Liana John morreu na noite da última sexta-feira (23/7), em São Paulo. Ela lutava contra um câncer no pâncreas há seis anos.
Liana John morreu na noite da última sexta-feira (23/7) no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Ela lutava contra um câncer no pâncreas há seis anos.
Autora de mais de dez livros, recebeu cinco vezes o Prêmio de Reportagem sobre Biodiversidade da Mata Atlântica; foi vencedora do Biodiversity Reporting Award, Latin American Category (2009), da Conservation International; do Prêmio Embrapa de Reportagem e do Prêmio J&Cia/HSBC de Imprensa e Sustentabilidade.
Jornalista ambiental, foi colaboradora em veículos como National Geographic Brasil, Horizonte Geográfico, Veja, Planeta Sustentável, Rádio Eldorado e Revista Pantanal. Durante seis anos foi editora executiva da revista Terra da Gente e por 15 respondeu pela editoria de Ciência e Meio Ambiente da Agência Estado.
Liana John preparou uma carta de despedida diante do agravamento do seu quadro de saúde. No texto, ela diz não levar ressentimentos nem arrependimentos, pois “estava previsto, pude usar os eventuais prorrogamentos para me preparar. Sigo leve meu destino. Vivi intensamente”.
Casada com o pesquisador Evaristo de Miranda, chefe da Embrapa Territorial, Liana deixa quatro filhos: Tiago, Íris, Melissa e Daniel, e o neto Nico.
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Ofensor também ficará obrigado a publicar em redes sociais pedido de desculpas ao jornalista
Da Agência Câmara de Notícias (Reportagem: Murilo Souza / Edição: Rachel Librelon)
O Projeto de Lei 2068/21 estabelece o piso de 20 salários mínimos (R$ 22 mil, atualmente) para indenizações judiciais pagas a jornalistas que sofrerem dano moral no exercício da profissão. O texto tramita na Câmara dos Deputados.
Segundo a proposta, de autoria do deputado Alexandre Frota (PSDB-SP), além do pagamento da indenização, o ofensor também ficará obrigado a publicar em redes sociais pedido de desculpas ao jornalista.
Ao ressaltar que a profissão de jornalista é fundamental para a democracia, Frota critica “fanáticos que querem reprimir ou intimidar pessoas que exercem a profissão”.
“Já demos entrada em projetos de lei que elevam as penas para crimes cometidos contra jornalistas, agora resta-nos dar uma satisfação mínima pecuniária para que estes ataques aos jornalistas cessem. Há quem diga que a pior pena é aquela que dói no bolso”, diz o autor.
Tramitação
O projeto será analisado, em caráter conclusivo, pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.
Por Renato Gasparetto(*), especial para Jornalistas&Cia/Portal dos Jornalistas
Há algumas semanas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, mobilizou a Cúpula de Líderes sobre o Clima, que reuniu alguns dos principais líderes mundiais, para discutir ações de enfrentamento às mudanças climáticas. Entre os convidados estavam integrantes do Fórum de Energia e Clima de Grandes Economias, que concentra os 17 países responsáveis por 80% das emissões gases de efeito estufa, dentre eles o Brasil, além das nações vulneráveis às mudanças climáticas e países que se destacam na preservação do meio ambiente.
Durante o encontro, o presidente Jair Bolsonaro destacou que o País está aberto à cooperação internacional na área ambiental, além de reforçar que vamos reduzir a zero o balanço das emissões de carbono até 2050. A promessa veio logo após o envio de uma carta a Biden declarando o compromisso do Brasil com o fim do desmatamento ilegal na Amazônia até 2030.
Todos esses esforços são necessários. A crise climática representa um risco para a estabilidade global, com impacto direto na economia. Hoje, esse é um dos maiores desafios da humanidade. Estudos do Met Office, serviço britânico de meteorologia, revelam que desde o início da Revolução Industrial o planeta aqueceu 1,1 grau. Pode parecer pouco, mas as consequências podem ser observadas nas anormalidades climáticas crescentes, como calor elevado ou frio inesperado (em janeiro último a Espanha teve a maior nevasca em 50 anos), bem como crises hídricas (como a que atingiu São Paulo em 2014) e ciclones mais frequentes.
