Francisco Ornellas ([email protected]), que criou e por 22 anos esteve à frente do Curso de Focas do Estadão, hoje diretor Editorial do Diário de Mogi (SP), enviou em setembro três “causos” que, por razões que a própria internet desconhece, não chegaram às nossas mãos. Ante os nossos apelos por histórias, ele decidiu reenviar – pelo que encarecidamente agradecemos. Memórias “comerciais” Anúncio 1 Uma jovem recém-casada decide colocar à venda o seu vestido de noiva. Pelo telefone. Então ela ligou para um grande jornal de São Paulo, ditou o anúncio e recomendou que o pagamento fosse feito mediante débito em seu cartão de crédito. O anúncio deveria sair na seção Negócios e Oportunidades do caderno de classificados. Ocorre que os grandes jornais mantêm sistemas informatizados de coleta de anúncios por telefone e cada um dos títulos dos classificados recebe um código no sistema. No caso do vestido de noiva, quem recebeu o anúncio por telefone digitou um número errado. Um único número errado e pronto: o anúncio, em lugar de sair sob o título Negócios e Oportunidades, saiu na seção Relax, aquela parte do jornal que anuncia casas de massagem, scorts e afins. É claro que um título Vestido de Noiva na seção Relax haveria de provocar – como na verdade provocou – a imaginação de muitos leitores. Alguns inclusive lembraram-se da inesquecível peça de Nelson Rodrigues com esse mesmo nome. O telefone da moça que queria vender seu vestido não parou de tocar por quatro dias. Tempo para que a companhia telefônica concordasse em trocar o número. Tempo também para que ela enfrentasse dificuldades no casamento recém-contraído, como disse seu advogado quando impetrou ação contra o jornal na Justiça de São Paulo. O processo foi difícil. Foi muito difícil para experientes advogados da área. Eles apelaram inclusive para a Justiça norte-americana, onde casos semelhantes foram decididos pela Suprema Corte com a absolvição dos jornais. Sob a alegação de que a inexistência de dolo é excludente de culpa. Anúncio 2 O jovem empresário do interior paulista andava de cabelo em pé. Tinha rompido um casamento de sete anos. Como tantos outros. No seu caso, entretanto, havia dificuldades adicionais com a antiga esposa. Também como tantas outras, ela não lhe dava sossego. Bem que o jovem empresário cedeu na partilha; entregou o carro mais novo, não fez questão de qualquer das joias – nem mesmo daquelas, de família, que a sogra havia passado à nora em tempos de paz. Nem com a pensão ele estrilou. Sem poder avaliar remuneração, já que tinha atividade como empregador, cedeu nos 30 salários mínimos. E ficou com os gastos fixos: seguro saúde, escola das crianças – eram duas – e até a mensalidade do clube. Fora o odontopediatra e ainda o analista que a ex-mulher fazia questão de frequentar. E cobrar. Passou nesse suplício seis meses. Não aguentava mais quando teve a brilhante ideia: a antiga esposa só lhe daria sossego se conseguisse, enfim, algum substituto. E o ex-marido tascou um anúncio no jornal. Que dizia mais ou menos o seguinte: “Jovem senhora, independente, com situação financeira estável, procura companheiro para compromisso sério. Troca-se foto na primeira correspondência”. Brava como andava, a “jovem senhora” tascou um processo no ex-marido. De rabeira, incluiu o jornal na ação em que reivindicava, do ex-marido e do jornal, indenização por danos morais. De três mil salários mínimos. Ainda hoje o jornal tenta se livrar da ação. Anúncio 3 Um advogado formado em Mogi das Cruzes atuou, durante muitos anos, para uma empresa petrolífera. Quando deixou o cargo no Jurídico da companhia, resolveu montar banca própria. E cuidou de colocar um anúncio nos jornais. Descobriu então que o título Advogados costuma sair na mesma página de Acompanhantes. E que as jovens que inserem anúncios sob este título costumam guardar as páginas dos jornais para conferir a inserção encomendada. “Descobri isso – disse-me o advogado tempos atrás – logo nos primeiros dias que meu anúncio saiu. As moças guardavam a página do jornal e, quando tinham problemas, ligavam para o número do advogado que constava da mesma página. Resultado: me vi especializado em atender moças que reclamavam de clientes inadimplentes ou de fregueses insatisfeitos por não terem suas fantasias preenchidas. Pior mesmo foi aquela que me ligou de madrugada pedindo para ir até Sorocaba, tentar soltar o irmão que fora preso com um carro roubado”.