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quarta-feira, dezembro 17, 2025

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Fernão Silveira amplia escopo de trabalho na Comunicação Global da Stellantis

Fernão Silveira

A área de Comunicação Corporativa global da Stellantis, sob os cuidados do vice-presidente executivo Bertrand Blaise, passou por novas mudanças em sua estrutura nos últimos meses. A principal delas envolve o trabalho do brasileiro Fernão Silveira, que já era responsável pela área de Estratégia, Planejamento e Monitoramento de Performance, e que desde março passou a responder também por Gerenciamento de Crise e Relacionamento com a Mídia.

A mudança ocorre pouco tempo depois da própria ida de Fernão para a Holanda, em janeiro deste ano, onde está localizada a sede do grupo, em Hoofddorp, cidade da região metropolitana de Amsterdã. Promovido em maio do ano passado, após três anos respondendo pela área de Comunicação da FCA para a América Latina – e após a fusão com a PSA, da própria Stellantis –, o executivo seguiu trabalhando os primeiros meses do Brasil, mas optou pela mudança para a Europa com a família em janeiro, passando assim a atuar mais próximo da direção da área.

“A possibilidade de viver na Europa foi algo que pessoalmente e profissionalmente fez muito sentido para mim e para minha família”, explica Fernão. “A diversidade cultural que encontramos aqui é algo que eu valorizo muito e espero poder aprender bastante com isso. Além disso, poder atuar fisicamente mais próximo da direção do grupo faz muito sentido para o trabalho que estou desenvolvendo”.

Em entrevista a este Portal dos Jornalistas, Fernão Silveira falou sobre essa nova fase, as novidades do cargo e o importante momento para profissionais de comunicação brasileiros em companhias globais.

Portal dos Jornalistas Como está sendo a adaptação a este novo momento?

Fernão Silveira

Fernão Silveira – Assumi essa posição na estrutura global da Stellantis pouco mais de um ano atrás, e desde então tudo tem sido muito dinâmico. Na verdade, acho que desde que entrei na FCA, em 2018, nunca cheguei a ter um momento de calmaria. Tudo muda muito rápido, o que, se pararmos para pensar, é uma característica da própria indústria automotiva. Já em relação à vinda para a Europa, faz pouco mais de quatro meses que nos mudamos, e, ao mesmo tempo que tudo é muito recente (estamos inclusive desempacotando ainda algumas caixas que vieram do Brasil), também parece que já estamos aqui há anos, de tanta coisa que já aconteceu nesse período.

PJComo fica o escopo do seu trabalho com esse novo desafio assumido em março?

Fernão – Agora eu tenho atuado de maneira muito mais completa na estratégia de Comunicação Corporativa do grupo. Sou responsável por cuidar de todo o planejamento global, do que será publicado e como será publicado em relação aos grandes projetos corporativos.

PJÉ uma estrutura muito grande?

Fernão – Por questões estratégicas, a gente não divulga o tamanho total de nossa equipe, mas de maneira prática, temos uma estrutura bastante enxuta e muito bem estabelecida, mas que se beneficia de uma rede global muito ampla, e que representa não apenas as operações locais do grupo, mas também as marcas que dele fazem parte. Vale destacar que atualmente são 14 marcas, cada uma bem diferente das outras, mas com valores muito bem estabelecidos.

PJQuais as principais novidades que vocês estão preparando para o futuro?

Fernão – Muitos projetos importantes, que definirão o rumo do grupo, estão sendo e serão anunciados ao longo dos próximos meses e anos. Como não poderia deixar de ser, dentro da Stellantis estamos dando um passo muito grande rumo à eletrificação, e por isso teremos diversas novidades neste sentido. Nossa aspiração é ser não apenas uma “car company”, que a gente tem sim muito orgulho de ser, mas o que queremos mesmo é nos tornar referência como uma “tech car company”, estando na vanguarda da tecnologia, principalmente em eletrificação. É uma missão que envolve todo mundo em nossa equipe. Uma transformação muito bacana e interessante.

PJEm menos de um ano, a imprensa automotiva brasileira viu dois executivos que representavam duas de suas mais tradicionais marcas serem promovidos a cargos de relevância nas operações globais de suas companhias, primeiro você e depois Priscilla Cortezze, que assumiu recentemente como head de Comunicação Corporativa do Grupo Volkswagen. A que você atribui este movimento e como é visto o profissional brasileiro internacionalmente?