O impacto social e econômico dessas variações climáticas é enorme. O sistema de saúde, por exemplo, padece com o atendimento a ocorrências de doenças tipicamente sazonais fora de seu período normal. Pandemias aparecem. O agronegócio é afetado – e consequentemente o suprimento de alimentos–, as indústrias e escolas fecham.
Modelos climáticos indicam que a Terra está no caminho de enfrentar um aquecimento entre 3 e 4 graus até 2100, se não diminuirmos as consequências do efeito estufa no planeta. O número é preocupante. Segundo cientistas, o máximo de aquecimento que o planeta aguentaria antes de sofrer consequências gravíssimas seria de 2 graus, neste mesmo horizonte de tempo.
Os dados revelam a criticidade da situação e exigem que todos os setores da sociedade (e não apenas os governos) se unam para encontrar uma solução. Embora o setor de telecomunicações tenha baixo impacto ambiental quando comparado a outros segmentos, também assumimos nosso papel em busca de soluções.
A pandemia elevou a percepção da essencialidade das operadoras de telecomunicações, pois ajudamos a diminuir a pegada de carbono dos nossos clientes quando conseguimos evitar viagens de avião ou deslocamentos dentro das cidades, substituindo reuniões presenciais por videoconferências. Afinal, a economia passou a se viabilizar graças às conexões virtuais. Porém, mesmo a tecnologia gera emissões, que também precisam ser neutralizadas. E estamos trabalhando para isso no nosso cotidiano.
A tecnologia que promove as conexões só é capaz de desempenhar seu papel se houver energia elétrica para todos e também para garantir o funcionamento de seus negócios. Consciente dessa questão, a maior empresa de telecomunicações do Brasil, com 96 milhões de clientes, foi a primeira empresa do setor na América Latina a atingir a marca carbono neutro em 2019, com 100% de utilização de energia renovável. Essa companhia reduziu, entre 2015 e 2020, em 70% as emissões de gases de efeito estufa (GEE), com a meta de se tornar uma empresa Net Zero até 2025
A economia circular é outro conceito com o qual é preciso trabalhar na prática. Nosso país está entre os que mais produzem lixo eletrônico no mundo, e as grandes marcas do segmento precisam estar comprometidas em promover o consumo consciente e dar a destinação adequada para esses resíduos. A logística reversa também precisa voltar seu foco para os equipamentos eletrônicos ao final da vida útil, por isso é importante convidar a sociedade a refletir sobre as ações necessárias para tornar o mundo mais sustentável.
Um programa da maior marca de telefonia no País já conseguiu coletar, por meio de um programa específico, cerca de 7,6 toneladas de resíduos eletrônicos, como cabos, carregadores, baterias, pilhas e celulares, em 2020, um volume 15% maior do que no ano anterior. O valor que resulta da reciclagem do lixo eletrônico é destinado a projetos de formação e fluência digital voltados para educadores e alunos mantidos por uma fundação da companhia. É importante observar que em 2020, essa empresa também encaminhou para reciclagem 96,5% de todo o volume de resíduos eletroeletrônicos gerados em sua operação, com mais de 13,5 mil toneladas separadas e descaracterizadas para serem reincorporadas à cadeia produtiva como novos insumos.
À medida em que os serviços são expandidos para levar conectividade a todo o Brasil, com novas redes de fibra e estruturas para o 5G, cresce também o desafio de encontrar soluções que nos permitam avançar com o menor impacto. Precisamos crescer de modo sustentável e alinhado às expectativas da sociedade, nos aspectos Ambientais, Sociais e de Governança (ESG), com menos emissões, menor uso dos recursos naturais e um cuidado cada vez maior com os resíduos, inclusive os que estão nas mãos dos clientes. Acreditamos que só teremos um planeta saudável se cada pessoa e organização fizer a sua parte. ESG não é mais opção, é premissa para a perenidade das empresas.
