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quinta-feira, abril 25, 2024

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O que sabe serve pra quê, agora?

Luciana Coen

Por Ceila Santos

Ceila Santos

Demissões sempre fizeram parte da vida do jornalista. Agora, elas virão com a força do isolamento e o peso da desigualdade social. Um espelho difícil de encarar pra quem aprendeu a reconhecer dois privilégios, num país como o Brasil, o de ter poupado dinheiro e o de ter o direito à moradia. Por outro lado, o reflexo da imagem de quem tiver a coragem de olhar de frente para o que passou pode ser mais um caminho de concretização da liderança colaborativa.

Quantos de nós não somos da extensa e diversificada classe média, que mistura extremidades de comportamentos no que tange a educação financeira e hábitos alienados na relação com dinheiro?

Não consigo ter dimensão do que representam os profissionais de comunicação quando penso sobre o comumgerado pela experiência da profissão na visão econômica de cada leitor que dedica seu tempo agora à leitura deste artigo.

Como a vida de quem, hoje, sente a tensão da crise da imprensa e o medo do futuro na atuação profissional diante das equipes enxutas, impressos excluídos e da incerteza do que permanecerá vivo depois da pandemia impacta no sentimento de quem tem necessidades básicas não supridas como o aluguel da casa, a dívida do apartamento ou a redução no consumo – leia-se desde o leite que pode estar faltando na lista do supermercado até ao cultural, como viagens internacionais, tão frequentes entre jornalistas.

São muitas incógnitas para tecer o fenômeno do contexto econômico que rodeia os negócios de comunicação desde o século XIX. O motivo de trazê-las hoje para a nossa conversa é em função da relação que temos entre o saber com o fazer, pois a líder que me inspirou hoje traz na sua fala muita consciência sobre o aprender e acredito que é a partir desta clareza do valor do aprendizado que podemos alçar o voo da colaboração. Pra começar a brincadeira, duas perguntas: O que você faz com aquilo que sabe? e Como aprendeu o que sabe?

Trilhá-las deverá te levar para diferentes memórias emotivas. Sejam alegres ou depressivas, o pedido é para sustentá-las de longe, sem se identificar com a dor ou julgar a ignorância. Anote os fatos! Coloque toda a sua atenção nos acontecimentos e tente ordenar a sequência daquilo que viveu. Esse é um dos métodos que utilizo para a tomada de consciência que pode transformar a sua visão de futuro e permitir reconhecer caminhos diante da escuridão e incerteza que estamos vivendo.

Inspiração

Luciana Coen congrega um cargo raro dentro da Comunicação Corporativa, porque inclui duas áreas extremamente necessárias para a mudança do mundo que almejo às minhas netas: Responsabilidade Social e Sustentabilidade. Trabalhei com a Lu na virada da minha carreira entre o tornar-me mãe, dos 29 aos 31,5 anos, período em que toda a liderança da editora especializada em TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), a que dediquei durante cinco anos, foi substituída. Lu chegou com a nova liderança e vivemos juntas o impacto de uma típica reestruturação de reduzir custos e inovar as marcas na busca de alguma saída econômica.

Reencontrá-la como diretora de Comunicação Integrada, Responsabilidade Social e Sustentabilidade da SAP foi uma alegria para minha alma ativista, que dedicou os últimos sete anos à causa da Mulher e da Primeira Infância. Ouvir a história profissional da Lu, que conheci na juventude, e tornou-se uma liderança da indústria, que eu cobria com minha cegueira juvenil, tocou em mim as forças do saber e do aprender, porque elas passam despercebidas diante da velocidade que o trabalho da narrativa exige de quem se dedica a pensar como entregar a informação para atender aos objetivos daquela mensagem ou trazer a história para denunciar a injustiça, a ganância e a violência ou para vender necessidades, sejam elas de fato necessárias ou ilusões.

Colabore-se!

