Que os compêndios escolares mostram que o território brasileiro – de Norte a Sul − vai do Oiapoque, ponto mais setentrional, no Amapá, ao Chuí, o mais meridional, no Rio Grande do Sul, todo mundo que fez pelo menos o primário sabe de cor e salteado. Ops!!! Vai, não, ia. Ou foi até que um dia o pernambucano Platão Arantes Teixeira, que se mudou de Recife para Boa Vista em 1993, resolveu mudar essa referência nos livros escolares.

Fotógrafo – dos bons, por sinal, com quem tive a satisfação de trabalhar –, enveredou-se pelas sendas da Geografia e da Geistoria e entre muitos cliques acabou se interessando por esse assunto − que, na sua opinião, era no mínimo bastante discutível − e que transformaria em reportagens e até em livro e vídeos. Um trabalho de fôlego, ao qual se dedicou de corpo e alma e ainda não plenamente satisfeito, teima em de continuar sua discussão.

Como tudo começou? Certa vez, no nosso primeiro encontro, Platão me afirmou taxativamente:

− O Brasil não começa no Oiapoque, começa do Monte Roraima.

Achei a pauta bastante interessante e creio que já tratei desse assunto aqui no Memórias da Redação. No entanto, mais recentemente, em nossa última conversa, garantiu-me que, para ele, o assunto ainda não está de todo encerrado. Mesmo depois de o Ministério da Educação reconhecer que o Brasil vai, sim, do Monte Caburaí ao arroio do Chuí e mandar corrigir a mancada histórica.

Por quê? – quis saber.

− Porque milhões de brasileiros ainda não sabem disso e milhares de livros de Geografia continuam chegando às salas de aula e às mãos dos estudantes sem resgatar a verdade e alterar definitivamente esse registro. Ou seja, mudar o ponto geográfico mais setentrional do território nacional do Oiapoque para o Caburaí.

Antes de terminarmos essa conversa ele me disse que me mandaria mais material sobre o assunto, inclusive detalhando a importância de seu trabalho nessa correção geográfica. Pois não demorou muito e então, para refrescar a memória de todos, principalmente dos responsáveis pela edição e publicação dos novos livros de Geografia, decidi retomar o assunto aqui neste J&Cia.

Platão insiste em manter a discussão, pois, como me reafirmou agora, “o verdadeiro extremo Norte do Brasil é o Monte Caburaí e ponto final. Apesar de já ter sido comprovado desde 1998 e depois oficializado pela Comissão Demarcadora de Limites Setor Norte e o Ministério da Educação ter determinado que fosse feita essa correção nos livros didáticos distribuídos nas classes escolares de todo o Brasil desde 2002, muitos os fizeram, mas outros não. Mesmo porque edições antigas seguem nas bibliotecas de muitas instituições de ensino, aquelas que, por alguma dificuldade, não conseguem renovar e atualizar essas edições. Por isso, esse fato ainda é desconhecido de muitos brasileiros, tendo em vista que as autoridades parecem não ter interesse em divulgá-lo”.

Na entrevista que me deu, Platão lembra ser o município de Uiramutã, onde o monte fica localizado, bastante pobre e distante dos grandes centros. Mesmo assim, conta que convenceu a Assembleia Legislativa de Roraima a entrar na discussão: “Na época, conseguimos que os deputados criassem o Dia Estadual do Caburaí, comemorado no dia 8 de setembro, conforme o leitor poderá constatar por meio de um vídeo que pode ser acessado pelo link”.

Mas Platão não ficou só nisso: “Para ajudar mostrar a grande dificuldade que enfrentamos nessa missão a fim de que todos os brasileiros saibam dessa comprovação, decidi compor letra e música – com arranjo e voz de Kleber Gomes −, conforme mostra o vídeo que pode ser acessado pelo link”.

Na época, ele era secretário de Meio Ambiente e Turismo do recém-criado município de Uiramutã. Também foi nomeado coordenador e relator desse projeto, e conta: “Mesmo sem recursos, organizei uma expedição ao monte e para isso busquei o apoio de diversas entidades. Como argumento usei o de que o objetivo principal era reunir condições a fim de que o monte fosse reconhecido como o verdadeiro extremo Norte do Brasil. Felizmente nosso grande objetivo foi alcançado e em 8 de setembro completamos 23 anos dessa comprovação”.

Enfim, ao ajudar a contar essa história escrita por Platão Arantes por meio de reportagens, livro e vídeos, meu objetivo é fazer com que os leitores deste Jornalistas&Cia conheçam um pouco mais desta região do Brasil amazônico. Cenário cinematográfico pelo qual me apaixonei desde o dia em que, deixando a redação do Estadão, em abril de 1984, me mudei para Boa Vista, a mais setentrional capital, do ainda Território Federal e hoje, graças à Constituinte de 1988, Estado de Roraima. 

Ah, sim! Nesse mesmo encontro Platão Arantes me contou mais uma de suas façanhas: a de mostrar que Papillon, o lendário personagem da Literatura, cujo livro foi baseado na vida de um prisioneiro da Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, é uma farsa. Vou contar tudo, com fotos e vídeos, numa próxima edição.


Plínio Vicente da Silva

A história desta semana é novamente uma colaboração de Plínio Vicente da Silva, assessor especial de imprensa e redator oficial do gabinete executivo da Prefeitura de Boa Vista.

Nosso estoque do Memórias da Redação acabou. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected].

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