Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

A nova edição do Digital News Report do Instituto Reuters, referência no mapeamento de tendências de consumo de notícias em 46 países, trouxe novamente inquietações para o jornalismo ao constatar o crescimento da evasão de noticias e o avanço das redes sociais como caminho principal de acesso à informação.

A revelação de que apenas 24% dos jovens entre 18 e 24 anos usaram um aplicativo ou site de empresa jornalística para se informar este ano contra 50% que o faziam em 2015 é uma dor de cabeça para a indústria.

Entre as pessoas de todas as idades, 30% declararam que as redes foram sua principal fonte de encontrar notícias, contra 22% que usaram os canais das empresas.

Mas há nuances a serem observadas quando se coloca uma lupa para enxergar além do bloco monolítico “redes sociais”.

Algumas ganharam espaço como fonte de informação, enquanto outras perderam. O Facebook figura como o grande perdedor, embora ainda seja a rede mais usada para notícias em uma análise consolidada de 12 países (Brasil entre eles), respondendo por 28% da preferência.

Só que a tendência é de queda. Depois de um pico de 42% de domínio em 2016, a rede da Meta perdeu 14 pontos percentuais.

Instagram vem subindo a passos lentos, citado por 14% este ano, enquanto o WhatsApp é apontado por 16% dos entrevistados como principal fonte de notícias na semana anterior, mantendo uma estabilidade em relação aos últimos seis anos.

O Twitter também anda estacionado, em 11%, assim como o YouTube, com 20%. Como era de se esperar, o novato TikTok foi o que mais cresceu, citado por 1% dos entrevistados em 2020 e por 6% em 2023.

O filtro geracional confirma o poder da rede chinesa entre os jovens para conteúdo além de entretenimento. Enquanto apenas 6% dos entrevistados acima de 55 anos disseram se informar pelo TikTok, a taxa sobe para 20% entre os de 18 a 24 anos e fica em 14% o público de 25 a 34 anos.

E nem todas as redes são usadas da mesma forma. Pela primeira vez, o relatório do Instituto Reuters  analisa o tipo de conteúdo preferido pelo púbico nas principais delas, uma informação fundamental para calibrar estratégias de alcance e tráfego dos veículos de mídia e de relações públicas das corporações.

Os resultados combinados dos 46 países onde a pesquisa foi feita este ano mostram que os que usam Twitter, Facebook, YouTube e Instagram para notícias são principalmente atraídos por conteúdo político. No caso do Facebook, 59% disseram consumir informações sobre o tema.

Já o TikTok está do lado oposto: 46% dos que disseram se informar pela rede chinesa estão mais interessados em “notícias que me fazem sorrir”. Essa categoria exclui conteúdo engraçadinho que não se enquadra no perfil “notícia”. Mas pode incluir uma forma mais divertida de informar, como a adotada com sucesso por vários jornais, e o chamado jornalismo de soluções − conteúdo que se distancia do drama e mostra experiências positivas, inspiradoras.

O estudo aprofundou o consumo de notícias via TikTok em alguns países, e encontrou diferenças. Embora no conjunto dos 46 países 36% tenham dito que usam a rede para conteúdo político, no Brasil a taxa pula para 51%. Em seguida aparecem as tais “notícias que fazem sorrir” (47%), clima (37%), saúde (36%) e em último a guerra da Ucrânia, citada por 33% como assunto de interesse.

Apesar dos esforços de Volodymyr Zelensky para manter o conflito em evidência, o público cansou. A guerra pode ser apontada como uma “perdedora”, pelo menos no interesse da população. O tema está na lanterna ou entre os últimos como foco de interesse em todas as redes sociais analisadas. Figura em último em cinco nações em que os assuntos preferidos no TikTok foram examinados. Mas o estudo ressalta que pode ser um efeito de viés algorítmico.

Por falar em algoritmos, eles também não andam agradando. Segundo a pesquisa do Reuters, menos de um terço dos entrevistados acham que receber notícias selecionadas com base em seu consumo anterior é positivo.

No entanto, jornalistas e editores estão agradando menos ainda: apenas 27% dos pesquisados preferem que a escolha seja feita pelos profissionais da área − um reflexo da confiança nas notícias, que este ano caiu mais 2 pontos e ficou em 40%.


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