Fernão –O profissional de comunicação corporativa brasileiro, especialmente na indústria automotiva, é muito resiliente, principalmente porque está acostumado a trabalhar em uma indústria inserida em um país extremamente desafiador. A gente brinca que se você faz comunicação no Brasil, você faz em qualquer lugar do mundo. O Brasil não é pra qualquer um. É um país de muitas complexidades.

Além disso, o comunicador brasileiro tende a ser flexível, é aberto a novas tendências e muito acostumado a trabalhar sob crise. Isso nos dá um diferencial muito grande.

Também tem a questão de que, cada vez mais, as grandes multinacionais estão atentas às questões relacionadas à diversidade cultural de suas equipes. É fundamental para o sucesso de uma marca saber comunicar com uma única voz, mas sem deixar de lado os diferentes sotaques.

E, para finalizar, em relação a Priscilla, é uma excelente profissional que eu não tenho dúvida de que terá muito sucesso aqui na Europa. É muito legal ver esse movimento, especialmente no caso da Priscilla, por se tratar de uma posição feminina em um setor que ainda engatinha quando falamos de diversidade de gênero.

Jovem Pan News chega ao Paraná e movimenta redações

A Rádio Jovem Pan News chegou a Curitiba e Londrina e movimentou as redações do Grupo RIC, afiliado da Rede Jovem Pan e da Record TV no Paraná, com 150 jornalistas.

Rafaela Moron e Guilherme Rivaroli assumiram os programas RIC Notícias Dia Curitiba e RIC Notícias Dia Paraná, das 10h às 11h, de segunda a sexta. Já em Londrina, o comando será de Raquel Rodrigues e de Vinícius Buganza, também apresentador do Cidade Alerta Londrina.

Mais tarde, das 16h às 17h, o RIC Notícias Opinião segue com apresentação de Eduardo Scola e comentários de Marc Sousa.

Sobre os apresentadores

Rafaela Moron atua na área desde 2002, com passagens por CBN, Transamérica, TV Educativa e TV Tarobá. Seu companheiro de microfone Guilherme Rivaroli iniciou em 2006 e trabalhou em Band News e Rede Record.

Vinícius Buganza trabalha em rádio desde os 17 anos, tendo passado por emissoras como Rádio Londrina, Rádio Globo e Rádio Brasil Sul, além de revistas, jornais impressos e sites de notícias. Esteve também na RPC TV e desde o ano passado está de volta à RIC como apresentador do Cidade Alerta Londrina.

Com mais de 30 anos de experiência, Raquel Rodrigues teve passagens por emissoras de rádio e TV de SBT, Globo e Sistema CBN, como repórter, editora e editora-chefe.

Tiro pela culatra

Nos anos 1970, quando as redações não tinham o atual aspecto de seções de telemarketing ou a assepsia de sala de espera de plano de saúde, esgueirava-se entre mesas e cadeiras uma série de inofensivas “sacanagens”, usualmente lançadas como cascas de banana na caminhada inicial dos focas ou de veteranos distraídos.

O caótico e esfumaçado ambiente de algumas redações produzia estórias saborosas, muitas delas já reproduzidas neste espaço. Na opinião do colega Luciano Martins, o que retirou das redações a prerrogativa de produzir histórias saborosas foram os “famosos” projetos jornalísticos, disseminados a partir dos anos 1980, com tiro inicial disparado pela Folha de S.Paulo. Concordo, mas acho que o espírito de camaradagem entre profissionais, que foi substituído pela guerra de poder salpicada com a fogueira das vaidades, também pesou muito nessa equação.

Pois bem. A “pauta que valia o emprego” era uma daquelas hilárias pegadinhas usadas para apavorar os focas ou os novatos no emprego. Normalmente tratavam de assuntos espinhosos, inexistentes ou fictícios, envolvendo personagens também quiméricos ou extremamente ácidos aos jornalistas. Seu cumprimento era tido como praticamente impossível, dai valer o emprego, porque vinha sempre acompanhada do lembrete de que era uma solicitação da direção da empresa ou mesmo do dono.

