A jornalista chinesa Zhang Zhan pode pegar de quatro a cinco anos de prisão por publicar notícias sobre a pandemia de coronavírus no país. Ela foi detida há seis meses, acusada de “provocar distúrbios e criar problemas”, crime que é comumente atribuído a críticos e ativistas políticos na China. Zhang será julgada por um tribunal em Xangai. As informações foram divulgadas em 17/11, pela ONG Chinese Human Rights Defenders (CHRD) no Twitter.
No início do ano, a jornalista informou que cidadãos de Wuhan receberam comida estragada durante o confinamento de 11 semanas e foram obrigados a pagar pelos testes de Covid-19. Além disso, ela veiculou que profissionais de imprensa foram detidos e familiares de vítimas foram ameaçados pelas autoridades.
A Repórteres sem Fronteiras (RSF) anunciou a lista de indicados para o Prêmio RSF para a Liberdade de Imprensa2020, que valoriza o trabalho de profissionais de imprensa que defendem o jornalismo em geral. Ao todo, sete jornalistas e cinco veículos de Rússia, Brasil, Filipinas, Índia e França foram indicados.
O prêmio tem três categorias: Prêmio Coragem, Prêmio Independência e Prêmio Impacto. Nesta última, foi indicada a brasileira Cecília Olliveira, do Intercept Brasil, por revelar o interesse econômico de organizações internacionais na guerra de facções no Rio de Janeiro. Nomes de países como Estados Unidos, China, Rússia, Bélgica e até a OTAN estavam estampados em cartuchos de munição coletados nas zonas de conflito.
Cecília também faz parte da plataforma Fogo Cruzado, que lista casos de violência armada no Rio de Janeiro e em Recife, e reúne um banco de dados aberto com informações úteis para o desenvolvimento de políticas de segurança pública.
A cerimônia de premiação será em Taiwan, em 8 de dezembro, na Biblioteca Nacional de Taipei, com transmissão ao vivo no Facebook (em chinês) e no YouTube (em inglês).
“Agradeço muito meu destino”. A frase é de Yacoff Sarkovas. Sua história, sem dúvida, é um exemplo de dádiva. Não só pelo que empreendeu nas áreas da cultura, branding e comunicação. Mas, principalmente, pela forma.
Impressiona ouvir a sensibilidade e a lucidez permeando as escolhas que Sarkovas faz no meio dos seus empreendimentos. Vai muito além do espírito empreendedor, atento e criativo. Toca no espírito artístico.
É verdade que já havia, na história do jovem Yacoff, o encontro com a música, quando empreende os primeiros sistemas de rádioescuta e banco de dados para distribuição de direitos autorais, no País, mas falo de uma arte menos concreta e mais perceptiva. Da arte de quem dança com fogo. De quem respeita a chama de dentro e de fora.
Bom que se diga: é uma metáfora. Yacoff não é artista de rua nem de palco. É autônomo. Trabalha com propósito.
Crio a figura do dançarino para descrever a sensação que senti ao reconhecer que Sarkovas seguiu a chama da necessidade do mundo a partir da sua criatividade interna. Não é só isso. Existe algo no meio que tornou o relato dele um encontro para a minha busca.
Fogo da Liberdade
O mover-se pelas necessidades de fora a partir das capacidades de dentro tem a sutileza da liberdade no meio. Yacoff não segue o status quo do conforto econômico, que leva muitos líderes ao comodismo do crescimento e à cegueira do desenvolvimento. Nem voa pelo excesso da ambição, que gera a escassez espiritual e o automatismo intensivo.
Isso não significa que Yacoff não aprendeu o valor da invenção mais sagrada da humanidade: o capitalismo. Mas, sim, que soube usá-la de forma rara. Pelo menos pra mim, que olho a partir das margens capitalistas. Sentia medo do que via antes de conhecer a história de quem dança com o fogo da liberdade. Yacoff me apresentou a dança com o espírito da vida.