(*) Renato Gasparetto é Vice-presidente de Relações Institucionais e Sustentabilidade na Vivo
A GloboNews estreia na próxima segunda-feira (26/7) o telejornal Conexão GloboNews, comandado por Leilane Neubarth, José Roberto Burnier e Camila Bomfim, baseados, respectivamente, em Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília.
O programa começa às 9h e terá duração de quatro horas, com informações ao vivo e análises dos principais acontecimentos das primeiras horas do dia. A ideia é que a apresentação tripla, de profissionais de diferentes regiões, dê um formato inovador ao projeto.
O Conexão GloboNews entra no lugar do Edição das 10, então comandado por Aline Midlej, que assumiu recentemente o noturno Jornal das 10, em substituição a Heraldo Pereira, que retornou à Globo aberta no comando do Bom Dia Brasil.
Crédito: Divulgação/GloboNews
O novo programa marca o retorno de Burnier e Leilane aos estúdios, após longo período de home office. “Estou muito animado com esse retorno e este novo projeto”, disse Burnier. “Após tanto tempo de casa, receber um desafio como esse é extraordinário. A sensação é de estar começando tudo de novo”.
Sobre o programa, Leilane comentou que o jornal será “diferente, ágil e conversado. Vamos levar aos assinantes notícias e fatos com suas análises de uma forma clara e coloquial. A ideia é conectar os assuntos de maneira que o público se sinta dentro do programa”.
Segundo reportagem de Malu Gaspar (O Globo), a Polícia Federal fechou desde terça-feira (20/7) o acesso público a seus documentos cadastrados no Sistema Eletrônico de Informações (SEI) do governo federal, o que vai contra a Lei de Acesso à Informação (LAI), que diz que a publicidade dos documentos oficiais é “preceito geral”.
Normalmente, ao dar entrada em um documento no SEI, o servidor tem a opção de escolher se ele deve ser público, de acesso restrito ou sigiloso. No caso da PF, são arquivados documentos como atos administrativos, ofícios, portarias, promoções, remoções, compras ou licitações, abertura de inquérito e peças de investigação.
Mas a nova regra vai contra a LAI pois estabelece que todo documento registrado por um policial federal no sistema é agora de acesso restrito ou sigiloso. A opção de registro público foi simplesmente excluída das redes de computadores da PF, destaca a reportagem.
Agora, para tornar determinado conteúdo público, o policial deve abrir um processo no sistema e enviar um pedido com justificativa de motivos “para análise e deliberação” à comissão nacional do SEI.
Em comunicado sobre as mudanças, Rodrigo CIT Ramos Lopes, presidente da Comissão Nacional do SEI-PF, escreveu que o motivo foi a “necessidade de compartimentação de informações sensíveis inerentes a diferentes áreas da Polícia Federal, assim como a possibilidade de lançamentos equivocados por servidores no momento do cadastro”.
Questionada pela reportagem, a PF explicou que “não se trata de imposição de caráter sigiloso ou reservado aos documentos, mas apenas de restrição de documentos preparatórios até a devida publicação ou decisão final”, quando passam a ser tratados de acordo com a sua classificação legal (públicos, sigilosos ou reservados)”.
Para Bruno Brandão, diretor-executivo da Transparência Internacional, a mudança “perverte radicalmente o que estabelecem a Lei de Acesso à Informação, a Constituição Federal e as boas práticas internacionais”.
Segundo ele, a decisão é “ainda mais preocupante por se inserir em um contexto geral de retrocesso na transparência pública e de autoritarismo crescente no Brasil, inclusive com riscos de abusos por parte de órgãos de inteligência. É fundamental que os órgãos policiais estejam sob controles institucionais adequados e prestem contas à sociedade – e, para isso, a transparência é imprescindível”.