Até já havia sido alertado sobre o “presente de grego” quando um dos chefes de Reportagem da Agência Folhas incumbiu-me de ir ao Instituto Butantã, instalado no campus da Universidade de São Paulo (USP), para saber do diretor Isaias Raw em que estágio estava uma determinada vacina esquecida havia meses pela imprensa.

Garotão, ainda na faixa dos vinte e tantos anos − acreditando, portanto, que o mundo me devia todas as satisfações que um jornalista exige −, cheguei ao Butantã no início de uma tarde e disse à secretária que precisava entrevistar o diretor.

− O Dr Raw não fala com jornalistas –, disse ela com ar sério, mas que aos meus olhos ainda não treinados pareceram lampejar uma nesga de ironia.

Isaías Raw (Crédito: Rodrigo Capote/Folhapress)

Como não falava com jornalistas? Ele era um empregado da sociedade, com salário regiamente pago por todos nós, portanto não poderia se recusar a me receber, um jornalista, inclusive diplomado e trabalhando para um grande jornal. Que história era aquela de dar plenos poderes a uma secretária para barrar repórteres? Se ele se recusava a “dar satisfações à sociedade” deveria dizer isso pessoalmente, olhando nos meus olhos e apresentando mais argumentos para ver se eu aceitava.

O bate-boca subiu de tom ao ponto de o próprio diretor abrir a porta de sua sala para verificar o que estava ocorrendo. Inteirado de minha pretensão resolveu me encaminhar à sua sala para explicar o porquê não falava com jornalistas. Havia quase um ano o pesquisador barrava os repórteres em função de um deles ter distorcido totalmente informações sobre uma pesquisa. O fato lhe rendera muitos dissabores e chicana de seus pares. Magoado, enviou à direção dos grandes veículos de imprensa um comunicado informando sua decisão.

De qualquer forma, disse ter ficado impressionado com a veemência da minha argumentação em defesa do cumprimento da pauta e decidiu-se por abrir uma exceção e me conceder a entrevista, desde que me comprometesse a só escrever se não tivesse a mínima dúvida sobre as informações e explicações repassadas.

Quando voltei à redação já estava ciente de que a pauta era sacana, certeza que se concretizou ao atravessar o silêncio sepulcral que desceu sobre a redação quando solenemente entrei no recinto e me dirigi à minha máquina para escrever o texto.

Mal colocara a primeira lauda na máquina quando o chefe de Reportagem perguntou o que estava fazendo. Disse que daria detalhes depois de terminar o texto, pois sabia que estávamos entrando no período de fechamento e havia muita informação para organizar.

Ele insistiu sobre a veracidade da entrevista e com cara de sonso lhe disse que o diretor havia me recebido muito bem, fora muito solícito e bastante didático.


A história desta semana é novamente uma colaboração de Ubirajara Júnior, que teve passagens por Folha de S.Paulo, Diário Popular, TV Globo, TV Gazeta, SBT, Rádio Gazeta, Autolatina, Radiobras (Brasília), Secretaria Estadual de Esporte e Turismo (S. Paulo), Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Jornal da Ciência (SBPC) e Agência Espacial Brasileira (AEB). Diz que depois de 41 anos de atividade resolveu cuidar só da própria vida e se aposentou.

Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected].

Transparência Internacional – Brasil e Abraji levarão jornalistas da Amazônia para Congresso de Jornalismo Investigativo

Transparência Internacional – Brasil e Abraji levarão jornalistas da Amazônia para Congresso de Jornalismo Investigativo

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) e a Transparência Internacional – Brasil estão lançando um edital para levar dez jornalistas investigativos que atuam na Amazônia para a versão presencial do 17º Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, a ser realizado de 5 a 7 de agosto, em São Paulo. As inscrições vão até 8 de junho.

A ideia é levar profissionais de imprensa com atuação local nos estados da chamada Amazônia Legal (Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e Maranhão). Os selecionados terão acesso a palestras, rodas de conversas, cursos e oficinas, realizados no campus da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Passagens aéreas, hospedagem e ingresso do Congresso serão pagos por Abraji e Transparência Internacional − Brasil.

Interessados em se inscrever devem ter feito ao menos uma reportagem sobre questões relacionadas a transparência e integridade, abordando temas como meio ambiente, obras de infraestrutura, licitações e obras públicas, entre outros, publicadas em qualquer meio. O edital valoriza a diversidade de gênero, etnia, raça e região na seleção, e podem participar jornalistas experientes ou em início de carreira.

