Na próxima segunda-feira (29/8), Ricardo Lessa lança Como girei a roda, sobre seu tempo como âncora do Roda Viva, da TV Cultura. Será na Livraria da Vila (rua Fradique Coutinho 915, Vila Madalena), das 19h em diante.
Com histórias reais, é uma rara abordagem sobre o funcionamento de uma TV pública no País, que expõe os conflitos entre a prática do bom jornalismo (que demanda liberdade, independência e pluralismo) e os interesses de grupos políticos internos. A revelação dos bastidores de um dos mais influentes programas de entrevistas da TV brasileira, tendo como alvo protagonistas da vida do País, contados por um jornalista que esteve na linha de frente do programa.
“Este livro vem a público bem na hora de mudar velhos hábitos. Quando as emissoras públicas passarem a trabalhar para o direito à informação da sociedade, e não mais para as conveniências de imagem das autoridades, teremos uma pequena e benfazeja revolução”, diz Eugênio Bucci no prefácio do livro. A orelha é de Maria Cristina Fernandes, do Valor Econômico.
Lessa começou como estagiário no Jornal do Brasil e colaborou com O Pasquim. Trabalhou na revista IstoÉ e, em televisão, em Manchete, Globo e GloboNews. Em Washington, apresentou a Voz da América. Passou ainda por Relatório Reservado, Correio Braziliense, Gazeta Mercantil, portal Terra e Câmara Americana, em São Paulo. Por cerca de um ano, ancorou o Roda Viva da TV Cultura. Tem prêmios de jornalismo, entre eles Petrobras, Embratel, Icatu, Firjan e Onip (Organização Nacional da Indústria do Petróleo). Este é o quinto livro dele.
O maestro Diogo Pacheco faleceu em 16/8, aos 96 anos, de problemas pulmonares, no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo.
Também jornalista, responsável pelas matérias sobre música do Estadão, onde trabalhou por várias décadas, distinguia-se dos demais articulistas, que escreviam em casa, por comparecer diariamente à redação, onde preparava seus textos. Além dele, apenas o comentarista de cinema, Rubens Biáfora, e o de teatro, Sábato Magaldi, escreviam na redação, o que fez com que os três se integrassem inteiramente ao grupo de jornalistas que, à época, produzia o que era o melhor jornal do País.
Uma das piadas preferidas de Pacheco ele repetiu para Marco Antonio Rocha, quando perguntado porque optara por ser maestro: “É que eu manejo bem a vara…”.
A grande obra de Diogo Pacheco foi tornar a música erudita acessível às pessoas que não conheciam esse gênero musical, missão a que se dedicou também na TV Globo, onde foi responsável pelo programa Concertos Internacionais, que também chegou a apresentar.
Foi também assistente do maestro Eleazar de Carvalho na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo e diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Recife, durante um curto período.
Homem da noite, como todo músico que se preza, Diogo abria as portas de seu apartamento em Higienópolis para os amigos, destacando-se entre eles Carlos Lacerda, que à época estava encarregado de escrever a história da família Mesquita e do Estadão, missão que morreu sem concluir.
Lacerda vinha a São Paulo uma vez por semana para reuniões políticas como líder da UDN que era e, cumprida a agenda, muitas vezes ia para o apartamento de Pacheco, onde, madrugada adentro, preparava a macarronada especial de que se orgulhava tanto.
Nessa época Lacerda tinha pedido que o Estadão lhe emprestasse como pesquisadores (repórteres, na realidade) dois jornalistas. A escolha recaiu sobre Luiz Ernesto Kawall, que tinha sido diretor da sucursal paulista da Tribuna da Imprensa, jornal do Lacerda, e eu. Lembro que uma vez Lacerda ligou para minha casa às duas da manhã, pedindo com a maior tranquilidade que fosse para o apartamento do maestro Diogo Pacheco para uma ‘reunião de pauta’ sobre nosso trabalho.
