Por Rodrigo Araújo
Na última quarta-feira, dia 29 de setembro, recebi uma missão difícil: fazer um pequeno texto para homenagear o jornalista Sergio Mesquita de Barros, supervisor de Eventos Olímpicos no Esporte do Grupo Globo.
O desafio era duplo. Escrever sobre amigos que vão embora é doloroso. E porque jornalistas devem escrever sobre aquilo que entendem − se não entendem, devem apurar muito antes de escrever. Mas a despedida precoce de alguém como o Serginho não se entende. Tentamos aceitar.
(Serginho: assim ele será chamado até o fim do texto; nunca o chamei de Sérgio).
Ao procurar fotos do Serginho, que seriam usadas na edição do VT (veiculado na programação do SporTV), encontrei, em sua página do Facebook, uma de canoagem. Serginho estava num caiaque duplo – e peço desculpas por não identificar o nome do seu parceiro.
O registro não tem nada de inusitado para quem o conhecia: o esporte estava na alma dele. Escrevia, coordenava, praticava. Amava. E a foto simboliza bem o que foi aquele cara não só por ser uma foto esportiva. Mas, sobretudo, por mostrar como era sempre bom estar no mesmo barco com ele.
Numa transmissão, num evento ao vivo, em qualquer cobertura, o barco pode virar a qualquer momento. Faz parte do jogo. A dor e a delícia da profissão.
Na linguagem dos campos e quadras: Serginho era a bola de segurança. Para quem estava iniciando ou para quem já está jogando há muito tempo.
Não existe televisão sem generosidade, sem espírito coletivo. A frase soa clichê, mas serve para mostrar o tamanho da perda que tivemos na última quarta-feira.
O ser humano generoso era também um profissional talentoso e versátil. Homem de copas, olimpíadas, mundiais, panamericanos, de muitos esportes.
Serginho era tão generoso que ainda completaria a sua obra já sem vida.
Ele era um homem de festa. Organizava, animava, iluminava festas. Um competentíssimo compositor de paródias (um talento que ele deveria ter levado mais a sério, com o perdão do trocadilho).
Serginho era uma pessoa que sabia reunir outras pessoas. O dia em que ele foi velado e cremado foi muito triste, por causa dele. E foi especial, por causa dele.
Muitos colegas de redação não se viam desde março de 2020, em razão da pandemia. Não era preciso falar: nas trocas de olhares, nos reencontros, foi dito a todo momento, em silêncio: estávamos todos ali por causa dele.
No último dia, estávamos todos no mesmo barco, com ele. E, por ele, assim continuaremos.
Vou terminar com uma confidência, mas para falar dele. E para dimensionar o espaço que ele ocupava na vida dos amigos.
Quando escrevi um texto de humor para o teatro, Serginho foi a primeira pessoa que leu. Isso me dá um imenso orgulho, por ter escolhido ele. E, hoje, uma dor do mesmo tamanho.
A correria da profissão, os horários que não coincidiam, impediram uma conversa com calma sobre o meu texto. Mas ele chegou a me dar algumas opiniões – certeiras, como sempre. Logo em seguida veio a pandemia. Fiquei afastado da redação, não o encontrei mais.
Triste ironia: é um texto de humor, mas a peça tem Deus como personagem principal.
Sim, Deus. Aquele que escreve algumas histórias que a gente não entende, mas tenta aceitar.
O texto desta semana é de Rodrigo Araújo, produtor de reportagem no Esporte do Grupo Globo desde 2001, que fala sobre o companheiro de trabalho e amigo Sergio Mesquita de Barros, falecido em 29 de setembro
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