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sexta-feira, março 29, 2024

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Sequelas de um Carnaval catastrófico

* Por Cristina Vaz de Carvalho, editora regional de Jornalistas&Cia no Rio de Janeiro

 

Morreu Elizabeth Ferreira Jofre, a radialista Liza Carioca, em decorrência do acidente com um carro alegórico de escola de samba, quando ela fazia a cobertura do Carnaval deste ano. Liza tinha 55 anos e morreu de septicemia na manhã de sábado (29/4), no hospital Quinta D’Or, em São Cristóvão. No acidente, teve fratura exposta na perna e fratura na bacia e chegou a fazer sete cirurgias. Desde então, permaneceu no hospital Souza Aguiar e só foi transferida para o Quinta D’Or em 25/4, quando seu estado de saúde se agravou.

O enterro, em 1º/5, foi no cemitério São Francisco Xavier, no Caju. Estavam no velório de Liza personalidades do samba e Jorge Castanheira, presidente da Liga das Escolas de Samba, que deu declaração aos jornais assumindo a iniciativa de transferir Liza para o CTI do Quinta D’Or, um hospital particular. Ele prometeu ainda mudanças para o próximo Carnaval, a fim de que acidentes como esse não se repitam, e informou que seguem as negociações com a seguradora Mapfre para estipular quanto vai receber cada vítima.

Relembrando: na noite da segunda-feira de Carnaval (27/2), na abertura da apresentação do Grupo Especial no Sambódromo, um carro de três to­neladas da primeira escola a desfilar, Paraíso do Tuiuti, desgovernado, bateu nas grades que separam as arquibancadas da pista. Imprensou contra a grade quem ali estava e feriu mais de 20 pessoas. Após o quê, o carro voltou para a pista e prosseguiu com seu desfile normalmente até o final da Marquês de Sapucaí. Esses fatos foram noticiados em J&Cia 1.091, de 2/3/17. Atualmente, corre na 6ª Delegacia da Cidade Nova um processo contra os diretores de Carnaval e de Alegoria da escola, contra o engenheiro responsável pelas estruturas e o motorista do carro alegórico.

Elizabeth, com o marido e também jornalista Paulo Guterres, o Pau­linho Carioca, era dona da rádio Ação FM. Por estar numa situação muito estressante, Paulo afastou-se recentemente do comando da emissora e foi substituído por Walter Nicolau.

Quem luta pela recuperação

A escola de samba Paraíso do Tuiuti emitiu nota de pesar pela morte de Liza e afirmou ter arcado com os custos do tratamento médico para as vítimas com sequelas e ferimentos graves. Disso discordam outras jornalistas vitimadas na mesma ocasião: lembram que Liza passou 60 dias no Souza Aguiar; Lúcia Mello está até hoje no hospital Miguel Couto, na Gávea; e Cacau Fernandes é assistida no Fundão (Hospital Universitário Clementino Fraga Filho). As duas últimas prosseguem no tratamento pela rede pública, sem receber qualquer atenção dos responsáveis pelo acidente.

A fotógrafa Lúcia Mello sofreu fratura exposta e continua internada há mais de dois meses no Miguel Couto. Submetida a dez cirurgias na perna esquerda, ela aguarda ainda outras duas intervenções e tem a expectativa de deixar o hospital no final de maio. Enquanto isso, acamada, mas otimista, mantém contato com amigos e conhecidos pelas redes sociais, postando no Face as fotos de todos que a visitam. Lúcia é dona do site Tititi do samba.

A também fotógrafa Ana Cláudia (Ca­cau) Fernandes, que fazia um trabalho temporário para o jornal O Dia durante o Carnaval, foi atendida no Miguel Couto, que logo a liberou dizendo que não tinha nada grave. Hoje, com rompimento de dois tendões (manguito e supraespinhal) no ombro, recorre ao hospital do Fundão. Há 15 dias, submeteu-se a uma cirurgia para raspagem de uma infecção, motivada por falta do cuidado inicial adequado. Ela está em casa, sente muita dor, e depende de exames feitos em clínicas particulares, por serem demorados demais na rede pública. O Dia custeou seus exames e o transporte para o tratamento. Cacau acrescenta: “O jornal me deu toda a assistência, inclusive financeira, para pagar minhas contas, já que não posso trabalhar. O Dia está aberto a acertar isso com a Liesa, o presidente do jornal vem resolvendo pessoalmente e parece estar perto de um acordo satisfatório”.

Com um misto de esperança e desânimo, Cacau conclui: “Não lido mais com a Liesa, estou muito debilitada, agora é com meu advogado. Tentei por 60 dias uma negociação, e não consegui. O Leandro [Leandro Azevedo, diretor de Carnaval da Paraíso da Tuiuti] só lembrou que eu existo depois que a moça morreu. Acho lamentável a própria filha [de Liza] dar declaração de que eles não ajudaram em nada”.

Fica a pergunta: quem cobra dos responsáveis? Da Tuiuti, que pôs na pista um carro sem condições de segurança; da Liesa, que ganha das escolas para supervisionar o desfile e responder por ele; do Inmetro, que impõe parâmetros e os fiscaliza; da Riotur, que regulamenta atividades turísticas e credencia quem vai para a pista; do Ministério Público, que defende os interesses da sociedade. Liza Carioca, a jornalista que morreu, entra para as estatísticas dos jornalistas vitimados no exercício da profissão.

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