Ouvi algo raro na sua trajetória: respeito pelo futuro no presente. Pode ser que ouvi apenas algo que desejo muito que exista e só ouvi porque estou atenta. O fato é que Yacoff deixou claro, em mim, o exemplo de quem se responsabiliza pelo que percebe fora e dentro de si. Com isso, senti cheiro do que representa a maior incógnita da vida: a existência da liberdade humana.
Enquanto ele contava os marcos da sua trajetória, eu aprendia a reconhecer a habilidade de quem ouve as demandas do mundo, aprendia a compreender o que é desenvolver consciência da vida e transformar tal consciência em arte de criar para trazer valor ao mundo, e não só aos desejos dos homens.
Aprendendo a se libertar
O medo maior que Yacoff iluminou em mim foi do sistema econômico. Ele contou que também viveu a negligência que vivencio agora: “Por muito tempo negligenciei o dinheiro. Tinha um certo preconceito de ganhar dinheiro até o dia em que se revelou para mim sua função. Ele é a prova concreta que aquilo que você produz profissionalmente faz sentido para os outros”.
Na Fundação Amazônia Sustentável, uma das instituições das quais hoje é conselheiro, o trabalho é ensinar aos moradores da floresta que vale mais dinheiro uma árvore em pé que cortada. Alívio ouvir que existe um jeito de usar o dinheiro para o bem comum.
Quando conheci Yacoff pela primeira vez eu estava cega pelo entusiasmo das descobertas. Era agosto de 2016. Vivia o início da minha capacitação em Pedagogia Social baseada em Antroposofia, entusiasmada pela potência em ser ponte entre a comunicação, o ativismo e o conhecimento recém-adquirido em Desenvolvimento Humano. Seguia o instinto do coração sem a consciência da fera que não discernia o fogo da madeira.
“Se você não sabe quem é e para onde vai, não pode se comunicar com o mundo. Fica difícil, sem esse entendimento primordial”. Eu que o diga. Minha idade é o tempo que Yacoff se dedicou a empreender em instituições antes de transformar seu próprio nome em um valor para a tomada de decisões de grandes líderes: 46 anos.
Na sala de espera daquele prédio, no entanto, eu senti pela segunda vez a alma paulista. A primeira, eu senti nos encontros do Plano Diretor do Conselho Participativo do meu bairro. Quando revelei a Yacoff esse sentimento descobri o trabalho feito naquele ambiente para comunicar com meu coração.
Então, entendi o valor de ter usado as duas horas daquele executivo sem ter clareza do propósito. Aquele encontro não era para ser feito em 2016, mas era crucial para desenvolver o discernimento que sinto agora, que me capacitou para escutar as chamas de quem dança com a vida.
No meio desses quatro anos eu senti vergonha de ocupar o tempo de um CEO sem objetivo claro. Hoje entendo que o mundo mudou. Não fui só eu que aprendi a valorizar a consciência para agir de forma sustentável. Sarkovas também se libertou do mantra da atitude, que ensinou a ação da comunicação, para falar da responsabilidade do futuro aos grandes líderes.
Yacoff Sarkovas
Yacoff Sarkovas
Sarkovas Consultoria Linha do Tempo dos Papéis
1972 a 1986 – Empreendedor
Instituição: Informa Som
1986 a 1996 – Empreendedor, Produtor Cultural e Consultor em Marketing Cultural
Instituições: Articultura
1996 a 2010 – Empreendedor, Consultor em Atitude de Marca
Instituição: Significa
2010 a 2018 – Empresário, Executivo
Instituição: Edelman Significa e Zeno Group
Atualmente – Consultor em Propósito Corporativo; Conselheiro
Ele não vem da comunicação nem do branding. Se formou na prática, pelo empreendedorismo: “Criei minha primeira empresa na área musical aos 18 anos”, conta Yacoff Sarkovas. Nascia a Informa Som, uma ponte entre o sonho de ser engenheiro eletrônico e trabalhar com música, uma grande paixão. “Fornecia boletins estatísticos para gravadoras e instituições de Direito Autoral. Enfrentei muitas dificuldades, mas a empresa cresceu e se consolidou. Aos 28 anos, eu já tinha uma condição confortável”. Foi aí que começou a dança: ele não queria restringir a vida às relações com executivos do mercado fonográfico e autoral. Vendeu a empresa e renasceu.
