorias. Como vê essa novidade?

Barbara – É relevante perceber que, neste momento, os games – por muito tempo “negados” pela sociedade e julgados como algo “ruim” – passaram a ser uma alternativa para matar o tédio, divertir, e mesmo para cultura. Quem nunca ouviu as tradicionais reclamações familiares, tipo “para de jogar”, “só fica aí sentado”, “isso não vai te levar a nada”, “isso te faz mal”, estereótipos sobre os games enraizados em nossa sociedade, de que eles só fazem mal. Esse novo fenômeno é muito interessante e com certeza trará frutos para o universo dos games, que transcenderá a pandemia. Esse reconhecimento está aumentando, e nós ficamos muito felizes com essa oportunidade de mostrar para a sociedade que o jogo é muito mais do que um produto. É uma atividade social e educacional, possibilita a interação, ensina a ganhar e perder. Uma pena que isso veio em meio a uma situação tão calamitosa e triste. Estamos vendo uma revolução no consumo de conteúdo do público em geral também.

J&Cia – Qual é a importância dessa “alta” nos eSports e em jogos digitais em geral no que se refere à visibilidade e ao futuro desta modalidade esportiva?

Barbara – A maior importância é perceber que as pessoas estão começando a ver os jogos como um aliado, e não como um inimigo. Hoje, vivemos uma inversão de valores. Isso é muito importante para incentivar as pessoas a jogar, a praticar os eSports. As novas gerações, por viverem em meio a essa alteração na imagem dos games e dos gamers, podem conseguir ver os eSports sob uma perspectiva mais “natural”.

J&Cia – Quais são as principais vantagens e desvantagens do trabalho em home office?

Barbara – Cobrir o universo dos eSports e dos games faz com que estejamos em contato com milhões de informações que chegam a todo instante, principalmente nas redes sociais, vindas do Brasil e de diversas regiões do mundo. Por isso, acredito que as redações deveriam incluir ao menos um dia da semana em home office, pois isso ajuda a aliviar a cabeça, descontrair. No nosso caso, que trabalhamos com games e podemos jogar, creio que essa dinâmica deve ser ainda mais explorada, até porque sempre fui defensora do home office. Já implementei isso no Versus Esportes, e pretendo fazer também no IGN Brasil. Nesse contexto de pandemia, porém, em que estamos sem sair de casa há muito tempo, essa situação fica complicada. Quando trabalhamos com algo que amamos, como é o meu caso, é muito difícil conseguir separar o hobby do trabalho. Existe a questão do perfeccionismo, e daí surge a questão do esgotamento físico e mental, o burnout. E quando isso alia-se ao home office, as consequências são maiores, porque não se consegue separar vida e trabalho. O lugar onde você dorme e descansa é, literalmente, o mesmo lugar onde você trabalha nesse momento.


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