Por Cristina Vaz de Carvalho, editora de J&Cia no Rio de Janeiro

A Rede Globo anunciou em 28/9 que Ali Kamel, diretor-geral de Jornalismo da Globo, deixará as funções executivas no final deste ano para assumir uma posição no Conselho Editorial do Grupo Globo. O comunicado interno foi assinado pelo diretor-presidente Paulo Marinho.

Ali Kamel (Crédito: Sergio Seiffert/Memória Globo)

O sucessor de Kamel será Ricardo Villela. Na Globo desde 2005, depois de dez anos de experiência no jornalismo impresso, ele teve passagens pelo Jornal do Brasil e pelas revistas Veja e Playboy. Chefiou a redação de São Paulo antes de dirigir a redação da Globo em Brasília. Desde 2021 no Rio, tem trabalhado próximo a Ali Kamel como diretor-executivo de Jornalismo.

Para esse posto irá Miguel Athayde, atualmente diretor da GloboNews. Considerado prata da casa, está na Globo desde 1994. Foi produtor dos jornais locais do Rio, editor-executivo e editor-chefe do Bom Dia Brasil. Em 2012, foi convidado para a direção regional de Jornalismo do Rio. Desde 2018, dirige a GloboNews, onde ampliou a cobertura ao vivo para 20 horas diárias.

Vinícius Menezes substitui a Athayde na GloboNews, e Márcio Sternick assume a Editoria Regional Rio.

Ricardo Villela (Crédito: Sergio Seiffert/Memória Globo)

No comunicado, além dos elogios e recordação a dos feitos durante a carreira de Kamel, Marinho menciona bastidores da atuação dele. “Mas, quem conhece bem o Ali sabe que, de todas as coberturas nesses anos todos, a que lhe demandou mais, profissional e emocionalmente, foi a da pandemia. Justamente quando o jornalismo seria mais necessário e nossas equipes mais exigidas, as condições de trabalho impostas pela realidade eram as mais duras. Sob sua liderança, os telejornais cresceram de tamanho, um programa diário dedicado à pandemia foi criado do zero em 24 horas, o espaço do noticiário disparou. Colegas adoeceram. Em meio a tanto empenho de todas as equipes, Ali, além da minuciosa supervisão do trabalho jornalístico em si, passou a incluir duas novas tarefas em sua rotina. Diariamente, escrevia ou telefonava para os colegas doentes ou seus parentes em buscas de notícias de um a um. E, à noite, enviava a todos um relatório intitulado “Nossos colegas”, com um balanço transparente dos doentes e recuperados. Muitos colegas nossos se lembram com emoção desse gesto”.

A despedida

Na mensagem de despedida para os funcionários, dirigida “A todos vocês, com grande admiração”, Kamel lembra seu início na profissão:

“Em 1982, participei da cobertura da Rádio Jornal do Brasil na apuração dos votos na primeira eleição para governador depois do golpe de 1964. Minha tarefa não exigia mais de mim do que ler os boletins de urna para alguém na redação usando um telefone público. Mas a simplicidade da missão não me impediu de viver a experiência com a mesma intensidade com que viveria o jornalismo nos anos seguintes. Vieram a Revista Afinal, a Revista Veja, o jornal O Globo, em 1989, e, desde 2001, a Globo. Ao longo dessa trajetória, nas mais diferentes funções, testemunhei os acontecimentos que marcaram o Brasil e o mundo com os olhos de um jornalista profissional, essa atividade que se mantém indispensável hoje como no passado, talvez mais.

À medida que os anos se passaram, nunca a vivi como um ‘velho homem de imprensa’, esse jargão que designa aquele que já não se surpreende mais com nada. Vivi tudo e ainda vivo com a postura daquele estagiário de 41 anos atrás: com curiosidade, empolgação, vontade de aprender e de acertar. E, talvez o mais importante, com a humildade de saber que o jornalismo é uma atividade coletiva, ninguém faz nada sozinho: o resultado do nosso trabalho será sempre melhor se muitos dele participarem.”

Prossegue dizendo que, desde o ano passado, preparou-se para deixar as atividades diárias e conversou com João Roberto Marinho, presidente do Conselho de Administração e do Conselho Editorial do Grupo Globo, assim como Paulo Marinho, diretor-presidente da Rede Globo. Ambos foram generosos nas conversas e na avaliação do trabalho dele. Lembrou que sua mulher, a jornalista Patrícia Kogut, também se afastou recentemente de suas funções em O Globo.

Lembra ainda seu tempo de trabalho com João Roberto Marinho e menciona o convite para manter a parceria “na condição de coordenador do Conselho Editorial, função que ele decidiu criar agora para auxiliá-lo na condução desse órgão”. Agradece a três gerações da família Marinho por lhe terem proporcionado “os meios, o ambiente, as oportunidades e a liberdade” de se desenvolver profissionalmente. E também a todos os colegas de trajetória, citando alguns nominalmente.

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