Eu ainda estava saboreando minha primeira reportagem publicada no jornal O Diário, de Ribeirão Preto, que merecera manchete de capa: “Raios matam rebanho de vacas leiteiras em Guatapará”. Era setembro de 1958 e o Brasil acabara de ganhar a sua primeira Copa do Mundo na Suécia quando, durante uma tempestade furiosa, tive o estalo de rabiscar aquelas linhas numa folha de papel, daqueles em se embrulhavam pães e outras compras no bar da estação. Tinha apenas 16 anos e aquelas linhas, tortuosas e mal traçadas, fizeram-me ficar famoso na vila onde morava, embora, construída às margens do rio Mogi Guaçu, minha casa ficasse afastada da área urbana.
Aquele episódio marcou o início de minha carreira de jornalista, que já dura 63 anos. O prazer em ver meu nome estampado no jornal foi algo glorioso para um jovem caipira e uma certa soberba me estimulou a fazer mais, embora me locomovesse com dificuldade por causa das sequelas deixadas pela poliomielite. Mas eu jamais desisti de ser jornalista, ainda que esses problemas físicos me obrigassem a andar ajudado por aparelho ortopédico e um cajado usado como bengala.
Na caça a novas pautas, o que era uma tarefa difícil, pois nada ou quase nada acontecia naquela pacata e modorrenta vila, tive a ideia de narrar as atividades que faziam parte de uma velha tradição. Algo que era mantido como um valor cultural pela população desde os tempos em que o lugar era apenas uma pequena estação onde se embarcavam madeira e café coletados em fazendas rio acima. Segundo o costume, toda antevéspera da Páscoa um grupo “roubava” animais que, já de forma predisposta, eram deixados ao alcance dos “larápios”. Depois, levados para a casa de uma família, aquela que naquele ano se oferecera para fazer o almoço pascoalino, e para o qual eram convidados todos os donos de leitoas, leitões, galinhas, patos e outros mais “surrupiados” de seus quintais. No Sábado de Aleluia, voluntários passavam o dia ajudando no abate, limpeza e destrinche das “vitimas”, que ficavam depois repousando em tempero aguardando o preparo que começava já na madrugada do domingo.
A cada Sexta-feira Santa o mesmo ritual se repetia e sempre com mais e mais participantes à medida que ia crescendo o número de famílias que passavam a se radicar na vila. A coisa funcionava assim: no começo da semana uma “comissão” passava de casa em casa “convidando” os donos para participarem da tradição. Quem aceitasse assinava um recibo declarando a doação de quais e tantos animais, informando o local em que eles seriam deixados e de onde poderiam ser “furtados”. Segundo a tradição, esses “delitos” não eram considerados pecado, pois ocorriam nas horas mortas do dia em que Cristo foi crucificado, o que, portanto, recebia aprovação de Deus Pai como desforra pela morte de seu Filho. Como a vila ainda não tinha padre e a igreja estava apenas nos alicerces, todos tinham essas premissas como paradigma e por isso abençoavam a existência dos “ladrões da meia-noite”.
A “comissão” se reunia na esplanada da estação e o “chefe” distribuía as turmas, cada uma com um líder, as quais eram encarregadas de “roubar” os animais da casa de fulano, sicrano e beltrano. A mim, que não tinha condições de escapar de uma possível emboscada de alguém arrependido, cabia uma tarefa tão importante quanto à dos “ladrões”. Por volta das 23h50 da quinta-feira, enquanto as turmas seguiam cada uma para o lado da casa que lhes fora designada, eu percorria quatro quarteirões até chegar à residência de Benedito Ferreira da Silva, misto de marceneiro, carpinteiro e barbeiro. Em frente ficava o posto onde fora instalada a chave e ele era o responsável por, toda seis da tarde e toda seis da manhã, ligar e desligar a iluminação pública. Para isso, seu “Dito Caboclo”, como era chamado, transformara uma vara de eucalipto em um dispositivo que tinha um gancho de ferro acoplado na ponta, com uma angulação que permitia perfeitamente manejar a alavanca do pequeno transformador. Para cumprir essa missão eu pedia emprestado a seu Benedito o relógio de bolso, da marca Patek Phillipe, que ele herdara do pai, meu avô português Manuel Vicente da Silva. Já com o varão em punho, quando os ponteiros marcavam meia-noite em ponto eu deixava as ruas da vila no escuro. Era o sinal para que começasse a “roubalheira”. Tudo não podia durar mais que o combinado e quem extrapolasse acabaria se expondo, pois exatamente à 0h15, hora morta, como se dizia, eu religava a chave e devolvia a energia às lâmpadas das ruas.