Os selecionados serão anunciados em 13 de junho. Mais informações e inscrições aqui. Em caso de dúvidas, é preciso enviar um e-mail para [email protected] com o assunto “Edital Abraji/TI”.

Amara Moira estreia coluna de esportes com viés LGBT+ no UOL

Com medo da violência por ser travesti, Amara Moira, nova colunista do UOL, passou dez anos longe dos estádios de futebol e retornou 24/5.
Com medo da violência por ser travesti, Amara Moira, nova colunista do UOL, passou dez anos longe dos estádios de futebol e retornou 24/5.

Travesti e doutora em crítica literária pela Unicamp, Amara Moira estreou uma coluna no UOL sobre esportes com viés LGBT+, feminista e antirracista. Em seu primeiro artigo, fala sobre a relação entre travestis e o futebol ao longo do tempo: 

“Alguns anos atrás, se você digitasse “travesti” + “futebol” no Google, todas as matérias que apareceriam seriam de algum escândalo com jogadores famosos envolvendo travestis. (…) Se vocês fizerem hoje o mesmo experimento, o resultado vai ser diferente. Pelo menos quando eu digitei essas palavrinhas mágicas, os primeiros resultados eram de matérias a respeito de pessoas trans começando a ocupar espaços no futebol e em outros esportes. (…) Mas a nossa presença num esporte tão popular não se resume a estarmos dentro do campo. Vocês acham que travesti não torce pra time de futebol?

Por meio de seu perfil do Twitter, Amara revela que tudo começou quando Milly Lacombe a sondou sobre a possibilidade de se tornar colunista do UOL Esporte, e que foi uma das propostas mais inesperadas que já recebeu. “Mas vocês acham que eu não ia aceitar? Inesperada é meu sobrenome”, brinca. 

Amara é torcedora do Palmeiras e afirma que vem daí sua relação de amor ao esporte. Apesar disso, ela precisou manter-se afastada dos estádios por dez anos, a partir do momento que iniciou sua transição de gênero, por medo de violência: 

“[O estádio] é um espaço em que a LGBTfobia é muito forte, mas ontem eu fui e quero contar um pouco disso, de como os LGBT’s estão começando a fazer parte desse universo que antigamente se pensava que não tinha nada de LGBT”, declarou, em live do Canal UOL no YouTube. 

Além da coluna no UOL, Amara Moira escreve sobre transexualidade e feminismo para o BuzzFeed Brasil.

 

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Diversidade, Equidade e Inclusão: a mídia, de estilingue a vidraça

Especial MediaTalks DEI − Diversidade, Equidade e Inclusão na mídia global já está em circulação

Por Luciana Gurgel

Luciana Gurgel

Não é de hoje que a DEI (diversidade, equidade e inclusão) entrou na agenda das grandes companhias, expostas a cobranças do público e de investidores.

No jornalismo, a cobrança demorou mais a chegar. Mas veio com força, colocando empresas de mídia na situação em que elas raramente se encontram: a de vidraça, e não de estilingue.

Em todo o mundo multiplicam-se pesquisas demonstrando o que os que vivem no mundo da imprensa já sabem: com raras exceções, a mainstream media continua privilegiando homens brancos e da elite.

Correspondentes de cinco países que colaboram para o Especial DEI do MediaTalks, que circula na semana que vem, relataram situações diversas. Em alguns mercados, o problema é gênero; em outros, a representação de povos originários.

Na Europa uma das grandes questões sociais é a aversão aos migrantes, criminosamente promovida por governantes de extrema direita, e que que não é endossada pela grande imprensa. Pelo menos não de forma explícita.

O Reino Unido é um exemplo dessa ambiguidade. Com exceção de tabloides mais radicais, a narrativa anti-imigração do Brexit não foi incorporada formalmente pelos grandes veículos.

E boa parte da mídia condenou o plano recente do governo de Boris Johnson de criar um centro de migrantes em Ruanda. Lá, os que chegarem ao país pelo Canal da Mancha ficarão aguardando os vistos serem processados.

Mesmo assim, alguns jornais abriram espaço para colunistas defenderem o projeto. E noticiaram com certo entusiasmo a desistência de pedidos de asilo por parte de migrantes que temiam ser levados para o país africano.