É impossível descrever o que foi a ‘reunião’: o ícone que era Lacerda, colher de pau na mão, mexendo com cuidado o macarrão, que precisava ficar ‘al dente’ e, eu, foquinha, com Luiz Ernesto, de bloco na mão, anotando as pautas que ele passava, algumas dificílimas de cumprir − tanto que para montar a história dos Mesquita do Estadão ele acabou tendo que ir à Torre do Tombo, em Portugal.
Ao mesmo tempo em que éramos pautados, a modesta cozinha do maestro transformava-se num fórum de altíssimo nível, com o próprio Diogo Pacheco e outros convidados saltando de um assunto para outro, de um recente concerto em Praga ou Viena para a política brasileira e resvalando para análises sociológicas e filosóficas, enfatizadas com tapas sobre a mesa da cozinha que, horas depois de abandonada por alguns dos maiores intelectuais brasileiros, voltaria à sua vocação original quando sobre ela a cozinheira do maestro montava um frugal café da manhã.
A história desta semana é novamente de Luiz Roberto de Souza Queiroz, o Bebeto, assíduo colaborador deste espaço, que esteve por muitos anos no Estadão e hoje atua em sua própria empresa de comunicação.
Nosso estoque do Memórias da Redação continua baixo. Se você tem alguma história de redação interessante para contar mande para [email protected].
Em depoimento que publicou nessa segunda-feira (22/8) no Linkedin, Carlos Tramontina falou da sensação de deixar um dos mais cobiçados empregos do jornalismo brasileiro para mergulhar no desconhecido. Disse ele:
“A TV Globo foi meu único emprego. Conheci de perto a audiência estrondosa, o sucesso e o reconhecimento. Deixar tudo isso para trás depois de 43 anos e 11 meses na empresa foi o passo mais ousado que dei na vida profissional. Comecei no jornalismo como estagiário e construí uma carreira sólida como repórter, apresentador e editor-chefe. Passei por todos os telejornais da emissora em SP e também apresentei o noticiário em rede nacional nos mais diferentes horários.
Não me aposentei. Mas parti para um mergulho no desconhecido, em busca de novos caminhos e oportunidades…
Tive medo e ainda tenho, mas decidi romper barreiras. Me abri para o novo, me permiti errar e abracei oportunidades…
Três meses depois de ‘virar a página’ tenho um canal no YouTube que ainda engatinha, mas com boas perspectivas. Agora publico no Instagram, Facebook e Linkedin. E nesse momento analiso propostas de trabalho diferentes de tudo o que já fiz antes.
Nesses três meses apanhei bastante, aprendi errando e acertando. E vou seguindo. É uma experiência enriquecedora, que me leva a algumas constatações: é preciso coragem para se reinventar; humildade para aprender; e trabalho firme para ser reconhecido.”
A Repórteres Sem Fronteiras (RSF) vai monitorar a violência online contra jornalistas durante as eleições deste ano. A iniciativa, feita em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo, visa a identificar, analisar, decifrar e denunciar ataques online contra comunicadores durante o período eleitoral.
Até o final do segundo turno, o projeto vai monitorar diariamente mais de cem contas no Twitter e no Facebook de jornalistas, influenciadores, autoridades públicas e candidatos às eleições. Serão monitorados termos considerados como discursos estigmatizantes, ofensas e insultos destinados à imprensa em geral.
Os resultados do monitoramento serão divulgados ao longo do período no site da RSF. Após o término das eleições, a entidade vai formular um relatório detalhado sobre as principais tendências de ataques detectados, com o objetivo de entender a origem, estrutura e organização dessa violência online, além de denunciar os principais agressores e encontrar soluções para combater os ataques.
“Uma análise aprofundada e um monitoramento sistemático dos ataques online contra a imprensa é fundamental para entender melhor o papel do espaço digital no cenário estrutural da violência contra jornalistas e comunicadores no Brasil e pensar em soluções mais efetivas para combater esse fenômeno”, diz Emmanuel Colombié, diretor do escritório da RSF para a América Latina.