Seria apenas uma reportagem documental, mostrando uma tradição exclusiva de Guatapará, que não se repetia em outras localidades da região. Pelo menos, não que eu soubesse. Todavia, o que tornou o assunto saboroso foi uma confusão envolvendo meu primo Sebastião Silva, o “Tiãozinho”. A ele e a mais dois “ladrões” coubera a empreitada de recolher uma leitoa e um pato do quintal de seu Eufrásio Moreira, manobrador da Paulista, cunhado de José Nuno da Veiga, o “Português”, concessionário do bar da estação e que era fanho de nascença. À “comissão”, Eufrásio declarou que deixaria a jovem suína e o penoso palmípede num cercadinho atrás da “casinha”, o banheiro daqueles tempos. Numa época em que não havia ainda sistema de esgoto, essa dependência era construída sobre uma fossa a alguns metros da casa, quase sempre ligada a ela por uma área coberta que permitia, em dias de chuva, ir lá e servir-se dela sem se molhar.
Pois quando chegaram, “Tiãozinho” e seus companheiros, que sabiam onde exatamente deviam fazer a “coleta”, não encontraram os bichos, o cercado estava vazio e então o jeito era esclarecer a questão com os donos. Só não contavam com um detalhe: Eufrásio e a irmã Rosaria viajaram para visitar um parente na Santa Casa de Araraquara, prometendo voltar a tempo de participar do almoço da Páscoa, que naquele ano seria em nossa casa, na beira do rio.
Por causa das atividades no bar, “Português” não foi. No meio da noite, sozinho, barriga doendo por causa de uma maionese vencida, foi usar a privada e ouviu um barulho estranho. Deu com a leitoa e o pato no cercadinho e como não sabia nada sobre o “acerto” feito pelo cunhado e pela mulher, sua irmã, achou que tinham escapado. Assim, embora apertado, antes de entrar na “casinha” resolveu levá-los de volta ao chiqueiro e ao galinheiro, que ficavam do outro lado. Depois, já lá dentro, para ficar mais confortável, tirou a calça e a pendurou num prego na parede.
Meu primo e os doutros dois pularam a cerca e nada dos bichos. Artur Gonçalves, o “Cará”, e Aparecido Bronzini Bonfim, o “Marreco”, ambos colegas de escola e dois dos meus melhores amigos, começaram a cochichar perguntando uns aos outros onde estariam as “prendas”. De repente, lá de dentro da privada veio uma voz esganiçada: “Quem, quem, quem?”
− É o pato! Tão na “casinha”! –, exclamou “Tiãozinho”, agora sem a preocupação de falar baixo.
Rapidamente os três deram a volta, um deles com um saco de estopa nas mãos, acenderam um fósforo, empurraram a porta e deram com o “Português” sentado no vaso, sem calça. Achando que estava sendo assaltado, ele queria saber quem eram, levantou-se, caiu, levantou-se de novo, e em meios a uma enxurrada de impropérios disparou atrás dos três. Só que, por ele já ser uma certa idade e os três estarem ainda no vigor da juventude, a caçada não durou mais que meio quarteirão. Enquanto “Tiãozinho”, “Cará” e Marreco” sumiam na escuridão, não restou a “Português” se não voltar semipelado à casinha e dar vazão ao que agora era uma terrível disenteria…
Resultado: quando voltaram no trem da manhã de sábado e souberam do ocorrido, Eufrásio e Rosária fizeram questão de levar a leitoa e o pato e entregá-los nas mãos de minha mãe a tempo de se tornarem parte do “banquete” pascoalino. Claro que escrevi a matéria não só falando da tradição como também contei tim-tim por tim-tim a história de um português fanho, confundido com um pato, apanhado sem calças por três “ladrões da meia-noite”.
