Entidades defensoras da liberdade de imprensa repudiaram as agressões a pelo menos cinco equipes de reportagem que cobriam um passeio do presidente Jair Bolsonaro em Roma, nesse domingo (31/10), onde esteve para participar da reunião do G20.

Segundo relato de Jamil Chade, do UOL, as agressões começaram antes da aparição de Bolsonaro. A repórter da Folha de S.Paulo Ana Estela de Sousa Pinto foi empurrada de forma violenta por um segurança, enquanto o presidente ainda estava na embaixada brasileira. E antes mesmo de Bolsonaro chegar ao prédio, Maria de Lourdes Belarmino, assistente da Globo, foi intimidada e denunciada como infiltrada por apoiadores do presidente.

Depois de discurso para apoiadores, Bolsonaro indicou que sairia para caminhar, e então diversos jornalistas passaram a ser empurrados e agredidos pelos seguranças que o acompanhavam. O correspondente Leonardo Monteiro, da Globo, recebeu um soco no estômago e empurrões após perguntar o motivo pelo qual o presidente não participou de alguns eventos do G20.

Jamil Chade estava filmando a violência contra a imprensa, quando um dos seguranças o empurrou, agarrou seu braço e o torceu, levando seu celular. Instantes depois, o agente jogou o aparelho em um dos cantos da rua.

Segundo matéria de Ana Estela de Sousa Pinto, a Folha também tentava filmar as agressões aos jornalistas, e um segurança tentou tirar o celular dela; e os repórteres Lucas Ferraz, de O Globo, e Matheus Magenta, da BBC Brasil, também foram agredidos verbalmente e empurrados.

O próprio presidente foi hostil com a imprensa. Questionado sobre não ter ido ao encontro do G20 pela manhã, ele respondeu “É a Globo? Você não tem vergonha na cara?” e em resposta a uma pergunta sobre sua ausência na COP26, em Glascow, Bolsonaro disse “não te devo satisfação”.

Em seu perfil no Twitter, Jamil Chade escreveu que denunciou as agressões e que, “em 21 anos como correspondente, foram 70 países e vários presidentes. Mas violência em cúpula foi a 1ª vez. Silêncio revelador por parte do Itamaraty e Presidência. Não vencerão. Nunca”.

Repúdio de entidades

A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) publicou uma carta aberta endereçada a Bolsonaro, assinada pelo presidente da entidade, Paulo Jerônimo, na qual repudia veementemente o ocorrido. Confira um trecho do texto:

Mais uma vez o senhor envergonha o Brasil, presidente. Repudiado por governantes do mundo inteiro, em cada evento de chefes de Estado o senhor mostra que o País foi relegado a uma situação de um pária na comunidade internacional. Na reunião do G-20 neste fim de semana, mais uma vez, o senhor foi obrigado a ficar pelos cantos, como aqueles convidados indesejados a quem ninguém dá atenção. Como reação, age como um troglodita, hostilizando e estimulando agressões a jornalistas que lhe fazem perguntas corriqueiras. É de dar vergonha”.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) destacou que “atacar o mensageiro é uma prática recorrente do governo Bolsonaro que, assim como qualquer outra administração, está sujeito ao escrutínio público. É dever da imprensa informar à sociedade atos do poder público, incluindo viagens do presidente no exercício do mandato. E a sociedade, por meio do art. 5º da Constituição, inciso XIV, tem o direito do acesso à informação garantido”.

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) escreveu que “é lamentável e inadmissível que o presidente e seus agentes de segurança se voltem contra o trabalho dos jornalistas, cuja missão é informar aos cidadãos. A agressão verbal e a truculência física não impedirão o jornalismo brasileiro de prosseguir no seu trabalho”.

A Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj) disse que “a postura do presidente brasileiro caracteriza uma institucionalização da violência contra jornalistas, que significa um atentado à liberdade de imprensa e, portanto, à democracia. Ao agredir jornalistas e ao permitir que seus auxiliares também o façam, o presidente comete um crime e deve ser responsabilizado por isso”.

O Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (SJSP) reiterou que “a defesa aos jornalistas não tem fronteiras. Continuaremos a lutar de maneira intransigente contra o autoritarismo e as seguidas tentativas de impedir o livre trabalho da imprensa”.

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