Fim da ditadura militar. A cultura vivia de passar o chapéu a raros mecenas ou depender da bilheteria. Ele, então, vislumbra acessar os recursos da comunicação das empresas e transforma o teatro contemporâneo do Brasil, produzindo nomes como Gabriel Vilela, Gerald Thomas, Bia Lessa e Antônio da Nóbrega,e autores como Becket e Kafka.“Em pouco tempo me tornei um produtor reconhecido, pois havia muito amadorismo”. Percebeu, então, que a relação simbólica entre marcas e cultura transcendia os projetos que produzia.
Consolidou sua metodologia de planejamento, no inicio dos anos 1990, e tornou sua empresa, a Articultura, uma consultoria pioneira em marketing cultural. Os dois primeiros clientes foram o Estadão e a Natura, onde construiu o consagrado Natura Musical, entre dezenas de trabalhos.
Veio, então, o terceiro passo: tome uma atitude e salve sua marca. Yacoff considerou que as empresas não engajavam mais seus públicos simplesmente falando: era preciso agir. Expandiu sua metodologia, integrando e dando caráter estratégico à presença das marcas nas áreas social, ambiental, cultural, esportiva e de entretenimento. Mudou o nome da consultoria para Significa. Além da Natura, empresas como Votorantim, Itaú, Petrobras, Vale, Claro, EDP, Fiat, Pão de Açúcar, Whirlpool, Santander, SulAmérica, Pepsico e Nestlé estruturam suas atuações, nas áreas de percepção de valor com base no conceito que Yacoff criou.
Em 2010, a Edelman, a maior empresa de relações públicas do mundo, bateu à sua porta. As operações foram integradas e ele se tornou sócio e CEO da Edelman Significa. Viveu pela primeira vez a experiência de se reportar a matriz em Nova Iorque. Concluiu a venda das suas cotas em 2018, quando deixou a agência, depois de fazê-la crescer 170% de forma orgânica e conquistar muitas premiações do setor. Entre elas, a Agência do Ano, na primeira edição do Prêmio Jatobá, em 2017.
Desde então, como consultor, se concentra em revelar e levar o propósito das empresas para o centro de suas estratégias de negócio. Também passou a integrar Conselhos de Administração e a dar suporte voluntário a organizações da sociedade civil no meio ambiente, empreendedorismo social, cultura e educação.
Dezessete anos depois de um escândalo envolvendo a credibilidade das matérias de um de seus repórteres, o The New York Times volta a viver uma crise. Não chega a ser uma questão de má-fé como foi o caso de Jayson Blair, demitido em 2003 por plagiar e forjar 36 das 73 reportagens publicadas ao longo de cinco meses. Mas já está fazendo grande estrago.
No centro da controvérsia está a série de podcasts Caliphate (Califado), de autoria da premiada correspondente Rukmini Callimachi, uma das estrelas da redação, especializada em terrorismo. O problema é que o podcast, no ar até hoje, é todo baseado nos relatos de um canadense de 25 anos que foi preso em setembro passado pela polícia do país, sob a acusação de falsificar seu passado como combatente do Estado Islâmico.
O jovem pode nunca ter estado na Síria, e as histórias que contou no podcast teriam sido simplesmente inventadas. Diferentemente da fraude de Blair, desta vez o motivo da crise parece ter sido o que os psicólogos chamam de viés de confirmação, que faz as pessoas atentarem mais para o que acreditam e ignorarem dados que os contradizem, gerando uma abordagem tendenciosa, na maioria das vezes não intencional.
Ben Smith, colunista de mídia do próprio New York Times, sentenciou que o caso obscurece não só a repórter como o próprio jornal. Também apontou erros em outras matérias da correspondente, que estão sendo todas revisadas. Callimachi, que colecionava prêmios, passou a colecionar críticas. Inclusive de colegas da redação e de ex-colegas.