Na manhã de domingo eu estava na estação esperando a chegada do trem da Mogiana. Quando “Português” abriu o bar, entrei e lhe disse:
− Seu Nuno, aqui está o dinheiro.
Entreguei-lhe algumas notas e moedas de cruzeiro e lhe pedi que me entregasse dez exemplares do jornal que estava chegando de Ribeirão Preto.
Ele pegou o dinheiro, conferiu e o colocou na caixa registradora.
− Pegue os seus e deixe o restante no balcão –, respondeu-me antes de ir para os fundos do prédio.
Ele sequer desconfiara que eu sabia de tudo e que transformara a história numa reportagem publicada, sem tirar nem pôr, em O Diário. Por precaução, assim que o estafeta veio trazer os jornais, peguei os meus, entrei na minha charretinha puxada pelo bode “Capeta”, todo negro, sem qualquer pinta de outra cor, e dei no pé. Cerca de dois quilômetros adiante, ao chegar em casa, fui ler o jornal enquanto as pessoas iam pegando os outros exemplares. Durante o almoço do Domingo de Páscoa o assunto não foi outro senão as peripécias de “Tiãozinho”, “Cará”, “Marreco” e “Português” nas horas mortas de uma madrugada da Paixão em Guatapará.
Plínio Vicente da Silva
A história desta semana é novamente uma colaboração de Plinio Vicente da Silva, assessor da Prefeitura de Boa Vista. Ele foi chefe de Reportagem do Estadão e correspondente do jornal em Roraima, onde mora desde abril de 1984.
O lançamento da Bloomberg Línea, no Brasil e em outros países da América Latina, está previsto para o início de agosto.
O lançamento da Bloomberg Línea, marca multiplataforma de notícias, no Brasil e em outros países da América Latina, está previsto para o início de agosto. O novo veículo de comunicação trará cobertura, com informações em português e espanhol, sobre negócios, economia, política, cultura, estilo de vida, ciência e tecnologia. Os formatos serão webseries, lives e conteúdos audiovisuais diferenciados, como vídeos de curta duração com os principais fatos do dia.
No Brasil, 40 colaboradores estarão a postos na redação, sediada em São Paulo, sob o comando de Toni Sciaretta. Ex-Valor Econômico e Folha de S.Paulo, ele tem mais de 20 anos de experiência na cobertura financeira e empresarial. Ao todo, são mais de 70 profissionais, entre editores, fotógrafos e repórteres espalhados pelas regiões cobertas pela Bloomberg Línea, para levar a informação em tempo real.
Toni Sciarretta
Também integram a equipe Ana Siedschlag (ex-Investing.com e Bloomberg) e Kariny Leal (ex-Forbes e Bloomberg), que serão editoras assistentes. E ainda Alexandre Inácio (ex-Valor), Igor Sodré (ex-Bloomberg), Melina Flynn (ex-Grupo RBS), a repórter de tecnologia Marcela MCarthy (ex-Tech Crunch), entre outros. O editor sênior da Bloomberg Carlos Rodriguez, que chefiou a organização na Cidade do México, atuará como produtor executivo da Bloomberg para a operação conjunta.
Quando for ativado, o site de notícias vai oferecer aos usuários um teaser gratuito, com a proposta de assinatura, mensal ou anual paga, para acesso ilimitado a todos os relatórios locais e regionais, em português e espanhol. Os leitores poderão receber notícias de todos os países da região numa plataforma one stop shop, sem precisar procurar em diversos sites. A Bloomberg Línea deve apresentar os detalhes do lançamento da plataforma em coletiva de imprensa em agosto.
Para homenagear netos e avós, J&Cia convidou Elisabete Junqueira, idealizadora e editora do site Avosidade.