Estudo feito pela própria RSF e pelo Instituto Tecnologia e Sociedade do Rio (ITS-Rio) no ano passado mostrou que os apoiadores do governo Bolsonaro são os principais autores de ataques virtuais contra jornalistas, e que os maiores alvos desses agressores são grupos de mídia críticos ao presidente, e mulheres jornalistas.
SJSP atualiza manual contra violência
Também com foco na segurança dos jornalistas durante as eleições, o Sindicato dos Jornalistas de SP (SJSP) atualizou seu Manual contra a Violência a Jornalistas com o Guia de Proteção a Jornalistas na Cobertura Eleitoral.
O texto traz medidas que devem ser adotadas pelos profissionais durante a cobertura de comícios e manifestações para evitar ataques e saber o que fazer em caso de violência. O guia traz ainda uma lista com os principais tipos de ataques online para conhecimento da categoria.
O SJSP cobrará as empresas jornalísticas para que adotem medidas pela segurança de seus profissionais. O sindicato elaborou um documento-base com sugestões para os veículos sobre o dia a dia dos jornalistas. Leia aqui.
O Projeto Comprova, coalizão de 43 veículos comprometidos em investigar a veracidade de conteúdos suspeitos nas redes sociais, está lançando um aplicativo para celular com o objetivo de ajudar usuários a identificarem fake news.
A primeira versão da ferramenta, já disponível para Android e IOS, possibilita que as pessoas acompanhem as verificações feitas pelo projeto, enviem sugestões de conteúdos suspeitos e conheçam técnicas de checagem de fatos. Já a segunda versão, que deve ser lançada nas próximas duas semanas, permitirá que os usuários façam investigações de imagens com um recurso de busca.
Um dos compromissos do Comprova é incentivar a Educação Midiática. Por isso, o projeto pretende estimular o uso do aplicativo por professores para orientar alunos sobre formas de verificar e detectar informações duvidosas. Para Katia Brembatti, presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), entidade que lidera a coalizão, “o combate à desinformação exige esforços em várias frentes. O aplicativo é uma forma de estar presente nos celulares”.
O app foi desenvolvido pela Vórtigo, com apoio e financiamento do Google Brasil. Baixe no Google Play ou na Apple Store.
Organizações de imprensa assinaram junto ao Ministério Público um termo de cooperação para a criação de um canal complementar de denúncias.
Para auxiliar no combate a ataques contra jornalistas e comunicadores, organizações ligadas à liberdade de imprensa assinaram na terça-feira (23/8), junto ao Ministério Público de São Paulo (MPSP), um termo de cooperação para a criação de um canal complementar de denúncias e intercâmbio de informações.
Proposta pelo MPSP, a iniciativa conta ainda com o Comitê Para a Proteção dos Jornalistas e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) como parte da articulação. Com isso, as organizações terão acesso a um formulário de envio de denúncias no qual poderão solicitar a investigação formal do MPSP em nome de organizações associadas e jornalistas parceiros.
A parceria foi oficializada durante um evento presencial na capital paulista onde estavam presentes Patricia Blanco, do Instituto Palavra Aberta; Cristina Zahar, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji); Rogério Sottili, do Instituto Vladimir Herzog; Maia Fortes, da Associação de Jornalismo Digital (Ajor); e Taís Gasparian, do Instituto Tornavoz. Repórteres sem Fronteiras Brasil, Intervozes e Artigo 19 também assinam o documento.
Na semana passada, três jornalistas especializados em mídia nos EUA foram notícia, por motivos diferentes.
Brian Steller perdeu o emprego na CNN, onde comandava há nove anos o Reliable Sources (Fontes Confiáveis). No ar desde 1992, o programa recebia convidados para discutir a cobertura da mídia e fatos marcantes do setor.