Quando conversei com a Lu ainda no começo da pandemia e, na semana passada, ainda não tinha reconhecido que partilhávamos a única experiência que eu vivi de reestruturação organizacional. Poderia usar toda a força crítica e investigativa, que tenho impregnada da prática jornalística, para julgar esse esquecimento ou o fato exclusivo da minha trajetória. Colaborar com o fenômeno que vivemos desde a infância, quando sonhamos pela primeira vez em ocupar este papel de jornalista – seja pela paixão pelo futebol ou outra temática específica, pelo talento de escrever ou pela ânsia de mudar o mundo –, é cuidar das habilidades que adquirimos para não aplicá-las no nosso processo de desenvolvimento. Ser crítico e investigativo faz parte do atuar na busca pela mensagem, mas não no encontro com o passado.

Colabore contigo na trilha daquilo que sabe para não ficar parado como tantos negócios ficarão por não discernirem as pessoas das suas habilidades, capacidades e atitudes.  Não é fácil investigar os acontecimentos da nossa trajetória vivendo os extremos do pulsar da vida emocional, mas eles podem lhe revelar caminhos nunca antes vividos e essa é a meta da colaboração: inovar além da eficiência, que descarta cada vez mais humanos das cadeiras dedicadas ao amor pela Comunicação.


Luciana Coen

Luciana Coen
SAP
Líder:
Aberta
Insight:
Aprender sempre!
Filosofia:  não tenho uma corrente de gestão. Acredito no aprendizado mútuo.
Referência:
Michelle Obama

Tempo da Jornada
Jornalismo: 16 anos
Destaque: IDG, IT Mídia, Abril e Estadão
RP: 6 meses
Destaque: TV-1
Corporativo: 9 anos
Destaque: SAP
Formação: Comunicação Social

Paulista, Luciana Coen nasceu numa família que preza o aprender no seu DNA. Sua escolha por jornalismo veio com a vontade de equilibrar o técnico das faculdades de Comunicação Social com a base da História ou Economia. Na hora do vestibular, ela passou em História na Unicamp e, em diversas, no Jornalismo. Escolheu a PUC-SP por influência histórica – seus pais foram presos políticos da Ditadura – e desistiu da base que teria da História na sua formação de jornalista pela distância da logística entre as universidades. Não se arrepende.

A PUC foi suficiente para abrir uma jornada de 16 anos com destaque para Abril, Estadão e IDG. Num ritmo de cinco anos, Luciana conta que sempre teve um “vai e volta” em cada uma das três editoras. Tal experiência marcou-a na certeza de que “portas abertas” sempre existem para quem faz um bom trabalho.

Curiosa e apaixonada pelo que faz, Luciana explica que sua trajetória profissional foi muito consciente. Quando reconheceu que a editoria seria o ápice do jornalismo, na sua vivência, colocou-se em ação para aprender novas habilidades, como exercer liderança, visão de negócio e gestão além do conteúdo e das pessoas. Passou pela TV-1 para iniciar a nova jornada, voltou a estudar para aprender Comunicação Corporativa e agarrou, com “unhas e dentes”, a oportunidade de trabalhar na SAP, que fazia parte do seu alvo: uma empresa que tivesse boa reputação e um produto no qual ela acreditava.

Nove anos! Foi o tempo necessário para Luciana desenvolver um lugar diferente para a Comunicação, pois hoje ela integra, além da Comunicação Interna, os cuidados com Responsabilidade Social e Sustentabilidade. Cada expressão nova representa uma especialização feita em instituições como Syracuse (norte-americana) e FGV. Se tem uma coisa que é clara, para Luciana, é o tempo da conjugação do verbo aprender: eterno, enquanto dure a vida. Com esse espírito – de estar sempre aberta a novos aprendizados –, ela não ousa citar nome das pessoas que a inspiraram, como hoje inspira sua equipe e seus fornecedores: “Foram muitas e tenho receio de esquecer alguém que contribuiu muito com a minha jornada”.

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