Na próxima segunda-feira (26/7) celebra-se no Brasil o Dia dos Avós. E quantos não são os jornalistas e profissionais de comunicação que já chegaram à chamada “avosidade”. Sem contar que todos, claro, são netos, certamente a imensa maioria nutrindo carinho especial pelos pais de seus pais.
Para homenagear netos e avós, J&Cia convidou Elisabete Junqueira, idealizadora e editora do site Avosidade, para materializar essa singela homenagem, que você confere na pág. 14. Uma delícia. E os antecipados parabéns a todos aqueles que já cruzaram essa mágica fronteira, vivenciando experiência única e marcante.
O YouTube removeu na quarta-feira (21/7) 15 vídeos, sendo 14 de lives, do canal do presidente Jair Bolsonaro na plataforma, publicados entre o ano passado e este ano. O conteúdo foi derrubado por conter informações falsas sobre a pandemia e violar a política de informações médicas corretas sobre a Covid-19.
Entre as transmissões removidas, estão duas feitas em agosto do ano passado com o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e com a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos Damares Alves. Outro vídeo, de 27 de maio deste ano, já sob a nova política do YouTube, foi feito diretamente do Amazonas. E um dos conteúdos derrubados foi uma entrevista da médica Nise Yamaguchi à CNN, repostada por Bolsonaro, na qual ela recomenda o uso de cloroquina e ivermectina.
O Metrópoles questionou o YouTube sobre o assunto e este respondeu em comunicado que, “após análise cuidadosa, removemos vídeos do canal Jair Bolsonaro por violar nossas políticas de informações médicas incorretas sobre a Covid-19. Nossas regras não permitem conteúdo que afirma que hidroxicloroquina e/ou ivermectina são eficazes para tratar ou prevenir Covid-19; garante que há uma cura para a doença; ou assegura que as máscaras não funcionam para evitar a propagação do vírus”.
O canal de Bolsonaro recebeu um alerta de usuário, que é enviado quando ocorre uma violação das regras de uso do YouTube. Isso significa que, na próxima violação que o presidente cometer, ele sofrerá um strike e ficará por uma semana sem poder usar o canal.
O YouTube informou que suas políticas e diretrizes seguem as orientações de autoridades de saúde locais e globais e que são aplicadas “de forma consistente em toda a plataforma, independentemente de quem seja o produtor de conteúdo ou de visão política”.
A partir desta sexta-feira (23/7), com o início da Olimpíada de Tóquio, uma legião de fanáticos por esporte começará uma maratona pelas madrugadas tentando acompanhar tudo o que acontece lá no Japão. Mas para uma outra turma, as próximas duas semanas reservarão poucas horas de sono, raros períodos para fazer uma refeição decente e uma correria absurda em busca da melhor informação. Os jornalistas que cobrem os Jogos Olímpicos não terão vida fácil para trabalhar no maior evento esportivo do planeta.
Se normalmente a jornada olímpica do jornalista é insana, quando se vai cobrir uma edição dos Jogos do outro lado do mundo, as dificuldades são ainda maiores. Afinal, não basta apenas trabalhar no horário em que as coisas acontecem na cidade-sede da Olimpíada. No caso da imprensa brasileira, significa encarar uma jornada de pelo menos 18 horas diárias, em que muitas vezes a rotina em Tóquio se confunde com os horários da redação no Brasil.
Já cobri quatro Jogos Olímpicos, mas não tive oportunidade de estar na edição de Pequim-2008, a última Olimpíada realizada na Ásia até esta edição no Japão. Mas fui para Sydney, em 2000, com um fuso horário ainda mais cruel, 13 horas à frente do Brasil. Aqueles seriam Jogos nos quais a tecnologia teria um peso considerável na cobertura. Foi a primeira Olimpíada em que a internet teria um papel relevante na cobertura.
Como era uma situação totalmente inusitada, o próprio COI chegou a cogitar não permitir o credenciamento de jornalistas apenas de empresas de internet. O medo de pirataria das imagens das competições era a maior neurose entre os cartolas do COI, cuja mentalidade era muito mais fechada em relação ao relacionamento com a mídia, algo que mudou muito nos dias atuais.