O tratamento dúbio em relação aos imigrantes pode ser resultado do que acontece da porta para dentro das redações. Disparidades sociais, de raça, de gênero e diferenças em remuneração resistem firmes, embora sejam admitidas nos acompanhamentos feitos pelas próprias empresas de mídia.

Se o problema é reconhecido e as transformações não acontecem na velocidade esperada, outras formas de pressão, além de reclamar, começam a emergir.

Nos EUA, negros e hispânicos se organizaram em associações para exigir igualdade de condições na mídia.

E 140 entidades assinaram uma carta aberta aos organizadores do Pulitzer pedindo que relatórios de diversidade, equidade e inclusão sejam levados em conta para qualificar empresas jornalísticas a receberem o cobiçado prêmio, o mais importante do setor.

O reconhecimento principal deste ano foi para o Washington Post, com uma série reconstruindo o antes, o durante e o depois da invasão do Capitólio, em 2021.

Se a regra proposta no manifesto estivesse em vigor, talvez ele não fosse premiado. O sindicato de jornalistas do Post divulgou um relatório atualizando a situação da DEI no jornal, que não é boa. E piorou em um ano, apesar de uma editora-chefe mulher, Sally Buzbee, ter assumido o comando.

Em um painel conduzido pelo Media Diversity Institute do Reino Unido no congresso internacional de jornalismo de Perugia, em abril, um dos debates foi sobre se diversidade deve virar critério para o financiamento do jornalismo de interesse público, geralmente custeado por governos ou pelas taxas cobradas da população.

Exemplos como o de Joe Biden, que nomeou a negra, imigrante e gay Karine Jean-Pierre para o cargo de porta-voz, são importantes para dar o recado de que há gente diversa capacitada a ocupar posições de destaque.

Entrevistado para o especial do MediaTalks, o professor de jornalismo da Universidade Carlos III de Madri Luis Albornoz, autor do capítulo de mídia do mais recente relatório da Unesco sobre diversidade na indústria cultural, defende as cotas de discriminação positiva em locais onde as desigualdades são mais acentuadas.

Luis Albornoz (Crédito: Divulgação/Universidade Carlos III de Madri)

Em alguns países, elas começam na academia. Deborah Berlinck relata em nossa edição especial o funil existente na França para acesso às poucas escolas de jornalismo, que acabam sendo frequentadas por filhos da elite.

Mudar não é fácil, embora caminhos existam. Sem vontade, contudo, o difícil vira impossível.


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Maria Gal estreia programa de entrevistas sobre inclusão racial

Maria Gal estreia programa de entrevistas sobre inclusão racial
Foto: Thiago Bruno

Fazer uma comunicação “com a cara do Brasil”. Esse é o papel da inclusão racial na TV, segundo Maria Gal. Estreando como apresentadora, ela está à frente do Preto no Branco, programa de entrevistas focado no protagonismo negro que discutirá a inclusão racial em diferentes espaços. Com seis episódios, a primeira temporada da produção independente estreia nesta quinta-feira (26/5), às 23h30, pela BandNews TV. 

Um diferencial da produção é que a diversidade está também atrás das câmeras: mais da metade da equipe é formada por pessoas negras, além de lideranças femininas, como Kelly Castilho, diretora do programa. 

Entre os convidados estão Liliane Rocha, Lia Schucman, Teo Van Der Loo, o jogador Aranha, Renato Meirelles, pastor Henrique Vieira, Joana Mendes, Erica Malunguinho e Gabriela Mentes.

Em entrevista ao Portal dos Jornalistas, Maria Gal falou sobre a atual situação do negro no audiovisual brasileiro, as motivações para a criação do novo programa, e sobre a importância da diversidade racial na comunicação. Confira a íntegra:    

Portal dos Jornalistas – Atualmente, qual a situação do negro no audiovisual brasileiro? O que você vê como conquista e o que falta para termos mais equidade nessa área? 