Ele teria sido “vítima” de uma decisão do novo diretor da rede, que assumiu em maio o comando de uma CNN em crise de imagem e de audiência. Chris Licht estaria tentando reduzir o jornalismo opinativo.
A decisão foi lamentada. Mas houve quem também apontasse o fator audiência como um dos motivos. O programa concorrente na Fox News, MediaBuzz, tem quase o dobro da audiência do show de Steller.
Brian Stelter (Crédito: Jeremy Freeman/CNN)
Mais um tuíte causando confusão
Já no Washington Post, dois jornalistas viraram pauta. Um deles foi Paul Farhi, repórter que cobre a indústria de mídia.
Na sexta-feira, o Washington-Baltimore News Guild entrou com um processo contra o jornal para garantir que seja arbitrado um recurso apresentado por ele contra uma punição aplicada em fevereiro. O motivo é o que já causou outras confusões e até demissões no próprio Post: um tuíte criticando uma política do próprio jornal. No caso, a de não assinar ou publicar data e origem de matérias produzidas na Rússia, anunciada em março. A justificativa era proteger os repórteres no campo de possíveis retaliações.
Paul Farhi
Certo ou errada a decisão, o problema foi que o jornal cozinhou o recurso por meses, até que o acordo sindical venceu. E usou como argumento para não aceitar a arbitragem o fato de que não há mais um acordo em vigor.
O jornalista não se manifestou, e está deixando o sindicato conduzir a briga, agora na esfera judicial.
Seja qual for o desfecho, é mais um episódio no Post envolvendo tuítes de jornalistas. Em junho, Felicia Sommez foi demitida por criticar a reação do empregador à postagem sexista de um colega.
Conselhos sábios para a cobertura de eleições
A terceira jornalista que virou notícia não está envolvida em confusões, nem perdeu o emprego.
Margaret Sullivan anunciou o fim de sua coluna sobre mídia no Washington Post para lecionar na Duke University e escrever um livro − que desde já se pode considerar leitura obrigatória.
Na despedida, ela fez − como sempre − ótimas reflexões sobre o papel da imprensa, concentrando-se nas dificuldades do período eleitoral dos EUA.
Disse achar que a mídia finalmente aprendeu a cobrir “as formas ameaçadoras da democracia de Donald Trump e seus aliados”, que colocam em questão os resultados das eleições. E se disse feliz por ver que se tornaram comuns matérias que se referem a eles como “negacionistas eleitorais”.
Também elogiou o fato de a mídia não tratar Trump como “uma figura política normal, que algum dia se transformará em estadista responsável”. Mas acha que isso é insuficiente, questionando se a imprensa conseguirá “libertar-se de suas práticas ocultas: o amor pelo conflito político e o vício em acompanhar eleições como se fossem uma corrida de cavalos”.
“Para o bem da democracia, ela tem que conseguir”, diz a jornalista com quatro décadas de carreira.
Margaret Sullivan
Margaret Sullivan afirma que os meios de comunicação não devem continuar a fazer cobertura de discursos, comícios e debates à moda antiga, com os jornalistas “se permitindo serem megafones ou estenógrafos”. “Eles têm que ser dedicados contadores de verdade, usando linguagem clara, muito contexto e enquadramento atencioso para transmitir a verdade”, recomenda.
Também defende que a mídia explique ao público por que está fazendo o que está fazendo, citando como exemplo a decisão de não exibir um discurso ao vivo para evitar espalhar mentiras.
Sullivan resumiu sua “receita”: menos cobertura de campanha ao vivo, mais contexto e conversas diretas mais destemidas de editores com o público sobre o que está em jogo e por que a cobertura política parece diferente.
Ela sugere recursos como notas explicativas dos editores sobre as matérias, colunas escritas por eles e postagens com destaque nos sites.
Ótimos conselhos para qualquer país em campanha eleitoral.