—- Veja todos os detalhes do caso, o perfil do falso ex-combatente, as inconsistências que foram relevadas pela correspondente e sua equipe, a atuação da polícia, a análise de especialistas e como o jornal vem lidando com essa crise em mediatalks.com.br.
O Prêmio Influency.me será este ano realizado de forma online. No lugar da festa que reúne cerca de mil pessoas, será transmitido em uma live nesta quinta-feira (19/11), às 20h, com apresentação da comediante Samantha Shmütz.
A premiação valoriza o trabalho dos melhores influenciadores digitais do País nas categorias Beleza, Gastronomia, Viagem e Turismo, Tecnologia, Música, Variedades, Humor, Moda, Negócios, Família, Fitness, Opinião, Games, Ciências e Curiosidades. Confira a relação completa dos finalistas do prêmio.
A reportagem Candidato de Manaus conta com o hospital da família, a Covid e o Judiciário para subir nas pesquisas, do Intercept Brasil, foi retirada do ar pela Justiça Eleitoral amazonense. O texto, publicado em 13/11, contava como Ricardo Nicolau (PSD), candidato à Prefeitura de Manaus mas que acabou sendo derrotado, aproveitou seu acesso privilegiado ao interior do hospital municipal de campanha da cidade para gravar imagens vestido de branco e visitando leitos de pacientes como se fosse um médico.
A reportagem mostrava também que parte das ações judiciais movidas pelos adversários de Nicolau contra ele foram julgadas pela juíza eleitoral Margareth Rose Cruz Hoaegen. Ela decidiu em favor do candidato em dois processos que questionavam as imagens filmadas dentro do hospital. O texto do Intercept destacava que a juíza é grande amiga de Jeanne Nicolau, cunhada do candidato, e que também esteve no aniversário de Jean Cleuter, advogado de Ricardo Nicolau.
Após a publicação, o candidato pediu a exclusão da matéria e inclusive o fim do Intercept Brasil. Nicolau entrou com quatro representações contra a reportagem, e uma delas ficou sob responsabilidade do juiz Alexandre Henrique Novaes de Araújo, que, assim como a juíza Hoaegen, também tem relações próximas com a família Nicolau, segundo o Intercept.
O juiz manteve o site no ar, mas determinou a censura do texto, alegando que “a publicação imputa fatos sabidamente inverídicos”. O Intercept escreveu que, “até agora, não sabemos o que, na reportagem, era ‘sabidamente inverídico’”. (Veja+)
Realizado pelo terceiro ano consecutivo pela Imagem Corporativa, o Scandinavian Day reúne entre estas quarta (18) e quinta (19) 12 especialistas de Brasil e Escandinávia, além de quatro embaixadores, para compartilhar os avanços dos países e empresas daquela região em diferentes dimensões: inovação tecnológica; sustentabilidade; responsabilidade social; educação; cidadania e transparência. É também objetivo do evento ajudar na criação de pontes entre os ecossistemas de negócios do Brasil e dos países nórdicos, ampliando por exemplo o potencial de parcerias.
No painel de abertura, com foco na visão de futuro dos países nórdicos e possível ampliação das conexões com o Brasil, confirmaram presença os embaixadores de Dinamarca, Nicolai Prytz; Finlândia, Jokko Leinonen; Noruega, Nils Martin Gunneng; e Suécia, Johanna Brismar-Skoog.
O Estadão transmite em suas plataformas digitais as duas manhãs da programação do Scandinavian Day, e vai publicar um caderno especial sobre o tema no dia 27 de novembro.
A quarta temporada de The Crown (Netflix) tem nos últimos dias disputado espaço na imprensa e nas mídias sociais britânicas com dramas reais, como a ausência de um acordo com a União Europeia a seis semanas do Brexit e a quarentena do primeiro-ministro Boris Johnson por ter se encontrado com um parlamentar que testou positivo para o coronavírus. A série disparou uma corrida para comprovar ou desmentir histórias de um passado que parecia sepultado, envolvendo sobretudo a princesa Diana.
