Aziz Ahmed, ex-O Globo, Última Hora e Jornal do Commercio, do Rio, entre outros, o filho Marcelo Ahmed e o neto Cauan Ahmed

“Jornalista não é quem toca na banda; é quem vê a banda passar”, ensinava o experiente colega Joel Silveira (1918-2007).

Comecei a ver a banda passar nos fins dos anos 1950, estagiando no poderoso Correio da Manhã, onde trabalhei bom período sem receber salário antes de ser efetivado. Eram os anos dourados, a época romântica do jornalismo carioca, onde refulgiam os mais importantes jornais, porque o Rio foi capital República até 21 de abril de 1960. A coisa começou a ficar feia a partir de 1 de abril de 1964, quando vieram os anos de chumbo, seguidos dos anos rebeldes, até chegar a este novo tempo de incertezas quanto ao futuro da imprensa escrita. Aliás, o que é imprensa hoje? São jornais, revistas? São sites, blogs, newsletters, streamings, YouTube, Twitter, Facebook, WhatsApp, Telegram, Instagram e outros aplicativos que inundam o caudaloso rio das redes sociais?

Vi várias bandas passarem nos diferentes jornais em que trabalhei e dirigi, entre eles O Globo, Última Hora e Jornal do Commercio (RJ), onde fiquei durante 31 anos como diretor-editor e colunista especial. Mesmo com essa bagagem, que inclui 18 anos como professor de Jornalismo na UniverCidade e três anos numa experiência desafiadora, como editor de um jornal de uma polêmica comunidade, intitulado A Voz de Rio das Pedras, confesso que empaquei diante da pauta que este J&Cia encaminhou, pedindo-me para “explorar o olhar e o pensar das novas gerações, mas de um jeito diferente, humano, familiar”. Em suma, um texto que nasça de uma entrevista, de uma conversa com o meu filho Marcelo que decidiu, como eu, ver a banda passar.

O mercado está cheio de exemplos de filhos que seguem a profissão dos pais, dos avós, de parentes próximos. Está no sangue, no DNA. Tenho cinco filhos. Um resolveu ser jornalista. E o filho dele, Cauan, meu neto, também vê a banda passar, com um novo olhar sobre essa fascinante profissão. Meu neto nem imagina que um dia as oficinas dos jornais eram apinhadas de pesadíssimas máquinas de linotipos, alimentadas por tainhas de chumbo. Nelas, eram compostos os textos. A informatização dos jornais mudou completamente esse quadro e Cauã, dessa geração com amplo domínio das redes sociais, especializou-se em jornalismo esportivo e sempre trabalhou em agências (assessoriais de imprensa), um nicho que garante a sobrevivência da nossa profissão. O filho dele, Théo, quem sabe também não vai pelo mesmo caminho?

E cumprindo a pauta, com jeito “humano e familiar”, sugerida pelo editor do J&Cia, Eduardo Ribeiro, fui levado a uma situação insólita e à nostalgia daqueles tempos. E aqui vai o texto do meu filho Marcelo Ahmed, fruto, óbvio, de nossas elucubrações. Reconheço que, de fato, invertendo a ordem do que prega o Joel Silveira, ele teve de tocar a banda para eu poder, aliviado pelo dever cumprido, vê-la passar.  Eis o que ele revelou:

“Aprendi com meu pai que jornalismo é vocacionado. Em sua época, tinha que ser verdadeiramente jornalista para se emaranhar por uma profissão ainda não reconhecida. Largar faculdade de Medicina, convencionada ocupação de elite, como foi seu caso, tinha que estar dentro do coração e da mente. Coisa de vocação. O reconhecimento do diploma de jornalismo veio na esteira da necessidade de regulamentação de várias profissões. Vieram as universidades e os jornalistas estabelecidos viraram nossos mestres. Aprendizado que vem dos tempos da ponta da pena e máquina de escrever. E daí as especializações, o academicismo. A nova reviravolta surgiu quase simultaneamente, no início deste século, com duas situações: a revogação da necessidade de diploma, ancorada por decisão do STF, e o mundo digital.

Atualmente, disputamos espaço com uma diversidade de profissionais. Ou pseudoprofissionais, que adotam o título de ‘jornalistas’ – e hoje é fácil conseguir um registro profissional – ou outros tantos assumindo apenas a função de ‘influenciadores’. No vasto mundo digital – com uma miríade de plataformas e possibilidades – cabe de tudo. E a disputa pelo espaço tornou-se aguerrida. Nesse universo, onde está o compromisso pela verdade dos fatos, que costumamos chamar de notícia? Por vezes, habitam o mesmo ambiente jornalistas altamente qualificados e propagadores de fake news. Navegar nesses mares revoltos tornou-se questão de sobrevivência profissional. Ainda estamos entendendo o território, o que muitos especialistas chamam de reinvenção. Prefiro entrar pelo caminho da ética, que é o caminho da procura pela verdade, mesmo aceitando a subjetividade do que se entende por verdade. Pois esse é o caminho que aprendi com meu pai”.

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