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Primeira jornalista indígena da televisão brasileira, Luciene Kaxinawá é a convidada do quinto episódio do #diversifica. Em conversa com a apresentadora Luana Ibelli, ela traz discussões relevantes sobre a relação entre o jornalismo e os povos indígenas, como a visão estereotipada de suas culturas, a falta de espaço na mídia para retratar os problemas e soluções que vêm dos povos originários, e dicas para auxiliar na cobertura do tema.
A entrevista faz parte do especial Subjetividades, iniciativa que reúne seis jornalistas para discutir a diversidade na profissão sob a ótica as quais estão inseridos. Participaram dos episódios anteriores Caê Vasconcelos, do UOL, que abordou questões relacionadas ao mercado de trabalho e a cobertura sobre a temática LGBTQIA+; Jairo Marques, da Folha de S.Paulo, que falou sobre a inclusão de pessoas com deficiência no Jornalismo; Luciana Barreto, da CNN Brasil, que destacou as barreiras profissionais para jornalistas negros e o problema do racismo estrutural no Brasil; e Nayara Felizardo, do The Intercept Brasil, que alertou sobre o preconceito e estereótipos em relação aos jornalistas e publicações do Norte e Nordeste do Brasil.
Todas as entrevistas estão disponíveis no canal do Portal dos Jornalistas no YouTube e nos principais tocadores de podcast. No sexto e último episódio, que vai ao em 31/8, Erick Mota, do Regra dos Terços e da RIC TV, do Paraná, abordará a inclusão de profissionais com neurodivergência no jornalismo.
Especial Subjetividades no J&Cia
Inicialmente previsto para circular na próxima edição deste Jornalistas&Cia, o especial Subjetividades, que trará um resumo com os principais destaques dos seis episódios do videocast #diversifica, ganhou nova data de veiculação: 5 de setembro.
“O conteúdo gerado a partir das entrevistas está muito rico e cheio de informações relevantes para um jornalismo mais diverso e inclusivo”, ressalta Fernando Soares, editor deste J&Cia e responsável pela produção do material, “Com tanta informação relevante, entendemos que este especial merecia uma edição exclusiva, focada exclusivamente nos temas discutidos”.
O #diversifica é um dos 15 projetos brasileiros selecionados pelo Programa Acelerando a Transformação Digital, financiado pelo Meta Journalism Project, com o apoio da Associação de Jornalismo Digital (Ajor) e Internacional Center for Journalists (ICFJ). Também apoiam a iniciativa Anglo Américan, Énois Conteúdo, GPA, Imagem Corporativa, Itaú, Oboré. PMI Philip Morris e Rádio Guarda-Chuva.
Empresas interessadas em associar suas marcas podem obter mais detalhes com Vinicius Ribeiro ([email protected]).
Em plena pandemia de Covid-19, em meio ao crescente número de fake news e informações falsas sobre ciência, saúde e o novo coronavírus, o Instituto Butantan percebeu a urgência de fazer mudanças em sua comunicação. J&Cia conversou com Vivian Retz, gerente de comunicação do Butantan desde setembro de 2020, que comandou essa transformação.
Vivian Retz
Antigamente, mesmo antes da pandemia, a preocupação era que a imagem do Instituto estava muito vinculada a “cobras”. Dimas Covas, presidente do Instituto, queria mudar isso, e mostrar que o Butantan é muito mais, um pólo de vacinação, distribuidor de vacinas em toda América Latina. Vivian foi contratada em um primeiro momento para trabalhar a marca.
Mas, com a chegada a pandemia, a ideia era valorizar a ciência e a vacinação, e combater fake news sobre o tema. O pontapé inicial deu-se no Projeto S, estudo do Butantan sobre a eficácia da Coronavac, que consistia em vacinar a população de Serrana, em São Paulo. Os resultados mostraram quedas significativas no número de infectados e mortos após a aplicação das doses.