E acabou desenterrando um episódio que de tão inacreditável bem poderia ter sido inventado pelo autor Peter Morgan, que admitiu ter mesmo usado “licenças poéticas” na série: a explosiva entrevista que Diana concedeu à BBC há 25 anos foi obtida com a ajuda de documentos forjados usados para pressioná-la.
A conversa com o então jovem repórter Martin Bashir é tida nos meios jornalísticos britânicos como “a entrevista do século”, por ter revelado fatos íntimos do desastroso conto de fadas. Celebrizou a frase “há três pessoas nesse casamento” e expôs o transtorno alimentar da princesa. Foi assistida por 23 milhões de espectadores.
Mais um abacaxi para a BBC descascar
Curioso é que o Reino Unido sofre com a tradição dos tabloides sensacionalistas que muitas vezes adotam práticas heterodoxas em suas apurações. Desta vez, no entanto, foi a confiável BBC a valer-se de recursos que certamente não fazem parte de seu código de ética. Pior: a história volta à tona justamente em um momento em que a rede vê-se ameaçada de perder sua principal fonte de financiamento, a taxa obrigatória paga pelas residências do país para ter acesso a seus canais.
A julgar pela movimentação em torno do caso, até parece que foi semana passada que o desconhecido jornalista do programa Panorama conseguiu o que o mundo inteiro tentava: uma exclusiva com a mulher mais famosa do planeta, falando com sinceridade devastadora para a família real.
Para convencer Diana, Bashir pediu a um designer da BBC para falsificar extratos bancários que comprovariam um dos medos da princesa: o de estar sendo vigiada pelo serviço secreto. E assim ela teria concordado em falar, adicionando o requinte de crueldade de pedir que a entrevista fosse ao ar no dia do aniversário do ex.
Não é o primeiro repórter a lançar mão de expedientes discutíveis para conseguir um furo. Mas em uma rede com a função pública como a BBC, é de assombrar. E joga luz sobre uma vulnerabilidade de empresas jornalísticas e de tantas outras: controles para identificar falhas individuais.
A extensão dos erros da imprensa
Os danos causados por erros corporativos variam conforme o tipo de organização. Em jornalismo, custam caro para a reputação de quem promete entregar notícia confiável e fiscalizar más práticas da sociedade. Mas podem custar ainda mais caro para o personagem da notícia.
No caso de Diana, muitos acham que lhe custou a vida. A instabilidade emocional e a crença de que estava sob vigilância a teriam levado a abrir mão da segurança oficial, vindo a morrer em um acidente no carro dirigido por um motorista despreparado e alcoolizado.
A BBC não está na berlinda apenas por não ter atuado preventivamente, mas também pelo que veio depois.
As denúncias feitas na época foram abafadas, embora tenham até sido publicadas pelo Mail on Sunday. Uma investigação interna isentou o repórter de culpa e acabou punindo… o designer que forjou os extratos.
Agora, o irmão da princesa exigiu − e conseguiu − a reabertura do caso. A rede renovou as desculpas. Bashir, que atualmente é editor de religião, submergiu alegando graves sintomas da Covid-19. Mas foi fotografado semana passada caminhando na rua.
Em relato pessoal publicado pelo The Times nesta quarta-feira (18/11), o ex-repórter sênior do Panorama Tom Mangold, demitido após a história, disse que “o caso vai além de Bashir, dizendo respeito a como a BBC mentiu não apenas para esconder o fracasso de seus padrões editoriais (..) mas para proteger a cadeia de comando que deveria compartilhar a responsabilidade pelo escândalo”. E finaliza: “Por favor, minha querida BBC, não vamos nos juntar à moda venenosa dos fatos alternativos quando só pode haver uma verdade. Você sabe qual é e onde se esconde. Então, esvazie agora todos os seus armários escuros”.
New York Times também vive constrangimento
Rukmini Callimachi
O caso da BBC pode parecer coisa do passado, inferindo-se que nos dias de hoje organizações jornalísticas sérias mantêm controles rigorosos. Mas o New York Times enfrenta um constrangimento semelhante.