Maria Gal Antes de falar como que está o profissional negro nessa área do audiovisual hoje, é importante lembrar que a gente está falando de um setor, o audiovisual, que é um dos que tem o maior PIB no Brasil. Maior que o da indústria farmacêutica, inclusive. E a situação hoje do profissional negro é que está no início de uma caminhada, de uma mudança. Estamos falando de um setor que tem a maioria branca, e homens brancos principalmente, nas posições de maior poder. Falo de produtores, diretores, roteiristas, quem assina os cheques. Enquanto o profissional negro, pensando em quem está à frente das câmeras, como atrizes e atores negros, eles ficam à mercê desse olhar do outro, que muitas vezes é estereotipado, até racista, em relação ao tipo de personagens que os atores e que as atrizes podem fazer. Existe uma pesquisa da Ancine que demonstra isso, feita, se não me engano, em 2017, e ela mostra que, dos filmes produzidos no Brasil, apenas 4,4% tinham atrizes negras no protagonismo. Na função de diretores, roteiristas, e produtores, [o número] era ínfimo, a porcentagem quase não aparecia no gráfico, de tão baixa.
É claro que está mudando, e essa mudança está vindo de forma um pouco mais contundente após o assassinato de George Floyd. Então é importante lembrar que, infelizmente, para a gente ter uma mudança mais contínua como estamos vendo agora, teve que acontecer um fato tão cruel como aquele para o mundo se mobilizar, para as empresas mundiais se mobilizarem. Então, o que eu posso dizer é que a gente está no início de uma caminhada, e que precisamos de mudanças urgentes, rápidas, e mais radicais.

PJ – O que vocês prepararam para este novo programa? E o que esperam alcançar com ele?

MG – Esse programa veio justamente após o assassinato do George Floyd. Primeiro eu ocupei a rede [social] da atriz Bianca Bin, fazendo algumas entrevistas lá. E conversando com uma amiga, que foi a Rosane Svartman, veio essa ideia da importância de continuar essas entrevistas. Também me inspirei em alguns programas norte-americanos, um deles, o da Oprah, que é o The Oprah Conversation. O objetivo é educar a nossa sociedade. A gente viveu o mito da democracia racial por longos anos, e ainda tem muita gente hoje que acredita na meritocracia e no mito da democracia racial, então o que a gente quer é educar, letrar a sociedade. Cada episódio terá um tema diferente e trará um entrevistado, negro ou branco, que tenha um trabalho consistente a respeito do tema da diversidade. Eles falarão para podermos debater e escutar, é um programa que propõe o diálogo, e para isso, é de extrema importância que as pessoas estejam na escuta. 

PJ – Você tem aplicado a inclusão na prática, em sua produtora, contratando uma maioria de profissionais negros. Muitos gestores alegam que é difícil fazer isso. Você concorda? O que é preciso fazer para ter uma equipe realmente diversa? 

MG – A mudança em qualquer empresa tem que vir de cima pra baixo, não tem jeito. São os grandes gestores, os grandes executivos, os líderes, que têm que estar letrados a respeito desse tema. Dizer que “é difícil encontrar profissionais negros qualificados”, a questão é, onde se está procurando? Onde está se fazendo essa busca? Porque profissionais existem, obviamente, o que falta é a oportunidade. E se a gente quer de fato uma sociedade mais justa, com maior equidade, é de extrema importância que esses gestores, esses executivos, líderes, comecem a se reeducar a respeito dessa pauta. 

PJ – Quais são os benefícios da diversidade e inclusão racial para a comunicação?

MG – Os benefícios são inúmeros. Desde a questão da empregabilidade, de poder contratar mais pessoas negras para esse setor que é tão complexo, até a gente ter de fato uma comunicação, uma TV, um cinema com a cara do Brasil. As pessoas querem se ver. Às vezes, eu ligo a TV e me sinto na Dinamarca, aliás, ouso dizer, às vezes nem na Dinamarca [risos], porque mesmo nos países nórdicos, a gente tem visto muitas, muitas pessoas negras. Então, a importância desse tema na comunicação é da gente ter uma comunicação real, uma comunicação de fato com a cara do Brasil, onde as pessoas possam se identificar. Ao contrário disso, elas vão fazer como eu faço, eu conheço muitas pessoas que fazem, que é colocar no streaming, num conteúdo que ela de fato possa se identificar, se reconhecer. É o que a gente fala inclusive do black money, se eu não me vejo, não consumo, simples assim. Então, a gente tendo uma comunicação mais inclusiva, onde as pessoas de fato possam se ver, a gente obviamente vai ter uma visibilidade até dos próprios patrocinadores apoiando esse tema e essa causa tão necessária no Brasil e na sociedade. Nesse sentido, para as grandes empresas é uma possibilidade fantástica, podendo trazer mais recursos e mais visibilidade. 