O projeto teve um documentário, podcast, fotos, diversas matérias para mostrar o que estava sendo feito e − o objetivo principal de tudo − valorizar a vacinação e a saúde, e mostrar o trabalho do Butantan. Graças ao projeto, o instituto começou a ganhar holofotes. Foi nesse momento que Vivian assumiu definitivamente a comunicação da entidade, criando seis grandes áreas: textos, eventos, assessoria, audiovisual, redes sociais e artes, gerenciadas por ela própria. A equipe trabalha muito também a sua comunicação interna.
Após o Projeto S, o passo seguinte foi criar um portal de notícias, pois o site antigo era estático, e apenas no final das páginas apareciam as notícias. “Pensei: as pessoas precisam entrar nesse portal e ter a sensação de que ele é atualizado a todo o momento, todos os dias”, explicou Vivian. Foi criado um rotativo, atualizado constantemente, a seção fato ou fake, entrevistas com especialistas, e isso ajudou muito no relacionamento com a própria imprensa, os jornalistas passaram consultar mais o Instituto e utilizá-lo como fonte.
O site tem diferentes áreas com notícias, outra dedicada a crianças, e outra para especialistas, com linguagem mais técnica. A ideia é atingir diferentes públicos e manter o interesse na ciência.
As redes sociais do Butantan também passaram por mudanças. A equipe realizou uma ação orquestrada para defender a vacina. Foi criada uma nova identidade visual, com o objetivo de dar uma nova cara ao Butantan, e passaram a monitorar assuntos que estavam em alta, com a criação de materiais que pudessem contraditar as informações falsas que estavam sendo propagadas, sempre apresentando argumentos científicos de especialistas do Butantan.
Tais mudanças deram resultado: Em maio deste ano, o Butantan recebeu um selo do Google parabenizando o instituto pela marca de 1 milhão de acessos apenas pela plataforma. Além disso, muitas matérias foram republicadas na imprensa, e o site bateu os milhões de acessos. Nas redes sociais também houve grande impacto: O Instagram do Butantan, antes com 8 mil seguidores, agora tem mais de 1 milhão. Facebook e LinkedIn também aumentaram bastante. No YouTube, mais de dez milhões de visualizações.
“As fake news não surgem do nada”, explica Vivian. “Grande parte das vezes, as pessoas descontextualizam determinada informação, e aproveitam o fato de que muitos não leem as notícias por inteiro, mas apenas as manchetes. No caso das ‘vacinas magnetizadas’, no qual as pessoas compartilhavam que quem fosse vacinado seria magnetizado, eles tiraram de contexto o fato de que todas as vacinas têm uma quantidade irrisória de hidróxido de alumínio e que isso seria a causa, o que é falso”.
Cada uma das áreas da comunicação tem uma equipe específica. O time de texto, responsável pelas notícias do Portal, é composta por Caroline Mazzonetto, Aline Tavares, Natasha Pinelli, Camila Neuman e Mateus Carvalho. As redes sociais são responsabilidade de Cristina Mantovani, Paloma Santos, Guilherme Souza e Magno Araújo. E a assessoria de imprensa é de Giordana Mucciolo.
A ideia é manter esse interesse na ciência mesmo após a pandemia. O selo do Google foi recebido em maio de 2022, em um período em que a situação da pandemia já estava melhor, o que mostra que as pessoas seguem buscando sobre a ciência. “Além disso, o tema ciência está em alta, muitos influenciadores ganharam espaço nas redes sociais para falar disso, as pessoas estão tendo mais interesse em se informar, e por o Butantan ter uma atuação forte nas redes acaba se beneficiando desse fenômeno”, disse a gerente de comunicação.
Para manter esse interesse, o Butantan pretende investir mais em sua comunicação, em seu portal de notícias e nas redes sociais, criar um canal mais profundo com a comunidade médica, e aumentar ainda mais o combate ao movimento antivacina no Brasil.