Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Entra década, sai década, mudam as tecnologias de comunicação mas o desconforto entre assessores de imprensa e jornalistas que trabalham em redações parece não ter mudado muito.

É o que mostra uma nova pesquisa da plataforma internacional de distribuição de releases Cision PR, que pode ser vista na íntegra (em inglês) aqui.

A empresa entrevistou 3,1 mil jornalistas em 17 países com o objetivo de coletar insights capazes de ajudar os assessores a direcionarem seus esforços, construírem credibilidade junto às redações e assim aprimorarem os resultados de seu trabalho. As constatações não são novidade para os veteranos na atividade.

O que os jornalistas não querem dos assessores?

O estudo começa com a pergunta: o que os jornalistas não querem? Os entrevistados foram indagados sobre o que os faria bloquear contatos de um profissional de comunicação.

A resposta para 76% deles foi: ser inundado com sugestões de pauta irrelevantes.

Se isso já era importante há 20 ou 30 anos, quando as redações não eram tão enxutas e o excesso de informação despejado pelas redes sociais estava longe de se tornar uma realidade (ou um peso insustentável), é fácil entender por que dois terços dos profissionais de imprensa sentem-se incomodados com sugestões irrelevantes. Não há tempo a perder.

Em segundo lugar figura outro desconforto também associado ao tempo exíguo dos que sobraram em redações com equipes menores: fornecimento de informações imprecisas ou sem fonte indicada.

Essa prática foi apontada por 62% dos entrevistados como inadequada, em um contexto em que há pouco tempo para checagens e os jornalistas precisam confiar no que recebem, sem riscos de incorrerem em erros induzidos por um release.

 Em terceiro lugar na lista do que seria motivo para um bloqueio aparece algo também relacionado à irrelevância: sugestões de pauta que se assemelham a folhetos de marketing, apontados por 57% dos consultados como motivo para bloqueio. São dois lados da mesma moeda: discurso corporativo que não seja transformado em uma pauta de interesse do público leva a sugestão a ser vista como irrelevante.

E o follow-up?

Quem trabalha em assessoria ou em redação deve estar se perguntando: “e o follow up?”. Ele aparece em quarto lugar, e esse pode ser um sinal dos tempos.

O que sempre foi tido como o principal incômodo perdeu importância diante das pautas irrelevantes, informações imprecisas e sugestões com cara de propaganda corporativa. Mas continua lá, lembrando aos assessores sobre o valor de equilibrar a ansiedade em ver a pauta aproveitada e o risco de entrar na lista negra.

Os itens seguintes que fazem jornalistas considerarem interromper contatos com um assessor são esquivar-se de perguntas / falta de transparência em respostas (46%), deixar de responder no mesmo dia ou no deadline (26%), cancelar entrevistas na última hora (25%), desrespeitar embargos (24%), abordagem não solicitada via mídias sociais (19%) e por fim, errar o nome do jornalista, crime fatal para 17%.

O que fazer para um relacionamento melhor?

Sabendo-se o que não fazer, então o que fazer? De novo, nada diferente do que jornalistas de redação já pediam há duas ou três décadas: entenda quem é o meu público e o que ele pode achar relevante.

Este foi o pedido de 74% dos entrevistados pela Cision PR. O tempo limitado para correr atrás de informações complementares influencia a opinião de 66% dos profissionais ouvidos: forneça dados e fontes especializadas.

O incômodo do follow-up, seja por telefone, e-mail ou redes sociais, motivou o terceiro desejo: stop spamming me!. Em seguida aparecem entenda e respeite meu deadline (42%), e dois pedidos bem alinhados aos tempos de redes sociais: mande sugestões curtas que me permitam produzir conteúdo rapidamente (38%), e inclua recursos multimídia, citado por 27%.

O que a pesquisa revela (ou confirma?) não é novidade para muitos que trabalham de um ou de outro lado do balcão. Mas vale como um alerta para ajustar processos e construir uma relação ganha-ganha.


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