Por acaso, na época eu trabalhava justamente em um veículo dessas chamadas “novas mídias”. No início de 2000, a convite do amigo Maurício Noriega, atual comentarista de esportes do Grupo Globo, deixei o Lance para integrar a equipe que iria colocar no ar um novo portal esportes chamado SportsJá!, que não existe mais.
Teoricamente, não haveria tempo hábil para conseguirmos uma credencial. Mas graças ao esforço do Noriega, que comandava a redação do site, conseguimos duas credenciais, em uma parceria com a Rádio K, de Goiânia, que pertencia ao atual senador Jorge Kajuru. Os escolhidos para ir a Sydney fomos eu e Erick Castelhero, atualmente diretor de Redação da Gazeta Esportiva.
Apesar do fuso horário ser pior, havia em Sydney-2000 ao menos uma vantagem em relação aos colegas que estão agora no Japão: os Jogos foram realizados na primavera australiana, em setembro, com temperaturas bem agradáveis, em comparação com o calor sufocante que o verão de Tóquio tem mostrado nos últimos dias. De resto, foram os mesmos desafios que toda Olimpíada reserva: acordar bem cedo, fazer diversas pautas ao longo do dia e correr para transmitir o seu material. Como o SporstJá! tinha a parceria com a Rádio K, tínhamos que gravar sonoras com os atletas nas zonas mistas das arenas. Como nossa credencial era de rádio, tínhamos uma posição até privilegiada em relação aos colegas de jornal e de internet.
Foi essa tarefa que me causou o maior sufoco nessa Olimpíada. Estava programado para acompanhar a final do vôlei de praia feminino, no qual o Brasil tinha a melhor dupla do mundo na época: Adriana Behar e Shelda. As duas cumpriram uma campanha impecável e a final contra a dupla australiana Natalie Cook e Kerri Pottharst não deveria trazer maiores dificuldades.
O problema é que as brasileiras erraram demais naquele dia e foram derrotadas por 2 sets a 0. Abaladíssimas após cerimônia do pódio, onde não paravam de chorar, Behar e Shelda foram para a coletiva. Obviamente a conversa foi rápida porque as duas não tinham condições psicológicas de dar entrevista. Só que eu precisava de uma sonora decente delas. O assessor de imprensa do COB me disse que haveria a chance de conversar com elas em um espaço de relacionamento com patrocinadores que o comitê tinha no centro de Sydney. O problema: elas só estariam lá após às 22 horas. E ainda eram 14h!
Bom, deu tempo de cobrir um jogo de vôlei, mandar o material para a redação e me dirigir ao local onde Behar e Shelda estariam. Era do outro lado da cidade, bem distante do hotel onde estava hospedado. As duas se atrasaram meia hora até que chegaram. Entre um bicão e outro pedindo autógrafo, consegui um espaço e fiz as entrevistas de que precisava. Eram quase 23h, tinha que correr para pegar o metrô aberto. E sem jantar, fui escrever no hotel, todo o resto do material de gaveta feito durante o dia, além de editar as sonoras. Quando terminei de enviar a última matéria e fui ver o relógio, já eram 6 da manhã DO DIA SEGUINTE.
Foi assim, na prática, que aprendi uma regra básica do jornalista que trabalha em Jogos Olímpicos: o dia nunca tem somente 24 horas.
Marcelo Laguna
Marcelo Laguna cobriu quatro Olimpíadas, quatro mundiais de basquete, três Jogos Pan-Americanos. Atualmente, escreve o blog Laguna Olímpico no site Olimpíada Todo Dia e trabalha como assessor de comunicação na Agência Race.
O Portal dos Jornalistas traz neste espaço histórias de colegas da imprensa esportiva em preparação ao Prêmio Os +Admirados da Imprensa Esportiva, que será realizado em parceria com 2 Toques e Live Sports, no segundo semestre.