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quinta-feira, abril 25, 2024

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Fake democratas

* Por Marina Amaral, co-diretora da Agência Pública

O ataque a jornalistas por grupos da direita não chega a ser uma novidade mas, no caso da exposição dos que trabalham em agências de fact-checking, a violência parece ter escalado alguns degraus. Expor perfis pessoais pedindo que o público “reaja” contra os jornalistas pode ser qualificado, como destacou a Abraji, de incitação de ódio aos profissionais da imprensa. Um passo além da tentativa de intimidação.

Chama atenção o desprezo pela privacidade das pessoas e da liberdade de imprensa por aqueles que algum dia se identificaram como liberais. Os seguidores do MBL, por exemplo, que conheci ao fazer a reportagem “A Nova Roupa da Direita”, em 2015, diziam-se militantes da liberdade, vítimas da opressão de um Estado “populista”. Uma de suas musas, a guatemalteca Gloria Alvarez, defendia abertamente o aborto, por exemplo, dentro do princípio dos direitos individuais. De lá para cá, o autoritarismo parece ter engolido o liberalismo, e com ele o respeito pela democracia e pelo outro.

Igualmente incompreensível é o fato daqueles que advogam um Estado mínimo se levantarem em defesa do Estado quando sua atuação é mais autoritária e mais perversa, como ocorre no abuso policial. Nesse sentido, a mensagem do governador paulista em exercício não poderia ser mais equívoca ao exaltar o ato extremo de uma policial a matar um assaltante, ainda que em alegada legítima defesa. Candidato às próximas eleições pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), Márcio França parece querer se distanciar da “pecha” de ser de esquerda, em um momento em que o autoritarismo dos grupos de direita toma conta das redes. E o faz no ponto nevrálgico da defesa dos direitos humanos que, curiosamente, são considerados bandeiras de esquerda por aqui.

Não há como considerar democratas os inimigos dos direitos universais e da liberdade de imprensa. Os mais ortodoxos, como os seguidores de Jair Bolsonaro, aplaudem pérolas como as que disse essa semana o candidato sobre o telegrama da CIA que comprova que as brutais execuções dos opositores da ditadura eram autorizadas pelo presidente-general Ernesto Geisel: “Quem nunca deu um tapa no bumbum do filho e depois se arrependeu? Acontece”.

Não vamos deixar acontecer, deputado. Brasil assim, nunca mais. Viva a liberdade de imprensa!

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