Por Assis Ângelo
Pois bem, o romance Esaú e Jacó foi publicado em 1904. Antes disso, o nosso Machado publicara Dom Casmurro (1899).
Sem dúvida, Esaú e Jacó transformou-se num dos dez romances clássicos do bruxo do Cosme Velho.
Depois de publicar Esaú e tal, Machado de Assis deixou-se publicar o seu último livro: Memorial de Aires.

Machado era fluminense, como se deve saber.
Morreu em casa, na madrugada de 29 de setembro de 1908. Nesse mesmo dia, madrugada, mês e ano nascia na terra mineira um cara que o futuro haveria de aplaudir: João Guimaraes Rosa.
Rosa, como Machado, inovou a literatura brasileira.
Muitos outros autores do nosso patropi fizeram-se importantes. E não são poucos.
Em 1892, nascia, em Alagoas, um menino que ganharia fama como escritor: Graciliano Ramos de Oliveira.
Leitor amigo, você saberia dizer os pontos de identificação entre Machado de Assis e Graciliano Ramos?
Bom, houve um momento na vida de Machado em que a visão lhe falhou completamente.
Houve um momento na vida de Graciliano em que seus olhos lhe negaram visão. Foi na infância, mas o problema, minimizado, o acompanhou no decorrer dos seus 60 anos de vida.
Como se não bastasse, há outros pontos em comum entre Machado e Graciliano:
Machado era poeta no começo da vida literária.
Graciliano também foi poeta, embora tenha iniciado a carreira como prosador. Seu primeiro conto teve por título O Pequeno Pedinte, publicado num jornalzinho da sua infância. Detalhe: tinha o futuro autor a idade de 12 anos.
Além de poeta, Machado foi quem todos nós sabemos.
Graciliano, por sua vez, foi quem todos nós sabemos.
As histórias de Machado de Assis e de Graciliano Ramos se cruzam em vários momentos.

Machado nasceu pobre de marré, marré e aleluia!
Graciliano não nasceu em berço de ouro. O pai, um brutamontes, o castigava aos gritos e chicotadas. A mãe o humilhava de todas as formas, chamando-o de “bezerro encourado” e/ou “cabra-cega”.
Bezerro encourado significava, lá no passado nordestino, pessoa enjeitada pela mãe, humana ou vaca de rebanho.
A expressão cabra-cega tem origem antiquíssima. Data de muito antes da Idade Média. Surgiu como brincadeira infantil e como brincadeira acabou. A base era vendar os olhos de uma criança, pois brincadeira de criança era e fazer com que a vendada conseguisse segurar outra criança a quem passasse a venda.
No Nordeste essa brincadeira tinha outra versão: uma criança tinha os olhos vendados e de vara em punho tentava quebrar uma panela ou pote de barro pendurada em algum lugar. Tal panela estava recheada de balas e outras guloseimas. Era uma festa.
Na obra de Machado de Assis há referências à cegueira. Na obra de Graciliano também.
Em 1938, o famoso alagoano levaria às livrarias o livro São Bernardo.
Em São Bernardo, o narrador é um ex-guia de cego.
Órfão de pai e mãe, Paulo Honório foi adotado por uma mulher chamada Margarida, que compartilhava a vida com um cego.
O tempo passou e Paulo, que nunca tirou da cabeça a ideia de ficar rico custasse o que custasse, levou a sua mãe para morar consigo na fazenda que comprou por meios questionáveis.
É uma história fortíssima a que se lê em São Bernardo.
Por questões de ciúmes por uma jovem com quem teve a primeira vez na cama, Paulo é preso e condenado a três anos, nove meses e 15 dias depois de esfaquear um rival. Alfabetizou-se na cadeia, graças a um sapateiro com quem dividia a cela.
E fiquemos por aqui.
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