#diversifica

Curso gratuito discute saúde mental de jornalistas

Curso online e gratuito discute saúde mental e bem-estar para jornalistas

O Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS Rio) e o Redes Cordiais realizam o curso gratuito online Jornalistas e saúde mental: como encontrar o equilíbrio, que mostrará mecanismos de apoio emocional para profissionais de imprensa e como explorar uma relação mais saudável com as redes sociais. O treinamento tem apoio do Meta Journalism Project. As inscrições vão até 30 de maio.

Serão cinco aulas ao vivo, via plataforma interativa do ITS Rio. As aulas abordarão temas como o panorama da saúde mental no Brasil e no mundo, a influência de marcadores sociais, como gênero e raça, no bem-estar de jornalistas, e dicas de como lidar com coberturas potencialmente traumáticas e prevenir-se de ataques digitais.

A ideia é promover a saúde mental de profissionais de imprensa, considerando o trabalho intenso na cobertura de grandes eventos, como a pandemia de Covid-19 e as eleições deste ano, conforme explicou Clara Becker, cofundadora do Redes Cordiais: “Identificamos a necessidade de agir, buscando explicações e caminhos. Não bastava apresentar o problema. A ideia foi apresentar soluções”.

Os alunos devem acessar ao menos 75% das aulas gravadas e ao vivo, em até 15 dias após o curso, para receber o certificado. Mais informações e inscrições aqui.

IMS lança site Testemunha ocular, com a memória da fotografia jornalística

Entra no ar em 2/6 o site Testemunha ocular. Criado pelo Instituto Moreira Salles, reúne imagens produzidas por repórteres fotográficos, além de textos críticos, depoimentos em vídeo e fotos históricas. Com projeto de Flávio Pinheiro – que foi superintendente do IMS entre 2008 e 2020 –, a edição do site coube a Mauro Ventura, e Leo Aversa respondeu pela edição das imagens.

O espaço está dividido em seis seções. A primeira apresenta a produção e trajetória dos repórteres fotográficos cujos acervos estão sob a guarda do IMS, como profissionais que pertenceram aos quadros da revista O Cruzeiro, e mais Evandro Teixeira, Custódio Coimbra e Walter Firmo. Para cada um, há uma página com a biografia, uma amostra de 50 imagens e dossiês bibliográficos.

A seção seguinte traz o trabalho de 44 fotógrafos de diversas regiões do Brasil, e que não integram o acervo do IMS. A seleção inclui tanto veteranos quanto jovens em ascensão, e homenageia dois grandes nomes da imprensa brasileira que faleceram neste ano, Orlando Brito e Erno Schneider. Os profissionais de diferentes estados têm uma página no site, com a biografia e uma seleção de 20 imagens.

O Congresso fechado pelo AI-5, 1968 − Crédito: Orlando Brito

A seção dedicada a fotos históricas, provenientes do acervo dos Diários Associados – adquirido em 2016 – e de outras coleções do IMS, terá um conjunto de imagens acompanhadas de um texto de contextualização. O site publica ainda comentários críticos sobre determinadas fotos, produzidos por acadêmicos e escritores. Mário Magalhães, por exemplo, comenta uma imagem feita em 1976, por Orlando Brito, que registra um tenente do Exército envergando uma braçadeira com a inscrição ‘Imprensa’.

Há também conteúdo em vídeo. Na seção Relance, profissionais contam a história de uma imagem que marcou sua carreira. O núcleo Vida longa traz depoimentos de fotógrafos sobre suas carreiras. O site contará ainda com notícias sobre a fotografia no jornalismo atual, destacando premiações e registros marcantes.

Flávio Pinheiro comenta o projeto: “Os 50 profissionais que mostram seus trabalhos no site foram e são perspicazes observadores da cena brasileira com toda sua diversidade social e regional, de raça e de gênero. Revelam que, apesar do avanço das imagens em movimento, as imagens fotográficas ainda produzem forte impacto e são necessárias para o entendimento da realidade”.

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