Em outubro, a premiada jornalista Rukmini Callimachi, especializada em cobertura do Oriente Médio, viu-se engolfada numa controvérsia depois da prisão de um canadense que se fazia passar por ex-membro do Estado Islâmico. Ele foi o personagem principal de uma série de podcasts estrelada por ela em 2018.
O caso foi noticiado por vários veículos, incluindo o próprio Times, cujo colunista de mídia Ben Smith foi duro com a própria casa. Agora, toda a produção da jornalista está sendo questionada.
De novo, o que aparenta ser resultado de falta de controles volta a arranhar reputações.
Assim como fez a BBC há 25 anos, a direção do jornal vem bancando a história. Manteve o podcast no ar, com a ressalva de que a fonte falou sob pseudônimo − deixando de levar em conta que a policia canadense afirma ser ele um farsante. Será que daqui a um quarto de século o NYT terá que se desculpar também?
Esta semana (17/11), Chico Otávio e Vera Araújo lançaram nas livrarias, pela editora Intrínseca, Mataram Marielle – Como o assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes escancarou o submundo do crime carioca. Livro-reportagem, fruto de apuração minuciosa dos premiados repórteres investigativos, o assassinato da vereadora e seu motorista, em 2018, tornou-se emblemático não somente por ser um claro ataque à democracia e às bandeiras defendidas pela parlamentar, mas também por marcar um novo patamar de atuação da criminalidade na cidade.
Repórteres experientes e testemunhas de longa data de várias investigações policiais, os autores esmiuçaram a rede que movimenta o submundo carioca: traficantes, milicianos, torturadores egressos dos porões da ditadura, ex-policiais treinados assumindo o papel de assassinos de aluguel, bicheiros. As disputas travadas entre eles estão por toda parte, povoam as páginas do livro e mostram como o caso foi determinante para escancarar a atuação do crime na capital fluminense.
Chico Otávio é repórter e professor de Jornalismo na PUC-Rio. Iniciou a carreira em 1985, na Última Hora, passou pela sucursal Rio do Grupo Estado, produzindo reportagens para O Estado de S. Paulo, Jornal da Tarde e Agência Estado. Em 1997, transferiu-se para O Globo, onde hoje cobre Política. Ganhou sete vezes o Prêmio Esso. Vera Araújo é repórter de O Globo, além de advogada, tendo passado por Jornal do Brasil e O Dia. Em 2005, revelou a existência de grupos paramilitares que extorquiam dinheiro de moradores e foi dela a ideia de batizá-los como milícias. Pela reportagem, ganhou o Especial Tim Lopes de Jornalismo Investigativo e depois, entre outros, o Embratel, um Esso Regional, e o Troféu Mulher Imprensa.
O Comunique-se divulgou nesta terça-feira (17/11) a pesquisa Assessor de Imprensa na Visão do Jornalista, que entrevistou cerca de 300 profissionais de redações sobre as melhores práticas e os maiores incômodos na relação entre eles. O objetivo do estudo é aprimorar o contato entre os ramos.
Os resultados indicam que mais da metade dos jornalistas participantes (cerca de 51%) acreditam que a atuação dos assessores é primordial para seu trabalho; aproximadamente 43% disseram que às vezes ajuda, mas às vezes atrapalha; pouco mais que 4% classificam como indiferente no dia a dia; e menos de 3% consideram que mais atrapalha do que ajuda.
Sobre a relevância do trabalho dos assessores em meio à pandemia, mais de 36% dos entrevistados classificaram como muito importante; pouco menos de 30% como importante; 28% como normal; 6% alegam ser ruim; e 0,3% muito ruim.
No que se refere a melhores práticas no contato entre os dois setores, o envio de releases aparece como uma pauta relevante, principalmente o dia que os assessores enviam o material para os jornalistas: a maioria dos participantes prefere receber os releases na segunda-feira. Além disso, segundo o estudo, o assunto do e-mail é o fator mais relevante para aproveitar ou não o material. (Veja+)