Em entrevista à LatAm Journalism Review, Flavia Lima, editora de Diversidade da Folha de S.Paulo, comentou a polêmica envolvendo o jornal sobre a suposta publicação recorrente de conteúdos racistas, o que iria contra os princípios de pluralidade de opiniões e liberdade de expressão defendidos pela publicação.

Para Flavia, o debate gerado após a publicação em janeiro de um artigo do antropólogo Antonio Risério, no qual ele identifica supostos excessos das lutas identitárias que estariam levando ao “racismo reverso”, levanta questões muito importantes para o público, como o significado dos conceitos de racismo e de liberdade de expressão.

“É um convite à discussão sobre racismo e também sobre o próprio jornalismo, à medida que propõe uma reflexão mais ampla sobre os critérios editoriais que levam jornais a publicar um texto como o de Antonio Risério, que se distancia da crítica amparada em argumentação consistente e apresenta um conceito, ‘racismo reverso’, que não encontra respaldo nos debates que vêm sendo feitos pela academia sobre as questões raciais, tampouco nos dados sociais e econômicos colhidos pelas instituições de pesquisa. Nesse processo, critérios editoriais podem ser repensados e fortalecidos”, afirmou Flavia.

Para ela, as críticas ao jornal “não buscam obliterar o debate, mas qualificá-lo”. Ela citou como exemplo trechos de textos publicados pela Folha em resposta ao artigo de Risério, como o do historiador Petrônio Domingues e do grupo Judeus pela Democracia, que trazem críticas que qualificam o debate.

“A defesa da liberdade de expressão deve ser feita com firmeza, mas ela não é incompatível com a constatação de que os jornais não acolhem tudo: escolhas são feitas diariamente”, disse Flavia. “Também sabemos que a liberdade de expressão não nos dispensa, como jornalistas, de compreender a relevância daquilo que entregamos ao leitor, do espírito crítico e do compromisso com os fatos”.

Por fim, explicou que tem feito esforços para “tornar a Redação e seu elenco de colunistas e blogueiros mais plurais, assim como as fontes ouvidas para a elaboração do conteúdo entregue ao leitor e à leitora”.

A editora cita iniciativas como a própria editoria de Diversidade, o Programa de Treinamento em Jornalismo Diário exclusivo para profissionais negros, e outros projetos que seriam direcionados para resolver a “inédita crise” gerada pelo artigo de Risério, como a criação de um comitê de jornalistas negros e não negros da Redação para ouvir as demandas e encaminhá-las, a organização de seminários internos sobre pluralismo, liberdade de expressão e questão racial, e a retomada de encontros da direção da Redação com as editorias do jornal, ampliando canais de comunicação.

Leia o artigo da LatAm Journalism Review.

Entenda o ocorrido:

https://www.portaldosjornalistas.com.br/jornalistas-da-folha-cobram-direcao-por-conteudos-racistas/

https://www.portaldosjornalistas.com.br/folha-defende-artigo-considerado-racista-acusacoes-sem-fundamento/

0 0 votes
Article Rating
Subscribe
Notify of
guest
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments