O Portal Imprensa lançou na quarta-feira (1º/6), Dia da Imprensa, a primeira parte do projeto História do Futuro: o festival de ideias 200 Novos Gritos, que marca o bicentenário da independência do País. Ele promoverá ao longo de junho encontros e debates virtuais para discutir as conquistas do passado, os desafios atuais e as soluções para o futuro do Brasil.
“Como o Brasil se encaixa num mundo hoje radicalmente diferente, em termos geopolíticos, econômicos e sociais, daquele em que viviam os brasileiros que testemunharam a independência em 1822?”, questiona a descrição do festival.
O curador Lúcio Mesquita explica o contexto: “Nesses 200 anos de independência, já fomos de tudo um pouco. Vivemos de vender açúcar e café quando a América do Norte e a Europa já tinham iniciado o processo de industrialização. A nossa revolução industrial veio mais tarde, já no século 20. No campo político, já tivemos um pouco de tudo também: monarquia, presidencialismo e até um parlamentarismo tampão, na década de 1960. E nas relações exteriores também já experimentamos bastante: flertamos com o fascismo de Hitler e Mussolini, atuamos como quintal dos Estados Unidos e, já neste século, buscamos parcerias fora do eixo EUA-Europa para focar nos países que formam o BRICS (principalmente a China e a Rússia) e no hemisfério sul como uma nova doutrina diplomática brasileira”.
A primeira live, realizada em 1º/6, debateu o tema O Brasil no Mundo − onde estamos e para onde vamos?, com participação de Mônica Bergamo (Folha de S.Paulo), Moisés Rabinovici (Band), Sinval de Itacarambi Leão (Imprensa) e Lúcio Mesquita (curador/Innovation Media). Assista!
O Congresso Internacional da FIJ concentrou-se em debater a situação das mulheres jornalistas de todo o mundo na profissão.
Realizado na última terça-feira (31/5), o Congresso Mundial da Federação Internacional dos Jornalistas(FIJ) concentrou-se em debater a situação das mulheres jornalistas de todo o mundo na profissão.
Paulo Zocchi, representante da delegação brasileira, contou que com a instalação do Comitê de gênero foi possível identificar que os problemas enfrentados pelas profissionais são comuns nos diferentes continentes e enfrentam questões como a violência contra as mulheres, perseguição nas redes sociais, desigualdade salarial e dificuldades em ascender na carreira.
Na abertura do evento houve repúdio ao assassinato da jornalista palestina Shireen Abu Aqleh, do canal Al Jazeera, pelas tropas de Israel em maio, e a discussão sobre os efeitos nefastos da pandemia na profissão, que vão desde a precarização do trabalho até a adoção de medidas contra a liberdade de imprensa.
A partir deste sábado (4/7), as manhãs da TV Globo passarão por uma troca de horários: o programa Encontro será exibido logo após o Bom Dia Brasil, seguido pelo Mais Você.
Tudo começou com uma dança de cadeiras, quando Tiago Leifert deixou a emissora e Fátima Bernardes, depois de dez anos no Encontro, foi escolhida para substituí-lo na apresentação do The Voice Brasil. Para o lugar de Fátima, vai Patrícia Poeta, que já cobria as ausências da titular, e terá ao lado Manoel Soares. Ana Maria Braga, que apresenta o Mais Você desde 1999, permanece no posto.
Simultaneamente às trocas de lugares no elenco, vieram as pesquisas de opinião. Diz um comunicado da Globo: “Através dos estudos sobre o comportamento de quem nos assiste, entendemos que dois grandes temas despertam interesse neste momento: as notícias do dia e variedades. Avaliando a nossa grade, achamos que faz mais sentido que o Encontro, com o seu DNA de atualidades, dialogue e esteja mais próximo do horário matinal, em uma transição mais fluida para o horário próximo do almoço, quando entra o Mais Você e todo o seu potencial de entretenimento bem consolidado”.
Amauri Soares, diretor-geral da Globo, disse em entrevista ao Meio&Mensagem que vê o Encontro como uma extensão do noticiário do dia: “Não é um programa de hard news, mas ele fala sobre atualidades. É o espaço que temos para tirar dúvidas sobre os assuntos do dia e, portanto, há fluidez ao colocá-lo após o Bom Dia Brasil”. Passando depois para o Mais Você, faz-se uma transição para o entretenimento, com assuntos de variedades e destaque para culinária, perto da hora do almoço. Fluidez, uma palavra repetida pelo comunicado e pelo diretor, parece ser o que busca a emissora com essas mudanças.
Mas não para por aí. Encontro e Mais Você terão cerca de uma hora de duração cada, menos do que atualmente. Com isso, os telejornais locais, como SP1 e RJ1, terão mais 15 minutos, entrando no ar às 11h45. Encontro passa a ser transmitido de São Paulo, visando sinergia com a equipe do Mais Você, já produzido em São Paulo. São programas diferentes, com uma estrutura de produção em comum.
Outras alterações são aguardadas, ainda que, por enquanto, só tenha sido divulgada a movimentação dos apresentadores. Em abril, a TV Globo anunciou que o programa É de Casa, aos sábados, será com Maria Beltrão, ex-Estúdio i na GloboNews, Thiago Oliveira, Rita Batista e Talitha Morete.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha abriu, em parceria com a Oboré, as inscrições para o Curso de Jornalismo em Guerra e Violência Armada.
O Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) abriu, em parceria com a Oboré, as inscrições para o 21° Curso de Jornalismo em Guerra e Violência Armada. Podem se inscrever até 30/6 estudantes de graduação em Comunicação de todo o Brasil. Serão selecionados 50 participantes, com atividades online e gratuita aos sábados, de 23/7 a 27 de agosto.
Desde 2001 o curso reúne trabalhadores humanitários, juristas, policiais e jornalistas para tratar sobre os desafios humanitários no Brasil e no mundo. A formação aborda também as normas internacionais aplicáveis em situações de conflito armado e outras situações de violência e o trabalho de cobertura humanitária nesses contextos. O curso também apresenta a linha de desafios humanitários do CICV, que atua em mais de 100 países.
A iniciativa, que faz parte do Projeto Repórter do Futuro da Oboré e conta com apoio de IPFD e Abraji, será dividida em cinco partes: O trabalho do CICV no Brasil e no mundo e suas principais preocupações humanitárias em 2021, com Laurent Reza Wildhaber, chefe de operações da Delegação Regional do CICV; Introdução ao direito aplicável nos conflitos armados, com Tarciso dal Maso Jardim, jurista especialista em Direito Internacional Humanitário; Normas internacionais aplicáveis à função policial no uso da força e de armas de fogo, com Paulo Roberto Oliveira, chefe do escritório do CICV no Rio de Janeiro e responsável técnico do Programa com Forças Policiais e de Segurança; Cobertura da imprensa brasileira de temas humanitários, com um jornalista convidado; e uma sessão de avaliação e encerramento.
Reportagem de Luigi Mazza, publicada na edição de maio da revista piauí, mostra como o presidente Jair Bolsonaro faz uso da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), cujo principal veículo é a TV Brasil, para promover e exaltar seu governo. A reportagem ouviu 29 funcionários, ex-funcionários e ex-gestores da emissora sobre a presença constante de Bolsonaro na TV Brasil e conteúdos censurados.
Segundo repórteres ouvidos na reportagem, o termo “ditadura militar”, por exemplo, não pode ser utilizado, e é substituído por “regime militar”. Lucas Krauss, editor de textos na TV, contou que fez uma nota sobre a demora do governo em agir para evitar a crise energética, que acabou sendo censurada.
Já Gésio Passos, ao participar de uma entrevista coletiva do Ministério da Saúde, fez uma pergunta por escrito questionando se militares sem experiência na área teriam condições de conduzir o combate à pandemia de Covid-19. A pergunta gerou uma crise. Em conversa no WhatsApp, à qual a piauí teve acesso, a coordenadora de reportagem disse que a pergunta “chegou no Palácio” e que “estão querendo a cabeça da Sirley, referindo-se à diretora de Jornalismo. Gésio foi afastado da cobertura do Ministério da Saúde.
Outro ponto apresentado na reportagem é a quantidade de vezes em que Bolsonaro aparece ao vivo em algum evento, interrompendo a programação da TV Brasil, sempre discursando, xingando adversários e exaltando o seu governo. Entre agosto de 2020 e julho de 2021, as aparições-surpresa do presidente ocuparam 158 horas da programação da emissora.
A piauí destaca ainda como Bolsonaro está dando à emissora a sua “cara ideológica”: não renovou o programa Estação Plural, sobre o universo LGBTQIA+, e acabou com o Trilha de Letras, de entrevistas sobre literatura. No lugar deles, entraram os programas Fortes do Brasil, sobre o exército; Faróis do Brasil, sobre a Marinha; e Águias de Fogo, sobre a Aeronáutica. “Pauta sobre indígenas? Não passa. Sobre comunidade LGBTQIA+? Não passa”, relatou Ana Graziela de Oliveira, repórter da TV Brasil em Brasília desde 2008.
A Lupa, especializada na checagem de informações, estreou nessa quarta-feira (1º/6) seu novo site, o lupa.news, hub de conteúdo que visa a combater a desinformação, com nova interface, espaços para checagens e reportagens desenvolvidas pela área de Jornalismo do veículo, e outros especiais para Educação e Institucional, e uma experiência mais imersiva sobre a temática da desinformação.
A ideia é consolidar, em um único espaço, todos os produtos da Lupa, desde checagem de informações, verificações e reportagens, até cursos, oficinas e projetos especiais. Para Natália Leal, CEO da Lupa, o novo site “é o lugar onde nos comunicamos com a audiência, mantendo a relevância jornalística. É o lugar em que entregamos as ferramentas e instrumentos para as pessoas combaterem a desinformação individualmente, em pequenos grupos. É o lugar em que engajamos uma comunidade que está a fim de combater a desinformação pelo jornalismo e pela educação midiática”.
No espaço para Jornalismo, o lupa.news utiliza formatos mais flexíveis de apresentação de conteúdo, tornando-os mais interessantes para os leitores e aproveitando recursos que eram pouco usados no site antigo. E em Educação, serão disponibilizadas soluções de educação midiática desde o ensino básico até o ensino superior.
Raphael Kapa, coordenador de Educação da Lupa, explica que a desinformação “é feita muitas vezes com má fé, de propósito, impacta processos que vão desde eleitorais até culturais e, na pandemia, até sanitários. Precisamos ir além do jornalismo. Para combater esse ecossistema de desinformação, torna-se necessário ter duas verticais. Continuar contando com o jornalismo como serviço prático e imediato, mas é muito importante trazer uma vertical de educação midiática”.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) confiscou o cartão de memória do repórter cinematográfico Francisco Vidal, do SBT Rio, durante a operação das forças de segurança na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, em 24 de maio. Dias depois, as imagens do cartão apareceram como sendo “exclusivas” em uma reportagem da Record TV.
O SBT Rio conseguiu exibir as imagens capturadas pelo cinegrafista pois as recuperou na nuvem em arquivos digitais. Segundo a emissora, a PRF teria oferecido as imagens do cartão de memória, que nunca foi devolvido, para a Record, que não sabia que eram propriedade do SBT. Ao tomar conhecimento de que o conteúdo era de outra emissora, a Record retirou as imagens do ar.
Em nota conjunta, o Sindicato dos Jornalistas do RJ e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) repudiaram o ataque ao repórter cinematográfico “e a tentativa da PRF de calar a imprensa. Solicitamos os esclarecimentos e apuração devida sobre essa apreensão. O ataque ao repórter fere não apenas a imprensa, mas também a democracia”.
Procurada pela Associação de Jornalismo Investigativo (Abraji), a PRF informou que instaurou um procedimento de investigação do episódio.
Em 2 de junho de 2002, o repórter investigativo da Globo Tim Lopes foi sequestrado, torturado e executado por traficantes no Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro, enquanto fazia uma reportagem local. Nesta quinta-feira (2/6), o caso completa 20 anos. Diversos eventos serão realizados por organizações defensoras do jornalismo em nome da memória e legado de Tim Lopes.
Às 10h, será realizada uma cerimônia religiosa em homenagem ao jornalista, no Santuário Cristo Redentor, situado na estrada para o Corcovado. A liturgia será lida pelo padre Omar, reitor do templo, e celebrada em conjunto com frei Davi.
Mais tarde, às 16h, ocorrerá um ato pela memória de Tim no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro (rua Araújo Porto Alegre, 71 – 9º andar), com participação de entidades como Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro e a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).
Ainda nesse 2 de junho, o quadro Conteúdo sem fronteiras, que faz parte do podcast Jornalismo sem trégua, do Programa Tim Lopes da Abraji, divulgará um episódio especial sobre o legado dele, com participação de Bruno Quintella, filho do jornalista, e Alexandre Medeiros.
Vale lembrar que o Programa Tim Lopes, criado em 2017, tem o objetivo de acompanhar casos de assassinatos de jornalistas brasileiros no exercício da profissão. A própria criação da Abraji, inclusive, foi influenciada pelo assassinato de Tim Lopes, em 2002.
Atualmente, o projeto acompanha quatro casos: Jefferson Pureza, morto com três tiros no rosto em janeiro de 2018 na varanda de sua casa, no interior de Goiás; Jairo de Souza, assassinado com dois tiros ao subir a escadaria que dá acesso à Rádio Pérola FM, em junho de 2018, em Bragança, a 220km de Belém; Lourenço (Léo) Veras, executado com 12 tiros em fevereiro de 2020, enquanto jantava com sua família, no município paraguaio de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com a cidade de Ponta Porã (MS); e Givanildo Oliveira, morto em fevereiro deste ano, em Fortaleza.
Para Marcelo Beraba, membro do Conselho Curador e primeiro presidente da Abraji, “Tim hoje estaria inconformado com a violência que atinge o jornalismo, os jornalistas e as instituições democráticas, e estaria na linha de frente da resistência. Ao mesmo tempo, sei que ele estaria orgulhoso das dezenas de iniciativas criadas ao longo destes 20 anos por jovens repórteres e comunicadores pobres das nossas favelas e periferias. Tim estaria engajado numa dessas iniciativas. (…) Que a lembrança dele nos remeta sempre para a força e o compromisso do seu jornalismo”.
O jornalismo científico resiste e mostra o seu valor
Se há uma coisa que não combina com ciência é o obscurantismo e se há no jornalismo científico um fator que, embora atrapalhe, só serve para motivar ainda mais quem nele atua é exatamente o descrédito propagado por autoridades contra a ciência, sobretudo quando repercutido, com pouco caso, por seguidores acéfalos ou mal-intencionados.
Não poderia, pois, haver para este Jornalistas&Cia momento mais oportuno do que o Dia da Imprensa para dedicar seu tradicional especial ao jornalismo científico, mostrando as façanhas e dificuldades enfrentadas por esse núcleo estratégico de nossa atividade, que, a despeito dos problemas financeiros e da crise da mídia – e, claro, dos contínuos ataques dos mandatários deste País –, segue seu caminho com dignidade, buscando levar para a sociedade informações confiáveis e inteligíveis da ciência.
A ideia nasceu num almoço que tivemos, na redação do J&Cia, com Luiz Roberto Serrano, que vinha de uma temporada como assessor de comunicação do reitor da poderosa USP, a nossa Universidade de São Paulo. Numa agradável viagem pelos acontecimentos da ciência, em que a USP está sempre presente, e de como o jornalismo científico foi desafiado na pandemia da Covid-19, surgiu a pergunta: e se fizéssemos um mergulho nessa atividade, para mostrar um pouco do que se está fazendo, do que se deixou de fazer com a crise, do que está por fazer para recuperar esse precioso tempo perdido? E se aproveitássemos para uma homenagem ao jornalismo científico, dedicando a ele o especial do Dia da Imprensa? E por que não o próprio Serrano, que vinha de um convívio muito próximo com o tema, na jornada como assessor de comunicação do reitor da USP?
Ao ver o brilho nos olhos dele, ouvir seu sim foi questão de fração de segundos.
E após dois meses de trabalho, em que ele se pôs a ouvir jornalistas especializados, assessores da área de ciência, pesquisadores, acadêmicos e fontes, aqui está o resultado que oferece aos leitores de Jornalistas&Cia e do Portal dos Jornalistas um amplo e detalhado panorama sobre a prática e os desafios do jornalismo científico no Brasil. Não deixa de ser um documento histórico sobre essa atividade, que teve como seu grande mentor o cientista e jornalista José Reis, sempre muito reverenciado e que até deu seu próprio nome a um prêmio superconcorrido de jornalismo científico.
Nossos agradecimentos a Luiz Roberto Serrano. E às organizações que gentilmente se dispuseram a apoiar a iniciativa.
É o nosso presente pelo Dia da Imprensa a todos os que acompanham Jornalistas&Cia.
Não é fácil navegar nas sensibilidades que envolvem a DEI (diversidade, equidade e inclusão), tema do Especial MediaTalks lançado nesta quarta-feira (1º/6). Corporações que não fazem nada ou erram ao tentarem fazer alguma coisa são castigadas na imprensa e nas redes sociais.
De tempos em tempos, empresas jornalísticas trocam de posição e entram elas próprias na linha de tiro. É o que está acontecendo mais uma vez com a BBC.
A nova crise envolvendo a corporação enquadra-se na categoria “errar ao tentar acertar” no uso de linguagem inclusiva. Foi revelada por uma reportagem no jornal The Times, mas acabou se transformando numa crise ainda maior.
Citando “senior journalists” da BBC − leia-se “jornalistas insatisfeitos com a situação que vazarem a história” −, o jornal publicou na terça-feira (31) a notícia de que a fala de um personagem entrevistado em uma matéria para o site em outubro de 2021 tinha sido alterada conforme o manual de regras que determina os pronomes para pessoas trans.
A matéria era sobre mulheres que estariam sendo pressionadas a fazer sexo com mulheres trans, com base em pessoas que participaram de uma pesquisa do grupo Get The L Out, “cujos membros acreditam que os direitos das lésbicas estão sendo ignorados por grande parte do movimento LGBT atual”, segundo a BBC.
Diversidade (Crédito: Gerd Altmann/Pixabay)
A entrevistada era uma mulher relatando um suposto estupro praticado por uma pessoa trans. Ela tratou a pessoa como “he/him” (ele), mas as fontes do The Times disseram que os editores do site foram obrigados pelo comitê de diversidade a mudar as “aspas” para “they/them (eles), após “debates acalorados”.
O caso foi noticiado pelo ângulo de interferência no noticiário por parte do grupo de diversidade da corporação, formado por 14 integrantes, colocando em questão a imparcialidade do jornalismo.
Segundo o The Times, alguns jornalistas achavam que a citação deveria permanecer intacta para refletir o que disse a mulher entrevistada, enquanto outros disseram que deveria usar os pronomes preferidos por mulheres trans.
As fontes da matéria do jornal (os tais “jornalistas seniores”) argumentaram que editar a fala foi um exemplo de como o guia de estilo da BBC conflita com o dever de precisão e imparcialidade.
Outra fonte, apresentada como “pessoa com conhecimento do assunto”, disse ter considerado a situação chocante, por não conseguir imaginar outra situação em que as palavras de uma suposta vítima de estupro tenham sido alteradas.
A BBC disse ser “rotina ter discussões editoriais sobre matérias”, e que a decisão sobre a linguagem teria a finalidade de “tornar as coisas o mais claras possível para o público”.
Se essa era a intenção, não deu certo. A matéria no site da BBC foi objeto de milhares de reclamações. E, comprovando a tese de que não há nada ruim que não possa ser piorado, a situação piorou, talvez por causa da revelação do The Times.
No dia seguinte à reportagem do jornal, a BBC divulgou um comunicado admitindo que a matéria inteira “não atendeu aos padrões de precisão da emissora” em três aspectos, e informou que a reportagem havia sido “atualizada”, forma bem inglesa de dizer “corrigida”.
Foto da Getty Images que ilustra a matéria da BBC
O motivo principal para a admissão de culpa, no entanto, não foi a troca de pronomes, e sim outro fundamento do jornalismo. Segundo a própria BBC; a repórter baseou a matéria em uma pesquisa “não científica” do Get the L Out, que afirmou que 56% dos entrevistados “relataram ter sido pressionados ou coagidos a aceitar uma mulher trans como parceira sexual”.
“Mas a unidade de reclamações da BBC concluiu que um questionário de autosseleção não era uma base suficiente para a sustentar a matéria”, disse o comunicado.
O que era uma matéria velha virou notícia nova, já que o caso repercutiu em vários jornais. E mostrou, mais uma vez, que DEI é coisa séria, exigindo cuidado e muita análise para que boas intenções não acabem no inferno.
O Especial MediaTalks Diversidade na Mídia pode ser lido aqui.
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